INCORPORADOS  Á PAISAGEM
 Maria  Lucia Victor Barbosa
 27/02/2009
  
 A  entrevista concedida pelo senador peemedebista, Jarbas Vasconcelos, à revista  Veja de 18/02/2009, causou profundo incomodo não declarado, mas percebido, ao  PMDB, ao PT e demais partidos.
 O  senador nada disse que já não tivesse sido dito, mas o fato de ter desferido  suas críticas numa revista nacional do porte da Veja, o peso de sua trajetória  política e de sua importância dentro do PMDB, ajudaram na repercussão de suas  palavras, especialmente num momento em não existem no Brasil, como venho sempre  repetindo, partidos, instituições ou lideranças de oposição, exceto posturas  isoladas como, por exemplo, a do senador paranaense, Álvaro Dias, que se destaca  no PSDB, partido que mais parece linha auxiliar do  PT.
  Justamente por conta da inexistência de  reais oposições, que se tornaram importantes as declarações de Jarbas  Vasconcelos. Ele quebrou a mesmice da bajulação, da sujeição, do oportunismo, da  politicagem reinante e ergueu sua voz que ressoou no silêncio conveniente dos  salões palacianos onde comanda qual gigantesco Leviatã, o  Executivo.
 O  político pernambucano que foi duas vezes prefeito, duas vezes governador e no  momento é senador, mostrou-se desencantado a ponto de dizer que não tem mais  nenhuma vontade de disputar cargos. O tempo dirá se isso vai prevalecer. Em todo  caso, o desencanto do senador Jarbas Vasconcelos tem várias origens:  
 A  primeira deriva da conduta do PMDB, que ele diz ser hoje um partido sem  bandeiras, sem propostas, sem um norte, uma confederação de líderes regionais  e, também, uma máquina de clientelismo. Na verdade, características de todos  partidos brasileiros. 
 Outra  fonte do desencanto do senador Vasconcelos é claramente estampada na entrevista  com relação ao PT, mais especificamente, com relação a Lula da Silva.  E coisa mais impressionante a ressaltar:  impressiona ser o senador o primeiro a dizer que o rei está nu.  
 Até  agora, ninguém ousara desfazer a blindagem cuidadosamente construída pelo PT  em torno daquele que é sua garantia de continuidade no poder. Nem o ex-deputado  Roberto Jefferson, que escancarou os porões fétidos do mensalão e que entrou para a história ao ordenar ao homem  mais poderoso da República, José Dirceu, que deixasse rapidamente o cargo para  não comprometer o chefe, no que foi prontamente obedecido, ousou acusar o  presidente da República de qualquer falta. Pelo contrário, em sua visão Lula da  Silva era um homem bom, inocente, que de nada sabia, e que chorou ao saber das  travessuras dos seus aloprados.
 Já  o senador Jarbas foi claro ao dizer em trechos da entrevista: Com o desenrolar  do primeiro mandato, diante dos sucessivos escândalos, percebi que Lula não  tinha nenhum compromisso com reformas ou com ética. O mundo passou por uma  fase áurea, de bonança, de desenvolvimento, e Lula não conseguiu tirar proveito  disso. Esperava-se que um operário ajudasse a mudar a política, com seu  partido que era o guardião da ética. O PT denunciava todos os desvios, prometia  ser diferente ao chegar ao poder. Quando deixou cair a  máscara, abriu a porta para a corrupção.
 O  senador foi bastante cuidadoso ao dizer que a corrupção sempre existiu, que não  foi inventada pelo PT e por Lula, que está impregnada em todos os partidos,  inclusive, no seu, mas, acrescentou: é fato que o comportamento do governo  contribuiu para a banalização da corrupção.
 Vasconcelos  não poupou críticas ao assistencialismo e ao marketing de Lula que mantêm sua  popularidade em alta e afirmou: o Bolsa Família é o maior programa oficial de  compra de votos do mundo. Sem dúvida, uma ofensa de lesa majestade, que deve  ter soado insuportável para o PT que, de modo inusitado não esboçou reação,  assim como não reagiu o PMDB quando seu correligionário, inclusive, apontou de  modo nada elogioso para figuras importantes do partido, tais como, José Sarney e  Renan Calheiros, sendo que se referiu a este como o maior beneficiário deste  quadro político de mediocridade em que os escândalos não incomodam mais e acabam  se incorporando à paisagem.
 Desencantado  e frustrado se mostrou também Jarbas Vasconcelos por não conseguir dar no senado  a contribuição que gostaria, na medida em que se tornou um dissidente do seu  partido.
 Mas,  quantos brasileiros estão desencantados por se sentirem incapazes de alterar o  quadro vigente de corrupção, de mediocridade, de populismo? Quantos sonham em  resgatar valores que impeçam os escândalos se incorporem à paisagem? Sem dúvida  muitos, à espera de quem unifique sua insatisfação. O senador Jarbas Vasconcelos  deu a partida para que se manifeste a oposição. Que outros o sigam, para que a  paisagem comece a mudar ainda que lentamente.
 Maria  Lucia Victor Barbosa é socióloga.
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