A greve e os truques do governo
Por Maurício Caleiro, no blog Cinema & Outras Artes:     
 À
 medida que vêm à tona análises mais detalhadas da proposta do governo 
Dilma aos professores em greve, fica cada vez mais evidente que se trata
 não apenas de uma resposta insatisfatória em termos salariais e de 
estruturação da carreira. Depreendem-se do episódio aspectos 
preocupantes quanto às estratégias comunicacionais adotadas pelo governo
 no episódio, no modo como ele concebe e se relaciona com o professor 
universitário no Brasil e, sobretudo, no que toca à posição da Educação 
ante a área econômica do governo, tendo em vista seu planejamento e 
perspectivas futuras.
À
 medida que vêm à tona análises mais detalhadas da proposta do governo 
Dilma aos professores em greve, fica cada vez mais evidente que se trata
 não apenas de uma resposta insatisfatória em termos salariais e de 
estruturação da carreira. Depreendem-se do episódio aspectos 
preocupantes quanto às estratégias comunicacionais adotadas pelo governo
 no episódio, no modo como ele concebe e se relaciona com o professor 
universitário no Brasil e, sobretudo, no que toca à posição da Educação 
ante a área econômica do governo, tendo em vista seu planejamento e 
perspectivas futuras.     
    
Ilusionismo financeiro
Ilusionismo financeiro
Quanto aos aspectos propriamente salariais, claro 
está que a proposta do governo é de tal ordem sujeita a variações de 
dados macroeconômicos futuros e à definição exata de datas de reajuste –
 deixadas em aberto – que não se pode falar categoricamente em aumento. 
Pois, a depender da inflação de 2012, 2013 e 2014 e de como o governo 
dividirá percentualmente entre tais anos os reajustes salariais, estes 
podem ser anulados ou mesmo superados pelo aumento do custo de vida.    
Aumentos trienais sem garantia de percentual acima da inflação não significam a priori aumento real, mas uma aposta.
Aumentos trienais sem garantia de percentual acima da inflação não significam a priori aumento real, mas uma aposta.
Plano de carreira
A atual greve dos professores prioriza duas 
reivindicações: plano de carreira e melhoria salarial. Se esta, como 
vimos, depende de uma aposta, o plano de carreira delineado pelo MEC – 
que, embora protocolado em abril de 2011, recende a improvisação – 
apresenta, infelizmente, aspectos que não apenas pioram as condições 
atuais como evidenciam, de forma indubitável, a priorização das demandas
 da área econômica do governo em detrimento do planejamento sério e 
consequente do que deva ser a evolução profissional de um professor 
universitário.
Em meio a brechas e indefinições potencialmente 
danosas, o mais contraditório desses aspectos é a determinação de que 
mesmo mestres e doutores devem ingressar no magistério superior como 
Professor Auxiliar, e que só podem evoluir após os três anos de estágio 
probatório. Ora, isso, além de não fazer o menor sentido, é uma afronta à
 própria expectativa de direito anteriormente assegurada àqueles que ora
 cursam mestrado ou doutorado, para os quais ingressaram, em sua imensa 
maioria, justamente para ascender à (ou ingressar na) classe referente à
 sua titulação.    
Papo reto
Papo reto
Se o governo realmente estivesse bem-intencionado e 
prezasse os professores das federais, não apresentaria uma aposta, mas 
uma proposta concreta de aumento salarial, superior à inflação projetada
 para este ano, e efetiva a partir de março de 2013 (pois um ano após o 
aumento de 2011). Simples assim.    
Tivesse tomado essa medida trivial e apresentado um plano de carreira decente – obrigações básicas de qualquer governo, ainda mais de um que diz privilegiar a educação –, a greve já teria há tempos se encerrado.
Ao invés disso, após mais de um mês de paralisação, rompe o silêncio e monta uma verdadeira operação de marketing para divulgar sua proposta – incluindo um texto em que dá destaque aos aumentos maiores, relativos à ínfima minoria dos professores titulares,e tabelas comparativas sui generis, que, numa manipulação injustificada e claramente mal-intencionada, contrapõem os salários de 2010 aos que os professores poderão vir a receber em 2015. Convém lembrar que estamos em 2012.
Marketing e mídia
Tivesse tomado essa medida trivial e apresentado um plano de carreira decente – obrigações básicas de qualquer governo, ainda mais de um que diz privilegiar a educação –, a greve já teria há tempos se encerrado.
Ao invés disso, após mais de um mês de paralisação, rompe o silêncio e monta uma verdadeira operação de marketing para divulgar sua proposta – incluindo um texto em que dá destaque aos aumentos maiores, relativos à ínfima minoria dos professores titulares,e tabelas comparativas sui generis, que, numa manipulação injustificada e claramente mal-intencionada, contrapõem os salários de 2010 aos que os professores poderão vir a receber em 2015. Convém lembrar que estamos em 2012.
Marketing e mídia
Com estratagemas tais, e contando com a colaboração 
preciosa da mídia – que tantos alegam ser implacavelmente contrária à 
administração Dilma -, o governo tem sido parcialmente bem-sucedido em 
sua estratégia de jogar o público contra a greve. Basta ler os jornais e
 portais – e, neles, os comentários – para se ter a impressão de que os 
professores universitários estariam prestes a virar os novos marajás: 
“45% de aumento!”, “R$17 mil reais”, “Maior aumento da história”. 
(Como se vê, a cobertura que a mídia destina à greve 
fornece mais um exemplo claro de que a oposição simplista entre PIG 
(Partido da Mídia Golpista) e governo Dilma não é efetiva, como querem 
alguns. E que havendo afinidade de interesses entre mídia corporativa e 
governo, a imprensa não se furta a se posicionar ao lado deste. Deixa de
 ser o malvado PIG e vira jornalismo amigo.)    
Porém, a realidade fria dos números é bem outra. Para se aprofundar sobre os meandros da cobertura midiática, vale a pena ler os textos de Joana Tavares (no Vi o Mundo) e os de Sylvia Debassan Moretzsohn, “A lamentável cobertura da greve nas federais” (no post abaixo) e “O jornalismo cego às armadilhas do discurso oficial” (noObservatório da Imprensa).
Equívocos e autoritarismo
Porém, a realidade fria dos números é bem outra. Para se aprofundar sobre os meandros da cobertura midiática, vale a pena ler os textos de Joana Tavares (no Vi o Mundo) e os de Sylvia Debassan Moretzsohn, “A lamentável cobertura da greve nas federais” (no post abaixo) e “O jornalismo cego às armadilhas do discurso oficial” (noObservatório da Imprensa).
Equívocos e autoritarismo
Ao apresentar aos professores universitários uma 
proposta que mal disfarça o seu caráter de peça de ilusionismo 
monetário, o governo Dilma denota possuir uma visão estreita e 
subvalorizada do que seja o docente de nível superior, esse ente público
 que fatalmente tem e terá uma função essencial na formação das novas 
gerações de brasileiros e no redesenho futuro do país.    
A impressão que fica é que o governo os toma por tolos, incapazes de fazerem contas financeiras ou de desvelarem truques de marketing de massas. Isso evidencia a existência de um erro de postura da administração Dilma, certamente menos decisivo e efetivo, na prática, do que as propostas que apresenta podem ser, mas denotadores, por um lado, de uma incompreensão profunda do que seja o professor universitário enquanto categoria profissional do Estado e, por outro, uma vez mais, da tendência a evitar o diálogo e a negociação ou a exercê-los em bases mínimas e restritas – a um passo do autoritarismo, como a autorização para o corte de ponto dos grevistas evidencia.
Contradições óbvias
A impressão que fica é que o governo os toma por tolos, incapazes de fazerem contas financeiras ou de desvelarem truques de marketing de massas. Isso evidencia a existência de um erro de postura da administração Dilma, certamente menos decisivo e efetivo, na prática, do que as propostas que apresenta podem ser, mas denotadores, por um lado, de uma incompreensão profunda do que seja o professor universitário enquanto categoria profissional do Estado e, por outro, uma vez mais, da tendência a evitar o diálogo e a negociação ou a exercê-los em bases mínimas e restritas – a um passo do autoritarismo, como a autorização para o corte de ponto dos grevistas evidencia.
Contradições óbvias
É altamente significante da posição subalterna e 
desprestigiada que tanto o servidor público federal como a educação como
 um todo ocupam atualmente no país o fato de que o Ministério do 
Planejamento foi quem efetivamente comandou e deu a palavra final aos 
termos da inaceitável proposta apresentada aos professores. Mercadante, 
se digladiando entre sua passividade conservadora e sua ânsia por 
holofotes características, limitou-se, se tanto, a barganhar, enquanto o
 ministro do Trabalho sequer foi chamado à mesa de negociações.    
Mais: o mesmo governo que faz de tudo para irrigar a economia através da ampliação do crédito – portanto, de capital advindo de endividamento junto ao sistema financeiro, que acaba por se traduzir em lucro para os bancos – parece não querer irrigá-la com salário – capital originário das relações sociais do trabalho, que teoricamente beneficiaria o assalariado (e, ainda mais, quem o emprega), mas que, na visão economicista predominante, eivada de premissas (neo)liberais, prejudica o governo por aumentar seus gastos.
Tire suas conclusões
Mais: o mesmo governo que faz de tudo para irrigar a economia através da ampliação do crédito – portanto, de capital advindo de endividamento junto ao sistema financeiro, que acaba por se traduzir em lucro para os bancos – parece não querer irrigá-la com salário – capital originário das relações sociais do trabalho, que teoricamente beneficiaria o assalariado (e, ainda mais, quem o emprega), mas que, na visão economicista predominante, eivada de premissas (neo)liberais, prejudica o governo por aumentar seus gastos.
Tire suas conclusões
Assim, no final das contas, apesar das inegáveis 
conquistas sociais representadas pela redução da pobreza no país, mesmo o
 investimento em áreas fundamentais como saúde e educação mantém-se 
submetido às diretrizes ditadas pelo setor financeiro, que tem na área 
econômica do governo o seu representante no Estado. Os bancos que atuam 
no Brasil são, atualmente, os que mais lucram no mundo. Já a educação 
oferecida no país ocupa posições vergonhosas em comparação com o 
contexto internacional. Diga o leitor qual é a prioridade do governo.
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