Opinião pública vai julgar Supremo por resultado do mensalão, diz corregedora
Ministra Eliana Calmon afirma haver 'grande expectativa' quanto ao julgamento e ministros têm preocupação maior com o caso em razão do aumento da participação popular
23 de julho de 2012 | 22h 30
Fausto Macedo, de O Estado de S. Paulo
A ministra Eliana Calmon, corregedora nacional da 
Justiça, afirmou nesta segunda-feira, 23, que o Supremo Tribunal Federal
 será julgado pela opinião pública ao analisar o processo do mensalão a 
partir do dia 2 de agosto. 
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Wilson Pedrosa/AE
A ministra Eliana Calmon acredita que opinião pública julgará ação do Supremo
“Há por parte da Nação uma expectativa muito grande e acho também que
 o Supremo está tendo o seu grande julgamento ao julgar o mensalão”, 
disse ela pouco antes de fazer uma palestra no Tribunal Regional 
Eleitoral de São Paulo sobre a atuação da Corregedoria que comanda.
A Procuradoria-Geral da República acusa 38 investigados, entre eles 
José Dirceu – ministro-chefe da Casa Civil do governo Luiz Inácio Lula 
da Silva –, de formar uma quadrilha para comprar o apoio de 
parlamentares no Congresso com dinheiro público.
Eliana Calmon disse que “não conhece o processo do mensalão, senão 
por jornais", mas alertou. "Como ele (Supremo) se porta diante dos 
autos, a realidade que está retratada nos autos vai ser mostrada quando 
do julgamento e é neste momento que o Supremo passa a ser julgado pela 
opinião pública, não é?”
“Não é que o Supremo vá se pautar pela opinião pública, mas todo e 
qualquer poder, no regime democrático, também se nutre da confiabilidade
 daqueles a quem ele serve”, completou a ministra.
Indagada se a pressão pública pode influenciar o resultado, Calmon 
afirmou: "O Supremo não se deixa muito influenciar pela opinião popular,
 ele sempre se manteve meio afastado. Mas começamos a verificar que já 
não é com aquela frieza do passado.”
"Hoje, eles (os ministros) têm sim uma preocupação porque o País 
mudou e a população está participando”, afirmou a corregedora da 
Justiça. “A imprensa influencia, mas a opinião pública também está sendo
 formada pelas redes sociais. É uma participação mais efetiva. Não é 
ninguém que está fazendo a cabeça da população, ela se comunica entre 
si, isso tem causado a sensibilidade do Supremo”, completou.
Eliana Calmon defendeu um Judiciário forte. "Acho que (o julgamento) 
seria um bom momento (como resposta de um Judiciário forte) do que 
representa o STF dentro de uma expectativa da sociedade como um todo”, 
afirmou a corregedora.
Em junho, José Dirceu chegou a conclamar estudantes ligados à UNE 
(União Nacional dos Estudantes) a ir às ruas para ajudá-lo. “Todos sabem
 que este julgamento é uma batalha política. E essa batalha deve ser 
travada nas ruas também porque senão a gente só vai ouvir uma voz, a voz
 pedindo a condenação, mesmo sem provas. É a voz do monopólio da mídia. 
Eu preciso do apoio de vocês”, afirmou em discurso.
No início de julho, o novo presidente da CUT (Central` Única dos 
Trabalhadores), Vagner Freitas, afirmou que mobilizaria a entidade caso 
houvesse um julgamento “político”. “Se isso ocorrer, nós questionaremos,
 iremos para as ruas”, disse o sindicalista.
O advogado do empresário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza, 
apontado pela Procuradoria-Geral da República como o operador do 
mensalão, reagiu às declarações da corregedora. “Nas minhas alegações 
finais eu faço um comentário sobre a publicidade opressiva que cerca 
este processo e faço um pedido ao STF: que julgue de acordo com a prova 
dos autos, agrade ou não a opinião pública”, disse Marcelo Leonardo. "Eu
 prefiro ficar com a frase de um ex-ministro do STF, quando o tribunal 
julgou e absolveu Fernando Collor. Ele disse que o Supremo não era um 
órgão de opinião pública", afirmou o advogado.