Mulher estuprada por policiais é acusada de indecência na Tunísia
Grupos de direitos humanos condenam acusação e temem que outras vítimas de abuso sexual se sintam intimidadas
02 de outubro de 2012 | 16h 30
estadão.com.br
TUNIS - Centenas de mulheres protestavam nesta
terça-feira, 2, em frente a uma corte de Justiça na Tunísia, indignadas
com o fato de uma mulher ter sido estuprada por policiais e depois, ao
registrar queixa, acusada de indecência. "Acusar uma vítima de estupro,
cometido por policiais, ao invés de protegê-la de possíveis
intimidações, destaca as falhas na legislação e no sistema jurídico da
Tunísia" afirmou Hassiba Hadj Sahraoui, diretor da Anistia Internacional
no norte da África e do Oriente Médio, para a rede CNN.
Zoubeir Souissi/Reuters
Centenas protestam em frente de corte judicial
O caso teve início no dia 3 de setembro em Túnis, quando três
policiais abordaram a mulher e seu noivo, que estavam em um carro,
contou o advogado da vítima para a Anistia Internacional. Dois policiais
então cometeram o estupro dentro do veículo, enquanto o outro oficial
levou o noivo da vítima a um caixa eletrônico para extorqui-lo.
Apenas após a mulher dar queixa e os policiais serem acusados de
estupro e extorsão, é que os três disseram ter encontrado o casal em uma
"posição imoral" no carro. "Inicialmente o caso chocou a opinião
pública uma vez que a mulher foi estuprada por policiais. Mas quando o
veredito foi anunciado, ficamos ainda mais chocados já que eles
(policiais) tentaram levar o caso para outro lado, ao acusar a vítima",
disse à CNN Salah Eddine El Jorshi, da Liga de Direitos Humanos da
Tunísia.
O casal foi acusado de "comportamento indecente intencional" e pode
ficar até seis meses na prisão. Os dois negaram as acusações. Nesta
terça-feira, ocorreu a segunda audiência do caso. A acusação indignou
diversos grupos de direitos humanos, como a Liga de Direitos Humanos da
Tunísia e a Associação de Mulheres Democráticas, que convocou o
protesto.
"Nós tememos que o tratamento dado a essa jovem intimide outras
vítimas de abuso sexual de tornarem os casos públicos por terem medo de
serem tratadas como acusadas e não vítimas", explicou Sahraoui.