segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Um poema de Nêumanne.

Quatro quartetos de breve sopro

Estamos a um segundo do futuro,

que pode ser o abismo sem fundo,

a montanha a escalar desde o sopé

ou o vale verde a descortinar do topo.

Ficamos a um passo do destino,

que deve ser a arrancada para a grande marcha,

o músculo retesado e o pé no chão

ou a fita de chegada, findo o páreo.

Cá partimos do tudo que é nada

para chegarmos ao nada que é tudo:

alguns milímetros nos separam do fim

e nos restam sete palmos até o infinito.

A sequência de anos novos envelhece nossas vidas:

do pedalinho do parque ao barco de Caronte são dois palitos.

Nada acontece entre o fôlego respirado e o bafo a expirar,

tudo volta ao pó entre o último minuto e o suspiro final.

José Nêumanne Pinto

São Paulo, 30 de dezembro de 2010