Clichês da violência
Vinicius Mota na Folha
Um
 homem de 24 anos pratica um massacre num cinema dos Estados Unidos. 
Começam as explicações: “É a cultura das armas na sociedade americana”; 
“É a estética do justiçamento em Hollywood”.
Tiras
 perseguem e matam um empresário na capital paulista porque, alegam, 
pensaram que ele sacava uma arma. Era seu telefone celular. Começam as 
explicações: “É a militarização da polícia”; “É a sociedade cada vez 
mais violenta”.
O
 crime é alvo dileto das explicações universais. Não que estejam sempre 
erradas -como um relógio parado, têm sua taxa de acerto.
Quando
 a economia piora, o desemprego cresce e a desigualdade aumenta, reza o 
axioma, a violência sobe. Se as armas estão à disposição e o cinema 
valoriza a brutalidade, compõe-se então o caldo do capeta.
Todos
 esses fatores atuam de 2008 para cá nos Estados Unidos, que atravessam 
uma das piores agruras econômicas de sua história. No entanto a criminalidade atingiu, nesse período recente de desemprego, o mais baixo patamar em 40 anos.
No
 Estado de São Paulo, a taxa de homicídios caiu fortemente, enquanto os 
indicadores do emprego e da renda progrediram. Mas o fenômeno não se 
repetiu nos roubos e furtos. Outras regiões do país, que passaram por 
boom da renda até mais expressivo, nem sequer na taxa de assassinatos 
melhoraram.
Eficácia
 de prisões, polícia e Justiça e certos traços da população -como a 
proporção de jovens, mulheres e migrantes- melhoram a explicação das 
tendências mais gerais, coletivas. Fatores culturais influem, embora 
seja difícil objetivá-los.
Mas
 a receita do fracasso, e às vezes da picaretagem, é tomar barbaridades 
específicas como determinadas por vetores estruturais. Não foi o militarismo que matou o empresário paulista, nem a cultura das armas que massacrou no Colorado.
Foram indivíduos, plenamente responsáveis pelo que fizeram.