quinta-feira, 12 de abril de 2012

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28 Março 2012

Millôr Fernandes

 
 
Se a lusofonia alguma vez teve humor a sério e sátira consistente, foi com Millôr Fernandes. Podia ter sido, há uns séculos, um filósofo da Ásia Menor, como também, mais tarde, poderia ter iniciado uma Reforma que, a rir, poria a ridículo qualquer Contra-Reforma; mais tarde ainda, poderia ter sido o que faltou antes e depois da Revolução Francesa, e caso o último quartel português do século XIX tivesse sido o seu, dificilmente o veríamos longe das Conferências do Casino e cuja companhia Eça não dispensaria ou mesmo cuja cumplicidade os levaria a um folhetim no Diário de Notícias. Mas apanhou o século XX e no Brasil, onde, sempre acossado pela censura, por todas as censuras, fez com que o seu país tivesse sempre piada, piada universal pois o que o Millôr escrevia e observava se aplicava a todo o mundo, em cada uma das suas fábulas, em cada uma das suas frases. Ele recriava a língua constantemente, inventava a língua portuguesa por dentro da língua portuguesa. Merecia ter ganho em vida um prémio de lusofonia, um prémio da língua de que foi cultor exigente. Era isso na escrita e no convívio. Mas nunca a lusofonia, cheia de premiados por rotatividade política conveniente e cheia de doutores honoris causa que fazem rir de tristeza, o reconheceu. E foi pena.