terça-feira, 30 de abril de 2013

Ouro Preto, ouro preto....ouro....


Jornal da Unicamp, eis a beleza do ensino "universitário"privado...é a tal status que muitos democratas de meia tigela querem reduzir as universidades públicas.

Campinas, 28 de abril de 2013 a 04 de maio de 2013 – ANO 2013 – Nº 559

Doenças e falta de privacidade rondam
professores do ensino superior privado

Pesquisa desenvolvida para fundamentar tese
demonstra que 88% dos docentes estão estressados


Pesquisa feita junto a professores que atuam no ensino superior privado de Campinas revela que 88% deles estão estressados; 76% têm a vida privada invadida pelo trabalho, que retira o tempo de convívio com a família, os amigos e o lazer; 52% temem perder o emprego e, para evitar o desemprego, muitos trabalham em mais de uma escola; e 52% manifestam doenças físicas e psicológicas. A pesquisa também mostra que, ainda assim, 68% dos docentes não mudariam de profissão.
Os dados são apresentados por Liliana Aparecida de Lima na tese de doutorado “Os impactos das condições de trabalho sobre a subjetividade do professor de ensino superior privado de Campinas”, defendida junto à Faculdade de Educação (FE), sob a orientação da professora Elisabete Monteiro de Aguiar Pereira. “Sou professora de psicologia da PUC de Campinas há 25 anos, mas a motivação para a pesquisa veio da minha trajetória sindical, como diretora do Sindicato dos Professores de Campinas e Região”, esclarece a autora.
Liliana Lima abre a tese contextualizando a forte expansão do ensino superior privado a partir da política neoliberal adotada na década de 1990, com base na desregulamentação, financeirização e desnacionalização. “A educação está sendo negociada na bolsa de valores, aberta ao capital estrangeiro. Fusões entre instituições educacionais constroem grandes conglomerados, o que reforça o crescimento de uma concepção mercadológica do ensino privado no país. Por isso, a luta do movimento sindical dos professores contra essa mercantilização. Queremos a regulamentação, o fim dessa trajetória de desnacionalização, que representa um tiro no pé.”
Segundo a autora da tese, este cenário de mercantilização do ensino se manifesta na precariedade das condições de trabalho dos professores. “Se o empresário vê o ensino como mercadoria e o aluno como cliente, como vai tratar o professor da instituição de que é proprietário? A precariedade está na contratação de professores sem concurso e nos salários baixos mesmo com titulação. Se o professor se torna mestre ou doutor, também se torna mais caro e é substituído por um horista – há um número mínimo de pós-graduados apenas para atender às exigências do MEC. A rotatividade é enorme.”
Liliana diz ter identificado vários colegas de profissão constantemente tristes, angustiados, desmotivados, menos criativos nas aulas e que repensam suas perspectivas profissionais. “Como psicóloga, optei por focar a questão das subjetividades através da concepção sócio-histórica. Esses autores marxistas afirmam que a subjetividade não é uma oposição à objetividade, e sim que ambas se constituem. Portanto, devemos olhar as condições objetivas de trabalho do professor, como essas condições impactam nos objetivos do professor e de que forma o professor devolve as repercussões para os objetivos.”
Um aspecto que a pesquisadora considera importante foi a indisponibilidade dos professores para entrevistas presenciais, devido à sobrecarga de trabalho ou mesmo por desconfiança. “É um dado da tese que talvez mereça ser investigado mais profundamente, o que não pude fazer. A solução foi enviar um questionário com perguntas objetivas e também discursivas, para que pudessem se manifestar livremente sobre suas vidas como trabalhadores da educação. Enviei 100 convites e pude trabalhar com 29 professores, número muito bom para uma pesquisa qualitativa.” Embora não tivesse a pretensão de que a sua pesquisa fosse conclusiva, Liliana Lima ressalta que ela traz informações bem relevantes em relação a este grupo de professores da rede privada de ensino superior, como as referentes ao adoecimento. “Mais da metade manifestam problemas de voz, vasculares e respiratórios, assim como depressão, síndrome de pânico, insônia e uma arritmia cardíaca que não se confirma quando investigada. São manifestações que eles identificam com ligadas ao trabalho, ao passo que os trabalhadores em geral não conseguem estabelecer esta relação.” Sobre os 68% dos entrevistados que não mudariam de profissão, a autora da tese considera que existe neles uma forte convicção de que a função de educador é bonita e valorosa. “São professores que acreditam contribuir para criar novas relações entre as pessoas e transformar o mundo. Ao mesmo tempo em que estão estressados, doentes e medrosos, não desistiriam da profissão, o que significa que talvez não estejam tão desiludidos assim.”
Liliana observa, entretanto, que a maioria dos entrevistados possui apenas uma década de carreira. “Se em dez anos temos tais percentuais, o que pode acontecer até a aposentadoria? Alguém pode perguntar o que a tese traz de novo, haja vista que todo professor pode dizer informalmente que está estressado. O ineditismo está no fato de que esses professores do ensino superior privado nunca foram pesquisados, nem esse grupo de instituições em que atuam. Os dados podem ter muita serventia para o movimento sindical, dentro do debate mais amplo que ocorre no país sobre quem é o trabalhador de hoje.”
O grande embate
Questionada sobre como mudar este cenário do ensino superior privado, Liliana Lima lembra que está tramitando no Senado o Plano Nacional de Educação (PNE), que já foi aprovado na Câmara. “O Plano contempla vinte metas a serem cumpridas no horizonte de dez anos, entre as quais a de incluir o ensino superior privado dentro do Sistema Nacional de Educação, ou seja, a sua regulamentação também pelo Estado, a fim de que o governo se responsabilize por essa expansão sem limites.”
Segundo a pesquisadora, se os empresários do ensino fazem lobbies no Congresso, a Confederação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee) também tem presença marcante junto a deputados e senadores, esclarecendo-os sobre a pauta de reivindicações dos professores. “É um grande embate. A tendência é pela aprovação, mas é preciso pressão para que não empurrem a votação adiante. Coloco os resultados da tese dentro de um guarda-chuva maior, olhando para esses docentes a partir de um novo projeto de desenvolvimento para o país, com valorização do trabalho e distribuição de renda mais justa. Todos dizem que a educação é fundamental, mas o Brasil carece de ações que mostrem tal protagonismo.”
Expansão de matrículas foi de 74,2% em uma década
Os dados do Censo da Educação Superior de 2009, divulgado no dia 13 de janeiro de 2010 pelo Ministério da Educação (MEC), registrou que o Brasil possui 2.314 Instituições de Ensino Superior (IES), sendo que 89,4% são privadas e 10,6% públicas. Há um total de 307.815 professores no ensino superior do país, sendo 36% mestres e 27% doutores. Nas instituições públicas, 75% dos professores são mestres e doutores e nas privadas esta proporção é de 55%. Segundo os dados do mesmo relatório do Ministério, o professor da instituição privada é em geral jovem, com média de 34 anos, com mestrado e recebendo por hora/aula. Já o docente da instituição pública tem em média 44 anos, é doutor e o regime de trabalho de período integral. O Censo de novembro de 2011 indica que considerando a última década (2001-2010), a expansão de matrículas no ensino superior foi de 110%, sendo de 74,2% nas IES Privadas e de 25,8% nas IES Públicas, como mostra a tabela abaixo:

Publicação
Tese: “Os impactos das condições de trabalho sobre a subjetividade do professor de ensino superior privado de Campinas”
Autora: Liliana Aparecida de Lima
Orientadora: Elisabete Monteiro de Aguiar Pereira
Unidade: Faculdade de Educação (FE)

Roque. Só que, amigo, quem vaiou não é lá muito melhor de quem foi vaiado.


segunda-feira, 29 de abril de 2013

Rádio Jovem Pan, 29/04/2013, 7:00 AM.

Professor diz que epicentro da crise entre Legislativo e Judiciário está no Executivo

29/04/13 - 09h37
Publicado Por: Mariana Riscala
Professor diz que epicentro da crise entre Legislativo e Judiciário está no Executivo
Divulgação


O professor de Ética da Unicamp e integrante do Linha de Frente da Jovem Pan, Roberto Romano da Silva, falou sobre o desentendimento dos poderes Legislativo e Judiciário, entre Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal.

Para ele, a mudança tem que começar no Palácio do Planalto. “O Brasil é um país em que o Executivo é hipertrofiado, com um ministério imenso, um controle do Congresso por MPs e emendas parlamentares, e tudo se faz em favor do Executivo. Essa briga é porque Gilmar Mendes deu uma liminar definindo restrições para um projeto que favorecia a reeleição de Dilma Rousseff. Temos no Palácio do Planalto o epicentro da crise, explicou.

Clique no áudio e confira a entrevista completa com Roberto Romano da Silva.

 

Roberto Romano

Professor diz que epicentro da crise entre Legislativo e Judiciário está no Executivo

Ilustração capitirada do Blog de Marta Bellini.The New York Times, Grécia das crianças famintas, um tributo aos capital financeiro, à desregulamentação do mercado, a finada (que a terra a tenha) Margareth Tatcher, e a todos os assassinos de terno e gravata que almoçam e jantam no Bull and Bear, com a consciência absolutamente leve.






29/04/2013 - 03h40

Crise faz com que crianças passem fome na Grécia

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LIZ ALDERMAN
DO "NEW YORK TIMES"
The New York Times ATENAS - Como diretor de uma escola primária, Leonidas Nikas está vendo o que ele pensava que fosse impossível acontecer na Grécia: crianças procurando comida nas latas de lixo, jovens necessitados pedindo sobras de comida aos colegas e um menino de 11 anos, Pantelis Petrakis, com o corpo crispado pela fome. 

"Ele não tinha comido quase nada em casa", disse Nikas, sentado em seu escritório perto do porto de Pireus, um subúrbio da classe trabalhadora em Atenas. Ele consultou os pais de Pantelis, que disseram que não conseguem trabalho há meses. 

Sua poupança acabou e eles estão vivendo de macarrão com ketchup. "Nem em meus sonhos mais loucos eu esperava ver a situação em que estamos", disse Nikas. "Chegamos a um ponto em que as crianças da Grécia vêm para a escola famintas. Hoje as famílias têm dificuldade não apenas para encontrar emprego, mas para sobreviver." 

A economia grega encolheu 20% nos últimos cinco anos. O índice de desemprego supera 27%, o mais alto da Europa, e seis em cada dez pessoas que buscam emprego dizem que não trabalham há mais de um ano. Essas estatísticas estão reformulando a vida das famílias gregas. As crianças chegam em número cada vez maior às escolas famintas, subalimentadas ou até desnutridas, segundo grupos privados e o governo. 


The New York Times
A geladeira quase vazia de Michalis Petrakis; a fome na Grécia está aumentando
A geladeira quase vazia de Michalis Petrakis; a fome na Grécia está aumentando
Estima-se que 10% dos estudantes gregos da escola básica e média, no ano passado, tenham sofrido o que os profissionais de saúde pública chamam de "insegurança alimentar", o que significa que eles enfrentaram a fome ou o risco dela, segundo a doutora Athena Linos, da Prolepsis, um grupo não governamental de saúde pública. 

"Quando se trata de insegurança alimentar, a Grécia hoje caiu ao nível de alguns países africanos", disse. Os estudantes gregos trazem sua própria comida ou compram produtos em uma cantina. O custo se tornou impraticável para alguns. "Ao meu redor eu ouço crianças dizendo: 'Meus pais não têm dinheiro. Não sabemos o que vamos fazer'", disse Evangelia Karakaxa, 15, aluna do colégio Número 9 em Acharnes. 

Acharnes fervia com atividades ligadas às importações até que a crise econômica eliminou milhares de empregos no setor. "Nossos sonhos foram esmagados", acrescentou Evangelia. 

"Eles dizem que quando você se afoga sua vida passa em um 'flash' diante de seus olhos. Minha sensação é de que na Grécia estamos nos afogando em terra seca." 

Alexandra Perri, que trabalha na escola, disse que pelo menos 60 dos 280 alunos sofrem de desnutrição. "Há um ano, não era assim", disse. "O que é assustador é a velocidade com que isso está acontecendo." 

O governo reconheceu que precisa enfrentar a questão da desnutrição nas escolas. Nikas disse que sabe que o governo está trabalhando para consertar a economia. Agora que acabou a conversa sobre a Grécia sair da zona do euro, as coisas parecem melhores, ao menos para o mundo exterior. 

"Mas diga isso à família de Pantelis", disse Nikas. "Ela não sente melhoras em sua vida." 

Themelina Petrakis, a mãe de Pantelis, abriu sua geladeira. Lá dentro havia ketchup e outros condimentos, um pouco de macarrão e sobras de uma refeição que ela ganhou da prefeitura. 

Seu marido, Michalis, 41, foi demitido em dezembro. Ela disse que a companhia em que ele trabalhava não pagou seu salário durante cinco meses antes da demissão e que, em fevereiro, eles ficaram sem dinheiro. Quando a fome chega, Petrakis tem uma solução. 

"É simples", disse ela. "Você sente fome, fica tonto e dorme." 

Um relatório da Unicef de 2012 mostrou que, entre as famílias gregas mais pobres com crianças, mais de 26% tinham uma "dieta economicamente fraca". 

No ano passado, a Prolepsis começou a fornecer sanduíches, frutas e leite em 34 escolas públicas onde mais da metade das 6.400 famílias participantes diziam sentir "fome média a grave". Financiada por uma verba de US$ 8 milhões da Fundação Stavros Niarchos, uma organização filantrópica internacional, o programa foi expandido neste ano para atender 20 mil crianças. 

Konstantinos Arvanitopoulos, o ministro da Educação da Grécia, disse que o governo conseguiu financiamento da União Europeia para fornecer frutas e leite nas escolas e cupons para pão e queijo. Também está trabalhando com a Igreja Ortodoxa Grega para fornecer milhares de pacotes de ajuda.
Mas Nikas está revoltado com o que ele considera uma ampla negligência da Europa pelos problemas da Grécia. 

Ele disse: "A menos que a União Europeia aja como essa escola, onde as famílias ajudam outras famílias porque somos uma grande família, estaremos acabados". 

Colaborou Dimitris Bounias

sábado, 27 de abril de 2013

Marta Belllini. Curitiba, são Paulo, Rio, Salvador, Brasilia, etc. Dá para entender a opção preferencial de boa parte da midia pelos governos, sejam eles petistas, tucanos, ou qualquer outra coisa?

Como os professores morrem no estado do Paraná...


 Do RIGON, na Má-ringa
 

Os gastos milionários de Richa com publicidade


O dinheiro do seu imposto Beto Richa não perdoa – gasta com a mídia. O oceano de dinheiro público destinado à propaganda e publicidade é hoje um dos pilares que sustentam o governo tucano no Paraná. Órgãos ligados ao governo do estado gastaram R$ 87.096.652,70 em publicidade institucional entre julho e dezembro do ano passado, mais R$ 5.166.147,67 de publicidade legal. A maior parte do dinheiro para propaganda institucional saiu da Secretaria de Estado de Comunicação Social (R$ 44.371.006,79), Sanepar (R$ 13.851.063,69), Detran (R$ 11.999.077,79), Copel (R$ 5.614.697,76), Fomento Paraná (R$ 3.124.749,35), Secretaria de Segurança Pública (R$ 2.426.887,46) e Compagás (R$ 2.067.848,56).
Das universidades estaduais, a UEM foi a que menos gastou com publicidade: R$ 4.390,00. A Unioeste liderou, com R$ 165.000,00. Os detalhes foram publicados no último Diário Oficial do Paraná, com data do dia 19, disponibilizado hoje.

Roque


Marta Bellini. Um dos pontos para resistir à reforma em pauta, seria a também reforma ética dos reitores das federais. Eles poderiam não assinar, em 2014, obscenos manifestos em favor da candidatura da presidente em exercício. Um fato que envergonha os campi e gera atos como o que se relata no post.


sexta-feira, 26 de abril de 2013


FAPESP

Mudança polêmica

Lei que altera carreira de docentes das universidades federais preocupa comunidade científica
BRUNO DE PIERRO | Edição 205 - Março de 2013
© CATARINA BESSEL
Um conjunto de mudanças na carreira dos professores das universidades federais, que passam a valer no início deste mês, provocou reações ásperas na comunidade científica e em parte das entidades representativas dos docentes. O alvo das críticas é a lei nº 12.772/2012, sancionada pela presidente Dilma Rousseff no dia 28 de dezembro, resultado de um acordo entre o governo federal e a Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior (Proifes-Federação) celebrado após a greve que paralisou as universidades federais no ano passado. Embora tenha motivações ligadas aos salários dos docentes – que terão reajuste médio de 16% em 2013 –, a nova lei modifica pontos estruturais da carreira que vigoravam desde abril de 1987. “A lei deveria ser rasgada, pois o conceito de universidade foi ferido”, afirma Helena Nader, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que em fevereiro alertou a presidente Dilma da insatisfação da comunidade científica durante uma reunião do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia.
Os críticos argumentam que a lei pode desestimular a pesquisa universitária nas federais e inviabilizar a atração de grandes talentos para a carreira acadêmica. Isso porque o ingresso na universidade federal só poderá ocorrer no primeiro nível da classe de professor auxiliar, independentemente da titulação do docente, e a progressão entre um nível e outro da carreira passa a exigir o intervalo de 24 meses. Segundo a nova lei, a universidade federal passa a ter dois tipos de professor titular. Um é o titular de carreira, que, além de ter doutorado, precisa galgar os degraus da vida acadêmica. Outro é o titular-livre, talhado para quem já tem pelo menos 20 anos de doutorado e quer ingressar numa federal.
 
Para ilustrar o problema, a pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Debora Foguel, conta um caso emblemático, que, segundo ela teme, pode se tornar recorrente. Recentemente, a UFRJ recebeu a visita de Cedric Villani, um jovem matemático francês que conquistou em 2010 a cobiçada Medalha Fields, concedida pela União Internacional de Matemática. Villani obteve o título de doutor em 1998. Se fosse convidado a ingressar na UFRJ, teria de entrar como auxiliar 1. Como não tem 20 anos de doutorado, também estaria desabilitado para ser professor titular-livre. “Isso será um problema, já que estamos trazendo vários pesquisadores brilhantes dentro do programa Ciência sem Fronteiras. A esses, teremos que oferecer vagas de professor auxiliar. Na hipótese de querer trazer o Cedric Villani, eu não teria coragem sequer de fazer tal convite”, declara Debora. Para Helena Nader, o tempo de doutorado não tem vínculo direto com a competência. “Você pode ter alguém com cinco anos de doutorado, mas que já tem condições de ser professor titular”, explica.
 
A lei também veta a abertura de concursos específicos para as classes de auxiliar, assistente e adjunto. Mesmo que o aprovado tenha título de doutor, o ingresso será na categoria de auxiliar e, passados três anos do período probatório, ele segue para o nível de adjunto. A promoção, contudo, pode ser acelerada de acordo com a titulação do professor – mestrado ou doutorado. O presidente da Proifes-Federação, Eduardo Rolim, explica que a razão disso se baseia em acórdãos do Tribunal de Contas da União, que impedem o ingresso de servidores no meio da carreira. “Isso aconteceu até agora porque nossa carreira é de 1987, anterior à Constituição de 1988”, acrescenta.
 
A insatisfação das sociedades científicas cresceu em agosto, quando o Palácio do Planalto apresentou o projeto que deu origem à lei. O texto causou polêmica também entre as entidades sindicais. Na ocasião, após reunião entre representantes dos ministérios do Planejamento e da Educação e de três entidades ligadas aos professores, duas delas – o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN) e o Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe) – não assinaram o acordo, entre outros motivos por considerarem que o projeto desestruturava a carreira de docente. Em novembro, enquanto o projeto tramitava na Câmara, a SBPC e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) divulgaram um manifesto no qual afirmavam que alguns aspectos da proposta poderiam trazer “graves dificuldades, problemas e, por que não dizer, retrocesso para as universidades federais brasileiras, principalmente no que tange à qualidade da pesquisa”.
 
O novo texto estabelece que os concursos devem exigir pelo menos diploma de graduação, mas não deixa claro se as instituições poderão continuar a restringir o edital apenas para candidatos que possuam o título de doutor, como a maioria faz hoje. “Os professores que ingressam nas universidades federais sem título de doutor muito dificilmente conquistam tal título ao longo da carreira”, afirma Debora Foguel. As universidades pretendem seguir exigindo em seus concursos que os candidatos tenham título de doutor. “Mas confesso que estou temerosa que essa estratégia seja objeto de contestação na Justiça por parte de candidatos”, avalia a professora da UFRJ, instituição na qual apenas 20% dos docentes não são doutores.
 
As alterações na legislação forçaram algumas universidades a cancelar, às pressas, concursos que estavam em andamento. De acordo com Helena Nader, um desses concursos teria como candidato um experiente professor que concorreria ao cargo de titular na Unifesp. Ao saber do cancelamento do edital e das novas condições para ingressar na universidade, ele preferiu desistir da vaga. “A universidade deve gerar conhecimento novo, não apenas transmitir conceitos”, avalia a presidente da SBPC. Para a professora do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP Elizabeth Balbachevsky, as universidades federais podem perder a oportunidade de trazer de volta brasileiros que realizam pesquisa em países que no momento sofrem com a crise econômica. “Você acha que um professor que esteja na Universidade Stanford, na Califórnia, voltará para cá para ser professor auxiliar?”, indaga Balbachevsky.
 
A ex-secretária Nacional de Educação Superior e professora do curso de direito da Universidade de São Paulo (USP) Maria Paula Dallari Bucci acompanhou o início das discussões sobre alguns conceitos presentes na lei, quando, ainda no MEC, conduziu um esforço conjunto com a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) para a implementação da autonomia das universidades federais. A lei nº 12.772, segundo ela, deve ser lida com atenção, levando em conta artigos inovadores que estão sendo negligenciados nas discussões. No artigo 21º, por exemplo, que especifica o que é permitido durante o regime de dedicação exclusiva, há uma passagem que, segundo Maria Paula, beneficia diretamente a pesquisa nas universidades federais: a retribuição, em caráter eventual, por trabalho prestado no âmbito de projetos institucionais de pesquisa e extensão. Outro ponto lembrado pela professora é a regulamentação do estágio probatório. “O professor que fez o concurso não tem a permanência garantida. Ele passa por uma avaliação de desempenho e isso evita a acomodação de professores. É uma das poucas leis no Brasil que tratam disso”, afirma. O artigo 26º também é considerado importante por ela — junto com o mecanismo de reposição automática de docentes aposentados, falecidos ou desligados, criado em 2007 —, pois institui uma comissão para formulação e acompanhamento da execução da política de pessoal docente. “A lei permite a gestão do quadro de professores pela universidade, de acordo com o projeto dela. Cada universidade tem seu projeto, seus desafios e dificuldades”, conclui Maria Paula.
 
O vice-presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), Luiz Henrique Schuch, contesta a afirmação da ex-secretária do MEC de que a lei amplia a autonomia universitária. “A nova lei delega ao ministério o estabelecimento de diretrizes que ainda não foram definidas.” Isto configura, na visão de Schuch, uma afronta à autonomia, uma vez que o desenvolvimento na carreira deveria ser definido no âmbito institucional.
 
Outra novidade é que acaba a limitação de 10% de professores titulares nos quadros das universidades. Qualquer docente, na categoria professor associado 4, com título de doutor, poderá pleitear a promoção para titular, independentemente da existência da vaga. “Sem essa limitação, será mais fácil atrair professores qualificados que vêm de fora e desenvolver a pós-graduação em universidades mais jovens”, diz Rolim.
 
Elizabeth Balbachevsky, contudo, observa no caso brasileiro um movimento contrário à tendência mundial de permitir que a universidade desenvolva seu próprio plano de carreira. A professora participou de um estudo internacional que avaliou, entre 2005 e 2007, o impacto da globalização na profissão acadêmica em 19 países de todos os continentes. O estudo mostra que, tradicionalmente, a organização da profissão nas universidades oscila entre dois grandes tipos ideais: o mercado acadêmico, da experiência norte-americana, e o modelo estatal. O primeiro se caracteriza por uma alta mobilidade, em que a instituição negocia condições específicas de contratos, quando está interessada em atrair um determinado profissional. Essa situação tende a criar uma intensa mobilidade de profissionais em todos os níveis de carreira, pois, conforme o professor amadurece, ele tem maior capacidade para negociar condições específicas com as instituições que se interessam por ele.
Esse é o segredo do dinamismo do sistema universitário dos Estados Unidos, diz a professora, pois é relativamente fácil para uma instituição criar competência em áreas emergentes de pesquisa, contratando alguns pesquisadores com nome e experiência na área e que lideram a formação de novos laboratórios e grupos de pesquisa. “Um professor recém-formado não terá condições para atrair recursos para projetos mais ambiciosos e liderança para propor uma agenda de pesquisa relevante”, pontua.
 
No segundo modelo, o acadêmico é contratado como servidor público, e daí decorre sua estabilidade, o que tende a contribuir para a fixação do pesquisador numa instituição muito cedo. Esse modelo era muito comum em países europeus. Ainda assim, em diferentes países a estrutura de acesso a diferentes pontos da carreira, especialmente na posição de professor titular, tendia a promover a mobilidade dos professores, especialmente os mais ambiciosos, interessados em subir na carreira. Nas últimas décadas, essa concepção de plano de carreira perdeu força na Europa, onde, desde o final dos anos 1980, já se identificava uma capacidade de resposta limitada ante as crescentes demandas da sociedade, onde a competitividade da economia depende da capacidade de se manter na liderança da inovação (ver mapa). Dentre os países emergentes, a China também introduziu reformas importantes na carreira acadêmica, deixando-a mais flexível, explica Elizabeth. “Para a China, a reforma do ensino superior é central para a estratégia do país de sair de um modelo de inserção no mercado internacional baseado no baixo custo de mão de obra para outro baseado em vantagens competitivas criadas pela capacidade de inovação das indústrias chinesas”, diz.
 
O MEC defende a nova lei, mas admite que poderá rediscutir alguns pontos. Em nota, a Secretaria de Educação Superior do MEC afirmou que “algumas das questões sobre a estruturação do Plano de Carreiras e Cargos de Magistério Federal estão sendo tratadas pelo MEC diretamente com as universidades”. Ainda segundo o ministério, o objetivo da lei é buscar a valorização da dedicação exclusiva e a titulação dos docentes. Em janeiro, uma nota técnica divulgada pelo MEC tenta esclarecer pelo menos um tópico da lei. De acordo com o documento, além da exigência de diploma de graduação, as instituições poderão solicitar nos editais outros requisitos, como a apresentação de títulos de pós-graduação, de acordo com o interesse da universidade.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Roque


BRASIL DE FATO

Produção criminosa de roupas em São Paulo


Grandes empresas da moda estariam fomentando o tráfico de pessoas para abastecer uma rede de exploração lucrativa que culmina no trabalho escravo de imigrantes

26/04/2013
Márcio Zonta
da Redação

Há duas semanas, mais seis imigrantes bolivianos flagrados em condição análoga à escravidão foram resgatados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), de uma oficina clandestina de costura na cidade de São Paulo. Com mais essa abordagem do MTE, no ano de 2013, contabiliza-se quarenta imigrantes resgatados na capital paulista submetidos à mesma forma de exploração no trabalho. 

Procedentes geralmente do Peru, Bolívia e Paraguai, os imigrantes trabalham em locais insalubres, trancafiados e sem ventilação na região central da cidade, principalmente nos bairros do Pari, Brás e Bom Retiro.

Leia mais: 

A jornada de trabalho diária alcança de 14 a 16 horas sem acesso aos direitos trabalhistas vigentes no Brasil. Segundo o MTE, a cidade de São Paulo possui entre 8 e 10 mil oficinas de costura clandestinas, ocupadas em média por entre quinze e vinte costureiros. Os casos que se tornaram recorrentes na mídia somente nos últimos anos fazem parte de uma contínua exploração, que existe há mais de vinte anos na capital paulista.

Para especialistas ouvidos pela reportagem do Brasil de Fato, a prática exploratória ganhou outro artifício nos dias atuais, envolvendo o crime de tráfico de pessoas para abastecer uma rede de exploração, beneficiária a famosas grifes de moda e do varejo nacionais e internacionais instaladas no Brasil.

Retornando de uma viagem recente à Bolívia, onde discutiu o assunto com parlamentares bolivianos, o deputado Claudio Puty (PT-PA), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito do Trabalho Escravo, revela que investigações apontam o envolvimento de grandes empresas da moda na exploração trabalhista ilegal de imigrantes no país.

“Apuramos em São Paulo que empresários brasileiros, bolivianos e coreanos estão à frente das oficinas que exploram esses trabalhadores, no entanto, seriam os intermediários de grandes empresas que pagam R$ 0,20 pela confecção de uma peça de roupa e vendem em grandes lojas de marcas por R$ 100 ou mais”, destaca.

Esquema

Na Bolívia, Peru e Paraguai, empresas de costura que atuam de fachada seriam as principais aliciadoras para fornecer mão de obra à rede de exploração nas oficinas clandestinas em São Paulo. “Essas empresas ministram cursos de costureiro preparando as pessoas para serem trazidas ao Brasil”, revela Roque Renato Pattussi, coordenador do Centro de Apoio ao Migrante (Cami).

Um contrato verbal no país de origem, entre aprendizes e donos das firmas de costura, acordaria um salário de 150 dólares por mês em São Paulo, além da garantia de alimentação e moradia sem custo ao trabalhador. Assim, uma vez instalados nesses locais de trabalho na chegada em São Paulo, os imigrantes estariam contidos à cadeia de produção de grandes marcas da moda e do ramo do varejo.
“Na maior parte dos casos, os maiores beneficiários são os grandes magazines”, acusa Elias Ferreira, advogado e secretário- geral do Sindicato das Costureiras de São Paulo. Elias relata que muitas dessas companhias de moda, que usufruem da indústria têxtil, sabem da existência do trabalho escravo na cadeia de produção de seus produtos.

“Fazendo o papel investigativo, localizamos as oficinas clandestinas, informamos ao Ministério Público, Ministério do Trabalho e Polícia Federal e muitas vezes averiguamos que as empresas sabem, porém há casos em que há o desconhecimento do fato”, constata.

Para Pattussi, não há duvida: a legião de imigrantes vindos dos países fronteiriços com o Brasil tem endereço certo. “São trazidos às oficinas clandestinas de costura em São Paulo, que em sua grande maioria estão ligadas à cadeia de produção das grandes lojas”, enfatiza.

Tráfico de pessoas

Além do trabalho análogo à escravidão nas oficinas de costura clandestinas, a rede de exploração forja ainda outro crime: o tráfico de pessoas. Aliciados com a promessa de moradia, alimentação e salário, os imigrantes contraem dívidas com passagens, visto e toda permanência em São Paulo, sendo muitas vezes mantidos nesses espaços em decorrência de servidão por dívida.

Diante dessas circunstâncias, o tráfico de pessoas seria o alicerce para garantir um contingente de bolivianos, peruanos e paraguaios para mão de obra nas oficinas envolvidas no esquema de exploração.

“O crime de traficar pessoas nesse caso se constitui como uma condição, um meio que serve ao contexto de exploração do trabalhador no ramo têxtil de São Paulo”, elucida Juliana Armede, advogada e coordenadora dos programas de enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e do Combate ao Trabalho Escravo da Secretaria de Justiça do Estado de São Paulo.

Os diversos casos acompanhados pela advogada na Secretaria de Justiça apontam que o esquema de exploração de imigrantes costureiros na cidade fomenta o delito. “De maneira concreta, nós identificamos na cidade de São Paulo que o tráfico de pessoas, no âmbito latino-americano, sobretudo envolvendo os bolivianos, está destinado diretamente às oficinas clandestinas”, assegura Juliana.

Os responsáveis

Daslu, Sete Sete Cinco, GEP, Zara, Marisa, C&A, Pernambucanas, Collins, são algumas das empresas famosas nacionais e internacionais do ramo da moda que já tiveram seus nomes atrelados ao trabalho escravo.

O grupo espanhol Inditex, proprietário da marca Zara, registrou lucro recorde em 2012. Apesar da crise econômica na Europa, a empresa faturou 2,361 bilhões de euros. No ano passado, a companhia de moda espanhola abriu 482 novas lojas espalhadas em diversos países. Seu dono, Amancio Ortega, está entre os cinco homens mais ricos do mundo.

Segundo Juliana, as empresas cuja cadeia de produção esteja envolvida com trabalho escravo também teriam que ser responsabilizadas pelo tráfico de pessoas, como componente do processo de exploração trabalhista ilegal. “É necessário que responsabilize a empresa que ratifica a exploração, sobretudo, de um tráfico de pessoas do ponto de vista trabalhista”, menciona.

Todavia, não se pode garantir que mesmo as empresas já flagradas com trabalhadores em condição análoga à escravidão, em sua cadeia de produção, não repita mais o crime. A fiscalização constante do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Polícia Federal e do Sindicato das Costureiras de São Paulo, tem feito as oficinas clandestinas mudarem para outras localidades, não garantindo sua eliminação.

“Devido à inspeção do poder público e de entidades de classe, muitas dessas oficinas migraram para Carapicuíba, Osasco, Itaquaquecetuba e Campinas. Ir para o interior de São Paulo é uma maneira de se esconder melhor e dificultar possíveis denúncias dos trabalhadores envolvidos, além de dificultar o contato dos imigrantes com outras pessoas, como acontece facilmente no centro de São Paulo”, denuncia Pattussi.

(Foto: Anali Dupré/Repórter Brasil)

Marta Bellini

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Livro em pdf

DE IMPERDIBLE LECTURA Y REFLEXIÓN:
* ERICH FROMM - "EL ARTE DE AMAR" (LIBRO COMPLETO EN PDF, PARA DESCARGAR)
http://www.colegiodepsicologosperu.org/w/imagenes/biblioteca/archivos/ErichFromm-ElArtedeAmar.pdf


A era do vazio, do crime, das drogas ..


Espaço, dor e desalento

Por Giovanna Bartucci | Para o Valor, de São Paulo
Aline Massuca/Valor
Birman: "O sujeito contemporâneo ganhou, como resultado das transformações às quais aludo no livro, configurações que não correspondem mais às descritas por Freud"
Com mais de 15 livros publicados, uma das características mais importantes do trabalho ensaístico do professor e psicanalista carioca Joel Birman é a de confrontar a psicanálise com o seu tempo. Assim, as teorias freudiana e lacaniana, fundamentalmente, saem dos consultórios para visitar cinemas, shoppings, academias de ginástica, consultórios médicos, cidades em conflito, acidentes de percurso, em suma, o mundo onde vivemos. Nessa mirada, o que o pesquisador encontrou?
"Da modernidade à atualidade, algo de fundamental aconteceu nas categorias constitutivas do sujeito, redirecionando as linhas de força de seu mal-estar", afirma. Recém-lançado, seu novo livro, "O Sujeito na Contemporaneidade - Espaço, Dor e Desalento na Atualidade", é a reunião de suas reflexões acerca das transformações que tiveram curso no período da modernidade à atualidade. Seu objetivo foi o de empreender uma interpretação desse percurso, no registro do sujeito.
O que caracteriza esse ensaio, porém, é o fato de que o autor subverte as coordenadas dos sujeitos - termo cunhado na modernidade, vale lembrar, que implica características de interioridade, reflexividade e relação com o outro (objeto) - de "assimilação" de suas experiências. Se, anteriormente, essas foram pautadas nas categorias de tempo e sua relação com o espaço, no sofrimento e no desamparo, hoje, sugere o psicanalista, o que prevalece é a dominância da categoria de espaço sobre a de tempo, da experiência da dor sobre a do sofrimento e a do desalento sobre a do desamparo.
E mais: Birman entende que o sujeito contemporâneo vive um vazio que preenche com o que lhe for possível, uma vez que já não lança mão de sua capacidade de pensamento e elaboração simbólica para dar conta de suas experiências de vida, de seu sofrimento ou, como propõe, de sua dor, mas responde às demandas pessoais e sociais por meio de "patologias da ação", tais como a "drogadição", as compulsões alimentares e, ainda, o exercício da violência.
"Penso que a experiência contemporânea do neoliberalismo transformou a violência em crime", diz o psicanalista
Membro de honra do Espace Analytique, em Paris, e do Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos, professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), desde 1996, e pesquisador nos programas de pós-graduação tanto na UFRJ como no Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Birman falou ao Valor, por telefone, sobre as novas formas de subjetivação na contemporaneidade, o incremento mundial da violência e a importância da psicanálise na atualidade, entre outros assuntos.
Valor: Seria correto dizer que este trabalho é a condensação de mais de 15 anos de pesquisa e publicações redigido, agora, tanto para o especialista quanto para o grande público?
Birman: Sim, penso que sim. Encaro esse novo livro como um ponto de chegada de um caminho que iniciei com a publicação de "O Mal-Estar na Atualidade" [Civilização Brasileira], em 1999, em que o que começou a ficar mais em pauta foi a tentativa de conjugar a leitura psicanalítica de certos acontecimentos do contemporâneo à de outros saberes, como a filosofia, a história, as ciências sociais. Meu objetivo é o de pensar a atualidade a partir de um problema-chave na tradição psicanalítica, desde Freud: a questão do mal-estar. Isso porque, de uma perspectiva histórica, a problemática do mal-estar foi - e continua sendo - um fenômeno-limite para pensar a relação sujeito-mundo na ordem social. Ou seja, como um indicativo de uma espécie de dissonância ou tensão, na medida em que os imperativos da modernidade colocaram uma série de impasses para a experiência subjetiva. O incremento das perturbações psíquicas, da violência e da criminalidade, na modernidade, tudo o que na tradição sociológica se traduziu como o estudo de patologias sociais, entram no escopo do que Freud caracterizou como "mal-estar". Então, o que está em jogo nesse percurso que vai do "Mal-Estar na Atualidade" até esse "Sujeito na Contemporaneidade", passando por, principalmente, dois outros livros, "Arquivos do Mal-Estar e da Resistência" [Civilização Brasileira, 2006] e "Cadernos Sobre o Mal" [Civilização Brasileira, 2009], é a possibilidade de refletir sobre o campo da contemporaneidade a partir do pressuposto de que, hoje, as coordenadas da experiência de subjetivação não são exatamente as mesmas que existiam na modernidade.
Valor: De que forma o senhor diferenciaria, então, a experiência de subjetivação na atualidade das formas de experiência do mal-estar na época de Freud?
Birman: Para que possamos caracterizar o mal-estar na contemporaneidade, proponho que há uma ênfase na espacialização da experiência em oposição a uma reflexão sobre o espaço ligada a uma ideia de tempo, isto é, o espaço passa a ganhar mais peso na experiência subjetiva do que o tempo. Um segundo aspecto é um incremento da experiência de dor no lugar da de sofrimento, e, terceiro, uma intensificação da experiência de desalento, presente na atualidade, em oposição àquilo que Freud chamava de desamparo.
Valor: No que diz respeito às patologias sociais, o senhor considera que houve um aumento da violência tanto no Brasil quanto no exterior, nas últimas décadas? Ao que atribui isso?
Birman: Penso que a experiência contemporânea do neoliberalismo transformou a violência em crime. Há aumento da violência, sim, e as pesquisas no campo das ciências sociais mostram isso. A sociedade de consumo é mais violenta do que a ordem social anterior; as transformações no mundo do trabalho, no mundo globalizado e liberal, que lançam pessoas ao desemprego e fragmentam os processos de trabalho, geram novas formas de "morte social", digamos assim, que se traduzem em perda de espaço de reconhecimento simbólico, social e psíquico, mantendo-as na condição de "mortas-vivas". Nessa medida, a forma que elas têm de buscar esse importante reconhecimento é pela violência, no sentido de querer dizer algo e de esperar que o mundo escute as suas demandas. A maneira pela qual o sistema lida com essa violência é a de transformá-la em uma espécie de intenção criminal, ampliando, assim, o conceito de crime. A política da "tolerância zero", como começou a ser aplicada nos anos 1980 pelo prefeito de Nova York, Rudy Giuliani, e acabou se transformando em modelo internacional, é a política de uma espécie de surdez àquilo que é enunciado pela violência, transformando a violência em crime. De forma que há um aumento enorme do encarceramento, tanto no Brasil quanto no exterior, inchando e inflacionando o sistema prisional. Essa é uma tese que muitos criminologistas sustentam - a de que a forma pela qual o governo neoliberal opera é a de transformar a violência em crime.
Valor: O sociólogo americano Richard Sennett, em entrevista ao Valor, sugeriu valores e práticas capazes de manter as pessoas "juntas", cooperando umas com as outras, neste momento em que as instituições se encontram desacreditadas. De maneira geral, ele entende a vida cotidiana como um "workshop" por meio da qual as pessoas são confrontadas à experiência da alteridade. Essa proposta faz sentido para o senhor?
Birman: Sim, claro que faz. Porque é uma maneira de retirar as pessoas, através dessa proposta de estarem juntos, do seu isolamento narcísico, na sua dor. Conjugá-las no espaço comum, abrir uma perspectiva de conjunto é uma maneira de abrir uma perspectiva de tempo e de uma utopia de uma ordem social outra que não essa miséria contemporânea. Entendo também essa proposta do Sennett como uma tentativa de refundar o espaço social em outras perspectivas que não sejam diretamente ligadas ao campo do trabalho. Da mesma forma como o filósofo marxista italiano Antonio Negri se refere às novas formas de manifestação social e política, como "Occupy Wall Street" e a "Primavera Árabe", que ele chama de "multidão" - diferenciando de "massas" -, no sentido de que as pessoas estão juntas, sim, mantendo as suas singularidades, ou seja, sem apagar as suas diferenças, tal como acontecia na política das massas. Essas novas formas de aglutinação, ou política das multidões, como diz Negri, são tentativas de recomposição do espaço social que visam, sim, uma crítica contundente ao sistema neoliberal.
"Há uma transformação na experiência do sonho, que registramos no plano clínico, uma espécie de dificuldade de sonhar"
Valor: O consumismo, a compulsão alimentar, a "drogadição", entre outros sintomas sociais, também poderiam ser compreendidos como a busca de reconhecimento à qual o senhor se referiu acima?
Birman: Sim, essas são "patologias da ação" ligadas à configuração que assinalei, ou seja, diante desse não reconhecimento das pessoas - expresso por meio da violência -, elas se voltaram, como busca de apaziguamento dessa dor, para o uso de drogas, da comida. Tanto as compulsões alimentares quanto as "drogadições" são tentativas ativas de anestesiar essa dor - ou seja, aquilo que o sujeito está exprimindo por meio da violência - que não ganha reconhecimento.
Valor: O senhor também chama a atenção para o fato de que o sonhar, como experiência desejante, tem cada vez mais perdido a sua relevância, em razão da impossibilidade de o sujeito sustentar o seu desejo. O sonho estaria sendo substituído pela dor sem sofrimento. Podemos ainda falar em sujeito desejante?
Birman: Em primeiro lugar, é importante salientar que o sujeito contemporâneo ganhou - como resultado das transformações às quais eu aludo no livro - configurações que não correspondem mais às configurações clássicas descritas por Freud. Nessa medida, é claro que a globalização é uma experiência ocidental desde os séculos XVI, XVII. Contudo, a experiência de globalização que se dá, a partir dos anos 1970, 1980, é nova, no sentido de que é um atrelamento dos diferentes Estados-nação ao mesmo campo político e econômico internacional, e cadenciou, de outra maneira, as experiências desses Estados-nação. Isso seria o contraponto do que os economistas chamam de neoliberalismo. Desse modo, há uma atualização da experiência social e subjetiva em decorrência disso, e penso que houve uma transformação da relação sujeito-mundo inédita, de forma que algumas características do sujeito, como a relação com o tempo - que está ligada a um traço que marcou bastante a nossa modernidade, que foram as utopias estéticas e políticas -, foram transformadas nesse contexto. Entendo que isso resultou em uma relação da subjetividade com o tempo de outra ordem, que, no livro, eu analiso a partir da transformação da experiência do sonho. Há, de fato, uma transformação na experiência do sonho, que registramos no plano clínico, uma espécie de dificuldade de sonhar ou perda da relevância do sonho como lugar de aparecimento do sujeito em uma experiência alteritária, ligada ao desejo e à utopia. E acho que o sonho, nessa colagem com o real, ganha, cada vez mais, características de pesadelo. No que diz respeito à ideia de sujeito desejante, o problema não é que ele tenha desaparecido. O que eu discuto no livro são os impasses para que essa constituição do sujeito de desejo se faça. Os sintomas como a diminuição da vontade da experiência do sonho, a tendência ao pesadelo, a colagem ao real indicam uma impossibilidade - impasses - de que esse sujeito de desejo se constitua, uma vez que se encontra diante de impasses em face, exatamente, da perda de certos referenciais alteritários, que são condição para que ele se organize. Ou seja, existe um problema, hoje, que diz respeito à constituição do sujeito e advém pela fragilidade dos referenciais alteritários. Assim, como eu disse, com isso o sujeito ganha configurações que não são mais as descritas por Freud.
Os médicos tratam a dor emocional "medicalizando-a, sem ver que existe alguém ferido na sua possibilidade de se expressar"
Valor: Em face do vazio vivido pelas subjetividades contemporâneas, observado pelo senhor, qual seria a função da experiência de dor, que vem preenchê-lo?
Birman: A dor é a resultante da espacialização da experiência subjetiva. A dor sem sofrimento - o sofrimento como uma experiência que implica um lugar de apelo e a possibilidade de uma interiorização simbólica da dor - é uma espécie de êxtase desse espaço, dessa angústia que eu chamo de angústia do real. E é claro que essa dor tem a função de chamar a atenção para a mortificação vivida pelo sujeito.
Valor: Tal como a violência, essa dor sem sofrimento também poderia ser compreendida como "busca por reconhecimento"?
Birman: Sim, claro. Mas não é que o sujeito dê a essa dor uma função de reconhecimento necessariamente e, sim, porque o outro pode entendê-la e transformá-la em apelo. Acho que o psicanalista, de certa maneira, quando atende esse tipo de novo sintoma, transforma a dor em apelo. O que não quer dizer que no campo social essa dor seja entendida dessa maneira nem que os médicos a tratem como apelo. Pelo contrário, eles a tratam medicalizando-a, sem ver que existe alguém ferido na sua possibilidade de se expressar. Toda a medicina contemporânea vai no sentido de espacializar a dor.
Valor: A psicanálise se constitui, então, como um espaço diferenciado, na contemporaneidade. Qual seria a sua função social?
Birman: Sim, a psicanálise, junto com as medicinas alternativas, são os únicos espaços que sobraram onde essa dor pode ser transformada em apelo. O fato é que mesmo que o indivíduo sofrido, dolorido, não demande, o analista toma aquilo como uma espécie de protodemanda. Nesse sentido, a psicanálise tem uma função social importante, hoje, porque se coloca num espaço alteritário.
Giovanna Bartucci, psicanalista, professora doutora em teoria psicanalítica, é autora de "Fragilidade Absoluta. Ensaios Sobre Psicanálise e Contemporaneidade" (ed. Planeta), entre outros


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Roque e uma charge muito lúcida, enviada por um amigo.



Jornal da Unicamp. É para tal fim que existe uma universidade pública.

Baixar versão em PDF Campinas, 22 de abril de 2013 a 29 de abril de 2013 – ANO 2013 – Nº 558

Biomédica testa novos métodos
para tratamento de queimaduras

Nanopartículas poliméricas e de prata apresentam
bons resultados em testes in vitro e in vivo

Um desafio das pesquisas na área de cicatrização de queimaduras é o desenvolvimento de materiais que apresentem as características adequadas ao tratamento e que sejam produzidos com matérias-primas de baixo custo e de fácil obtenção. A nanotecnologia tornou-se a palavra de ordem nos últimos anos, por conseguir levar a efeito estes dois parâmetros.

A biomédica Larissa Barbosa de Paula enveredou seu estudo de mestrado, no Instituto de Biologia (IB), para essa direção, preparando nanopartículas de prata produzidas por método biotecnológico empregando o fungo Fusarium oxysporum, e nanopartículas poliméricas recobertas por quitosana e contendo S-Nitrosoglutationa (GSNO). A sua conclusão foi que tais tratamentos debelaram o processo inflamatório e possibilitaram o tratamento de lesões provocadas por queimadura.
Em animais de laboratório, após 14 dias de tratamento com géis contendo nanopartículas, as poliméricas mostraram uma redução no diâmetro das feridas maior que as de prata (AgNP). Entretanto, com mais sete dias de tratamento (21 dias), este quadro se inverteu: o diâmetro das feridas tratadas com AgNP estava menor que o das nanopartículas poliméricas. “Mas as duas cicatrizaram muito bem”, conta a pesquisadora.
Ao final dos 35 dias de tratamento, o grupo-controle (que recebeu apenas o gel) ainda sinalizava feridas, enquanto que nos grupos tratados com os sistemas nanoparticulados, as feridas já tinham sido cicatrizadas e, em alguns animais, chegou-se a registrar o crescimento de folículos capilares (pelos).
As nanopartículas de prata foram produzidas extracelularmente pelo Fusarium oxysporum, que possui mecanismos (não totalmente elucidados) para reduzir íons de prata, quando exposto a uma solução contendo este metal. São nanopartículas esféricas altamente estáveis e com elevada atividade antimicrobiana, essencial no tratamento de queimaduras, uma vez que a infecção é uma das principais complicações clínicas deste tipo de lesão.


De acordo com Larissa de Paula, os métodos adotados em seu estudo já existem. “Empregamos o método biotecnológico para a preparação das nanopartículas de prata e o método de dupla emulsão e evaporação do solvente para as nanopartículas poliméricas”, revela. “A inovação ficou por conta da sua aplicação em feridas provocadas por queimaduras.”
Ao mesmo tempo, ela encapsulou um composto formado por glutationa e óxido nítrico (GSNO) em nanopartículas preparadas com um polímero biodegradável-biocompatível e recobertas por quitosana (que também possui elevada atividade antimicrobiana).
Uma das maiores vantagens desse sistema é a de proteger o fármaco dentro do organismo e alcançar uma liberação sustentada, eliminando a necessidade de reaplicação e tornando-se uma alternativa às terapias de longo prazo.
O GSNO, já testado em feridas crônicas como de pacientes diabéticos, também nunca fora testado em queimaduras e demonstrou grande potencial de cicatrização nos experimentos. O recobrimento com quitosana, segundo a mestranda, além de proporcionar atividade antimicrobiana, permite uma maior permanência das nanopartículas em superfícies mucosas, prolongando a liberação do princípio ativo encapsulado.
TRATAMENTO USUAL
O tratamento mais usado nos hospitais é o creme à base de sulfadiazina de prata 1%. Entretanto, após sua aplicação, costuma-se ocluir a ferida com gaze. Por exigir trocas frequentes, este tipo de tratamento torna-se bastante incômodo e doloroso para o paciente.
Alguns produtos, como loções oleosas à base de ácidos graxos essenciais, gazes impregnadas com Aloe vera e membranas de poliuretano, constituem opções menos doloridas, por não aderirem à ferida. Todavia, são em sua maioria importados, elevando os custos do uso em larga escala nos centros de terapia para queimados. Estima-se que o Sistema Único de Saúde (SUS) gaste por ano cerca de R$ 55 milhões com tratamentos desses pacientes.
A biomédica explica que ambas as nanopartículas foram aplicadas nos animais duas vezes ao dia, sob a forma de gel que foi posteriormente absorvido pelo organismo, assim como as nanopartículas poliméricas. “É um dos métodos mais empregados na indústria cosmética e farmacêutica para o preparo de pomadas e cremes, por ser inerte ao organismo. É usado como um veículo para as substâncias”, explica.
A principal indicação dos géis contendo as nanopartículas desenvolvidas pela biomédica seria para o tratamento de queimaduras pouco graves e de pequena a média extensão. “Seria inviável para o tratamento de uma lesão que acometeu 80% do corpo, o que exigiria quantidades muito grandes do produto. Queimaduras muito graves e/ou extensas também podem acometer pulmões e outros órgãos vitais, diminuindo ainda mais a expectativa de vida do paciente, sendo necessárias medidas mais rápidas”, reforça Larissa.
CAMINHO LONGO
O trabalho da pesquisadora, orientado pela professora Patrícia da Silva Melo, foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais (Ceua) da Unicamp e desenvolvido no laboratório do docente Nelson Durán, no Instituto de Química (IQ).
Além disso, todos os compostos passaram por testes de citotoxicidade antes da aplicação nos animais, garantindo a não toxicidade da concentração aplicada. Os testes foram feitos na Faculdade Metrocamp, onde a biomédica concluiu a sua graduação e hoje ministra aulas para o curso de ciências biomédicas.
Larissa de Paula reconhece que o caminho para chegar à etapa dos ensaios clínicos será longo, pois o processo deve passar primeiramente por testes in vitro e em animais (que são divididos em três etapas). Somente depois desta bateria de testes, vêm os ensaios clínicos, para que alguma empresa se interesse pelos produtos e eles cheguem à comercialização.
DADOS DE QUEIMADURAS
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as queimaduras constituem um dos maiores problemas de saúde pública. No Brasil, estima-se que aconteçam um milhão de acidentes com queimaduras térmicas por ano. Há apenas 10% de hospitalização e cerca de 2,5 mil óbitos em todas as faixas etárias, conforme informações da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ). As queimaduras também estão entre as causas primárias externas de morte, atrás apenas de causas violentas, como acidentes de trânsito e homicídios. Além disso, queimaduras graves prejudicam a integridade da pele, levando à formação de cicatrizes hipertróficas e queloides.
Juntamente com o trauma do acidente e os processos dolorosos de tratamento, as marcas deixadas pelas queimaduras acarretam baixa autoestima e ansiedade social aos pacientes, contribuindo para o desenvolvimento de doenças durante e após a reabilitação.
A literatura aponta um número considerável de pacientes que apresentam doenças como depressão e transtorno de estresse pós-traumático, que não voltam a trabalhar e que são passíveis de ressarcimento pelos sofrimentos psíquicos acarretados.
No Estado de São Paulo, há poucos centros especializados no tratamento de queimados: os de Paulínia, Sorocaba e São Paulo são alguns deles.
Publicação
Dissertação: “Nanopartículas poliméricas e de prata: avaliação da toxicidade in vitro e in vivo e do processo de cicatrização em animais submetidos à queimadura térmica”
Autora: Larissa Barbosa de Paula
Orientadora: Patrícia da Silva Melo
Unidade: Instituto de Biologia (IB)

The New York Review of Books, via De Rerum Natura.


The Real Karl Marx

May 9, 2013

John Gray

Karl Marx: A Nineteenth-Century Life
by Jonathan Sperber
Liveright, 648 pp., $35.00                                                  
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Karl Marx and his daughter Jenny, a left-wing journalist and her father’s secretary, in 1869. ‘The cross she is wearing,’ Jonathan Sperber writes, ‘was not a sign of religious affiliation but the symbol of the Polish uprising of 1863.’

In many ways, Jonathan Sperber suggests, Marx was “a backward-looking figure,” whose vision of the future was modeled on conditions quite different from any that prevail today:
The view of Marx as a contemporary whose ideas are shaping the modern world has run its course and it is time for a new understanding of him as a figure of a past historical epoch, one increasingly distant from our own: the age of the French Revolution, of Hegel’s philosophy, of the early years of English industrialization and the political economy stemming from it.
Sperber’s aim is to present Marx as he actually was—a nineteenth-century thinker engaged with the ideas and events of his time. If you see Marx in this way, many of the disputes that raged around his legacy in the past century will seem unprofitable, even irrelevant. Claiming that Marx was in some way “intellectually responsible” for twentieth-century communism will appear thoroughly misguided; but so will the defense of Marx as a radical democrat, since both views “project back onto the nineteenth century controversies of later times.”

Certainly Marx understood crucial features of capitalism; but they were “those of the capitalism that existed in the early decades of the nineteenth century,” rather than the very different capitalism that exists at the start of the twenty-first century. Again, while he looked ahead to a new kind of human society that would come into being after capitalism had collapsed, Marx had no settled conception of what such a society would be like. Turning to him for a vision of our future, for Sperber, is as misconceived as blaming him for our past.

Using as one of his chief sources the newly available edition of the writings of Marx and Engels, commonly known by its German acronym the MEGA, Sperber constructs a picture of Marx’s politics that is instructively different from the one preserved in standard accounts. The positions Marx adopted were rarely dictated by any preexisting theoretical commitments regarding capitalism or communism. More often, they reflected his attitudes toward the ruling European powers and their conflicts, and the intrigues and rivalries in which he was involved as a political activist.

Similarly, his struggle with his Russian rival Mikhail Bakunin for control of the International Working Men’s Association (IWMA) reflected Marx’s hatred of the Prussian monarchy and his suspicion that Bakunin was a pan-Slavist with secret links to the tsar more than his hostility to Bakunin’s authoritarian brand of anarchism. It was such nineteenth-century passions and animosities rather than ideological collisions of the kind that are familiar from the cold war era that shaped Marx’s life in politics.

Sperber’s subtly revisionist view extends to what have been commonly held to be Marx’s definitive ideological commitments. Today as throughout the twentieth century Marx is inseparable from the idea of communism, but he was not always wedded to it. Writing in the Rhineland News in 1842 in his very first piece after taking over as editor, Marx launched a sharp polemic against Germany’s leading newspaper, the Augsburg General News, for publishing articles advocating communism. He did not base his assault on any arguments about communism’s impracticality: it was the very idea that he attacked. Lamenting that “our once blossoming commercial cities are no longer flourishing,” he declared that the spread of Communist ideas would “defeat our intelligence, conquer our sentiments,” an insidious process with no obvious remedy. In contrast, any attempt to realize communism could easily be cut short by force of arms: “practical attempts [to introduce communism], even attempts en masse, can be answered with cannons.” As Sperber writes, “The man who would write the Communist Manifesto just five years later was advocating the use of the army to suppress a communist workers’ uprising!”

Nor was this an isolated anomaly. In a speech to the Cologne Democratic Society in August 1848, Marx rejected revolutionary dictatorship by a single class as “nonsense”—an opinion so strikingly at odds with the views Marx had expressed only six months earlier in the Communist Manifesto that later Marxist-Leninist editors of his speeches mistakenly refused to accept its authenticity—and over twenty years later, at the outbreak of the Franco-Prussian War, Marx also dismissed any notion of a Paris Commune as “nonsense.”

Marx the anti-Communist is an unfamiliar figure; but there were undoubtedly times when he shared the view of the liberals of his day and later, in which communism (assuming anything like it could be achieved) would be detrimental to human progress. This is only one example of a more general truth. Despite his own aspirations and the efforts of generations of his disciples from Engels onward, Marx’s ideas never formed a unified system. One reason for this was the disjointed character of Marx’s working life. Though we think of Marx as a theorist ensconced in the library of the British Museum, theorizing was only one of his avocations and rarely his primary activity:
Usually Marx’s theoretical pursuits had to be crammed in beside far more time-consuming activities: émigré politics, journalism, the IWMA, evading creditors, and the serious or fatal illnesses that plagued his children and his wife, and, after the onset of his skin disease in 1863, Marx himself. All too often Marx’s theoretical labors were interrupted for months at a time or reserved for odd hours late at night.
But if the conditions of Marx’s life were hardly congenial to the continuous labor required for system-building, the eclectic quality of his thinking presented a greater obstacle. That he borrowed ideas from many sources is a scholarly commonplace. Where Sperber adds to the standard account of Marx’s eclecticism is in probing the conflict between his continuing adherence to Hegel’s belief that history has a built-in logic of development and the commitment to science that Marx acquired from the positivist movement.

In pointing to the formative intellectual role of positivism in the mid-nineteenth century Sperber shows himself to be a surefooted guide to the world of ideas in which Marx moved. Partly no doubt because it now seems in some respects embarrassingly reactionary, positivism has been neglected by intellectual historians. Yet it produced an enormously influential body of ideas. Originating with the French socialist Henri de Saint-Simon (1760–1825) but most fully developed by Auguste Comte (1798–1857), one of the founders of sociology, positivism promoted a vision of the future that remains pervasive and powerful today. Asserting that science was the model for any kind of genuine knowledge, Comte looked forward to a time when traditional religions had disappeared, the social classes of the past had been superseded, and industrialism (a term coined by Saint-Simon) reorganized on a rational and harmonious basis—a transformation that would occur in a series of evolutionary stages similar to those that scientists found in the natural world.

Sperber tells us that Marx described Comte’s philosophical system as “positivist shit”; but there were many parallels between Marx’s view of society and history and those of the positivists:
For all the distance Marx kept from these [positivist] doctrines, his own image of progress through distinct stages of historical development and a twofold division of human history into an earlier, irrational era and a later, industrial and scientific one, contained distinctly positivist elements.
Astutely, Sperber perceives fundamental similarities between Marx’s account of human development and that of Herbert Spencer (1820–1903), who (rather than Darwin) invented the expression “survival of the fittest” and used it to defend laissez-faire capitalism. Influenced by Comte, Spencer divided human societies into two types, “the ‘militant’ and the ‘industrial,’ with the former designating the entire pre-industrial, pre-scientific past, and the latter marking a new epoch in the history of the world.”

Spencer’s new world was an idealized version of early Victorian capitalism, while Marx’s was supposed to come about only once capitalism had been overthrown; but the two thinkers were at one in expecting “a new scientific era, one fundamentally different from the human past.” As Sperber concludes: “Today, a visitor to Highgate Cemetery in North London can see the graves of Karl Marx and Herbert Spencer standing face to face—for all the intellectual differences between the two men, not an entirely inappropriate juxtaposition.”

It was not only his view of history as an evolutionary process culminating in a scientific civilization that Marx derived from the positivists. He also absorbed something of their theories of racial types. The fact that Marx took such theories seriously may seem surprising; but one must remember that many leading nineteenth-century thinkers—not least Herbert Spencer—were devotees of phrenology, and positivists had long believed that in order to be fully scientific, social thought must ultimately be based in physiology.

Comte had identified race (along with climate) as one of the physical determinants of social life, and Arthur de Gobineau’s Essay on the Inequality of the Human Races (1853–1855), a widely influential defense of innate racial hierarchies, was partly inspired by Comte’s philosophy. Marx reacted to Gobineau’s book with scorn, and showed no trace of any belief in racial superiority in his relations with his son-in-law Paul Lafargue, who was of African descent. (His chief objection to the marriage was that Lafargue lacked a reliable income.) At the same time Marx was not immune to the racist stereotypes of his day. His description of the German-Jewish socialist Ferdinand Lassalle, which Sperber describes as “an ugly outburst, even by the standards of the nineteenth century,” illustrates this influence:
It is now completely clear to me, that, as proven by the shape of his head and the growth of his hair, he [Lassalle] stems from the Negroes who joined the march of Moses out of Egypt (if his mother or grandmother on his father’s side did not mate with a nigger). Now this combination of Jewry and Germanism with the negroid basic substance must bring forth a peculiar product. The pushiness of this lad is also nigger-like.
Sperber comments that this passage demonstrates Marx’s “non-racial understanding of Jews. The ‘combination of Jewry and Germanism’ that Marx saw in Lassalle was cultural and political,” not biological. As Sperber goes on to show, however, Marx also referred to racial types in ways that suggested these types were grounded in biological lineages. Eulogizing the work of the French ethnographer and geologist Pierre Trémaux (1818–1895), whose book Origin and Transformation of Man and Other Beings he read in 1866, Marx praised Trémaux’s theory of the role of geology in animal and human evolution as being “much more important and much richer than Darwin” for providing a “natural basis” for nationality and showing that “the common Negro type is only the degenerate form of a much higher one.” With these observations, Sperber comments,
Marx seemed to be moving in the direction of a biological or geological explanation of differences in nationality—in any event, one connecting nationality to descent, explained in terms of natural science…another example of the influence on Marx of positivist ideas about the intellectual priority of the natural sciences.
Marx’s admiration for Darwin is well known. A common legend has it that Marx offered to dedicate Capital to Darwin. Sperber describes this as “a myth that has been repeatedly refuted but seems virtually ineradicable,” since it was Edward Aveling, the lover of Marx’s daughter Eleanor, who unsuccessfully approached Darwin for permission to dedicate a popular volume he had written on evolution. But there can be no doubt that Marx welcomed Darwin’s work, seeing it (as Sperber puts it) as “another intellectual blow struck in favor of materialism and atheism.”

Less well known are Marx’s deep differences with Darwin. If Marx viewed Trémaux’s work as “a very important improvement on Darwin,” it was because “progress, which in Darwin is purely accidental, is here necessary on the basis of the periods of development of the body of the earth.” Virtually every follower of Darwin at the time believed he had given a scientific demonstration of progress in nature; but though Darwin himself sometimes wavered on the point, that was never his fundamental view. Darwin’s theory of natural selection says nothing about any kind of betterment—as Darwin once noted, when judged from their own standpoint bees are an improvement on human beings—and it is testimony to Marx’s penetrating intelligence that, unlike the great majority of those who promoted the idea of evolution, he understood this absence of the idea of progress in Darwinism. Yet he was just as emotionally incapable as they were of accepting the contingent world that Darwin had uncovered.

As the late Leszek Kołakowski used to put it in conversation, “Marx was a German philosopher.” Marx’s interpretation of history derived not from science but from Hegel’s metaphysical account of the unfolding of spirit (Geist) in the world. Asserting the material basis of the realm of ideas, Marx famously turned Hegel’s philosophy on its head; but in the course of this reversal Hegel’s belief that history is essentially a process of rational evolution reappeared as Marx’s conception of a succession of progressive revolutionary transformations. This process might not be strictly inevitable; relapse into barbarism was a permanent possibility. But the full development of human powers was still for Marx the end point of history. What Marx and so many others wanted from the theory of evolution was an underpinning for their belief in progress toward a better world; but Darwin’s achievement was in showing how evolution operated without reference to any direction or end state. Refusing to accept Darwin’s discovery, Marx turned instead to Trémaux’s far-fetched and now deservedly forgotten theories.

Situating Marx fully in the nineteenth century for the first time, Sperber’s new life is likely to be definitive for many years to come. Written in prose that is lucid and graceful, the book is packed with biographical insights and memorable vignettes, skillfully woven together with a convincing picture of nineteenth-century Europe and probing commentary on Marx’s ideas. Marx’s relations with his parents and his Jewish heritage, his student years, his seven-year courtship and marriage to the daughter of a not very successful Prussian government official, and the long life of genteel poverty and bohemian disorder that ensued are vividly portrayed.

Sperber describes Marx’s several careers—in which, Sperber comments, he had more success as a radical journalist who founded a newspaper than in his efforts at organizing the working class—and he carefully analyzes his shifting intellectual and political attitudes. There can be no doubt that Sperber succeeds in presenting Marx as a complex and changeable figure immersed in a world far removed from our own. Whether this means that Marx’s thought is altogether irrelevant to the conflicts and controversies of the twentieth and twenty-first centuries is another matter.

Neither the claim that Marx’s ideas were partly responsible for the crimes of communism nor the belief that Marx grasped aspects of capitalism that continue to be important today can be dismissed as easily as Sperber would like. Marx may have never intended anything resembling the totalitarian state that was created in the Soviet Union—indeed such a state might well have been literally inconceivable for him. Even so, the regime that emerged in Soviet Russia was a result of attempting to realize a recognizably Marxian vision. Marx did not hold to any single understanding of the new society he expected to emerge from the ruins of capitalism. As Sperber notes, “Late in his life, Marx replaced one utopian vision of the total abolition of alienated, divided labor with another, that of a humanity devoted to artistic and scholarly pursuits.” Yet Marx did believe that a different and incomparably better world could come into being once capitalism had been destroyed, basing his belief in the possibility of such a world on an incoherent mishmash of idealist philosophy, dubious evolutionary speculation, and a positivistic view of history.

Lenin followed in Marx’s footsteps in producing a new version of this faith. There is no reason to withdraw the claim, advanced by Kołakowski and others, that the deadly mix of metaphysical certainty and pseudoscience that Lenin imbibed from Marx had a vital part in producing Communist totalitarianism. Pursuing an unrealizable vision of a harmonious future after capitalism had collapsed, Marx’s Leninist followers created a repressive and inhuman society that itself collapsed, whereas capitalism—despite all its problems—continues to expand.

While Marx cannot escape being implicated in some of the last century’s worst crimes, it is also true that he illuminates some of our current dilemmas. Sperber finds nothing remarkable in the celebrated passage in the Communist Manifesto where Marx and Engels declared:
All that is solid melts into air, all that is holy is profaned and man is at last compelled to face, with sober senses, his real conditions of life, and his relations with his kind.
The idea that this “assertion of ceaseless, kaleidoscopic change” anticipates the condition of late-twentieth-century and early-twenty-first-century capitalism, Sperber suggests, comes from a mistranslation of the original German, which could be more accurately rendered as:
Everything that firmly exists and all the elements of the society of orders evaporate, everything sacred is deconsecrated and men are finally compelled to regard their position in life and their mutual relations with sober eyes.
But while Sperber’s version is decidedly less elegant (as he admits), I can see no real difference in meaning between the two. However translated, the passage points to a central feature of capitalism—its inherent tendency to revolutionize society—that most economists and politicians of Marx’s time and later ignored or seriously underestimated.

The programs of “free market conservatives,” who aim to dismantle regulatory restraints on the workings of market forces while conserving or restoring traditional patterns of family life and social order, depend on the assumption that the impact of the market can be confined to the economy. Observing that free markets destroy and create forms of social life as they make and unmake products and industries, Marx showed that this assumption is badly mistaken. Contrary to what he expected, nationalism and religion have not faded away and there is no sign of their doing so in the foreseeable future; but when he perceived how capitalism was undermining bourgeois life, he grasped a vital truth.

This is not to say that Marx can offer any way out of our present economic difficulties. There is far more insight into the tendency of capitalism to suffer recurrent crises in the writings of John Maynard Keynes or a critical disciple of Keynes such as Hyman Minsky than in anything that Marx wrote. In its distance from any existing or realistically imaginable condition of society, “the communist idea” that has been resurrected by thinkers such as Alain Badiou and Slavoj Žižek is on a par with fantasies of the free market that have been revived on the right. The ideology promoted by the Austrian economist F.A. Hayek and his followers, in which capitalism is the winner in a competition for survival among economic systems, has much in common with the ersatz version of evolution propagated by Herbert Spencer more than a century ago. Reciting long-exploded fallacies, these neo-Marxian and neoliberal theories serve only to illustrate the persisting power of ideas that promise a magical deliverance from human conflict.

The renewed popularity of Marx is an accident of history. If World War I had not occurred and caused the collapse of tsarism, if the Whites had prevailed in the Russian Civil War as Lenin at times feared they would and the Bolshevik leader had not been able to seize and retain his hold on power, or if any one of innumerable events had not happened as they did, Marx would now be a name most educated people struggled to remember. As it is we are left with Marx’s errors and confusions. Marx understood the anarchic vitality of capitalism earlier and better than probably anyone else. But the vision of the future he imbibed from positivism, and shared with the other Victorian prophet he faces in Highgate Cemetery, in which industrial societies stand on the brink of a scientific civilization in which the religions and conflicts of the past will fade way, is rationally groundless—a myth that, like the idea that Marx wanted to dedicate his major work to Darwin, has been exploded many times but seems to be ineradicable.

No doubt the belief that humankind is evolving toward a more harmonious condition affords comfort to many; but we would be better prepared to deal with our conflicts if we could put Marx’s view of history behind us, along with his nineteenth-century faith in the possibility of a society different from any that has ever existed.