quarta-feira, 26 de agosto de 2015
CARISSIMA MARTA BELLINI: MIGREI POR UNS TEMPOS PARA O FACEBOOK. POSTEI SUA ÚLTIMA MENSAGEM ALÍ. E, PODE TER CERTEZA, SABIA QUE SEU CORAÇÃO BATE, AO CONTRÁRIO DE MUITOS COLEGAS UNIVERSITÁRIOS QUE TEM O SANGUE GELADO E O CORAÇÃO IDEM, PORQUE NÃO TEMN CÉREBRO PARA PENSAR E CORAÇÃO PARA SENTIR. UM FORTE ABRAÇO SAUDOSO!
quinta-feira, 13 de agosto de 2015
Renúncias, Roberto Romano
Renúncias
Roberto Romano
13 Agosto 2015 | 03h 00
Quais reflexões surgiram na mente de
Bento 16 quando decidia, na solidão dos apartamentos pontifícios, a sua
renúncia? Ponderava as várias faces do seu governo, as dificuldades
vencidas e as insuperáveis, em razão da idade? Pensou ele nos inúmeros
obstáculos para chegar ao trono de São Pedro? Rememorou os instantes de
crise desde que, assessor em teologia reconhecido pela competência entre
padres do Vaticano II, seguiu pelos corredores dos palácios recolhendo
títulos? Reviu a cena de sua consagração episcopal, depois cardinalícia
por João Paulo 2? Evocou as vezes em que exigiu explicações dos teólogos
progressistas, antes seus aliados, para atender a pastoral do papa
reinante? Num átimo, repassou sua vida toda, desde a infância na
Bavária, quando vestiu o uniforme da juventude hitlerista? Ninguém sabe.
O fato é que, inesperadamente, com latim castiço, ele
surpreendeu os líderes da Igreja com sua renúncia. E o mundo ficou
perplexo com eles. Foi matéria rica para a imprensa mundial durante
dias, numa época em que as notícias da manhã são gastas e sem interesse
no crepúsculo. Joseph Ratzinger entrou para a seleta companhia dos
poderosos que abriram mão do poder, deixando a liderança de uma
instituição antiga como o Ocidente.
A Igreja Católica é rica de ensinamentos espirituais que
reúnem prismas os mais diversos. Os seus símbolos ultrapassam em
dignidade as que se baseiam em signos lógicos, jurídicos, políticos,
econômicos. A Igreja é um tecido simbólico intrincado. A nos inspirar em
Tertuliano, ela é uma cauda de pavão com múltiplas cores, todas
convergindo para o efeito maior, a vista sinótica do arco-íris. Nela,
têm lugar todas as culturas e ideias. A única exigência é que a harmonia
do todo seja respeitada pelos particulares. Administrar cada uma das
formas da cultura e conduzi-las à concórdia sempre foi o desafio dos
pastores. O catolicismo reúne os opostos e os conduz, na observação de
E. Canetti, rumo ao Eterno. A sua hierarquia não se deixa dominar pela
voragem do tempo que desgraça os Estados, a sociedade civil e os
mercados. Jacques le Goff o diz bem num artigo eloquente: “Tempo da
Igreja e tempo do mercador”. Este último deixa-se penetrar pela rapidez
das trocas, vende e compra o tempo na forma dos juros. Mas a Igreja
declara que o tempo a Deus pertence e adverte contra a divinização das
moedas.
Muito se fala, no Brasil, sobre o dito de Lampedusa em O
Leopardo: é preciso mudar tudo, para que tudo permaneça como está.
Poucos recordam a desolada atitude do personagem principal do romance, o
Príncipe de Salina, com sua plena consciência de que os poderosos têm
hora e data para mandar e para desaparecer do cenário político e
mundano.
Quando seu confessor o reprova, e à aristocracia, por não
defender a Igreja, o nobre responde com clareza meridiana: “Não somos
cegos, caro padre, somos apenas homens. Vivemos numa realidade
transitória à qual tentamos nos adaptar como as algas se dobram em face
das ondas marítimas”. À Igreja foi dada implicitamente a promessa da
imortalidade, diz ele, modificando o dito evangélico de que as portas do
inferno não prevalecerão sobre a pedra na qual Pedro vigiará os céus e a
terra. Tu est Petrus et super hanc petram aedificabo Ecclesiam meam.
Entre a imortalidade eclesiástica e a vida dos indivíduos e classes,
brota o abismo. “Para nós, um paliativo que promete cem anos equivale à
eternidade. Poderemos nos preocupar com os nossos filhos, talvez com os
netinhos; mas além deles tudo o que podemos acariciar com estas mãos não
nos obriga. Não posso me preocupar sobre quem serão os meus
descendentes eventuais em 1960. Mas a Igreja, sim, deve se preocupar,
porque ela é destinada a não morrer. No seu desespero está implícito o
conforto. E o senhor acredita que, se ela pudesse salvar a si mesma com o
nosso sacrifício, não o faria?
Sim, com certeza. E faria bem.”
As dimensões do tempo esmagam poderes e riquezas. A Igreja não
é eterna, mas recebeu a promessa da imortalidade. Haverá um dia em que
ela será chamada por Deus a prestar contas dos fiéis e de si mesma. Este
será o dia do Juízo Final, quando o tempo sumirá no Eterno, com todas
as vaidades do mundo. Não haverá mais tempo e espaço. Mas até o instante
oportuno (Kayrós) ela, por não ser eterna, conhecerá a tentação do
nada, do mal. Na marcha rumo à salvação, ela passará por todos os
príncipes, Estados, sociedades, classes, cujo tempo é finito, pura
degração do Eterno. Nada no tempo é estável, durável, sobretudo os
homens e seu poder.
Com base em tais doutrinas, a dupla de escritores Alain
Boureau e Corinne Péneau publicou em data recente um livro com vários
ensaios mais do que oportuno no mundo político e no Brasil de hoje: O
luto do poder, ensaios sobre a abdicação (Paris, Les Belles Lettres,
2013). O volume repassa a renúncia da rainha Cristina, do general De
Gaulle, do literário Rei Lear, de Bento 16. Todos os autores da
coletânea insistem na situação peculiar dos abdicantes: com seu gesto,
eles se põem acima do poder que lhes foi delegado. Mas, assim, eles
também se colocam entre os mais solitários dos seres humanos. Ao poder
estatal é atribuída a permanência, desde que súditos e reis morram ou
renunciem. O segredo da estabilidade reside justamente na substituição
dos entes efêmeros que ocupam os postos de poder.
A leitura da coletânea pode ser útil para todos os políticos
nacionais que, no governo e nas oposições, se preocupam com a solidez
institucional. Esta, não raro, depende de muitas renúncias: dos que
estão como hóspedes nos palácios ou de quem almeja neles se instalar
temporariamente. Para bom entendedor, uma vírgula basta.
*Roberto Romano é professor da Unicamp, é autor de ‘Razão de Estado e Outros Estados da Razão’ (Perspectiva)
domingo, 9 de agosto de 2015
Zero Hora, Coluna PROA
Colunistas
Roberto Romano: inflações
"A inflação, como os tumores, é sintoma, não origem. O desarranjo na estrutura do corpo, biológico ou social, brota dos excessos, tolerâncias imprudentes, hábitos perniciosos à saúde"
Por: Roberto Romano*
08/08/2015 - 15h07min
Outrora, até mesmo o chuchu foi culpado pela inflação
Foto:
Marcelo Oliveira / Agencia RBS
* Roberto Romano é professor titular de Ética e Filosofia Política da Unicamp. Escreve quinzenalmente.
O termo inflação, como boa parte dos vocábulos políticos, econômicos ou éticos ocidentais, tem origem na medicina. “Inflatio” significa comumente inchaço, tumor, enfizema, edema. No campo espiritual, o sujeito “inflatus”
é o pavão humano cheio de ar, tolo. A medicina que honra seu nome
jamais confunde os registros físicos e os morais. Ela observa os
excessos da paixão que acomete o cliente e o próprio médico. Existem
pacientes intratáveis, mas também médicos autoritários, incompetentes,
vácuos. A razão é que ambos integram a humanidade, mistura de bom senso e
loucura, simpatia e malícia, honradez e crime.
A inflação monetária – fato físico e espiritual – destrói valores. Páginas sombrias foram escritas por Elias Canetti em Massa e Poder,
monumento antropológico do século 20. Ali, uma tese exige reflexão:
“Pode-se afirmar que nas nossas civilizações modernas, excetuando-se as
guerras e as revoluções, não existe nada que em sua envergadura seja
comparável às inflações”. Se o índice inflacionário na república de
Weimar fosse menos grave, diz ele, milhões teriam escapado dos campos
construídos pelos nazistas.
Apenas imprudentes menosprezam o fenômeno inflacionário. Um livro que
amplia o pensamento de Canetti pode ser lido pelos que se empenham em
direitos civis. Refiro-me ao trabalho de B. Widdig, Culture and Inflation in Weimar Germany
(Berkeley, University of California Press, 2001). Ao falar do invento
do zero e sua relevância no drama financeiro, Widdig afirma: “A
inflação marca um derretimento catastrófico no qual os opostos do
infinito crescimento e do vazio entram em colapso um no outro”. Se
há eficácia econômica, o zero indica acréscimo vital. Na inflação impera
o zero como vazio e morte. Um trabalhador ganha milhões de salário, mas
só recebe a fieira de zeros que nada garantem para sua família. Temos a
base social para o niilismo totalitário. Não por acaso, o fascismo
gritou na Europa, sobretudo na Espanha: “viva la muerte!”. A
ruptura dos laços humanos, o regresso ao animalesco, o sumiço da
compaixão seguem o inchaço da moeda na dança macabra que termina em
monstruosos cemitérios. Widdig mostra, índices à mão, que o fato
inflacionário não foi gerado pela república de Weimar, mas o antecedeu
com as despesas alemãs no primeiro conflito mundial. Nele, todo o horror
que Erasmo de Rotterdam aponta nas guerras se realizou, piorado.
No Brasil, a “inflação Sarney” começa na ditadura, quando Mario
Henrique Simonsen chegou ao deboche de atribuir a culpa do fenômeno ao…
chuchu. A inflação, como os tumores, é sintoma, não origem. O desarranjo
na estrutura do corpo, biológico ou social, brota dos excessos,
tolerâncias imprudentes, hábitos perniciosos à saúde.
Segundo G. Naudé, autor do primeiro livro sobre os golpes de Estado (1640) “os
hábitos do intelecto são distintos dos vividos pela vontade. Os
primeiros pertencem às ciências e sempre são louváveis; os segundos
ligam-se às acões morais, que podem ser boas ou más”. E arremata : “é
lei comum que todas as coisas instituídas para um fim bom, com
frequência são abusadas: a natureza não produz venenos para matar os
homens, se ela fizesse tal coisa, destruiria a si mesma; a nossa malícia
gera tal uso”.
A trégua da inflação brasileira, algo bom, elegeu no entanto
presidentes populistas, esmagou a oposição, gerou servilismo de
intelectuais e universitários, garantiu a lisonja jornalística ao poder.
Ela anestesiou as massas. Com o retorno do descontrole monetário vem o
ódio que dissolve amizade e companheirismo em todos os setores e
partidos. O ético não deriva do econômico, mas dele não escapa. Cuidado,
para que não cheguemos aos extremos ditatoriais que “salvaram” povos da
inflação com o esmigalhamento de seres humanos. A cautela maior deve
ser contra o ego inchado dos governantes, parlamentares, acadêmicos. Com
frequência é neles que a inflação recebe impulso, pois o dogmatismo os
leva à cegueira política, uma loucura sem remédio.
Leia mais textos de Roberto Romano
quinta-feira, 6 de agosto de 2015
Apesar de ver a Folha, hoje em dia sobretudo, como um jornal pouco confiável (aboli minha assinatura e não tenho saudade), o artigo abaixo, enviado por um amigo, merece leitura e reflexão.
Clóvis Rossi
Folha de São Paulo
Sempre
achei que a esquerda, nacional e internacional, ficou soterrada sob os
escombros do Muro de Berlim. Até aí, dava para entender embora não para
justificar. Afinal, a queda do Muro e o consequente fim simbólico do
comunismo foram acontecimentos tão transcendentais que teriam mesmo que
desnortear até quem estava do lado de cá do Muro, quanto mais os que
simpatizavam com o lado derrotado.
O
que surpreende, agora, com o manifesto de escritores e artistas em
defesa de José Dirceu, é que esse pessoal não conseguiu sair nem sequer
da rua Maria Antônia, cuja simbologia antecede de muito a queda do Muro.
É inacreditável que gente que parece
inteligente não perceba que José Dirceu deixou há séculos de ser o jovem
idealista que lutava contra a ditadura nas barricadas estudantis de
1968.
Nem era preciso o mensalão ou, agora, o petrolão para fazer uma constatação tão óbvia.
Bastava
saber, por exemplo, que Dirceu admitiu à revista "Piauí", em 2008, que
prestava consultoria ao bilionário mexicano Carlos Slim, um dos três
homens mais ricos do mundo, segundo a revista "Forbes".
A
esquerda, inclusive muitos ou todos que assinam o manifesto, sempre
denunciou a maneira como se enriquece no México (ou no Brasil).
Um idealista de verdade jamais prestaria serviços a esse tipo de empresário.
O
estranhamento não é apenas meu, mas de um fundador do PT, o cientista
político Rudá Ricci, que se afastou do partido desencantado.
Escreveu Rudá após a entrevista de Dirceu à "Piauí":
"O
grande problema não foi se expor como um megaconsultor, homem de R$ 15
mil por consultoria, ou R$ 150 mil mensais. Esta vaidade de se expor é
estranha para um ex-clandestino de esquerda. Revelar que trabalha para o
homem mais rico do mundo também é estranho para um ex-presidente do
maior partido de esquerda do país. Mas são idiossincrasias que acometem
as melhores famílias".
À
essa lucrativa "idiossincrasia" somaram-se consultorias –não
devidamente comprovadas, segundo a Polícia Federal– às maiores
empreiteiras do país.
No
tempo em que a esquerda pensava, não deixava de denunciar a
promiscuidade entre obras públicas, tocadas em geral por essas mesmas
empreiteiras, e poder público.
Hoje,
ao defender Dirceu, defende-se automaticamente a promiscuidade, como se
houvesse maracutaia do bem (as "nossas") e do mal ("as dos outros").
Os pedidos, em voz quase inaudível, para que o PT faça um reexame de suas práticas já surgiram em 2008, na esteira do mensalão.
Rudá
Ricci, por exemplo, escrevia então: "Seria fantástico se o julgamento
[do mensalão] provocasse um debate franco entre petistas e toda esquerda
tupiniquim. Mas já não tenho mais 20 anos. Não tenho motivos para
acreditar que o brilho da utopia seja mais forte que as cores reluzentes
do poder absoluto e domesticador".
Bingo, Rudá. O poder domesticou não só dirigentes do PT mas também uma fatia da intelectualidade, o que é um contrassenso: intelectual, por definição, é contestador.
terça-feira, 4 de agosto de 2015
Assinar:
Postagens (Atom)