O diabo mora nos detalhes. Em primeiro lugar, o artigo inteiro fala do direito de existência de Israel, mas nada fala do direito de existência dos judeus, árabes, e demais que vivem no Estado de Israel. Quando foguetes tombam sobre a população civil de Israel, elesnão escolhem a origem etnica das vítimas.
Agora, se preste atenção no detalhe: no Brasil, segundo o articulista, vivem "milhares"de judeus, e "milhões"de árabes. Notaram? É a técnica totalitária da propaganda, que fala em "milhões"para retirar dos leitores o juízo e para persuadir o mesmo leitor que "milhões"tem mais razão do que milhares. Leiam por favor as análises de Victor Klemperer e de Elias Canetti sobre o número e os milhões. Ah, bem, esqueci que se trata de autores judeus, logo, irrelevantes para os que dirigem hoje os desencontros do Itamaraty...
RR

São Paulo, domingo, 11 de janeiro de 2009     | 
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 TENDÊNCIAS/DEBATES
 
 
 
 Pela paz
   MARCO AURÉLIO GARCIA
 
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 Ninguém pode ficar indiferente. A diplomacia brasileira tem desenvolvido intensa atividade para pôr fim ao massacre 
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      UMA TRAGÉDIA está em curso  no Oriente Médio.Mais do que artigos, declarações ou manifestos, jornais e televisões têm exibido fotos e cenas chocantes que falam por si próprias.
 Diante delas, ninguém pode ficar indiferente.
 O presidente Lula não ficou. O  chanceler Celso Amorim tampouco.
 Nos últimos dias, a diplomacia brasileira -junto com outros governos-  tem desenvolvido intensa atividade  para pôr fim ao massacre.
 O governo brasileiro se sente com  autoridade para desenvolver iniciativas em busca da paz, ainda que saiba o  quão difícil é alcançar esse objetivo.
 Nossa simpatia pela causa palestina -a criação de um Estado independente e viável- nunca se fez em oposição a Israel. Ao contrário, o presidente Lula tem reafirmado aquilo que historicamente seu partido -o PT- e a diplomacia brasileira sempre tiveram como questão de princípio: a defesa do Estado de Israel.
 Não há tempo e espaço nem é oportuno, agora, rememorar o que foram  as últimas décadas no Oriente Médio  e como a irresolução da questão palestina transformou-se na principal  ameaça à segurança coletiva e à paz  mundial.
 A tragédia de Gaza não se resume a  perdas humanas, por si só graves. Ela  tem uma dimensão que não pode ser  ocultada. Mostra a tentativa insana  de resolver um complexo problema,  de profundas raízes históricas, pela  violência. Mais grave, ela antecipa impasses maiores que alimentarão uma  escalada de violência sem fim.
 O massacre em curso, em vez de debilitar os radicais do Hamas, tenderá  a fortalecê-los aos olhos da população  palestina. O uso desproporcional e  cruel da força por Israel, longe de carrear apoios, estimulará seu isolamento, comprometendo sua imagem aos  olhos do mundo. A militarização  maior da sociedade israelense será  consequência inevitável.
 As reações fortes que os acontecimentos de Gaza têm provocado no  mundo e no Brasil podem se explicar  pelo radicalismo de uns ou pelos partis pris de outros.
 Mas a explicação última está no  sentimento de indignação que as imagens de crianças mortas provocam  em todos nós e no sentimento de impotência de que somos possuídos  diante da insana intransigência dos  que acreditam poder tudo resolver  pelas armas.
 Os historiadores muito escreveram  e muito escreverão sobre o drama da  Palestina. Na hora atual, essas questões, ainda que importantes, passam a  um lugar secundário. Trata-se agora  de parar com a violência, logrando um  imediato cessar-fogo para, logo depois, abrir negociações capazes de  conduzir a uma solução definitiva do  problema.
 A ativa participação do Brasil na  busca de solução da crise expressa a  consciência que temos de nossas responsabilidades para com os problemas da segurança coletiva e da paz  mundial. É consequência do peso dos  direitos humanos em nossa agenda  externa. Corresponde à nossa visão  dos problemas mundiais, como país  inserido em uma região de paz, onde  os contenciosos são resolvidos pela  via diplomática. Decorre, finalmente,  da percepção de uma sociedade em  que centenas de milhares de judeus e  milhões de árabes convivem pacífica  e harmoniosamente.
 Como o Brasil deve muito a eles,  não podemos ficar omissos.
 Em seu excelente texto publicado  há poucos dias no "Guardian", Daniel  Barenboin diz ser este "um conflito  intrincado e sensível entre dois povos  profundamente convencidos de seu  direito de viver no mesmo pedaço de  terra". Ele pensa que "não poderá ser  resolvido nem pela diplomacia nem  pelas armas".
 Esse paradoxo é apenas aparente.
 Há momentos na história da humanidade em que a gravidade e a complexidade das questões em jogo exigem a  persistente e metódica busca de soluções que associem política e ética.
 A capacidade de indignação é inerente ao ser humano e, portanto, à  ação diplomática. Afinal, são esses  sentimentos que permitiram no passado e permitirão no futuro a construção da paz duradoura.
 
 
  MARCO AURÉLIO GARCIA, 67, é assessor especial de Política Externa do presidente da República e professor licenciado do Departamento de História da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Foi secretário de Cultura do município de São Paulo (gestão Marta Suplicy).
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