Este artigo sobre a musa filosófica do Noço Guia, me valeu o ódio dos seus companheiros, sobretudo dos que foram beneficiados pelas companheiragens com lugares em universidades, premios de "honra ao mérito" e demais picaretagens intelecto-militantes. Desde que leram o texto abaixo, eles passaram a publicar, dia sim dia não, ataques contra minha pessoa, afirmando que "falo mal" da sua querida inspiradora. Não falo mal, falo o que ela fez e faz, diz e disse, em publicações. Como o vezo militante é o de mentir, e como são mentirosos contumazes, diante da verdade eles só podem...mentir, com a cara limpa. Os leitores honestos encontrarão, nas linhas que seguem, coisas provadas e nada mais. Para me calar, companheiros, é preciso me enviar para o Além, o que, visto seus costumes, não me causará nenhuma surpresa. PT. Saudações. Roberto Romano
Quando uma instituição autoritária deseja impor regras e atitudes aos seus integrantes, ela inicia os procedimentos para obrigá-los com o uso da censura. Caso os rebeldes não se curvem e desobedeçam as ordens superiores, eles recebem punições diversas, das mais leves às severas. A excomunhão é o ato final da tragédia ética, porque nela os dirigentes perdem algum poder (corpos e mentes saem do seu controle) e os expulsos ficam sem as antigas referências intelectuais ou emotivas. A Igreja Católica sabe que a excomunhão é traumática e acarreta resultados deletérios. O caso Lutero é por demais ilustrativo. É por esse fato que os cardeais e bispos, sob autorização papal, inventaram o “silêncio obsequioso”. Quem o aceita mostra boa vontade e promete tacitamente retornar à plena obediência. Em vez de romper com as autoridades ou crenças criticadas, o silencioso por conveniência proclama, com o próprio mutismo, sua adesão ao poder imperante na igreja ou partido político. Ele permite que sua consciência seja estuprada pela metade, para manter a farsa desempenhada pelos seus carcereiros espirituais. Intelectual que aceita silenciar “em obséquio” nem é fiel nem infiel, é uma farsa. O mundo político ocidental, fruto de uma ruptura com o mando sagrado (consulte-se o livro de Ernst Kantorowicks, Os Dois Corpos do Rei), conserva a liturgia e os procedimentos religiosos, sem conexões com a transcendência. Trata-se de uma religião farsesca com os seus fiéis militantes (muitos deles fanáticos), uma Inquisição onde pontificam bruxos e perseguidores. O comunismo teve seus “obsequiosos” fantasiados de Galileu. G. Lukács foi um deles. O petismo, na derrocada axiológica que o leva, literalmente, ao lixo (Leão Leão… e outras “empresas” do ramo) hoje apresenta os seus “intelectuais críticos” farsescos. Dentre eles, a professora Chauí, bem afeita ao verbo fluente quando se tratava de afastar os adversários do petismo, agora apoia o seu partido com a tática do silêncio falso. Após usar e abusar o quanto pôde da imprensa para os fins de sua propaganda, ela finge “não ler jornais”. E fornece um subterfúgio aos seus colegas que, sem coragem ou honestidade intelectual para romper com o PT, encontram na imprensa o Judas para esquecer os Delúbios e Silvios Pereiras de quem ainda ontem obedeciam ordens. Diante de últimas marilenadas, em comícios disfarçados de seminário filosófico, a memória me traz fragmentos de um convívio desagradável com a professora da USP.
Nos barracões onde se abriga a filosofia uspiana, o calor ameaça qualquer atenção. A professora arenga numa sala repleta de jovens boquiabertos. Cita enorme trecho de Kierkegaard. Pergunto: ela teria esquecido pedaços do texto ou se enganado? Algo era muito estranho. Em casa, corro ao livro em questão, sem acesso ao texto original, redigido em língua estranha à humanidade. Mas o disponível estava na língua francesa. Confiro as notas de aula e fico perplexo: cada linha, cada vírgula da tradução correspondem às palavras da professora. “A senhora tem razão, pois cita o texto sem erro.” Resposta: ”Eu sempre tenho razão!”. Surge em mim o espanto e a repugnância. Quem fala daquele modo pratica apenas a retórica ou a ideologia. Memorizar um texto, ensina Platão, está muito longe de colher os objetos nele indicados. Papagaios repetem perfeitamente muitas palavras.
A segunda vez em que me espantei com atitudes de Marilena Chauí: na visita inaugural de João Paulo II ao Brasil. A esquerda do catolicismo vulgar, liderada por pessoas pouco afeitas à cultura, afirmam que a Igreja seria socialista. Sem atenção aos fatos e às idéias, elas repetiam palavras de ordem que mais expressavam seu desejo do que alguma coisa efetiva. Eu defendera uma tese de doutorado na França e mostrara que os laços entre o mundo político e a Igreja eram mais sutis do que imaginavam os afeitos aos psitacismos de Marta Harnecker. Os donos da verdade “revolucionária” elaboraram suas falas como líderes de rebanhos humanos. Para ilustrar o clima do tempo, basta dizer que recebi certo projeto de tese a ser dirigido à Fapesp. A “tese” era simples: ao mudar o modo de produção, mudam as super estruturas. Ora, o modo de produção deixava o capitalismo pelo socialismo. Logo, a Igreja se transformava em socialista… No “projeto de tese” vinha uma bibliografia sublime: textos de Engels e Marx unidos “ao” documento do Vaticano 2. Quando encontrei a candidata (na presença de estudantes e docentes) falei sobre o trabalho que ele era “digno de Max Weber e de Karl Marx”.
Continuo a história da moça que iria "provar" o socialismo fatal da Igreja Católica. Seu projeto, disse, era digno de Weber e de Marx. Após o sorriso satisfeito da moça, terminei: "Digna de Weber pouco antes de ser internado e de Marx quando os furúnculos lhe doíam na British Library". Como ela conseguiria demonstrar a passagem de um campo ao outro da vida social? Marx mesmo desistira do sipoal em questão. Entreguei à moça uma lista de livros a serem lidos, se ela quisesse falar algo sobre o tema, algo em torno de 100 títulos. Ela recebeu uma informação sobre "o" documento do Vaticano 2. O Concilio produziu milhares de páginas. A resposta da candidata foi honesta e singela, nos padrões da esquerda misóloga e militantes: "Não lerei tais livros e documentos, porque eles podem modificar o resultado da minha pesquisa!" A sua possível orientadora desistiu de ambas, tese e orientanda.
A narrativa acima ilustra o ambiente da esquerda católica da época, com os seus parasitas de sempre. O saber estava dado nos lambões de marxismo e a pesquisa era roupagem para "expropriar" a Fapesp e demais instituições burguesas. No mesmo plano superficial da "pesquisadora" andavam importantes líderes da Teologia da Libertação, como Clodovis Boff, irmão de outro Boff mais famoso. Na resenha que escreveu para o meu livro (Brasil, Igreja contra Estado) e tentando ridicularizar minhas advertências sobre o conúbio entre socialismo e catolicidade, ele brindou a cultura política com lindas pérolas, referindo-se à "inegável tendência da Igreja na direção do projeto socialista". Burrice satisfeita e grosseria definiam os "projetos" da estudante uspiana e de Boff. Termina o autor a sua resenha de maneira gentil : "Este discurso altivo e coquete dá mostras de estar completamente por fora da questão real. Ele não se engata na caminhada dos oprimidos. A quem poderá interessar?" (A Igreja da Esperança, Leia Livros, Agosto de 1980). A "ciência marxista" rezava que a Igreja se tornaria irresistivelmente socialista. Quem não "engatasse" naquele trem perderia a história.
Volto à mestra Chaui. Se a Igreja era candidata certa ao socialismo, nada mais "natural" que João Paulo 2 assumisse semelhante "projeto". Afinada com todos os setores que lhe acarretam dividendos, a professora jogou Spinoza às urtigas, escondeu as críticas à dominação teológico-política e pregou as maravilhas do Bom Pastor. A Folha de São Paulo (Folhetim) organiza um encontro para discutir a visita papal ao Brasil. Foram convidados religiosos e até aquela data a muito atéia professora. Recebi um convite, pois imaginaram-me fervoroso adepto do novo papa. Engano fatal. Os religiosos cantaram João de Deus em prosa e verso. Chaui armou um aranzel para dizer que ele libertarias as massas oprimidas pelo capital. Alertei os presentes e a esquerda: o sumo pontífice era contrário ao socialismo e desmantelaria as teologias da "libertação". Matéria publicada, a censura mostrou-se com evidência, pois foram editadas frases minhas sem as bases críticas que avancei. Já a arenga "socialista, cristã e libertária" da professora foi publicada na íntegra. Seguiu-se a luta entre João Paulo 2, a URSS, e quejandos. As primeiras vítimas, merecidamente, foram os "teólogos" que preferiram insultar em vez de refletir no real alcance do delírio de uma catolicidade "socialista". Com a repressão do Vaticano, a professora calou o bico sobre o libertarismo religioso e, rápido, retornou a Spinoza.
Certo dia, ao ler o jornal, vejo um texto de José Guilherme Merquior acusando um plágio da professora. Movido pela piedade e diante dos lamentos dramáticos por ela encenados, tentei defendê-la. Como não pertencia ao PT, sugeri que os "companheiros" deveriam vir a público. Todos, menos um, declaravam-se "indignados" com Merquior. Logo, afirmavam, escreveriam algo contra ele. Nada aparecia. Vários dentre eles mantinham colunas em revistas do País. O "menos um" indicado, importantíssimo no Panteão da esquerda, disse clara e distintamente : "Ela colou". Com o silêncio dos intelectuais petistas, em companhia de uma docente da USP escrevi na Folha em defesa de Chaui. Levei merecidas pauladas de Merquior. Numa polêmica é preciso sair ou solicitar desculpas pelo começo. Marilena Chaui exigia que não respondêssemos ao crítico enquanto o objeto do plágio, Claude Lefort, não o desmentisse. Depois de muita espera escrevemos comunicando que não diríamos mais nada sobre o caso. A acusada se lixou para o que ocorreu conosco, uma vez "absolvida" por Lefort. Na época um universitário ligado ao petismo saiu-se com esta: "Marilena é intelectual e militante. Não possui o tempo necessário para leituras. Ela pode agir assim, pela causa". Adeus às aspas…
Corre o tempo e tenho a ingenuidade de criticar a então Secretária Municipal da Cultura. Ela decretava coisas insanas sobre o direito, a lei, a legitimidade. Caras se fecharam, "desconvites" ocorreram, ameaças pouco sutis surgiram. Ousadia cobrar saberes da maravilha uspiana! E seguiu o trem dos anos enquanto Chaui parolava para defender o PT. Uma ou outra paulada recebida por ela de acadêmicos sérios eram escondidas em várias redações. Um episódio hilário sobre o "número de Dedekind". A professora afirmou sandices sobre o tema e recebeu uma crítica mortal de um acadêmico. Os sectários afirmaram que o debatedor era tucano, logo…. E assim, a parolagem de Marilena bordava tolices sobre a teoria da relatividade, sobre a obra de arte, sobre as empregadas domésticas, sobre o mundo e o fundo (algumas vezes, o Monetário). O PT era o futuro dos que deitavam "falação" (o termo é deles, e apenas deles, sempre seguido de fórmulas ridículas ("resgate", "enfrentamento", "transparência", etc) sobre ética na política.
Voltemos à reforma da Previdência. Os movimentos docentes desejavam repudiá-la. Como disse, é seu direito democrático. Quando recebi a lista dos convidados para o Ato Público, perdi a fala: lá estava a professora! Na hora, mandei mensagem eletrônica às associações, perguntando se não se envergonhariam de ter como convidada para falar contra o governo, uma pessoa que se permitia o desfrute das frases citadas acima. Como resposta, veio o silêncio. A professora foi ao Ato e disse coisas e loisas contra o neo-liberalismo: "Podemos levantar duas questões. A primeira é por que, não sendo necessária esta reforma (uma reforma sim, mas não esta), e sendo inconstitucional, por que é que ela está sendo feita. E levar em conta o que diz o Chico de Oliveira, que essa reforma rende mais do que qualquer privatização feita no governo Fernando Henrique e portanto está ligada a uma negociata. Isso para nós petistas é de uma gravidade sem precedentes, porque nos força a deslocar a discussão do campo econômico e do campo político e do campo ideológico para o campo ético puro e simples. (...) Esta reforma é um enorme equívoco do governo. Abre uma contradição entre a sua proposta afirmada de inclusão e cidadania e uma proposta efetivada de exclusão. Então eu penso que mais do que nunca nós estamos convocados a uma ação política, temos a tarefa política de fazer isso para que efetivamente o governo de esquerda que nós elegemos possa se realizar. Penso que nossa tarefa de crítica, de contestação, de esclarecimento, de informação, de retomada do plano racional, político e técnico dessa questão é um dever histórico que temos, é uma tarefa política indeclinável, porque da nossa ação com relação a essa primeira exposição social do governo, do resultado da nossa ação, depende o que vai acontecer com o restante desse governo. É uma hora muito grave, estou sugerindo a nossa responsabilidade histórica de impedir o colapso, o fracasso e a direitização de um governo de esquerda que está lá porque nós o construímos. Esse governo não pode começar com uma negociata. Não foi para isso que trabalhamos durante 30 anos." (Palavras gravadas pelo Fórum das Seis Entidades no dia 10/06/2003).
Mas bem logo a mestra escreveu lindo artigo sobre a Previdência e deu um chute no traseiro das associações docentes, estigmatizando os que, no seu entender tentavam "interpretar as reformas da Previdência e tributária como destruição de direitos (quando elas buscaram quebrar privilégios travestidos de direitos)" (A disputa simbólica, Folha, 18/02/04). E veio a "Moção de Repúdio" à professora pelos seus anfitriões. Ninguém é obrigado a aplaudir o governo. Ninguém é obrigado a criticá-lo. Mas dissimular apoio ou crítica com palavras duplas, é simples demagogia.
Os "companheiros" mostraram a que vieram. A mestra acusou os jornais ("não os leio"). Sabedora da repercussão jornalística de qualquer crítica à imprensa, em tempo de PT na muda Chaui soltou o verbo sobre a "armadilha" tucana (a reforma da Previdência) posta contra o angélico governo do Grande Apedeuta e de seus amigos, também amigos de Valério e companhia bela. Marilena recorda a tese petista contra a reforma da Previdência. No dia seguinte renega o programa e ganha o repúdio de seus colegas. Depois, diz que houve uma armadilha e que o deus petista que a tudo ilumina e desperta adoração magistral, caiu como pato manco numa emboscada dos maquiavélicos tucanos. Chaui copia Sartre sem precisar a citação, afirmando que os intelectuais não petistas são ideólogos.
Por volta de 1973, F. Weffort escreveu um artigo: "Deixemos as farsas inúteis. História crítica ou história ideológica?" Chaui repudia uma lei, a festeja e depois a expõe como obra alheia. Seu ofício é descrito no Sofista ou no De Garrulitate. Se desejasse calar de verdade, ela aposentaria os truques dos quais se tornou mestra. Na muda, espera a gárrula professora que o seu partido retorne, vitorioso, nos próximos eventos da república. Mas o aluvião podre que leva sua gente ao rio chamado esquecimento também a conduzirá na correnteza. Os loquazes do PT, incluindo a professora, habitam um túmulo político. O deus pequeno "que fala e tudo ilumina" tem pouco tempo no poder. PT. Saudações.