terça-feira, 3 de março de 2009

Meritíssima ou meretríssima?

Não existem outras palavras para designar a razão gananciosa de Estado que dirigiu as "potências coloniais", em especial nos seculos 19 e 20, a não ser "ladroagem". A guerra do ópio é apenas uma dentre muitas ignomínias praticadas pelos "brancos superiores".

É bom ter na lembrança que na India os indianos não podiam andar pela calçada, porque ela era reserva dos "superiores"e na China os clubes inglêses tinham na porta cartazes dizendo ser proibida a entrada de cães e chineses. No mesmo passo do racismo mais do que escancarado, veio a pilhagem dos bens culturais e artísticos dos "inferiores". A ladroagem é evidente, basta visitar o Louvre, o Museu Britânico e outros redutos muito civilizadores da bela Europa.

Ridículo o viúvo do grande costureiro exigir que, para devolver o fruto da ladroeira européia, a China aceite o retorno do Dalai Lama. Uma coisa é a gana de poder dos dirigentes chineses atuais, o seu virulento imperialismo de Estado. Outra coisa é dizer que o governo teocrático do Lama seria algo com remotos matizes de democracia. Outra coisa ainda mais diferente é exigir algo só realizável em longos recursos diplomáticos ou guerra, para entregar o fruto de roubo.

O viúvo quer dar aparência de dignidade a algo nada digno de louvor. Recordo a anedota contada por Millor Fernandes, em tempos passados : um juiz recebe petição de certo advogado, na qual o causídico pouco instruído (é a regra) chama o magistrado de Meretríssimo. O juiz nega a medida solicitada e ainda explica : "meritíssimo vem de mérito. Meretríssimo vem de algo que não tem nenhum mérito". A "exigência" do viúvo é meretríssima. Nada mais.
RR


São Paulo, terça-feira, 03 de março de 2009



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foco

Colecionador chinês faz oferta falsa e sabota venda de peças pilhadas da China

China Daily/Reuters

Cai Mingchao, que sabotou o leilão de obras saqueadas

DA REDAÇÃO

O colecionador de arte chinês Cai Mingchao se identificou ontem como o comprador de duas estátuas de bronze originalmente saqueadas na China pelos Exércitos francês e britânico ao final da Segunda Guerra do Ópio (1856-60). As peças foram vendidas na semana passada em leilão de objetos de arte pertencentes ao estilista Yves Saint Laurent (1936-2008).
O objetivo da "compra", no entanto, era sabotar o leilão. Cai declarou que não pagará os cerca de R$ 86 milhões oferecidos por ele pelas peças -representando um rato e um coelho-, em protesto contra o saque realizado há quase 150 anos e considerado pelos chineses uma humilhação nacional.
As guerras do ópio foram declaradas pela Grã-Bretanha, no século 19, para forçar a China a comprar a droga, trazida da Índia por comerciantes britânicos. Em 1860, tropas daquele país e da França chegaram até o Antigo Palácio de Verão, residência do imperador chinês -que fugira, evitando a captura. Os europeus então saquearam o local, além de atearem fogo à construção.
"Quero ressaltar que esse dinheiro não pode ser pago", afirmou o colecionador. "Qualquer chinês faria o mesmo se pudesse. Fiz apenas a minha obrigação."
O governo chinês, por sua vez, declarou não ter nenhuma participação na iniciativa de Cai, embora houvesse antes protestado contra o leilão.
O viúvo de Yves Saint Laurent, Pierre Berge, havia declarado antes do evento que devolveria as estátuas se a China se dispusesse a permitir a volta do líder espiritual dalai-lama ao Tibete.
"Eles [o governo chinês] não conseguiram reaver as peças, e por isso, creio, devem ter pressionado um comprador individual", especulou Berge.
Segundo ele, com o não-pagamento, as peças devem continuar em sua residência. "Vou mantê-las lá em casa."


Com agências internacionais