Ministro propôs acordo para me calar, diz policial
          Ao Estado, João Dias Ferreira contradiz a versão de Orlando Silva sobre o encontro entre os dois
          17 de outubro de 2011 | 18h 58
                                                                              Leandro Colon, de O Estado de S.Paulo
                           BRASÍLIA. Em entrevista exclusiva ao Estado nesta segunda-feira, 17, o policial militar João Dias Ferreira contradiz a versão do ministro do Esporte,  Orlando Silva (PC do B), sobre o encontro entre os dois. Ferreira  afirma que Orlando propôs, pessoalmente numa reunião em março de 2008 na  sede do ministério, um acordo para que o esquema de corrupção na pasta  envolvendo o Programa Segundo Tempo não fosse denunciado. O ministro diz  ter se encontrado com Ferreira apenas uma vez, entre 2004 e 2005, para  discutir convênios das entidades dirigidas pelo policial com o  ministério.   
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 Ferreira deu detalhes do encontro que diz ter tido com o ministro do  Esporte em março de 2008. "O acordo era para que eles tomassem  providências internas, limpassem meu nome e eu não denunciaria  ao  Ministério Público", afirmou. "O encontro foi na sala de reunião dele,  no sétimo andar do ministério", disse.
  
  Neste encontro, o policial disse que negociou com o ministro a  produção de um documento falso para selar o acordo, já que o ministério  cobrava cerca de R$ 3 milhões de suas entidades. "Nessa reunião com o  Orlando, eles falaram em produzir um documento sem data. Ele foi pré  produzido e consagrado. A reunião foi em março , mas eles colocaram um  documento com data de dezembro de 2007 dizendo que eu encerrava o  convênio. É um documento fraudado", disse. 
  
Duas semanas depois do encontro com Orlando, já em abril, uma  nova reunião foi feita no ministério, desta vez sem a presença do  ministro. Essa conversa, segundo o policial, ocorreu numa sexta à noite,  e contou com dirigentes da pasta aliados do ministro. Ele diz ter  gravado este encontro.
  
O ministro afirmou no sábado ter encontrado o policial uma só vez  entre 2004 e 2005, quando era secretário-executivo da pasta na gestão  de Agnelo Queiroz à frente do ministério. "Foi a única vez que encontrei  essa pessoa", disse o ministro, em entrevista no México. Segundo o  policial, esse encontro mencionado por Orlando jamais ocorreu. "Essa  reunião que ele diz ter feito comigo nunca aconteceu. Não existe essa  reunião. O ministro faltou com a verdade", disse Ferreira. "O ministro  esteve comigo uma vez, em março de 2008, para fazer um acordo com o  pessoal dele para eu não denunciar o esquema", disse. 
  
Leia trechos da entrevista que será publicada nesta terça-feira na versão impressa de O Estado:
  
O ministro Orlando Silva diz que se encontrou só uma vez  com você, entre 2004 e 2005, na gestão do ex-ministro Agnelo Queiroz. É  verdade?
Essa reunião que ele admite nunca aconteceu. Não  existe essa reunião. O ministro faltou com a verdade. Ele esteve comigo  uma vez para fazer um acordo com o pessoal dele para eu não denunciar o  esquema.
Leandro Colon, de O Estado de S.Paulo
                              Quando foi essa reunião?
Em março de 2008, estava toda a cúpula. Foi no ministério, no sétimo andar, na sala de reuniões do Orlando.
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  Por que houve essa reunião?
Eles já tinham  proposto um acordo e eu disse que só admitia na presença do Orlando para  ele homologar. E eu disse na reunião que descobri todas as manobras, a  ligação dos fornecedores. Eles começaram a dizer que estávamos irregular  a partir do momento que a gente não pagou os 20% iniciais e não admitiu  os fornecedores que eles indicaram. Fomos rebeldes.
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E o que disse o ministro?
O Orlando disse  para eu ficar tranquilo, que tudo seria resolvido, que não faria  escândalo. Eu disse, que se isso não fosse feito, eu tomaria todas as  providências e denunciaria o esquema. O esquema é padrão, um protocolo,  como vocês do Estado mostraram em fevereiro. E apontei, na reunião,  cinco funcionários responsáveis pelas fraudes.
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  E qual o teor do acordo?
O acordo era que eles  tomassem providências internas, limpassem meu nome e eu não denunciaria  ao Ministério Público. Nessa reunião com o Orlando, eles falaram em  produzir um documento sem data. Ele foi pré-produzido e consagrado. A  reunião foi março, mas eles colocaram um documento com data de dezembro  de 2007 dizendo que eu encerrava o convênio. É um documento fraudado. Eu  disse que não concordaria e iria denunciar. Me acharam com cara de  mané.
 Esse acordo foi feito na presença do ministro?
Sim.  Mas logo em seguida, eles, em vez de resolver o problema, fraudaram um  documento dizendo que eu devia dinheiro e jogaram nas minhas costas.