É por motivos assim que eu sempre repito: o totalitarismo nunca existiu na efetividade. Totalitarismo supõe plena junção entre sociedade e Estado, impedindo imaginar sequer movimentos de resistência no interior das duas instituições. Existiu resistência até mesmo na Alemanha, na Itália, na URSS e satélites. Isto não atenua os crimes dos regimes nazi-fascistas, comunistas e quejandos. A imensa maioria dos que aderiram é ainda mais culpada, porque teve diante de seus olhos o exemplo dos que se levantaram contra a tirania. Quem deseja entender o processo de adesão aos mais fortes do momento, os ditadores com mente totalitária, leia ao mesmo tempo um ensaio luminoso de Sartre (não sou dos que jogam no lixo tudo o que um filósofo brilhante escreveu, só porque suas posições negam o que penso) intitulado "O que é um colaborador ?". E na outra mão, leiam o livro de Eric Voegelin, Hitler e os Alemães. Trata-se de leitura instrutiva, em tempos de adesão em massa a tiranetes, no Brasil, na America do Sul, no Oriente Médio, no mundo. O ditador do Irã virá ao Brasil. Para saber se alguém é amigo da liberdade, ou se é um colaborador de fascismo, basta saber se vai às ruas protestar contra a visita, a ser feita a convite do candidato a Papa Doc brasileiro.
RR
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São Paulo, terça-feira, 08 de setembro de 2009
Alemanha perdoa hoje "traidores" do nazismo Câmara Baixa do Parlamento vota projeto para invalidar sentença contra 30 mil soldados da Segunda Guerra Mundial O austríaco Johann Lukaschitz tinha 24 anos quando a guilhotina cortou-lhe o pescoço. Antes, passara semanas com os pés e as mãos acorrentados, o que lhe rendera uma inflamação nas articulações e o levara à enfermaria, em dias descritos por seu vizinho de cama como "contemplativos". Era o início de 1944, e a deserção das forças de Adolf Hitler, que já estavam perdendo a Segunda Guerra Mundial, era rapidamente punida. O crime que levou Lukaschitz à guilhotina, num episódio narrado ao semanário alemão "Der Spiegel" por seu companheiro de enfermaria, foi o mesmo pelo qual 30 mil soldados foram condenados -dos quais estima-se que mais de 20 mil tenham sido mortos. Hoje a Câmara Baixa do Parlamento alemão vota para reparar esse capítulo histórico, comumente esquecido por vencedores e perdedores, e invalidar a sentença dos chamados "traidores do nazismo". Para ser condenado por "traição", bastava levantar dúvidas, mesmo que na esfera privada, sobre a vitória de Hitler -o que, na visão dos juízes da época, baixava o moral das tropas e punha o país em risco. Prestar qualquer tipo de assistência a judeus também era crime. Para efeito comparativo, o historiador Friedemann Bedürftig, citado pela agência de notícias Efe, lembra que na Primeira Guerra Mundial "apenas" 148 pessoas foram condenadas à morte por traição. O tema toca em um assunto que, mesmo passados 64 anos do fim da guerra, ainda é sensível na Alemanha. Trâmite demorado A proposta originalmente foi feita em 2006 pelo deputado Jan Korte, 31, do partido A Esquerda (Die Linke). Mas demorou para ganhar apoio da coalizão governista, composta pelos democrata-cristãos da chanceler (premiê) Angela Merkel (direita) e pelos social-democratas (centro-esquerda), e chegou a provocar controvérsias entre os partidos e até entre os historiadores por eles ouvidos, que trocaram acusações. No fim, depois de um debate acalorado também na mídia alemã, o projeto teve adesão plena. "Não há nenhum caso documentado em que os supostos traidores tenham causado mal a terceiros", declarou à Efe a deputada social-democrata Christiane Lambrecht. Uma das bases do projeto é o livro "O Último Tabu", dos historiadores Wolfram Wette, especialista em história militar, e Detlef Vogel, que pesquisaram minuciosamente 33 casos e concluíram que a maior parte dos condenados agiu motivada por questões éticas. Johann Lukaschitz, por exemplo, foi acusado de "deixar de relatar o planejamento de um ato de traição": ele recusou-se a entrar em um conselho dentro de sua unidade que aspirava contra o regime, mas tampouco delatou os colegas. Para Lambrecht, a votação de hoje trata-se apenas de uma reparação "simbólica", já que as famílias dos mortos (na maioria, militares de baixo escalão) não foram nem serão, se aprovada a lei, indenizadas. (LUCIANA COELHO)
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