quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Roque

Roque
Dando seqüência ao ciclo de palestras Constituição 25 anos: República, Democracia, Cidadania, que acontece no IHU desde o início do mês de outubro, a conferência do próximo dia 6/11 (quarta-feira) trará o Prof. Dr. Roberto Romano (Unicamp) para proferir o evento intitulado Ética, Política e Constituição no Brasil: 25 anos de avanços .
Em entrevista concedida à Revista IHU On-Line, edição nº 428, Romano analisou a gênese da Constituição Federal de 1988, “Ela não resultou de um movimento que expressasse a soberania popular. No meu entender (muito pessoal) ela resultou de um golpe de Estado dado pelo Congresso Nacional que se autoinstituiu como constituinte, reunindo parlamentares que passaram o período ditatorial servindo ao governo autoritário. Portanto, parlamentares acostumados à servidão, mas que foram escolhidos precipuamente para redigir a Constituição. A Carta, portanto, desde o início tem uma história pouco edificante do ponto de vista republicano e da soberania popular”, afirmou o professor.
Roberto Romano (foto) cursou doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales — EHESS, França, e é professor de filosofia na Universidade Estadual de Campinas — Unicamp. Escreveu, entre outros, os livros Igreja contra Estado. Crítica ao populismo católico (São Paulo: Kairós, 1979), Conservadorismo romântico (São Paulo: Ed. UNESP, 1997) e Moral e Ciência. A monstruosidade no século XVIII (São Paulo: SENAC, 2002).
O local do evento, que acontecerá das 20h às 22h,  será a Sala Ignácio Ellacuría e Companheiros, no IHU.
Para ler mais.
- See more at: http://www.unisinos.br/blogs/ihu/eventos/roberto-romano-e-os-avancos-da-etica-da-politica-e-da-constituicao-no-brasil/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=roberto-romano-e-os-avancos-da-etica-da-politica-e-da-constituicao-no-brasil#sthash.SponjGkY.dpuf

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Para coisas semelhantes foi criada a Universidade. Se é que me entendem, senhores que usam marretas em vez de microscópios...

Pesquisa da USP revela que gene é responsável pela metástase do câncer

Do UOL, em São Paulo

  • Christina Scheel/Whitehead Institute
    30.out,2013 - Células epiteliais (em vermelho) e mesenquimais (verde): as primeiras não são capazes de migrar como as segundas 30.out,2013 - Células epiteliais (em vermelho) e mesenquimais (verde): as primeiras não são capazes de migrar como as segundas
Um gene conhecido pelo nome de hotair exerce um papel importante na regulação da metástase -- o mecanismo celular que permite a disseminação do câncer de um órgão para outro --, é o que indica novo trabalho de pesquisadores do Centro de Terapia Celular (CTC) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), publicado na revista Stem Cells em setembro.
 Ainda é cedo para dizer com certeza, mas bloquear a ação do Hotair pode ser uma forma de combater a metástase no futuro e permitir que o câncer seja tratado apenas no local original.

Como funciona

O estudo indica que o RNA fabricado pelo gene localizado no cromossomo humano 12 é responsável por ativar no tumor a chamada transição epitélio-mesenquimal (EMT, na sigla em inglês), um processo que altera a morfologia e a funcionalidade de uma parcela das células do câncer. "Dessa forma, as células epiteliais do tumor se transformam em células mesenquimais e passam a se comportar como se fossem células-tronco do câncer", diz o geneticista Wilson Araújo da Silva Junior, do CTC, à Revista Fapesp.
"As células do câncer ganham a capacidade de se desprender do tumor original, migrar pela corrente sanguínea e aderir a outros órgãos e gerar novos cânceres", explica o autor do estudo. Além de promover o processo que espalha a doença pelo organismo via metástase, a EMT também ajuda a perpetuar as células do próprio tumor original.
A transição epitélio-mesenquimal é uma transformação que normalmente ocorre nos estágios iniciais de desenvolvimento de um embrião e participa da geração de diferentes tipos de tecido de um organismo. Também está associada a processos curativos que incluem a formação de fibroses e a regeneração de ferimentos. Nessas situações, a EMT é um processo benéfico para a manutenção da vida.
O problema é que, no caso dos tumores, a ocorrência dessa transformação também parece ser útil a seu desenvolvimento. As células do epitélio formam o tecido que recobre externamente (pele) ou internamente (mucosas) as cavidades do organismo. Elas não apresentam a propriedade de se soltar umas das outras, se disseminar pelo organismo e virar outros tipos de célula. Sua aparência e função são diferentes das células mesenquimais, que têm a propriedade de se espalhar pelo organismo e se transformar em outros tipos de célula. Ou seja, por essa linha de raciocínio, se não houver EMT, fica mais difícil para um tumor se disseminar num organismo.
As sequências do genoma humano que não carregam instruções para a fabricação de proteínas e, uma década atrás, eram denominadas DNA lixo se mostram cada vez mais importantes para entender a maquinaria celular implicada em processos biológicos, inclusive em certas doenças. 
Ampliar

Conheça mitos e verdades sobre o câncer20 fotos

1 / 20
Guardar rancor pode causar câncer? MITO: não há relação sustentada pela ciência. Já sobre a doença, em si, estudos demonstram que lidar positivamente com a questão a partir do diagnóstico aumenta a imunidade e isso ajuda no tratamento proposto Leia mais Thinkstock

Reprogramação celular

Às vezes, a químio e a radioterapia matam a maior parte das células do câncer, mas não as que fizeram a transição epitélio-mesenquimal, as tais células-tronco do câncer. É por meio delas que o tumor original volta ou aparece em outro lugar. "As células de um tumor são heterogêneas", comenta Marco Antonio Zago, outro autor do artigo e coordenador do CTC, um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) mantidos pela Fapesp. "No experimento, quando silenciamos o Hotair, vimos que não ocorre a EMT."
Os pesquisadores da USP trabalharam com células de tumores humanos de mama e de cólon. "Essas formas de câncer são modelos muito usados nesse tipo de estudo", afirma o biólogo Cleidson Pádua Alves, que fez pós-doutoramento no centro da USP e é o primeiro autor do artigo.
No trabalho, os cientistas viram que, ao ministrar TGF-β1 (um fator de transformação) em células de câncer cultivadas in vitro, o RNA Hotair era ativado, havia alterações no funcionamento de uma série de genes e ocorria a transição epitélio-mesenquimal. Quanto mais se acionava o Hotair, mais intenso era esse processo. No entanto, se o gene que produz o RNA Hotair era neutralizado, simplesmente não acontecia a EMT. (Com Agência Fapesp)

ENTREVISTA PARA O FRONTEIRAS DO PENSAMENTO EM PORTO ALEGRE



  1. Roberto Romano - O que está por trás de um voto - YouTube

    www.youtube.com/watch?v=-x6OOxUsMFc
    16/10/2013 - Vídeo enviado por Fronteiras do Pensamento
    Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp .

Voltaire ironizava os fanáticos que, segundo ele, se instalavam no trono da Santíssima Trindade e anteviam tudo o que Deus faria. Obama teve com quem aprender...

Início do conteúdo

 

Esclusiva Panorama: anche il Papa è stato intercettato

L'Nsa avrebbe controllato e tracciato anche alcune conversazioni da e per il Vaticano. Lo rivela il settimanale nel numero in edicola dal 31 ottobre

  • 30-10-201314:38
Esclusiva Panorama: anche il Papa è stato intercettato
Papa Francesco in Vaticano (Credits: ANSA / MAURIZIO BRAMBATTI)
La National security agency ha intercettato anche il Papa. Lo rivela il numero di Panorama in edicola da domani, giovedì 31 ottobre. Nei 46 milioni di telefonate tracciate dagli Usa nel nostro Paese, tra il 10 dicembre 2012 e l’8 gennaio 2013, ci sarebbero infatti anche quelle da e per il Vaticano. E si teme che il grande orecchio statunitense abbia continuato a captare le conversazioni dei prelati fin sulla soglia del Conclave, il 12 marzo 2013. Incluse quelle in entrata e in uscita dalla Domus Internationalis Paolo VI a Roma, dove risiedeva il cardinale Jorge Mario Bergoglio insieme con altri ecclesiastici.

Panorama rivela infatti che esiste il sospetto che anche le conversazioni del futuro pontefice possano essere state monitorate. D’altronde Bergoglio fin dal 2005 era stato messo sotto la lente dell’intelligence Usa come svelato dai rapporti di Wikileaks.

Secondo quanto risulta a Panorama, le telefonate in entrata e in uscita dal Vaticano e quelle sulle utenze italiane di vescovi e cardinali, captate e tracciate dalla Nsa sono state classificate secondo quattro categorie: «Leadership intentions», «Threats to financial system», Foreign Policy Objectives, «Human Rights». C’è il sospetto perciò che siano state oggetto di monitoraggio anche le chiamate relative alla scelta del nuovo presidente dello Ior, il tedesco Ernst von Freyberg.

 

NSA espionou Bento XVI e cardeais da Igreja antes do conclave, diz revista

Jorge Bergoglio, antes de se tornar papa, também estaria entre os monitorados pelos EUA

30 de outubro de 2013 | 11h 54

JAMIL CHADE / CORRESPONDENTE
GENEBRA - As autoridades americanas teriam espionado as conversas do papa Bento XVI, do cardeal Jorge Bergoglio e de todos os membros do Conclave, no início de 2013. As informações serão reveladas na edição de amanhã da revista italiana Panorama que confirma a ação da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA) na Itália, seguindo os mesmo modelos do que já foi revelado na Espanha, França, Alemanha, Brasil e México.
Bento XVI renunciou ao papado em fevereiro - Reuters
Reuters
Bento XVI renunciou ao papado em fevereiro
De acordo com a revista, entre 10 de dezembro de 2012 e 8 de janeiro de 2013, 46 milhões de ligações teriam sido monitoradas na Itália pelos americanos. O primeiro-ministro Enrico Letta, convocou uma reunião de emergência para amanhã, em Roma.
Mas foram as escutas colocadas sobre o Vaticano que mais chamam a atenção. Segundo a revista, os americanos teriam estabelecido um mecanismo para monitorar as conversas de Bento XVI, antes de renunciar. As ligações do então cardeal argentino Bergoglio, hoje papa Francisco, também foram alvo da escuta antes do Conclave.
O Vaticano insiste que não tem nada a comentar. "De qualquer forma, não nos preocupamos sobre isso", declarou o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi.
Bento XVI renunciou no início do ano, abrindo o caminho para semanas de intenso debates sobre o futuro da Igreja e eventualmente a escolha de Francisco, papa que vem promovendo uma intensa reforma dentro do Vaticano.

Roque


Enviado por Amilcar Brunazo Filho

Diebold Charged With Bribery, Falsifying Records In Three Countries

Author: October 26, 2013 9:34 am
Diebold - fornecedora das urnas eletrônicas brasileiras  - volta a ser processada por corrupção e falsificação de registros em três países.

As acusações se referem a fraudes no uso das máquinas de votar fabricadas pela Diebold.

Veja em:

Destaque:
 In the years since the rigged 2004 election, we’ve learned a lot more about Diebold’s ethics. There are pages and pages of documents that show a wide range of problems with machines. There is a good deal of evidence showing that DBD often does not follow local, state or U.S. law, when installing or servicing its voting machines. Charges of fraud, vote rigging and breach of election law have been lodged against DBD, in a number of states. Yet nearly all US election districts still use DBD machines.

No Brasil eles fornecem 100% das urnas, mas ainda bem que o TSE garante que no Brasil eles são totalmente honestos, acoberta todos os problemas que ocorrem (como em 2006 e 2008) e faz mais e mais aditivos para comprar mais urnas sem concorrência....



Saudações,

Eng. Amilcar Brunazo Filho
O eleitor argentino pode ver e conferir
o conteúdo do registro digital do seu voto
antes de deixar o local de votação.
O eleitor brasileiro não pode!No Brasil, o voto é secreto até para o próprio eleitor.

Eu sei em quem votei. Eles Também.
Mas só eles sabem quem recebeu meu voto

Conheça o Relatório CMind 1 sobre as urnas eletrônicas brasileiras
           e o Relatório CMind 2 sobre as urnas eletrônicas argentinas
Diebold Charged With Bribery, Falsifying Records In Three Countries
Diebold, the leading manufacturer of US voting machines was charged with bribery, falsifying records in three countries China, Indonesia, Russia fined $50 M Image: Ryan McFarland @ Flickr

On October 22, 2013 US prosecutors filed criminal charges against Diebold Inc. Diebold (DBD) is best known for the major role that its electronic voting machines play in US elections. As part of a deferred prosecution agreement, DBD will pay $50 million dollars to the SEC and US Department of Justice (DOJ), to settle two separate cases. The DOJ criminal charges were filed in Canton, Ohio.

Civil charges were also filed by the SEC in Washington DC.  The charges include bribing officials and falsifying records. The case deals with DBD corruption in China, Russia and Indonesia, from 2005 to 2010. As part of the deal, DBD must also set up and keep a system of strict internal controls. A federal monitor will oversee the company for no less than 18 months.

 Criminal charges in 2010

This is not the first time that DBD has faced criminal charges. In 2010, the SEC charged the company and three of its former executives, with accounting fraud. According to Robert Khuzami, Director of the SEC’s Division of Enforcement, DBD’s top executives “borrowed from many different chapters of the deceptive accounting playbook.” The illegal accounting practices let DBD deceive investors and shareholders in regards to its earnings. The SEC said profits were overstated by at least $127 million dollars. The 2010 charges were resolved when the company agreed to pay a $25 million fine, as part of a deal with the SEC.

 Millions of voters using Diebold machines


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A osquestra do Reich, debate na PUC/SP, 30/10/2013

MESA REDONDA – “A ORQUESTRA DO REICH” – MISHA ASTER – EDITORA PERSPECTIVA

  


Música, Vida e Eticidade: A Orquestra Filarmônica de Berlim e o Nacional-Socialismo
By admin On 24/10/2013 · Add Comment · In Ibaney Chasin, Livros, Notícias

No dia 30 de outubro 2013, quarta-feira, às 19h30, no mezanino do Teatro Tuca – PUC/SP, o professor Antonio Rago mediará a “mesa” formada por Ibaney Chasin, Antonio Ribeiro e Leonardo Martinelli que discutirá as relações entre o Filarmônica de Berlim e o Reich nazista. O tema desdobra e divulga o livro recém lançado – A Orquestra do Reich: A Filarmônica de Berlim e o Nacional-Socialismo, de Misha Aster – que foi traduzido por Rainer Patriota e Ibaney Chasin, e publicado, em 2013, pela Editora Perspectiva em parceria com a UFPb.
Nesta mesa, as questões que tangem a relação entre arte-vida, música e realidade social, interpretação musical e história formarão o centro da tematização. Como entender a busca por uma sonoridade imperiosa, pura, pela Filarmônica de Berlim, sem atentar para a dimensão ideológica que marcou o Romantismo alemão? Como entender a arrogância nascida de uma orquestra e povo que se têm como superiores sem compreender que música e vida se unem visceralmente em qualquer tempo? Então, Romantismo e nazismo se atam, ainda que se distingam e mesmo se contradigam.
Na noite do dia 30 de outubro 2013, a palavra teórica abordará tais problemas artísticos, que ainda hoje são pungentes e ativos, efetivamente centrais para a música, ainda que nós, músicos, não tenhamos consciência disso.
Todos estão convidados!


Uma universidade, a de Campinas, um universitário (idem) que merecem respeito!

No CEB ou na Amazônia, o foco de Ryan é o paciente

Engenheiro que trabalha com manutenção de equipamentos médicos atua como voluntário em aldeias

Nunca houve uma correspondência da Embaixada de Moçambique que retornasse para alegrar Ryan Pinto Ferreira, apesar do sonho em participar de missões na África. O desejo de atuar em comunidades carentes de atenção o motivava a procurar qualquer tipo de organização responsável por missões ou expedições a lugares onde há pessoas à margem de atendimento. Nessa busca, tomou conhecimento da organização não-governamental Expedicionários da Saúde (EDS) e não teve dúvida, foi realizar manutenção de equipamentos médicos na Amazônia. 

Pelo menos duas vezes ao ano, se despede da família e das atividades no Centro de Engenharia Biomédica (CEB) da Unicamp para cuidar de parte importante de procedimento pré-cirúrgico: a eficácia dos equipamentos. “Quando descobri que a ONG era de Campinas, vi que, finalmente, poderia ajudar não somente como cidadão, mas como profissional, pois os voluntários transportam equipamentos para lá. Alguns deles chegavam a pesar 200 quilos. Agora, com o avanço tecnológico, vamos conseguir utilizar equipamentos compactos.” 


A Expedicionários da Saúde é uma organização humanitária que leva atendimento cirúrgico aos povos indígenas da Amazônia. O reconhecimento ao trabalho da ONG tomou uma página no periódico francês Le Monde, que publicou, em setembro, uma matéria sobre o engajamento do fundador, o médico Ricardo Afonso Ferreira. 

Como engenheiro, não se contentou em somente trabalhar para receber, pois, em sua opinião, trabalho não é somente aquele com o qual se pode ganhar dinheiro. Até porque retorno financeiro nunca é suficiente. “Sempre tento transmitir isso a meu filho, Giovanni, de 15 anos, e ele já pensa em me acompanhar à Amazônia.” 

Para as atividades do outro lado do País, Ryan tem o aval da esposa, Adriana. Até porque a casa onde moram é o local de recepção de equipamentos que conserta para a ONG. “Sempre digo que tenho dois empregos, pois, mesmo quando não estou em viagem, me ocupo com a expedição. O trabalho não se restringe à manutenção. Também instalo, embalo, carrego as imagens. Faço logística e planejamento de compra e instalações de equipamentos. Hoje, lutamos para mudar as instalações.”
No dia a dia, no Laboratório de Engenharia Clínica do CEB, o esmero e a satisfação com que também executa seu trabalho evita riscos a pacientes e profissionais do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp. Mas quando chega a cidades como São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, e tem a oportunidade de assentar-se ao lado das pessoas e ser mais que um engenheiro, acaba participando da emoção de ouvir um a um os pacientes operados dizerem: “Estou enxergando”. “Passamos horas trabalhando para instalação, manutenção, longe da família, dormindo mal, com riscos de contrair doença, mas quando a gente vê o resultado, a pessoa enxergando, é impactante. Vemos o quanto vale a pena. Aí não tem jeito, queremos voltar.”

A expectativa toma conta de parte da equipe que não pode assistir às cirurgias. “Há momento em que saio de cena, instalo os equipamentos e aguardo o resultado, pois não permanecemos durante as cirurgias, mas quando volto e vejo que as pessoas vão poder contemplar aquele ambiente em que vivem, fico emocionado. Os índios têm o jeito deles. São mais reservados. Muitos não demonstram o que sentem, mas sempre alguém se manifesta.” 

 Ryan descobriu que não precisava ir até Moçambique para se voluntariar. Já sabia que na Amazônia legal havia uma lacuna governamental no atendimento a algumas comunidades. Um olhar mais atencioso à população indígena o fez perceber que há vários problemas sociais e culturais quando o índio tem de se deslocar para uma cidade grande. Um deles é o alcoolismo. “É comum encontrar índio alcoolizado no meio da rua em São Gabriel da Cachoeira, por exemplo. Isso me faz pensar que alguns contatos com os brancos não são saudáveis. Os voluntários geralmente procuram chegar, prestar atendimento e ir embora, com o mínimo impacto. Um amigo dentista disse que os mais afastados do centro da cidade apresentam menos problemas, pois vivem da forma tradicional, usam medicamentos tradicionais. O contato tem prós e contras. Precisa ter cuidado. Uma vez eu vi um pajé dizendo: ‘Esta doença é de branco; tem de usar remédio de branco para curar.’ Eles tratam de formas diferentes doenças de brancos e índios.”

Convivência
Ao passar quase 20 dias vivendo e comendo juntos, Ryan consegue roubar alguns sorrisos dos indígenas, principalmente as crianças. A simplicidade que sempre teve durante sua criação e nos trabalhos sociais em uma igreja evangélica é intensificada cada vez que passa pela experiência. Apesar de a expedição durar sete dias, Ryan precisa chegar alguns dias antes. “Enxergo como vivem. Vivem bem, sem luxo. Então penso: por que preciso de luxo para viver?” A própria bagagem tem de ser singela. Não se pode levar muita muda de roupa, pois há um peso máximo para embarcarmos. 

“Andamos de chinelos e bermuda. Metade de minha bagagem vai com comida. A cultura diária do índio nos ajuda muito”, brinca.

Em alguns lugares, as fotos são proibidas, pois algumas etnias relacionam sua imagem com parte de sua alma. Ryan lembra que em uma das expedições, ele tentou fotografar crianças que jogaram futebol com ele, mas o pai questionou. “Mas a mãe falou braba com ele, na língua dela, e autorizou a foto.”

A aproximação nem sempre é rápida, mas alguns meios são usados para que os indígenas aceitem as visitas, entre eles copiar a maquiagem de seu povo. É comum em fotos ver enfermeiros, dentistas com o rosto pintado para facilitar o relacionamento.  Mas, algumas vezes, é preciso ter cuidado para não voltar ao trabalho formal ou para casa maquiado. Algumas tintas, avisa Ryan, saem somente depois de 15 dias. “Cheguei com rosto pintado. Havia chegado a minha casa às 6 da manhã e fui atender o pessoal de uma empresa aqui no laboratório. Eles ficaram olhando para mim e, talvez, se perguntando onde esse maluco havia tatuado o rosto”, brinca.
Na Unicamp, a lida com equipamentos começou cedo, aos 17 anos, como estagiário no mesmo laboratório. Aprendeu (e faz questão de reconhecer) com pessoas que hoje são subordinadas profissionalmente a ele, por conta da exigência de nível superior. “Fui acolhido por algumas pessoas que se tornaram muito importantes nesta trajetória. Recebi muitos conselhos de Carlos Rios quando fui estagiário dele. Ícaro Bellentani, meu chefe na época, foi uma espécie de tutor quando comecei como engenheiro.”

Na época, também começava uma trajetória acadêmica na Universidade, como estudante de eletrônica do Colégio Técnico de Campinas (Cotuca). “Aprendi muito no colégio. Tive excelentes professores. No cursinho reencontrei docentes de lá também.” 
 
A história com a instituição quase “cinquentona”, porém, começou antes mesmo de decidir por alguma carreira. As brincadeiras nas escadarias do Ciclo Básico o divertiam enquanto a mãe estudava pedagogia na Faculdade de Educação. O primeiro a abrir a fila, porém, foi o pai, formado em engenharia elétrica. “Minha mãe veio estudar quando nós já tínhamos nascido, então, aos 7 anos, já frequentava o campus de Barão Geraldo. Aos 13, ela vinha fazer complementação, e eu também acompanhava. Minha irmã mais velha também estudou pedagogia aqui.” Mas não foram somente as referências familiares que o inspiraram a estudar na Unicamp. “Vim por oportunidade e necessidade, pois havia somente dois cursos noturnos de engenharia elétrica na região, um gratuito e outro pago. Então, estudei muito para me formar no gratuito.”

Ao concluir o ensino técnico, Ryan foi contratado como estagiário pelo CEB e, logo em seguida, foi aprovado em concurso público para técnico em eletrônica. Em 1994, entrou na segunda turma do curso noturno de engenharia elétrica. “Tempos difíceis, mas recompensadores. Eu trocava dias de férias por dias de preparação para as provas. No final, quase não tinha férias, mas sabia que mais tarde seria recompensado pelos esforços durante a graduação. Poder trabalhar e estudar aqui foi muito bom.”

Assim como na aldeia, Ryan alegra-se por colaborar com a prática médica em seu dia a dia. “Tenho no quadro de funcionários quatro técnicos, um estagiário e ajudamos a manter os equipamentos em bom funcionamento até o final da vida dele. É gratificante quando tira o foco do trabalho, do estresse e coloca o foco no paciente. Isso ajuda muito a entender as coisas e passar pelas dificuldades normais de uma rotina. É bacana ver o que fizemos. Isso faz diferença.”

Sobre experimentos em animais, nota da Unicamp

Nota da Unicamp sobre uso de
animais em pesquisas científicas

25/10/2013 - 17:26

A missão institucional da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) está fundamentada no ensino, pesquisa e extensão e, frente aos fatos recentemente ocorridos no País, vem a público prestar os seguintes esclarecimentos:

1. Todas as atividades que envolvem a criação e utilização de animais de laboratório no ensino e pesquisas realizadas nos campi da Unicamp são regulamentadas por dispositivos legais nacionais e internacionais e seguem rigorosamente os critérios estabelecidos na Lei Federal Nº 11.794/2008, no Decreto Nº 6899/2009 e na Resolução CONCEA Nº 12/2013, sobre a Diretriz Brasileira para o Cuidado e a Utilização de Animais para fins Científicos e Didáticos.

2. A Unicamp está cadastrada e legalmente credenciada junto ao Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal, órgão integrante do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (CONCEA/MCTI), que administra o cadastro dos protocolos experimentais ou pedagógicos aplicados aos procedimentos de ensino e de pesquisas científicas realizados ou em andamento no País.

3. A Unicamp foi a terceira Instituição brasileira a constituir a sua Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA), em 1998, anterior à promulgação da Lei Federal 11.794/2008, e devidamente cadastrada pelo CONCEA. Todos os protocolos de ensino, pesquisa e extensão que utilizam animais vivos são submetidos à avaliação da CEUA antes de sua realização.

4. A Unicamp reafirma seu compromisso em estabelecer e utilizar metodologias alternativas cientificamente validadas e disponibilizadas em substituição a animais vivos nas atividades de ensino, pesquisa e extensão realizadas em todos os seus campi, sempre que possível, e apoia iniciativas como a criação da Rede Nacional de Métodos Alternativos (RENAMA) e do Centro Brasileiro de Validação de Métodos Alternativos (BRACVAM).

5. Todas as atividades de ensino e pesquisa vinculadas ao uso de animais de laboratório realizadas na Universidade contemplam os princípios de bem estar animal, redução no número de animais utilizados e, quando possível, a sua substituição.

6. Por fim, a Unicamp reafirma seu compromisso com a sociedade em colaborar para o desenvolvimento da ciência no Brasil, zelando pelo uso ético dos animais de laboratório e repudia todo ato que coloque em risco o bem-estar e a saúde de qualquer animal experimental e a saúde pública.

ASSESSORIA DE IMPRENSA

Campinas, 25 de outubro de 2013

Café Filosófico, CPFL. Roberto Romano, O poder dos palácios e a força das praças.

http://www.cpflcultura.com.br/2013/10/18/o-poder-dos-palacios-e-a-forca-das-pracas-com-roberto-romano/#.Um6I7jvbLeQ.email

Voltaire, Erasmo, e tantos outros que denunciam a superstição! Orem por nós! Ou seria truque de uma igreja concorrente ?

Para comprar MTV, Igreja Mundial pede para fiéis fingirem doença

Foto Eduardo Pinto/Igreja Mundial
Valdemiro Santiago toma o depoimento de fiíes em culto na igreja da avenida João Dias no último dia
 
Por DANIEL CASTRO, em 28/10/2013 · Atualizado às 06h00 
  Em carta encontrada em uma sala do templo da Avenida João Dias, na zona sul de São Paulo, a Igreja Mundial do Poder de Deus pede a fiéis para se "passarem por enfermos curados, ex-drogados e aleijados" e assim "conseguir convencer mais pessoas a contribuírem financeiramente para a aquisição do canal 32".

O canal 32 é uma concessão do Grupo Abril, usada até 30 de setembro para transmitir a programação da MTV Brasil em sinal aberto. Estaria à venda por R$ 500 milhões.

A carta, reproduzida abaixo, chama a atenção pelo "pragmatismo". Os interessados não precisam comprovar que tiveram alguma doença. Necessitam apenas ter disponibilidade para viajar "para dar seu testemunho de consagração e vitória". Recompensa-se o esforço com "uma ajuda de custo".
A carta tem um espaço em branco para o preenchimento do nome do bispo local, mas diz que se trata de um "pedido feito diretamente pelo apóstolo Valdemiro Santiago a todos os seus fiéis". Pede-se a destruição da carta após sua leitura. 

A carta obtida pelo Notícias da TV é uma impressão simples, embora colorida. Havia algumas dezenas delas na sala em que foram encontradas. 

A Igreja Mundial do Poder de Deus passa por grave crise financeira. Devendo entre R$ 13 milhões e R$ 21 milhões para o Grupo Bandeirantes, perdeu a locação de 23 horas diárias da Rede 21 e de três horas diárias nas madrugadas da Band. O espaço será ocupado justamente por sua principal rival, a Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo.

Ontem, em culto transmitido pela TV, o apóstolo Santiago praticamente se despediu da Rede 21 e convocou seus fiéis da Grande São Paulo a segui-lo pelo canal 25, de cobertura muito fraca.

A igreja vem fazendo intensa campanha para viabilizar seu projeto de televisão. Pede "ofertas de R$ 100,00" durante a transmissão de cultos. 

O Notícias da TV tentou durante duas semanas uma entrevista com alguma autoridade da Igreja Mundial. Na semana passada, a igreja se limitou a informar que o bispo Jorge Pinheiro, segundo na hierarquia interna, declarou que "a informação não procede".
Veja a carta:

radio CBN, entrevista Roberto Romano sobre os dez anos do Bolsa Familia.


http://cbn.globoradio.globo.com/programas/jornal-da-cbn/2013/10/28/O-COMECO-DO-BOLSA-FAMILIA-CHAMA-SE-PLANO-REAL.htm

Roque


A privataria, petista, tucana, etc...

28/10/2013 - 03h00

Gestão de reservas de Libra deveria ser exclusiva do Estado, diz 'pai do pré-sal'

Publicidade
 
ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO
Ouvir o texto
As reservas de Libra são estratégicas e o Estado deveria ter contratado a Petrobras (que as descobriu) para operá-las em 100%. A opinião é de Guilherme Estrella, 71, considerado o "pai do Pré-Sal" (ele não gosta dessa denominação, pois diz que o mérito é de uma equipe).
Ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras, o geólogo que mapeou a megareserva faz críticas ao leilão realizado há uma semana e alerta para problemas no interior do consórcio que vai extrair o petróleo (Petrobras, a anglo-holandesa Shell, a francesa Total e duas estatais chinesas).

Daniel Marenco/Folhapress
O ex-diretor da Petrobras, Guilherme Estrella, chamado de 'pai do pré-sal'
O ex-diretor da Petrobras, Guilherme Estrella, chamado de 'pai do pré-sal'
Para ele, as grandes empresas petrolíferas mundiais, inclusive a Petrobras, representam e defendem os interesses de seus países. "Energia é fator crítico da soberania e do desenvolvimento de qualquer país. Há, portanto, um potencial conflito de interesses geopolíticos absolutamente inerente à presença de estrangeiros numa gigantesca reserva petrolífera como é Libra. Se vai eclodir, não sei. Mas que está lá, está.", afirma.
Nessa entrevista, concedida por e-mail, ele fala da descoberta do Pré-Sal, de desafios tecnológicos e expõe suas dúvidas sobre a exploração do xisto nos EUA.
Folha - Por que o sr. foi contrário ao leilão de Libra?
Guilherme Estrella - As minhas críticas concentraram-se no aspecto estratégico para o Brasil. Trata-se de gigantesco volume de petróleo, agora compartilhado com sócios que representam interesses estrangeiros --de potências estrangeiras--, sobre cujo alinhamento com o posicionamento geopolítico de um país emergente da importância do Brasil não temos a menor garantia.
A Petrobras, que mapeou a estrutura de Libra e perfurou o poço descobridor, como empresa controlada pelo Estado brasileiro, deveria ter sido contratada diretamente, como permite o marco do Pré-Sal. Aliás, a inclusão desta alternativa teve como causa a eventualidade de se tratar com reservas cujas dimensões tivessem valor estratégico para o Brasil, e este é inquestionavelmente o caso de Libra.
O leilão foi um erro estratégico? Foi lesivo ao país?
Não afirmo que tenha sido um erro estratégico, tampouco que tenha lesado os interesses do país. O que defendo é que a decisão do governo em fazer o leilão de Libra, em vez de contratar diretamente a Petrobrás, como prevê o marco justamente para situações excepcionais --como é Libra--, deveria ter sido discutida com a sociedade e também com a base de apoio do governo no Congresso Nacional.
Nesta discussão, todos os motivos que suportam a decisão do governo seriam conhecidos e a discussão poderia levar a um consenso ou não, caso em que o governo tomaria sua decisão, conforme lhe garante a lei.
Como isto não aconteceu, com os dados e informações que estão disponíveis, construo minha opinião, que é a mesma de muitos outros cidadãos brasileiros: de que, concretamente, a contratação direta da Petrobrás para desenvolver e produzir Libra seria a melhor estratégia brasileira, diante do papel destinado ao Brasil no cenário geopolítico e energético mundial ao longo, no mínimo, desta primeira metade do século 21.
A Petrobras poderia operar sozinha?
A própria presidente da companhia afirmou que a Petrobras tinha o maior interesse em operar Libra sozinha, mas que só poderia iniciar os trabalhos em 2015. 2015 é amanhã. Não subsiste, portanto, o argumento de que leiloar Libra agora seria para antecipar a produção.Não aflora qualquer razão para que esta não tenha sido a decisão do governo, pelo menos que tenha sido explicada publicamente ao povo brasileiro.
Sobre o percentual mínimo estabelecido no edital para a parte do Estado brasileiro --menos que 42%-- não posso me pronunciar, pois o governo, também aqui, não deu qualquer informação sobre a racionalidade econômica que existiu por trás deste número.
Acusar de xenofobia aqueles que defendem esta opinião é injusto, equivocado e apequenador da dimensão estratégica do assunto em debate. Seria equivalente a acusar este governo de centralizador e arrogante, disposto a exercer um direito político --ainda que legal-- de decidir questões desta magnitude de forma monocrática, sem ouvir, no mínimo, suas bases de apoio organizadas na sociedade. O que, certamente, não é o caso do atual governo, como todos sabemos.
Por que o governo tirou da Petrobras a possibilidade de operar sozinha no Pré-Sal? Só a questão do superávit primário explica esse movimento?
Será que podemos priorizar exigências financeiras momentâneas com aspectos econômicos e políticos da estratégia geopolítica brasileira ao longo deste século 21? Esse é o ponto e acho que deveria ter sido discutido com a sociedade.
A revista alemã "Der Spiegel" disse que o Brasil leiloou um tesouro por uma pechincha. O sr. concorda?
Não conheço a racionalidade econômico-financeira que levou aos 41,65%. Fantástico. Como geólogo não consigo entender como chegaram a esta precisão! Não posso opinar. Como disse, não tenho informações sobre a racionalidade econômica que desaguou neste super preciso percentual de 41,65%. Não é 41,64 nem 41,66, é 41,65 cravados!
O sr. considera inapropriado ter sócios estrangeiros na exploração do Pré-Sal?
Em momento algum sugeri que ter sócios estrangeiros no Pré-Sal é "inapropriado". O que argumento é que, em se tratando de uma imensa riqueza estratégica concentrada (em Libra) de um produto de tal forma fundamental e sensível para o mundo --e principalmente para as nações hegemônicas mundiais dele dependentes-- a sociedade brasileira tem o dever de discutir a conveniência de tê-las como sócios.
Ninguém desconhece que as grandes empresas petrolíferas mundiais, inclusive a Petrobras, representam e defendem os interesses de seus países-sedes, nos países onde atuam. E neste ponto não se diferenciam empresas estatais ou privadas.
O sr. acha que essa decisão sobre libra é danosa à soberania brasileira?
Não acho que a soberania brasileira tenha sido afetada.
Apenas levanto a possibilidade de enfrentarmos dificuldades, no futuro, caso haja qualquer divergência --ou até mesmo conflito-- entre interesses geopolíticos brasileiros e aqueles dos países representados no consórcio de Libra --todos protagonistas importantes no cenário mundial hoje e ao longo deste século 21-- por suas respectivas empresas.
Estas dificuldades --ainda que no campo das possibilidades-- estariam inteiramente evitadas, não ocorreriam de maneira alguma se Libra estivesse sob gestão exclusiva --100% do petróleo produzido-- do Estado brasileiro através da contratação direta da Petrobras para desenvolver e produzir Libra.
Por que Libra é estratégico?
O caráter estratégico das reservas petrolíferas é inquestionável, como todos sabem. Não se invadem e ocupam militarmente países soberanos para apropriação de refinarias. É possível construir uma refinaria em qualquer lugar do planeta, mas as grandes reservas de óleo e gás estão onde as condições geológicas assim o determinaram. O pessoal da Argélia, do Iraque, da Nigéria, da Líbia, do Egito sabe disto na pele.
O Sudão do Sul foi "fundado" por causa disto. As monarquias medievais, absolutistas e repressoras da Península Arábica são mantidas pelo mesmo motivo: assegurar reservas de petróleo e gás natural às grandes potências hegemônicas ocidentais. Não se está a ver fantasmas! Esta é a realidade fática da geopolítica mundial, escancarada e desavergonhadamente exibida nas últimas três décadas por meio de ações políticas e militares por parte dos países centrais ocidentais. Não há como desconhecer esses fatos.
Seu alerta está relacionado aos interesses divergentes entre produtores e consumidores de petróleo presentes no consórcio? Produzir mais rápido e deprimir preços ou produzir de acordo com visão estratégica, sem derrubar preços? O que seria melhor para o Brasil?
A turma de topo da Opep controla o preço, mas não tem soberania, autonomia, independência para sustar o suprimento. Simplesmente porque interesses divergentes entre grandes produtores e grandes consumidores não conflitam por causa do preço do barril, mas pelo compromisso dos produtores em suprir incondicionalmente os volumes exigidos pelas economias hegemônicas representadas pelos grandes consumidores.
Gente que estudou o assunto afirma que o barril de petróleo do Oriente Médio sai a mais de US$ 300 para a UE e para os EUA, na condição "all in" dos custos de manutenção militar do status quo daquela região para barrar, pelas armas, qualquer iniciativa que tenda a mudar o quadro atual.
O Brasil é um país diferenciado. De dimensões continentais, privilegiado em riquezas naturais, único em integridade nacional (uma só língua, cultura diversa, mas coesa etc.). Temos reservado um papel de protagonista geopolítico mundial igualmente diferenciado e socialmente muito positivo neste século 21.
De uma hora para outra, este país aparece como uma potência energética, cujas reservas potenciais, em processo acelerado de comprovação, de petróleo e gás natural impactam o quadro energético mundial. Tudo indica que irão contrabalançar, junto com a costa oeste africana o peso do Oriente Médio, a médio e longo prazos, para suprir EUA e UE.
Isso nos obriga, como país soberano, a nos prepararmos para assumir esse papel _de não mais coadjuvante, mas de protagonismo mundial diante desta muitíssimo sensível realidade. A quarta frota [dos EUA] está aí, ressuscitada não por outro motivo.
Este é o quadro já presente, materializado. E se tornará mais agudo ao longo deste século 21.
Dentro deste contexto, não seria mais conveniente que um imensa acumulação de petróleo, como Libra, ficasse 100% nas mãos do Estado brasileiro, com o poder de gerenciar tudo o que lhe concerne sem qualquer ingerência de interesses estrangeiros, quaisquer que os sejam? Isso é permitido no marco do Pré-Sal, quando abre a possibilidade de contratação direta da Petrobras, cláusula aprovada exatamente para situações, como essa de Libra, absolutamente diferenciadas sob o ponto de vista geopolítico mundial. Ainda mais a 300 quilômetros da costa, nas proximidades dos limites territoriais marítimos nacionais, ainda em processo de aceitação pela ONU.
Quando o sr. fala dos custos reais para os EUA e UE do petróleo saudita, de quanto seria o custo no pré-sal comparativamente?
Os custos totais de produção do pré-sal --que chamamos de CTPP-- estão muito abaixo dos atuais valores internacionais do barril, mas trabalhamos duro e ininterruptamente para reduzí-los. Não só por melhoria contínua nos processos de produção, mas fazendo esforço de desenvolver inovações tecnológicas que visem este objetivo.
O que cada um dos sócios da Petrobras busca nessa associação?
Os sócios se interessam, essencialmente, por assegurar suas respectivas partes em óleo produzido. No caso dos chineses para suprir prioritariamente seu mercado nacional, ávido de energia para sustentar o crescimento extraordinário da economia chinesa ao longo da primeira metade deste século, pelo menos. Shell e Total também, mas são já globalizadas e com mercados muito distribuídos além do europeu.
Sobre esses possíveis conflitos de interesses dentro do consórcio, o sr. diria que o Brasil (e a Petrobras) caíram em uma espécie de armadilha?
A participação da PPSA nos consórcios, com poder de veto, consta do texto do marco justamente para que todo o processo, desde a construção do Acordo de Operação Conjunta até as atividades operacionais propriamente ditas, seja controlado pelo governo brasileiro.
Portanto, não há "armadilhas" no modelo de partilha adotado pelo Brasil. O governo brasileiro tem total controle de tudo.
Como seriam essas divisões internas? França e China do lado de consumidores, querendo acelerar a produção? Que mais? Como elas se podem contrapor à Petrobras e ao interesse brasileiro?
A simples presença de interesses estrangeiros --por meio da participação de suas empresas petrolíferas no consórcio de Libra-- pode, em tese, gerar conflitos. Se estivéssemos tratando de um processo industrial de uma commodity comum, periférica, qualquer problema poderia ser facilmente resolvido.
Esse é o ponto central de minha opinião. Energia, especialmente petróleo e gás natural, é fator crítico da soberania e do desenvolvimento econômico, social, científico e tecnológico de qualquer país. Mormente daqueles que são protagonistas hegemônicos da cena mundial e daqueles outros que, por sua magnitude e seu potencial de riquezas naturais, de todos os tipos, como o Brasil, se candidatam para igualmente atuar como protagonistas mundiais e não mais como simples coadjuvantes, periféricos. Só esta realidade, em sua essência geopolítica, já é conflituosa. Lembremo-nos do [Henry] Kissinger, que disse mais ou menos isso : "Os EUA têm que se preocupar é com aquele gigante lá no Sul que, quando se levantar, vai dar um trabalhão danado para ser controlado".
Há, portanto, um potencial conflito de interesses geopolíticos absolutamente inerente à presença de estrangeiros numa gigantesca reserva petrolífera como é Libra. Se vai eclodir, não sei. Mas que está lá, está. Esse é o ponto!
A China quer aprender a operar em águas profundas?
Pode ser que aja interesse na obtenção de conhecimento de engenharia de projeto e operacional para produzir em águas ultraprofundas. É muito importante, mas não é o essencial.
O Brasil não deveria proteger essa tecnologia?
Proteger tecnologia no mundo atual não é o foco das grandes empresas petrolíferas. O esforço maior, concretamente falando, é assegurar a condução das operações --serem operadoras. Porque é na operação, no dia-a-dia, na vivência com as broncas e dificuldades que ocorrem na frente operacional que consiste o real valor do aprendizado contínuo-- de engenharia e pragmático (isto é que é, no final das contas, tecnologia) --que vai permitir a permanente e contínua inovação, advinda de novos conhecimentos e, em decorrência, de novos projetos e novos processos. Operar, principalmente numa ambiência de certa forma nova, onde o conhecimento científico e de engenharia e a competência operacional concentram-se em muito poucas empresas--como no Pré-Sal brasileiro --materializa-se numa inexcedível vantagem competitiva para as empresas petrolíferas. E não foi por outro motivo que a exclusividade da operação pela Petrobras, estabelecida no texto do marco do Pré-Sal, foi --e é!-- tão combatida por aqueles que, de certa forma, refletem os interesses das empresas estrangeiras, contrariados em aspecto essencialmente estratégico sob o ponto de vista da indústria.
No caso específico do Pré-Sal, este trabalho ininterrupto de obtenção/geração de novos conhecimentos e de inovação permanente foca, principalmente em dois pontos centrais: diminuição de custos e contínuo atendimento aos pressupostos da segurança operacional. Quer dizer, no geral, não há qualquer salto tecnológico necessário para produzir o Pré-Sal, como aliás é comprovado pela já significativa produção da Petrobras.
Por que as norte-americanas saltaram fora?
Com meus quase 50 anos "sujando" as mãos de óleo, fico desconcertado quando não consigo construir uma convicção sobre qualquer assunto relacionado ao setor petrolífero, tão rico em suas características, as mais variadas possíveis --políticas, econômicas, científicas, tecnológicas, sociais, militares e outras mais. Pois bem, sinto-me desconcertado com a ausência da Exxon e da Chevron. O que penso são ainda especulações. Por exemplo. Correu há algum tempo, por volta de 2010, 2011, no setor petrolífero mundial, que a Exxon conseguiu do governo angolano mais do que a Petrobras com o novo marco, com respeito à exclusividade das operações.
Obteve um acordo de "preferência" com os angolanos, tendo o direito de decidir se vai ou não operar qualquer descoberta no pré-sal daquele país, independentemente de que empresa que a tenha realizado. Sua ausência no leilão de Libra poderia ter algo a ver com isto? Ou não seria ao contrário, fazer parte da produção no Brasil não poderia ser um grande aprendizado para ajudar no exercício do privilégio de aceitar ou não a operação em certas descobertas em Angola?
Acho que a Chevron está na base do "gato escaldado tem medo de água fria". A pancada que tomaram em Frade [vazamento de 3,7 mil barris de óleo em 2011] repercutiu com extrema dramaticidade na companhia, que é muito séria e competente _sou testemunha pessoal disso. Talvez tenham erroneamente superestimado os riscos operacionais, todos inteiramente mapeados e neutralizados pela Petrobras com a participação, naturalmente, dos parceiros que com ela produzem do Pré-Sal há mais de dois anos. E isto é, a cada dia que passa, mais concreto e consistente.
Alguns ligam a ausência das norte-americanas aos investimentos no xisto. Qual sua visão sobre o xisto? É uma revolução energética?
Coloco "xisto" entre aspas. A tradução de "shale" é folhelho, termo geológico que é até difícil de falar já que encadeia dois fonemas "lh". Folhelho é uma rocha composta por grãos infinitamente pequenos de argila e, por isso, com permeabilidade quase zero. No caso, o gás está nos microporos, entre os grãos de argila e não sai de lá. Para sair tem que quebrar o pacote rochoso de folhelho, fraturar em gigantescas operações de injeção de água, utilizada como fluído de fraturamento.
Este assunto dá um livro. Mas há fatos inquestionáveis.
1. As reservas potenciais são, realmente, muito grandes. 2. Os poços exaurem-se muito rapidamente, não duram meses. 3. Perfuram-se milhares de poços, em áreas rurais e nas cercanias de cidades do meio-oeste americano. Como os poços duram muito pouco, a atividade de perfuração é frenética, descontrolada. Exige infraestrutura de suprimento de grandes dimensões, com grandes impactos sociais nas comunidades antes bucólicas e ultraconservadoras do interior americano. 4. O uso de água é gigantesco; já há casos de esgotamento de lençóis freáticos e falta de água nas cidades. Alguns Estados já proibiram as atividades.
5. O fluído de fraturamento contém produtos químicos altamente agressivos e tem sido comum a poluição de aquíferos potáveis por estes agentes químicos, interrompendo sua utilização para o homem e para a pecuária. 6. As reservas de gás, como sempre acontece, esgotam-se rapidamente e existem, também como sempre, as incertezas geológicas coladas às atividades de exploração e produção. Especialmente quanto às reservas de gás não provadas, como é o caso, os níveis de imprevisibilidade são elevados e surpresas negativas são prováveis de acontecer. É preciso ter cuidado nas extrapolações. 7. Em razão do baixo preço do gás, e do colapso causado pela enorme oferta em pouquíssimo tempo, milhares de sondas já se mobilizam para perfurar para óleo, cujo preço, ainda nos US$ 100 por barril, garante lucros muito mais significativos.
O governo norte-americano, com a prudência necessária, mantém a proibição de exportação de petróleo por empresas que supriam mercados com líquidos que agora foram inteiramente substituídos pelo gás. Micaram com o óleo e apelaram ao governo para que suspendesse a proibição. Sem sucesso.
Resumo da ópera do "shale gas": tem que dar tempo ao tempo.
A presidente nega que tenha havido uma "privatização". Houve? Por quê?
Privatização. Não houve, no sentido estrito do termo. Mas, de qualquer maneira, seria muito menor se a Petrobras fosse contratada diretamente para desenvolver o campo.
A Petrobras precisa de um reajuste logo no combustível para viabilizar os seus investimentos? O que de exato existe nessa discussão sobre preços?
A Presidente da Companhia afirma e reafirma que não haverá a necessidade de reajuste de preços para enfrentar os gastos com o bônus de Libra. Esse assunto de reajuste de combustíveis é hilário.
A Petrobras fez 60 anos. Desde então, a Petrobras é além de uma empresa "do" governo, uma empresa "de" governo de qualquer governo e não poderia ser diferente tal a importância econômica que a empresa exerce no ambiente brasileiro. E isso parece um verdadeiro "tabu". Todo mundo sabe o que acontece na vida real e faz tremendo esforço em afirmar que "não! A diretoria da Petrobras é independente, tem total autonomia para definir os preços dos combustíveis... E a turma da oposição qualquer oposição, a todos os governos fica a acusar incansavelmente o governo de "utilizar a gestão da Petrobrás na condução de sua política econômica".
Também se fala que a Petrobras deveria reduzir a exigência de nacionalização. Isso não seria ruim para o país?
Conteúdo nacional. Aqui você toca num tema decididamente crítico para o desenvolvimento científico, tecnológico e econômico do Brasil.
Começo com uma história.
Descia eu pela Rua Aperana, aqui no Leblon, onde morava quando exerci a maior parte do período de diretor da Petrobras, quando encontrei um antigo colega de superintendência da companhia, quando eu era o superintendente do Cenpes. Era o engenheiro Carlos Aguiar, então superintendente da Área de Materiais da Petrobrás, homem ligado ao desenvolvimento de fornecedores brasileiros para substituir material importado.
O tempo era o da construção no Brasil das plataformas de produção, extraordinário programa do governo Lula para não só abrir milhares de empregos no país como para ressuscitar a indústria naval brasileira apoiada nos projetos de produção da Petrobras.
O Aguiar me disse uma frase que me acompanhou por todo o longo --9 anos-- tempo em que exerci a diretoria de Exploração e Produção da companhia: "Estrella, vamos construir no Brasil, tudo bem. Mas não podemos deixar que o "conteúdo nacional" seja acéfalo!".
Esta foi uma luta que o grupo de profissionais e gerentes da Petrobras, com o qual tive a honra de trabalhar, empreendeu no sentido de criar condições para que empresas genuinamente brasileiras se incorporassem ao esforço nacional de "construir no Brasil tudo o que puder ser construído no Brasil".
O processo de desenvolvimento tecnológico começa com saber operar as máquinas importadas. Meu pai contava que o Roberto Marinho, na década de 1930, importou rotativas alemãs para modernizar o parque impressor de "O Globo". Instalou as máquinas e chamou o Getúlio [Vargas] para o momento solene de acioná-las pela primeira vez. O Getúlio "pam" empurrou a alavanca e... nada aconteceu. Estabeleceu-se um clima de desconforto com o presidente da República, que foi solicitado a repetir o gesto, objeto das inúmeras lâmpadas de "flash" dos repórteres presentes. "Pam" novamente e... nada novamente. Mui polidamente, Roberto Marinho pediu desculpas e transferiu a solenidade. Após isso, reuniu-se com a equipe técnica de "O Globo" para saber o que ocorrera. Ninguém sabia. Disseram apenas que tinham montado a engenhoca "by the book", como dizem os engenheiros, de acordo com o manual. Não houve jeito. Chamaram um alemão, que veio de Zeppelin, numa milionária viagem de uma semana, pois de navio demoraria três meses. O alemão chegou, olhou, pensou não mais que um minuto e disse algo naquela língua centro-européia bárbara, de fora das longínquas fronteiras do Império Romano, que o intérprete balbuciou : "Uma chave-de-fenda, por favor".
Rapidamente atendido, colocou a chave num pequeno parafuso, girou meia volta e ordenou, segundo o intérprete : "Liguem a rotativa". Um engenheiro brasileiro pegou a alavanca antes inservível e "pam": a rotativa ronronou e começou a trabalhar, sem qualquer problema. Lição: não sabíamos sequer operar uma máquina de primeira geração tecnológica.
O final do ciclo é saber projetar as máquinas que operam no sistema industrial em que se atua. No meio, está a etapa da construção dessas máquinas. Se ainda não construímos no Brasil, temos que fazê-lo. Mas --isso é indispensável-- gerenciar o processo de modo que, no mais curto prazo de tempo, adquiramos a competência em engenharia, nas empresas e na academia brasileiras para projetar máquinas ainda mais avançadas, inovações em relação ao que hoje se considera o limite da tecnologia. Se esta etapa não acontecer, muito pouco foi conseguido em termos de autonomia de decisão quanto à escolha e aplicação da tecnologia que melhor nos servirá para resolvermos nossos próprios problemas.
Continuaremos a ser o "chão de fábrica" _muitíssimo importante, mas não suficiente para um Brasil efetivamente soberano e autônomo no concerto mundial das nações desenvolvidas. A verdadeira inteligência, a competência técnico-científica continuará a vir de fora. Não precisamos chamar o "alemão" para botar a máquina em funcionamento ou até repará-la em caso de pane. Mas se quisermos substituí-la por uma mais moderna, será o "alemão" quem a projetará e nos venderá o projeto se assim o governo de seu país autorizar a empresa da máquina a fazê-lo.
A traduzir este desafio, temos a definição do século 21 como o século da "economia do conhecimento" e a imagem de desenvolvimento tecnológico: " É como subir uma escada rolante pela faixa de descida : se parar, desce".
Esse foi o recado do Aguiar. Tenho a plena consciência de que a equipe em que trabalhei fez o possível para avançarmos neste sentido. É importante que se registre a grande ajuda que tivemos do BNDES, da Finep, da Coppe no trabalho que desenvolvemos na Exploração e Produção e na Petrobrás como um todo. Criamos exigências contratuais para que as empresas estrangeiras que se instalassem no Brasil para construir máquinas e equipamentos, até então importados, a serem utilizados pela Petrobras, montassem equipes de engenharia de projetos na filial brasileira, para não ficarem na dependência de seus centros de tecnologia no exterior.
Para as empresas genuinamente brasileiras, trabalhamos para criar condições de financiamento e de assistência técnico-científica para que, não só adquirissem condições de competitividade, como consolidassem suas respectivas competências para a inovação e melhoria contínuas de seus processos produtivos, de modo a atender especificamente as exigências e necessidades das atividades operacionais da Petrobras.
Chegamos a iniciar um trabalho de tentar quebrar oligopólios tecnológicos mundiais para fabricar itens de tecnologias "sensíveis"--como turbinas-- no Brasil.
Ainda com respeito à construção das plataformas no Brasil, fomos sempre muito criticados pelo fato de o custo brasileiro ser maior do que os de Cingapura, do Golfo Arábico e da China. E têm que ser. Sou pessoalmente testemunha das diferenças qualitativas entre as condições de trabalho oferecidas, por lei, aos trabalhadores. Não há comparação. Aqui no Brasil praticamos uma relação capital X trabalho muito mais avançada, muito mais ética e justa que em muitos lugares no exterior, onde é comum se construir em condições absolutamente inaceitáveis para o trabalhador brasileiro.
Se há exigência, muito saudável, de competitividade, vamos enfrentá-las. Mas em condições de igualdade de patamar na qualidade das relações capital X trabalho. E não competir com mão de obra quase escrava.
O que o sr. achou da criação da empresa que vai administrar o Pré-Sal?
A PPSA entra como uma parte imprescindível nos consórcios para contribuir na definição dos Acordos de Operações Conjuntas (sigla "JOA" em inglês), que é o documento básico que vai orientar as operações do consórcio e aprovar e auditar tecnicamente os custos destas operações para efeito de definir o que se chama de "óleo custo", parcela de que os consórcios serão reembolsados.
Como fica a Petrobras depois desse leilão?
A Petrobras se desempenhará em patamares de excelência de sua função de operadora da cumulação de Libra. Foram as equipes de exploracionistas da Petrobras que mapearam a estrutura da gigantesca acumulação. Foi a Petrobras que construiu o primeiro poço descobridor de Libra. É a Petrobrás que detém, no mundo, as mais extensas competência e experiência para operar em águas ultraprofundas. É a Petrobrás, dentre todas as empresas petrolíferas mundiais que tratam do assunto, que possui o mais avançado conhecimento geocientífico das rochas-reservatórios do pré-sal (aspecto tecnicamente crítico e economicamente decisivo para o desenvolvimento da acumulação).
Enfim, como é reconhecido por todo o setor petrolífero mundial, é a empresa que detém as melhores condições para ser a operadora de Libra e do restante das acumulações que ainda serão descobertas na chamada "picanha azul" --designação que, pessoalmente, não gostei, mas isso é "ranzinzice" de minha parte.
O que é a "picanha azul"?
O mapa de contorno da área em que os exploracionistas da Petrobras circunscreveram a provável ocorrência dos reservatórios produtores do pré-sal, que vai de Vitória (ES) até Florianópolis (SC), no mar territorial brasileiro, tem grosseiramente o formato de uma picanha, peça de carne bovina por nós tão apreciada.
Coloriram o interior deste perímetro com a cor azul.
Daí surgiu o nome de "picanha azul". Não foi escolha minha. Considero de gosto discutível esta analogia. Mas "pegou", já estava consagrado e assim ficou.
A presidente traiu seu compromisso de campanha ao leiloar Libra, conforme muitos têm afirmado?
Não acho que a presidente Dilma esteja descumprindo seus compromissos de campanha. Os grandes e mais importantes itens sociais e econômicos das políticas inauguradas pelo presidente Lula em 2003, a ter como principais beneficiários as camadas mais carentes do povo brasileiro, têm sido perseguidos, com sucesso pelo governo Dilma e as pesquisas de opinião estão ai para não me desmentir.
Como petista, o sr. está frustrado?
Não estou frustrado como petista. Tenho consciência, vejo isto no dia-a-dia da vida dos brasileiros, de que os governos do Partido dos Trabalhadores desde 2003 transformaram o Brasil, tiraram da pobreza e da miséria dezenas de milhões de irmãos nossos e mudaram diametralmente a lógica de governar o país, tendo o povo como objeto central das ações de governo. E ninguém pode negar isto.
Isto não quer dizer que, como cidadão, tenha que concordar e defender todas as medidas e decisões que o governo do partido ao qual sou filiado venha a tomar.
Por que o sr. é tido como o "pai do Pré-Sal"?
Foi coisa da imprensa. Eu sempre rejeitei esta "alcunha", que na verdade, para os que conhecem a atividade exploratória, é mesmo depreciativo, na medida em que exploração de petróleo e gás natural é trabalho de equipe, não tem essa de "eu descobri".
A descoberta do pré-sal brasileiro resulta da competência das equipes de exploracionistas da Petrobras. São geólogos, geofísicos e outros profissionais que, desde a fundação da companhia e por ela intensamente treinados, tanto internamente quanto nas melhores universidades brasileiras e no exterior, trabalham na interpretação geológica das bacias sedimentares brasileiras.
Explorar petróleo e gás natural é, essencialmente, uma atividade de pesquisa científica que envolve custos altíssimos, mas que, tendo sucesso, garante um retorno ainda mais significativo.
Mas houve também um fator de política energética, igualmente importante.
Em 2003, por determinação do governo Lula, a Petrobras retomou os esforços para avançar pesadamente nas atividades de exploração e produção, de certa forma contidas no governo anterior, quando o monopólio foi quebrado. A companhia concentrava estas atividades na Bacia de Campos, grande produtora, já que outras bacias deveriam ser objeto de leilões de concessão.
A Petrobras detinha blocos em outras bacias, alguns na vizinha e gigantesca Bacia de Santos, de onde se produzia menos de 1 milhão de m3 de gás por dia no Campo de Merluza, antigo dos contratos de risco, descoberto pela Shell e operado pela Petrobras.
Atendendo à determinação do governo de expandir nossas atividades, deslocamos sondas da Bacia de Campos para a de Santos e as descobertas se sucederam: Mexilhão (descoberta importantíssima de gás natural na medida que enfrentávamos a dependência da importação da Bolívia) e os campos de óleo de Uruguá e Tambaú. Estas descobertas exibiram logo a grande potencialidade da Bacia de Santos, até então não materializada. Mas que existia, teoricamente, nas interpretações dos exploracionistas da companhia. Continuaram os investimentos exploratórios e, em 2006, descobrimos o pré-sal.
Resumo da ópera. Não há essa de "pai do pré-sal", tampouco de pai de descoberta alguma nas atividades exploratórias de qualquer empresa petrolífera, resultante sempre do trabalho e da competência desta que costumo chamar de "estranha e complicada tribo dos geólogos".
Aproveito para reforçar minha opinião sobre a decisão de leiloar Libra e não contratar diretamente a Petrobrás.
São fatos: a) Local: Bagdá, Iraque; b) Data: segundo semestre de 1977; c) Ocorrência: o gerente-geral e o gerente de exploração da Braspetro Iraque são convocados à sede da INOC (companhia estatal iraquiana de petróleo). Somos recebidos pelo diretor da INOC responsável pelos contratos de Exploração e Produção que o Iraque tinha com a Petrobras e com a Elf francesa.
O homem nos comunica, com certa solenidade: "O governo do Iraque determinou que lhes fosse comunicado que o contrato que temos com a Petrobras deverá ser cancelado. As negociações sobre isto devem iniciar-se tão logo quanto possível. Os senhores devem comunicar imediatamente essa decisão do governo do Iraque aos seus superiores no Brasil e solicitar que um representante do mais alto escalão de sua empresa, com poderes de negociar em nome dela, compareça a Bagdá para que se iniciem os trabalhos".
Estupefatos, perguntamos a razão desta decisão, já que cumpríamos integralmente o contrato, sempre com as melhores relações com a INOC e com o governo iraquiano.
E o homem nos respondeu : "Senhores, a Petrobras descobriu um campo gigantesco (Majnoon), com dezenas de bilhões de barris de reserva, e que vai produzir mais de 1 milhão de barris por dia, a metade que o Iraque produz hoje. No momento, o Brasil e a Petrobras têm interesses estratégicos no setor petrolífero internacional que não conflitam com os interesses nacionais da república do Iraque. Mas isto é 'no momento'. O cenário internacional, principalmente o da energia, se transforma constantemente. Não há como assegurar que no futuro, mesmo não tão distante, os interesses de Iraque e Brasil não venham a se distanciar. Em vista disso, e o governo de meu país adianta que é com certo desconforto, pelo que nos desculpamos, considera que a manutenção desse contrato fere a estratégia nacional quanto à gestão de seus recursos petrolíferos. Por isso devemos nos sentar à mesa para negociar a extinção do contrato e garantir à Petrobras e ao Brasil que seus investimentos sejam devidamente ressarcidos, sem qualquer prejuízo para vocês".
Anos depois, por causa inclusive de Majnoon, o Iraque foi invadido e ocupado por tropas estrangeiras. Perdeu sua soberania como nação e atravessa décadas de terrorismo total com o genocídio que todos conhecemos.
Claro que não podemos comparar o Brasil com o Iraque, e aqui não vai qualquer desmerecimento àquele país e ao seu povo, do qual conheço alguma coisa. Mas estes fatos são uma inegável lição que temos sempre que levar em consideração.