segunda-feira, 30 de junho de 2014

Uma interessante análise de O Sobrinho de Rameau, citando um texto meu.


Diderot e a obra de arte total, Le Neveu de Rameau

When Diderot writes the novel The Nun, he has a very clarifying sentence. The Nun is a set of paintings he painted, and he says in Italian: “Sono pittore anch’io”, “I am also a painter”. In the case of Rameau’s Nephew, it’s a philosopher who didn’t make music, but who knew music, he even had instruments for the execution of music, to improve this distance of the many executions, many translations of music. But he has no symphony, no song, contrary to Rousseau. And his passion for music was tremendous, even the interest for Rameau’s music. So, when you read Rameau’s Nephew, it’s as if you see the outline of an opera that is at the same time Buffa, it is Tragic, it is Political, it is everything. A complete masterpiece. So, it is a piece you can read according to the conjectures of thought. You can go, for example from Plato to Diderot, but you can also read into these connections of culture the idea of criticism. There is a kind of mistaken perception perception of relationship of German thought and French thought. Casilla, for example, doesn’t hesitate in saying Rousseau is a kind of John the Baptist of Kant. The economic hypothesis is exactly the opposite. Kant has read Rousseau, and he is extremely grateful to him. And Kant has read a lot of Diderot, especially the works of esthetics. So, when you see in the Critique of Judgment the attempt of thinking about the critics of art, of freedom, of beauty, you see the inspiration, and for that Kant had to fight Schiller, fight all those people who thought Diderot’s thought is something with no greater importance. Read it. He took the books and gave them “Read it!”. And that’s what lead Goethe to translate Rameau’s Nephew. I mean, there was a Diderotian presence. And to save the appearances, it’s said that Diderot is the Frenchest German head of the 18th Century. That’s not it. It’s that the Lights were a broad movement, and Diderot has learned a lot from the German thought, above all with English thought. He was a translator of the English. You can even say that the Lights were a huge translation of English thought and of the idea of democracy that comes from there. So, in the case of thought, this demand that the pause, the silence enter and fuel this reflection, that’s important. If you don’t have silence, you don’t have this moment that goes beyond physics, that goes beyond all of this human material side, and you find this flower of culture that the thought is. You don’t stay in the root. You reach that element that is so beautiful. So this is something that, to me, seems vital in Diderot’s philosophy.
4:12
Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),

domingo, 29 de junho de 2014

Escárnio, deboche, oleo de peroba em demasia na face, sei lá mais o que! Mas quando Lula fala, o mundo entenebrece e nada se resolve. Que vergonha, companheiro!



Lula defende projeto que 'moralizou política de Brasília'

 

 

Lula grava vídeo para Agnelo Queiroz

RAFAEL MORAES MOURA - Agência Estado
29 Junho 2014 | 16h 25

Em vídeo gravado para a convenção do PT que confirmou a candidatura à reeleição do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que é preciso dar continuidade a um projeto que "moralizou a política de Brasília". O vídeo foi exibido na manhã deste domingo, 29, na Praça do Trabalhador, em Ceilândia, cidade a 25 km de Brasília, escolhida para ser o palco da convenção regional do PT.

Ao tentar um novo mandato, Agnelo Queiroz terá o apoio do PMDB local, repetindo a dobradinha na composição da chapa, com Tadeu Filippelli na vice. Seus principais adversários na corrida pelo Palácio do Buriti são o senador Rodrigo Rollemberg (PSB) e o ex-governador José Roberto Arruda (PR), que chegou a ser preso por dois meses acusado de obstruir as investigações desencadeadas pela Operação Caixa de Pandora, em 2010.

"Todo mundo sabe como o companheiro Agnelo ganhou as eleições. O governador Agnelo assumiu para tentar transformar Brasília numa cidade civilizada e não foi fácil", comentou Lula, no vídeo. "Mais uma vez, o PT mostrou no governo a sua competência. Quem for a Brasília hoje percebe as mudanças extraordinárias que estão acontecendo em Brasília."

O ex-presidente gravou o vídeo para Agnelo Queiroz na última quinta-feira. Lula não compareceu pessoalmente à convenção - segundo sua assessoria, passa o dia de domingo em São Paulo sem compromissos.

Mesmo reconhecendo que "falta muito ainda a fazer", Lula destacou que é preciso dar continuidade a um projeto "que moralizou a política de Brasília". O ex-presidente também convocou a militância a ir para as ruas, ajudar na eleição de deputados distritais e federais e discutir as propostas defendidas pelos candidatos apoiados do PT com as pessoas nas ruas. 

Prevista para iniciar às 10 horas, a convenção regional do PT começou com uma hora e meia de atraso. Na hora em que o governador Agnelo Queiroz enfim discursou, por volta das 13h20, cerca de 20% do público já havia deixado o local. Muitos foram almoçar ou acompanhar o jogo entre México e Holanda pelas oitavas-de-final da Copa do Mundo. 

"Nesta eleição vamos ter de impedir que certos personagens de um tempo sombrio tentem se apossar do governo outra vez", disse o governador, numa crítica a Arruda. "Nossa missão será a de não permitir que os cofres públicos caiam em mãos de gente inescrupulosa." 

Dificuldades
 
Não é considerada fácil pelo próprio PT a reeleição de Agnelo. O governador enfrenta baixos índices de popularidade, acusações de superfaturamento do Estádio Mané Garrincha e suspeitas que recaem até sobre a primeira dama, Ilza Queiroz, flagrada em grampo pedindo que um administrador regional suspeito de fraudar alvarás "agilizasse" um processo.

Jornal da Unicamp.

RTV
Fotos de
Scarpinetti e
os “Recortes
do Cerrado”

26/06/2014 - 08:36

Antonio Scarpinetti
A beleza natural de algumas regiões de Goiás é o tema da mostra fotográfica “Recortes do Cerrado”, em exposição até o dia 15 de julho no restaurante Shogun House, no Cambuí. O trabalho do fotógrafo Antonio Scarpinetti, da Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unicamp (Ascom), retrata a riqueza da biodiversidade de um dos biomas mais ameaçados do país. Figuras humanas que imprimem uma identidade peculiar ao local também foram registradas pelo fotógrafo da Ascom. Vídeo

As fotografias foram produzidas em 2006 durante uma viagem realizada em regiões de cerrado da Chapada Imperial, no Distrito Federal, na Chapada dos Veadeiros e no Parque Estadual de Terra Ronca, em Goiás.
A proposta de Scarpinetti foi registrar aspectos de uma região que vive constante processo de transformação. “O cerrado é um dos biomas ameaçados por conta das fronteiras agrícolas que estão avançando sobre esse ambiente. Retrato esse aspecto e também as riquezas produzidas pela biodiversidade local. Em meio a isso tudo, não posso deixar de registrar o elemento humano, seja no ambiente de trabalho, seja em momento de ócio”, afirma o autor.
Serviço
Shogun HouseRua Conceição, 800, Cambuí, CampinasHorário: 11h30 às 14h30, 18h45 às 23 horas




sexta-feira, 27 de junho de 2014

Roberto Romano O que está atrás de um voto? Entrevista a Fronteiras do Pensamento. Clique no link.

 

Fronteiras do Pensamento originally shared this
 
A impossibilidade de uma democracia perfeita: em agosto, postamos um vídeo com Jon Elster, cientista político e social norueguês. Neste vídeo, Elster discutia os impasses do sistema eleitoral para atingir um resultado que represente a maioria com base no economista norte-americano Kenneth Arrow, conhecido pelo Teorema da impossibilidade de Arrow, discutido naquele vídeo.

O Teorema de Arrow foi uma resposta ao paradoxo do voto, descoberto no século XVIII pelo matemático francês Marquês de Condorcet. Condorcet demonstrou que, numa decisão entre mais de duas opções, um processo de escolha entre pares de alternativas nem sempre resulta na opção preferida pelo grupo.

Exemplificamos:
1976, EUA - o partido republicano coloca Ronald Reagan e Gerald Ford lado a lado em votação para o representante às eleições presidenciais. Gerald Ford ganha, torna-se representante dos republicanos e vai para as eleições contra Jimmy Carter, democrata. Nas eleições presidenciais norte-americanas, Gerald Ford perde e Carter se torna presidente. Contudo, em pesquisa, descobre-se que Reagan teria vencido Carter – como acontece depois, em 1980. Ou seja, repetimos: como aponta Condorcet, um processo de escolha entre pares de alternativas nem sempre resulta na opção preferida pelo grupo.

O paradoxo de Condorcet não deixa escolhas. Ou se votam todas as alternativas, umas contra as outras (Reagan, Carter, Ford e muitos outros - afinal, o partido democrata, sozinho, apontou 12 nomes até chegar a Carter) ou se votam as várias alternativas em determinada ordem, caso em que a vencedora dependerá da ordem escolhida, não havendo uma ordem perfeita.

No vídeo deste post, Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), explica o Paradoxo de Condorcet, ensina a forma mais consciente de votar e traça um breve histórico explicativo a respeito da fraca educação brasileira nesse campo.

Concluindo... Foram necessários 160 anos após Condorcet e seu paradoxo, período em que alguns nomes retomaram a questão (até o escritor Lewis Carroll se debruçou sobre o dilema), mas sem sucesso, até que Kenneth Arrow demonstrou que nenhum sistema de votação preserva a transitividade das preferências – a capacidade de ordenar -, provando que a ideia de a ordem social, a democracia perfeita, não existe.

-> Assista ao vídeo de Jon Elster, que explica os impasses da democracia com base em Arrow: Quando a democracia não reflete a opinião geral http://youtu.be/p8bcfLfnXdE

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De um amigo muito querido....


quinta-feira, 26 de junho de 2014

Roque



Roque


Augusto Nunes, Veja.


25/06/2014
às 18:35 \ O País quer Saber

Sete episódios infames desmoralizam a ladainha da seita que louva a hipocrisia

As oitavas de final já vão chegando, mas o time do Planalto continua tentando prorrogar o jogo de abertura da Copa, que terminou com a vitória do Brasil sobre a Croácia e a goleada sonora imposta a Dilma Rousseff pela multidão cansada de vigarices e bandalheiras protagonizadas pela seita lulopetista. Lula cobra dos adversários gestos de subserviência explícita à mãe e avó constrangida por xingamentos. Rui Falcão exige que os candidatos oposicionistas condenem (e com veemência) o comportamento dos 50 mil brasileiros que recomendaram à chefe de governo, em coro, o que todas as torcidas, em todos os estádios, invariavelmente ordenam ao juiz ou ao bandeirinha.

Haja hipocrisia, grita o calendário da infâmia resumido neste post. Pinçados no vastíssimo acervo de violências liberticidas acumuladas pelo PT desde o dia do nascimento, sete episódios bastam para escancarar o farisaísmo das carpideiras do Itaquerão. Por achar que os fins justificam os meios, o bando no poder age há 13 anos como se tudo fosse permitido. Só é proibido alvejar com nomes feios a candidata em queda nas pesquisas e abandonada por antigos aliados, ressalva o mestre e repetem os coroinhas de missa negra. A ladainha é desmoralizada pela amostra exibida a seguir:

MAIO DE 2000
Sem perceber que os microfones estavam ligados, Lula se preparava para gravar a declaração de apoio a Fernando Marroni, candidato do PT a prefeito de Pelotas, quando qualificou a cidade gaúcha de “pólo exportador de veados”. Nunca se desculpou pela afronta. O partido não viu nada de mais no deboche homofóbico.

MAIO DE 2000
Ao discursar para a tropa companheira, o deputado federal José Dirceu afirmou que os adversários políticos mereciam “apanhar nas ruas e nas urnas”. Dias depois da instrução expedida pelo presidente do PT, milicianos destacados para agitar a greve dos professores agrediram fisicamente o governador Mário Covas, já debilitado pelo câncer. Dirceu desmente ter dito o que disse no vídeo. Lula criticou Covas por ter aparecido no portão de um prédio público. O PT não viu nada de mais no monumento à violência.

JUNHO DE 2007
Alguns jornalistas perguntaram a Marta Suplicy, à época acampada no Ministério do Turismo, se tinha algum conselho a oferecer aos milhares de passageiros atormentados pelo colapso da aviação civil. “Relaxa e goza”, sugeriu a companheira. Marta diria depois que “estava brincando” com os flagelados dos aeroportos. O PT não viu nada de mais no surto de humor da sexóloga em recesso.

JULHO DE 2007
Ao lado de um assessor, em sua sala no Palácio do Planalto, Marco Aurélio Garcia soube pelo Jornal Nacional que a explosão do avião da TAM que matou 199 pessoas no aeroporto de Congonhas fora provocada por problemas mecânicos. O chanceler para assuntos cucarachas comemorou a notícia, que isentava o governo de culpas, com um obsceno toptoptop filmado por um cinegrafista. Garcia não pediu desculpas sequer aos parentes dos mortos. O PT não viu nada de mais no espetáculo da boçalidade.

FEVEREIRO DE 2013
Numa livraria em São Paulo, onde faria uma palestra seguida de uma sessão de autógrafos, a jornalista cubana Yoani Sánchez foi sitiada por manifestantes que, berrando insultos, cassaram o direito de expressão da mulher que se opõe à ditadura comunista. O evento foi cancelado pelos organizadores. O PT não viu nada de mais na agressão liberticida.

FEVEREIRO DE 2014
O companheiro paranaense André Vargas, vice-presidente da Câmara, aproveitou a abertura do ano legislativo para insultar o ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal. Durante a cerimônia, o relator do processo do mensalão teve de ignorar as provocações do parlamentar a seu lado, que erguia o punho cerrado para solidarizar-se publicamente com os quadrilheiros engaiolados na Papuda. O PT não viu nada demais na ofensa intolerável ao chefe do Poder Judiciário. Vargas só foi expulso depois que a Polícia Federal descobriu os laços repulsivos que o vinculam à lavanderia de dólares do bandido Alberto Yousseff.


ABRIL DE 2014
Escoltado por duas militantes, Rodrigo Grassi, assessor parlamentar da deputada companheira Érika Kokay, perseguiu Joaquim Barbosa numa avenida em Brasília, berrando termos ofensivos ao ministro do STF e palavras de ordem simpáticas aos quadrilheiros do mensalão. As imagens foram gravadas pelos próprios agressores. Pressionada pelo Brasil decente, a deputada teve de livrar-se do delinquente que sustentava. O PT achou muito compreensível a missão cumprida por Grassi.

Num comentário enviado à coluna, meu velho amigo Gonçalo Osório precisou de poucas linhas para desmontar a ópera dos farsantes. “O primeiro a insultar a instituição da Presidência da República foi Lula. E o PT é o responsável pelo constante desrespeito a normas jurídicas, a decisões judiciais, ao mínimo decoro, à ordem, à ética e ao respeito que deve haver entre adversários políticos. O lulopetismo fez o que pôde para criar no Brasil antagonismos de classe, de raça, de religião, de ideologia. O que Dilma ouviu no Itaquerão é apenas consequência”.

Assustados com a paisagem eleitoral cada vez mais perturbadora para o poste do Planalto, os semeadores de ódios fantasiam-se de apóstolos da paz. São tão convincentes quanto um dono de bordel indignado com a filha do vizinho que usa saias dois centímetros acima dos joelhos.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Roque e a Copa (e os que a inventaram no Brasil).


Jovem Pan, entrevista sobre Sarney, o eterno oligarca.

Sarney vai para casa mas, deixa vários discípulos, diz ...

jovempan.uol.com.br/.../sarney-vai-para-casa-mas-deixa-varios-discipulo...
6 horas atrás - logo jovem pan am ... Quer ver sua foto aqui no Jovem Pan Online? ... TAGS. gaudencio torquato, roberto romano, jose sarney, politica ...

Uma excelente análise de minha palestra no Fronteiras do Pensamento, pelo excelente professor Voltaire Schilling.


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História - Política
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As decisões políticas devem ser tomadas em foro intimo, por meio de um grupo reduzido de privilegiados, ou, ao revés, estar em aberta sintonia dos agentes políticos para com a opinião pública? Esta é a reflexão feita pelo professor de filosofia da UNICAMP Roberto Romano exposta a seguir.


Política, a flauta de Pan


Prof. Roberto Romano
Política já foi definida como a “arte do engano”, ofício específico do demagogo, dos que enganam ou seduzem os votantes com sua retórica especial. Atuam como se soprassem a flauta de Pan, atraindo os incautos para o seu redil, emitindo apenas os sons maviosos que os ouvidos deles gostam de ouvir. Por tanto a mentira passou a ser questão da análise da ciência política em todos os tempos, sempre sendo um problema atual.
 
Para Roberto Romano, professor de filosofia e ética, por exemplo, não se pode separar eleição da mentira, das estratégias de falsidade usadas pelos que desejam ser escolhidos nas campanhas eleitorais.

Como que para melhor ilustrar sua opinião, invoca a um dos diálogos de Platão, o famoso “Górgias” (escrito em 392-1 a. C.), o qual reproduz a contundente crítica que Sócrates fez exatamente ao uso escandaloso da mentira para fins políticos. Prática a qual os demagogos recorriam com absoluta falta de cerimônia. O pior, para o filósofo ateniense, era que a adulação irresponsável estragava o povo ainda mais, aviltando-lhe o censo de ética.

A Perplexidade de Sócrates

Neste mesmo diálogo ele narra a perplexidade de Sócrates, o mais sábios dos gregos, em seu debate com Górgias, Pólo e Calicles, seus três contendores, para com o comportamento político do povo. Se bem que qualquer cidadão procure sempre o melhor profissional ou um bom especialista quando deseja que lhe prestem um serviço (arrumar uma porta, concertar o telhado da casa, fazer-lhe um móvel, construí-lhe um navio), ou ainda recorre ao mais competente dos médicos para cuidar da sua saúde, quando se trata de fazer as escolhas eleitorais (aeresis em grego), ele não age com o mesmo discernimento nem com a mesma responsabilidade.

Deixa-se, em geral, levar pelo canto da sereia dos candidatos demagogos e acaba dando o seu voto aos tipos menos qualificados que se oferecem na praça.

Exatamente no momento em que tem que indicar para o leme do estado aquele que fosse o mais sábio, o de maior conhecimento e habilidade para o cargo, o artesão do estado por ele escolhido era o contrário disso tudo. Quem vencia o pleito na democracia era o mentiroso, o do discurso mais enganoso. Esse foi um dos motivos para que Platão designasse o regime da maioria como uma “teatrocracia”.

E tudo isso em função do que? Qual seria o motivo desta irracionalidade das coisas da política? Para ele, a resposta a essa escolha geralmente equivocada feita no sistema democrático estava no fato de que do mesmo modo que qualquer um tem apreço por sua liberdade, devota o mesmo encanto por si mesmo.

Isso é que faz com que lhe agrade ser bajulado deixando-se seduzir pela lábia dos espertos. Por conseguinte, é essa paixão infantil dos indivíduos pelo seu próprio ego (hoje diríamos narcisismo) que os conduzem ao auto-engano, refugando por isso os verdadeiros estadistas que apresentam “remédios amargos” para curarem as mazelas da sociedade.

Infantilismo do povo

Numa democracia, o povo é igual a uma criança sempre pronta a se deixar levar por um oportunista ou por um aventureiro que lhe oferece confeito envolto com palavras de mel. Mas então Platão bane da política qualquer tipo de mentira?
Não. Numa situação pelo menos ele a aceita: no caso da “mentira nobre”. Isso se o governante for por acaso o rei-filósofo, o sábio regente idealizado por ele no diálogo “A República”, que conduz as coisas do estado com eficácia e sensatez.

As decisões mais importantes, por força das circunstâncias, devem ser tomadas na intimidade do poder, circunscritas a um grupo fechado. São acertadas por uma pequena cabala em conciliábulos ou em gabinetes secretos e que não devem chegar aos ouvidos do povo. E isso ocorre em benefício do próprio povo, pois somente o magistrado magnífico, assumindo-se como “autoridade oculta, misteriosa”, é quem realmente sabe o que é e o que não é do interesse público.
O Estado Absolutista
Esta prerrogativa, respaldada por um grande nome da filosofia como o de Platão, dado ao governante, ainda que ilustrado, abriu caminho para que a mentira dita em nome do bem geral do estado e da comunidade se transformasse com o tempo na famosa Razão de Estado, a tão exaltada Raizon d´Etat, defendida pelo Cardeal de Richelieu, primeiro-ministro de Luis XIII guardião do Estado-Forte na França do século XVII, que desculpava até os crimes feitos pelo executivo (ver: O Príncipe de Maquiavel e o Testamento Político do Cardeal de Richelieu).
Virou um pretexto para que os ministros ou chefes do executivo lançassem mão dela para não dar explicações públicas dos seus atos. Toda estrutura do poder do Estado Absolutista ancorou-se então na premissa de que o soberano e aqueles que o servem não devem explicações a ninguém, senão que “somente a Deus”.

Ao concentrar em si todas as deliberações importantes e também as menos importantes, fez do segredo de estado uma arte do bem governar. Era um estado controlado por uns poucos selecionados apoiados nas largas costas do Todo-Poderoso e que conduzia os súditos como um pastor faz com suas ovelhas.

O Principio da Responsabilidade

Oliver Cromwell, líder da revolução puritana
Este comportamento – o das decisões secretas - dominante em boa parte da Europa na época do auge do absolutismo, entre os séculos XV e XVII, sofreu um formidável abalo com a Revolução Puritana na Inglaterra (1642-1649), liderada por Oliver Cromwell, pois ela introduziu a semente de uma idéia que mais tarde iria se efetivar na república norte-americana (difundindo-se então para todos os demais regimes políticos similares que surgiram na modernidade). Os ingleses a denominaram de accountability, isto é, o conceito da responsabilidade, justamente para afastar a cortina que cobria os atos governamentais e as decisões tomadas na calada da noite.
Cabia ao governante, chefe do executivo ou ministro, dar satisfações públicas dos seus atos. Apresentar ao povo nos foros indicados, em geral por um pronunciamento dado frente ao parlamento, quais eram as medidas por ele tomadas e qual sua motivação ou razão de ser.
Com isso invertia-se a situação anterior na qual as autoridades não apresentavam nenhuma justificativa do que faziam ou pensavam fazer. Para legitimar sua posição - o cargo que ocupavam, no executivo ou no legislativo - dali em diante eles tinham que dizer a verdade ao povo. Governar com transparência tornou-se uma obrigação. Alargou-se então o caminho para o Estado Democrático dos nossos dias.
O Estado no Brasil
Todavia no Brasil, o verdadeiro estado fundou-se ao contrário desse principio da responsabilidade adotado pelas nações anglo-saxãs. A corte de D.João VI, fugida de Lisboa. implantou por aqui, desde sua chegada em 1808, o Estado Absolutista. Isto é, uma força antiliberal e antidemocrática: antipovo em suma.

Quando se deu a independência, D.Pedro I em seguida, pela Carta outorgada de 1824, deturpando a idéia do Poder Moderador (concebido por Benjamin Constant, famoso constitucionalista francês), instituiu um estado que parecia uma cópia do Estado Absolutista.
Para Constant, aquele quarto poder, além de ser neutro, deveria impedir que os demais poderes (executivo, legislativo e judiciário), cometessem qualquer tipo de abuso ou escorregão tirânico.
Pois no Brasil, o Poder Moderador simplesmente foi entendido como algo bem acima dos outros, estando inteiramente à disposição do imperador, tornado-o constitucionalmente um ser superior a todos os outros: o “protetor perpétuo do Brasil”.

D.Pedro I, na verdade, ao pairar como se fora um astro-rei sobre a sociedade e suas instituições, colocou-se na posição da mais absoluta irresponsabilidade visto que não tinha que responder senão que “ao Divino” sobre seus atos ou decisões.

O resultado disso ao longo da história nacional (sendo que muito disso seguiu incorporado pela Republica de 1889), foi que o poder central, quase sempre forte e centralizador, interferiu sistematicamente nos estados, tornando letra morta o principio do federalismo (uma das razões da proclamação da república). No concreto, o país é dominado pela conjunção de interesses formados pelo Exército, pela Diplomacia e pelas Oligarquias regionais, que se consolidaram como sendo os autênticos três poderes do Brasil.

Além disso, numa aberta rejeição ao conceito da responsabilidade, as diversas constituições mantiveram o principio do “foro privilegiado”, dando imunidade aos altos escalões políticos e administrativos, prerrogativa idêntica a que os aristocratas gozavam antes da Revolução Francesa de 1789. Formam, portanto, uma casta de irresponsáveis, visto que não precisam explicar-se para ninguém.

Por conseguinte, segundo Roberto Romano, “somos uma federação que não é uma federação, nós somos uma democracia que não é democracia, nós somos uma república que não é república, porque num estado que existem seres superiores não há república.”

Nota: a exposição acima é uma síntese da intervenção realizada pelo professor R. Romano numa das seções do Fronteiras do Pensamento realizada em Porto Alegre-RS.