quinta-feira, 30 de abril de 2015

Zero Hora, onde iniciarei uma coluna a partir do próximo sábado, no Caderno PrOA.

Neste sábado: o melhor do caderno PrOA em plataforma digital

30 de abril de 2015 0
 
O PrOA completa um ano neste domingo (3) e ZH comemora com o lançamento de uma plataforma digital que vai reunir o melhor do conteúdo publicado pelo caderno desde a sua estreia. Na página especial, que poderá ser acessada no sábado (2), no endereço zhora.co/proa-zh, o leitor vai encontrar artigos, textos de colunistas e as principais reportagens desde a primeira edição, em 4 de maio de 2014. O PrOA é a publicação semanal de cultura, ideias e debates de ZH.

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Outra novidade da edição de aniversário é a estreia do colunista Roberto Romano, que substitui o ministro Renato Janine Ribeiro. Filósofo e professor de ética na Unicamp, Romano vai escrever quinzenalmente no caderno.

O PrOA publica ainda no sábado (2) o vídeo de aniversário do suplemento em que intelectuais e formadores de opinião como Jorge Furtado e Luciano Alabarse falam sobre a importância do jornalismo reflexivo e do caderno. A reportagem de capa deste domingo faz um mergulho no universo da realidade virtual e das possibilidades que a nova tecnologia está abrindo em campos como educação, medicina e turismo.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Pobre Paraná: de Lupion a Requião, deste ao Richa. Sim, o ventre da besta sempre está grávido. Como acreditar nesta oposição que flerta sempre com o abuso da força física, com o fascismo?

De quem é a culpa da repressão aos professores no Paraná?

por Danillo Ferreira 30 abr 2015
Atuação policial no Paraná
Professores cercam a Assembleia Legislativa do Paraná. Policiais tentam impedir. Foto: Agência Brasil

Atuar em manifestações populares é um dos maiores desafios operacionais para um policial. É muito difícil, para não dizer impossível, manter total controle dos movimentos coletivos na rua, dada a variedade de intenções (tanto de integrantes das manifestações quanto de infiltrados que, muitas vezes, tem intenções políticas ao causar algum distúrbio num movimento a princípio pacífico).
O ideal é atuar de maneira pontual, cessando cirurgicamente a prática de alguma violência, reagindo apenas contra o responsável por ela. Mas isso é o ideal. Nem sempre há treinamento e equipamento para isso. Às vezes simplesmente não é possível identificar responsáveis. Às vezes falta paciência, preparo psicológico e controle das emoções.

Considerar todos esses elementos é essencial para analisar qualquer atuação policial em manifestações, como a que ocorre agora em Curitiba, onde mais de 200 manifestantes (a maioria professores) já foram feridos por conta da ação policial no Paraná. Os professores estão se opondo a um pacote de austeridade do Governo Estadual, suprimindo direitos trabalhistas e previdenciários.
Para quem não lembra, o atual Governador do Paraná é o mesmo que, ano passado, declarou que “uma pessoa com curso superior muitas vezes não aceita cumprir ordens de um oficial ou um superior, uma patente maior”, se opondo à exigência de curso superior para os policiais militares.
Na operação para reprimir a manifestação dos professores, o efetivo utilizado é maior que o aplicado na capital curitibana diariamente!

Para ter uma noção do clima que se encontra a cúpula do Governo paranaense com a repressão aos professores, segue um vídeo divulgado pelo Blog do Esmael, recebido de um integrante do primeiro escalão do executivo estadual, onde o clima de “oba oba” é escandaloso:

Sobre as condições de trabalho em que se encontram os policiais militares, o Abordagem Policial recebeu algumas manifestações de PMs reclamando dos turnos de trabalho e das instalações a que estão submetidos. Em um caso específico, a própria imprensa divulgou que policiais militares do interior convocados para atuar na capital foram expulsos de um hotel por falta de pagamento das diárias por parte do Governo.

PMs punidos por se recusarem a atuar

Não bastassem todos esses detalhes que mostram como a situação está sendo conduzida com o fígado, e não com o cérebro, adiciona-se o fato de policiais militares estarem presos por se recusarem a participar do cerco contra professores.

De quem é a culpa?

Está claro que há uma orientação política irresponsável do Governo para a utilização do aparato policial (composto por trabalhadores) para reprimir trabalhadores se manifestando. Aliás, é o que parece, desrespeitando até mesmo condições básicas para a atuação dos policiais.

Estando os policiais subordinados a um Governo que se comporta desta forma, é preciso ter muita inteligência e moderação para conduzir esse tipo de ação, pois não é o governador que responde objetivamente pelo tiro disparado, pelo bastão lançado e pelo agente químico utilizado.

Todo policial sabe que entre a ordem e a execução existe a capacidade de ser razoável no cumprimento da missão. Depois não adianta dizer que “só estava cumprindo ordens”, ainda mais em uma operação para conter professores, colegas de funcionalismo público, reivindicando direitos.

TERRAÇO ECONÔMICO.

O governo Dilma é responsável único pela corrupção?

Será que a corrupção no governo Dilma de fato foi maior do que nos governos anteriores ou foi a percepção da corrupção que aumentou significativamente? 
 
Por Terraço Econômico  
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Na última grande manifestação contra o governo Dilma em São Paulo, ocorrida em 12/04, a grande motivação mencionada pelos participantes foi a irritação com corrupção, segundo o Datafolha [1]. Considerando os números apresentados pelo instituto de pesquisa, 33% dos entrevistados pensavam dessa forma, sendo esta preocupação mais relevante que o próprio impeachment da presidente (27%), contra o PT (20%) ou contra os políticos em geral (14%).

Mas cabe aqui uma pergunta: será que a corrupção no governo Dilma de fato foi maior do que nos governos anteriores ou foi a percepção da corrupção que aumentou significamente?

Um livro bastante interessante é “Corrupção: Entrave ao Desenvolvimento do Brasil”, organizado por Oscar Pilagallo, no qual especialistas em corrupção fornecem informações valiosas em um seminário organizado pelo Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO). Roberto Romano, professor de filosofia e ética da UNICAMP, dá sua contribuição na diferenciação dos conceitos mencionados na questão levantada no parágrafo anterior:
Dilma pensativa - 29/11/12
“O problema que me parece mais grave tem relação com os dois eixos temporais: o da percepção e o da geração da corrupção. O eixo diacrônico – o da imprensa, das autoridades, da promotoria, da polícia etc – vem depois de outro. Mas, como se trata de um sistema, temos que levar em conta o sincronismo. Ou seja, no mesmo momento em que um escândalo está sendo denunciado, todos os outros estão operando, o que muitas vezes não é levado em conta.” (Página 54)
Levando a teoria para prática, nota-se que a história contada pelo Professor Romano faz bastante sentido. No momento que os holofotes estavam direcionados para o julgamento do Mensalão, em 2012, a corrupção rolava solta nos contratos com as grandes empreiteiras com a Petrobras, processo que, quando descoberto, foi nomeado carinhosamente de “Petrolão”. No instante em que foram recebidas as denúncias do Mensalão Mineiro em dezembro de 2009 pelo STF, as fraudes nos contratos com a CPTM e Metrô ainda estavam debaixo do tapete.

Logo, o que fica claro é que apenas uma parcela da corrupção é descoberta, enquanto que, possivelmente, a maioria dos casos de desvios intencionais de recursos públicos podem nunca ser revelados.

O fato é que boa parte dos brasileiros cita a indignação com a corrupção como um dos principais motivos para os protestos observados nos últimos meses. Mas será que a culpa pode ser totalmente atribuída a Dilma Rousseff? A história parece sugerir o contrário.

Embora o julgamento do Mensalão tenha ocorrido em 2012, o fato em si, deflagrado pelas delações de Roberto Jefferson ocorreram em 2005, no governo Lula. O escândalo da Petrobras, descoberto recentemente através dos desdobramentos da Operação Lava-Jato, ocorria a pelo menos 15 anos, conforme depoimentos coletados com ex-diretores da estatal realizadas por meio de Delação Premiada [2]. A própria “faxina” nos ministérios ocorrida no início do governo Dilma em 2012, com a demissão de ministros como Carlos Lupi (Trabalho) e Pedro Novais (Turismo), por exemplo, estava pautada em denúncias ocorridas em governos anteriores.

Antes de continuar, cabe aqui uma ressalva: não estou eximindo a nossa presidente de culpa; afinal, como líder da nação, ela tem “responsabilidade solidária” no que ocorre a sua volta. Estou argumentando apenas que Dilma Rousseff pode estar carregando um fardo deixado por governos anteriores, uma sujeira colocada debaixo do tapete que ninguém teve coragem e vontade de investigar. E se esses casos nunca fossem descobertos? E se o poder de investigação fosse menor? A corrupção seria lembrada pela sociedade?
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“Não sei mais o que é sujeira e o que é tapete”. Foto: O Globo

O Índice de Percepção de Corrupção

Dessa forma, nos últimos anos notou-se uma elevação na percepção de corrupção em terras tupiniquins. Felizmente, existe uma extensa literatura que trata das motivações, incentivos e ocorrência de atividades corruptas em diversos países. A Transparência Internacional [3] divulga anualmente um índice que compara a percepção de corrupção ao redor do mundo, conforme mostra o gráfico abaixo, válido para 2013:
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Quanto mais escura a cor, maior o índice de percepção de corrupção. Mapa: Transparência Internacional

Considerando os 175 países pesquisados, o Brasil ocupa a 69ª posição, dividindo o “meio da tabela” com Bulgária, Grécia, Itália, Romênia, Senegal e Suazilândia, com 43 pontos na escala de pontuação vai de 0 a 100, na qual 0 representa um país altamente corrupto e 100 um país altamente livre da corrupção, avaliada no setor público. Em 2012, a pontuação havia sido parecida - 42 pontos – o que está dentro da margem de erro.

Os países com maior pontuação (5 primeiros na ordem: Dinamarca, Nova Zelândia, Finlândia, Suécia e Noruega possuem alto IDH e são considerados democracias perfeitas, conforme metodologia apresentada pelo índice de democracia [4] da Economist Intelligence Unit, uma empresa privada com sede no Reino Unido, que mede o estado da democracia em 167 países. Por outro lado, os piores classificados (5 últimos: Quirguistão, Ucrânia, Nigéria, Bolívia e Camarões) são caracterizados pelo médio/baixo IDH e por regimes políticos híbridos ou autoritários.

Mas e agora, Rousseff?

A verdade é que o Brasil avançou consideravelmente no combate a corrupção, inclusive no que se refere a punição dos envolvidos: quem imaginaria presidentes e diretores de empreiteiras presos por tanto tempo? O famoso “Você sabe com quem está falando?” pode finalmente passar para os livros de história brasileira e deixar de ser ouvido no nosso cotidiano.

O país aprovou nos últimos anos, através de apoio popular, a Lei da Compra de Votos e a Lei da Ficha Limpa. Também podem ser mencionadas a Lei de Acesso à Informação e a participação, na figura de signatário, da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção.

Todos esses mecanismos de monitoramento podem ter aumentado o acesso dos brasileiros às atividades dos agentes políticos, principalmente a Lei de Acesso a Informação. Dessa forma, Dilma Rousseff pode estar, como dito anteriormente, isolada no que diz respeito a responsabilização da corrupção, embora os governos anteriores tenham corresponsabilidade no cenário atual.

Mas uma coisa é certa: que ainda há muita sujeira embaixo do tapete e o certo é tirá-la de lá, para o bem dos brasileiros.

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Notas
[1] http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/04/1615756-irritacao-com-corrupcao-foi-motivacao-para-maioria.shtml[2] http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/esquema-criminoso-atuava-ha-pelo-menos-15-anos-na-petrobras-afirma-procuradoria/[3] Para mais detalhes sobre o Índice de Percepção de Corrupção ver o link:
http://www.transparency.org/cpi2014/results[4] Para mais detalhes sobre o Índice de Democracia ver o link:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/01/150119_democracia_ranking_economist_lgb

terça-feira, 28 de abril de 2015

O Estado de São Paulo.

Análise: É sinal de barbárie, pois não considera um erro do Estado

Roberto Romano - PROFESSOR DE ÉTICA E FILOSOFIA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS (UNICAMP)
28 Abril 2015 | 22h 57 

A pena de morte sempre é uma situação absolutamente impossível de ser revertida. É um sinal de barbárie, porque não há possibilidade de retorno, mesmo a um acusado inocente. O Estado não é divino, um ente absoluto, mas composto de seres humanos, sobretudo no plano da Justiça. É preciso que a pena aplicada ao cidadão seja compatível com essa possibilidade de erro do Estado, para que possa haver reparação. Basta observar os presos e condenados à pena de morte nos Estados Unidos e as provas de inocência encontradas anos depois de suas condenações. 
No caso da Indonésia, advogados e pessoas ligadas a condenados da Austrália acusam juízes de pedirem propina para modificar a pena. Este é um ponto muito preocupante: há uma sociedade permeada pela corrupção. O presidente da Indonésia está pagando sua governabilidade com a prática da pena de morte. É mais propaganda do que, efetivamente, justiça. Nesse contexto, ser contra a pena de morte é uma necessidade do ponto de vista ético e moral.

Defender ou não as execuções é um direito no campo das possibilidades democráticas e de liberdade de expressão. Mas é preciso ponderar opinião pessoal com outros dados: sociológicos, psicológicos e do direito. Há uma grande distância entre liberdade de expressão e o conjunto de saberes e de práticas para realizar minimamente a justiça. A opinião da maioria não deve ser um juízo prudente.

As pessoas que aplaudem a ação da Indonésia deveriam se perguntar se, de fato, conhecem o sistema social e estatal do país. Se sabem as mazelas que existem na polícia e no próprio exercício do direito na Indonésia. Se conhecem o tipo de prática que os políticos indonésios põem em movimento. Imagine a pena de morte aqui no Brasil, com esta corrupção que existe em boa parte das instituições. Tivemos pena de morte no Brasil durante a ditadura militar. Nem por isso a sociedade melhorou.

IHU/Unisinos. Logo, logo, na USP serão inaugurados fornos crematórios. Basta esperar.

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Na USP, professor defende tese de que negros africanos tem QI menor que europeus

Utilizando um artigo considerado ultrapassado e falando em inglês para dificultar a compreensão, um professor da pós-graduação da USP deu uma aula racista nessa semana, mas foi surpreendido pela presença de estudantes do coletivo Ocupação Preta; “Shut up”, dizia o docente quando alunos e alunas negras tentavam intervir.

A reportagem é de Ivan Longo, publicada no Portal Fórum, 24-04-2015.
Se fosse no começo do século XX, o episódio ainda seria aceito sem maiores problemas. Mas, por ter acontecido em pleno ano de 2015, a anacrônica aula do professor britânico Peter Lees Pearson, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), não passou despercebida. Na última quarta-feira (22), Pearson ministrou aula para uma turma de pós-graduação e sua tese conotou conceitos extremamente ultrapassados e racistas. 

Usando como base o artigo “James Watson’s mostly inconvenient truth: Race realism and moralistic fallacy”, de autoria de J. Philippe Rushton e Arthur R. Jensen, o professor começou a explicar, “cientificamente”, como testes de QI “comprovavam” que os negros africanos têm uma capacidade cognitiva menor que europeus ou asiáticos, por exemplo.

Se o Ocupação Preta – coletivo de alunos e alunas negras da USP que luta pela ampliação da presença negra na universidade – não estivesse presente, a possibilidade de haver qualquer tipo de confronto com as ideias do professor seria praticamente nula. Além de propor uma discussão “conjunta” para uma turma com 19 pessoas brancas e apenas 1 negro, o docente não apresentou qualquer outro autor que fizesse um contraponto às teses que apresentava
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Essas teses, porém, já foram rechaçadas pela Academia inúmeras vezes. Watson foi, inclusive, exonerado de seu cargo de conselheiro no Spring Harbor Laboratory (CSHL) em Nova Iorque em virtude de suas afirmações sobre a inferioridade cognitiva de pessoas negras.

“Entendemos que era necessária a ocupação dessa aula primeiramente porque quase todos(as) estudantes matriculados eram brancos(as). Dentre 20 pós-graduandos(as) presentes, apenas um era negro. Este fato por si só já choca e evidencia o caráter elitista e racista da USP e dos cursos ministrados nela. Há um número irrisório de negros e negras nas salas de graduação e pós-graduação da tão reconhecida Universidade de São Paulo”, afirmaram alunas que fazem parte do coletivo.

E assim o fizeram. Aos poucos, dezenas de negros, ao ficarem sabendo da aula que estava sendo dada, começaram a ocupar a sala para fazer o contraponto aos conceitos racistas que estavam sendo levantados por Pearson. Muitos começaram a intervir e expressar sua opinião, mas o debate não fluía pois o professor, de acordo com os estudantes, adotava uma postura ainda mais elitista que sua própria aula: ele só se comunicava em inglês.

“Quem não sabe falar em inglês, que fique sem se expressar”, chegou a afirmar. Em diversos momentos, de acordo com membros do coletivo, o professor ainda fazia escárnio dos alunos e alunas “extras” na sala de aula e muitas vezes chegava a – literalmente – mandá-los calar a boca, com um clássico “shut up”.

“O mais chocante certamente foi a posição do professor: impediu diversas vezes que mulheres pretas falassem, mandou os negros calarem a boca – literalmente! – incontáveis vezes, insistiu que não éramos capazes de compreender, ora pela língua, ora pela ciência. Constrangeu os próprios alunos os obrigando a se manterem na posição que ele escolhia. Além disso riu, fez escárnio e ironias várias vezes. É uma postura inaceitável, porque a posição clara de poder que ele ocupa diante dos alunos não deveria ser permissão para atitudes abusivas. Mas foi o que aconteceu”, explicaram os membros do grupo, que optaram por responder coletivamente aos questionamentos da Fórum.

De acordo com o Ocupação Preta, a ideia de entrar na sala de aula era a de firmar a presença negra na universidade e trazer à tona algumas perguntas, como: “Por que, em 2015, ainda é necessário dispensar esforços para combater tal artigo que expressa tão obviamente o racismo, quando poderíamos, nas mais variadas áreas, estar refletindo sobre assuntos produtivos à comunidade paulista que sustenta a Universidade de São Paulo?”; “Qual o significado político de uma discussão de tal artigo dentro de uma universidade composta por uma maioria branca elitizada?”; “É possível discutir se o artigo é racista ou não sem a presença dos sujeitos vítimas do racismo, no caso os negros?”.

E é por meio desse tipo de questionamento e da ocupação, firmando a presença negra na universidade, que os alunos e alunas que compõem o coletivo pretendem mudar a realidade “branca” e “elitista” da Universidade de São Paulo.

Procurado para se posicionar quanto às declarações dos estudantes, o professor Pearson não deu retorno até a publicação desta matéria.

Confira a íntegra da nota do grupo Ocupação Preta.

Nota de Repúdio ao Racismo Pseudocientífico Defendido na USP

Ontem a Ocupação Preta esteve presente em uma aula da pós-graduação do Instituto de Biociências da USP. O propósito da aula era debater o artigo “James Watson’s mostly inconvenient truth: Race realism and moralistic fallacy”, de autoria de J. Philippe Rushton e Arthur R. Jensen, indicado pelo professor para “discussão em conjunto”. Entendemos que era necessária a ocupação dessa aula primeiramente porque quase todos(as) estudantes matriculados eram brancos(as). Dentre 20 pós graduandos(as) presentes, apenas um era negro. Este fato por si só já choca e evidencia o caráter elitista e racista da USP e dos cursos ministrados nela. Há um número irrisório de negros e negras nas salas de graduação e pós graduação da tão reconhecida Universidade de São Paulo.

Mais do que esta triste realidade uspiana (a inexistência de representatividade negra nas salas de aula), o que também nos motivou a fazer a intervenção na aula do Professor Peter Lees Pearson foi o conteúdo extremamente racista e ofensivo do material proposto. O artigo propõe análises comparativas de QI entre populações africanas, européias e asiáticas, sugerindo uma inferioridade intelectual do povo africano com base em estudos de James Watson. Os estudos de Watson foram rechaçados pela academia por serem baseados em estudos de cefalometria (herdeira cientifica da frenologia, um ramo pseudocientífico que serviu de base pra diversas atrocidades no meio médico e sobretudo psiquiátrico-manicomial) e análises de aplicações de testes de QI sem análises psicossociais.

Watson foi inclusive exonerado de seu cargo de conselheiro no Spring Harbor Laboratory (CSHL) em Nova Iorque em virtude de suas afirmações sobre a inferioridade cognitiva de pessoas negras.Compreendemos que a escolha do artigo feita pelo professor foi infeliz, pois o texto apresenta racismo puro, explícito e além de não trazer dados concretos, foi apresentado sem autores(as) que fazem críticas a ele, endossando ainda mais o racismo de forma determinista. O desconforto a qualquer leitor(a) que respeite a dignidade humana é assegurado!

O ataque ao povo africano e à sua descendência é bastante claro. E esse ataque não passou despercebido desta vez. Contestamos, nos manifestamos contrários a escolha do artigo e fomos enegrecer a discussão com nossos posicionamento de negras e negros que somos, estudantes das mais diversas áreas da universidade que sentem o racismo todos os dias, resistindo e combatendo com muita força. O que nos surpreendeu foi a postura extremamente racista do professor que defendeu subjetivamente o texto e que não valorizava o diálogo, diversas vezes batendo palmas em cima da falas dos estudantes negros, dizendo “Shut up!” e se recusando a fazer a discussão em português, mesmo sabendo que havia estudantes que não entendiam inglês e por isso, não podiam se defender. O professor começou uma discussão sobre um artigo que ressaltava e queria provar a inferioridade intelectual negra, acusando as “pessoas extras” que estavam presentes de “não saberem ciência”.

A Ocupação Preta repudia esse tipo de método de aula, nas quais há a defesa de textos ultrapassados que remetem a pensamentos eugenistas.Repudiamos ainda a inflexibilidade da Universidade (em todos os níveis) em refletir assuntos que dizem respeito ao povo negro com os próprios sujeitos negros que se apresentam para discutir.Seguiremos resistindo e lutando para transformar e enegrecer a Universidade de São Paulo e todos os outros espaços que julgarmos necessários. E que a cada dia juntem-se a nós mais e mais pessoas negras que estudam na universidade se apoderando e ocupando espaços a nós historicamente negados.Queremos uma USP com menos “racist classes” e com mais cotas raciais que insiram a comunidade negra para transformar e guiar o conhecimento científico.

Dentro e fora da Universidade, RACISTAS NÃO PASSARÃO!

CIEE ROBERTO ROMANO, LINK ABAIXO PARA O PDF DA PALESTRA SOBRE FANATISMO E POLÍTICA NACIONAL.

http://www.ciee.org.br/portal/apoio/eventos_opdig/documentos/apresentacao-Roberto-Romano-161-forum-debates-ciee.pdf

Fragmento de um universo e de uma universidade em frangalhos.

Em Berkeley, onde estive tempos atrás, costumava frequentar os excelentes "sebos"da cidade, como o Black Oak. Alí, não raro, bibliotecas inteiras de pesquisadores falecidos eram acumuladas e postas ao dispôr de leitores ávidos de saber. 

Ao comprar vários livros que pertenceram ao respeitável pensador Gregory Vlastos, encontrei no interior do volume um pedaço de papel datilografado, no qual o colega anônimo de Vlastos se queixava dos alunos e colegas. 

Vale a pena reler o fragmento, pois ele traz a verdade sobre a pretensa "comunhão acadêmica". Hegel dizia que o mundo universitário é o "reino animal do espírito". Topei com muitas hienas, algumas exibiam risos e graçolas como se fossem inteligentes, mas na verdade apenas mostravam podridão e carniça sob as gargalhadas dirigidas aos colegas. Alexandre Kojève deduz, da tese hegeliana, que os integrantes dos campi constituem o "reino dos ladrões roubados". Bem dito.

Vamos ao fragmento:

Dear Gregory: it was nice to have your letter last month. I have been encouraged by the tone of several replies to my inquiries to hope that something will turn up in N.E.  before too long. It is a change that I look forward too, though I assure you I have no illusions about the thought-patterns of either faculty or students in N.E. colleges. I know well that they are quite as you describe them. I learned long since to live (philosophically) like a bear, by sucking my own paws. But I would be a good deal happier sucking them in an environment ––a physical environment, at least–– more suitable for bears. As for may writing, you are quite right; it will not be anything is to come only. I keep thinking of.....a small book......

Fragmentos de um náufrago de faculdade? De um desencantado? Não sabemos. Só é possível imaginar. Mas a figura do urso sem meio ambiente é feliz descrição do que sentem os "colegas"todos,

Esperar algo bom e belo de tal comunidade, é um tan ilório......to....ridi....

Frei Guilherme Nery Pinto, OP. A pena de morte e a dignidade humana.



Frei Guilherme Nery Pinto, contra a pena de morte.



FREI GUILHERME NERY PINTO
Introdução necessária

Roberto Romano (*)


Faleceu, no ano de 2001, Frei Guilherme Nery Pinto, da famosa Ordem de São Domingos, os dominicanos. Esta perda abalou todos os que, no Brasil, pensam de modo efetivo, sem apelo à propaganda que define boa parte das formações universitárias e da mídia. No silêncio de sua cela conventual, Frei Guilherme ajudou a formar gerações inteiras de intelectuais, religiosos, políticos. Era um sábio.

Seu nome não surgiu nas revistas, jornais, televisões. O alarido público não lhe fez justiça. Quando se consulta o hall da fama, o bom frade não aparece. Mas seu pensamento é poderoso e sua coragem não é menor. Os jovens que o visitaram, ao longo dos anos, puderam receber, com as mais sólidas bases filosóficas do catolicismo, especialmente Tomás de Aquino, dados sérios sobre filosofias diferentes, antropologia, arte, literatura, política etc. Uma brincadeira comum entre os moços que dele se aproximavam era repetir um ditado: "Frei Guilherme, a revolução na cela".

Antes de sua doença lhe retirar as forças, parece que ele acompanhou tudo o que passava no mundo, via internet. Mas nos anos de 1960, quem desejasse conversar sobre estruturalismo e suas vertentes adquiria boas noções com o frade sapiente e aberto ao diálogo.

O artigo abaixo, contra pena de morte, foi escrito na época da malograda Revisão Constitucional. Naqueles dias, João Paulo II editou o Catecismo Católico, com um sério recuo nos ordenamentos cristãos em relação à pena de morte. Com uma força de caráter inaudita, sobretudo na hora em que a Santa Sé punia teólogos brasileiros, Frei Guilherme escreveu este texto que, certamente, lhe traria dissabores.

Levei o escrito a um conhecido jornal paulista, colocando-o nas mãos de jovem coordenador de coluna. A pergunta que me foi endereçada, ela mesma, mostra o tipo de idéia que se tem do mundo intelectual brasileiro: o garoto perguntou-me se Frei Guilherme "era importante". Como não pronunciei nenhum nome de relevo entre as panelas acadêmicas ou políticas do Brasil, garantindo o texto, o artigo não foi publicado. Tempos depois, ele surgiu numa publicação interna da PUC de Minas Gerais, e no Página Central, um periódico de pequena circulação que muito contribuiu para o debate de idéias na sua curta existência.

O leitor pode julgar sobre a relevância das linhas abaixo nestes dias em que a morte é prometida para todo indivíduo que tiver a desgraça de cair nas mãos da polícia, e que a expressão "direitos humanos" parece banida da vida pública.

(*) Professor e ética e filosofia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)


A pena de morte e a dignidade humana

Frei Guilherme Nery Pinto OP


A violência que nestes tempos se tem manifestado em nossa sociedade, com alarmante freqüência de roubos, depredações, assaltos a mão armada, seqüestros, homicídios, praticados não raras vezes com requintes de crueldade, configura intolerável ambiente de insegurança, sobretudo para a população dos centros urbanos e mantem muitas pessoas em estado de tensão emocional.

Estes fatos despertam sentimentos de revolta, e persuadem larga parte da população a apelar para medidas que ponham termo aos graves crimes que afligem a sociedade. Para muitas pessoas de todas as classes a solução seria reintroduzir a pena de morte na legislação brasileira: "para grandes males, grandes remédios". O problema que envolve a penalidade suprema não é apenas de ordem legislativa, não pode ser dirimido por recurso à opinião pública, por via de plebiscito. A pena de morte tem sido amplamente debatida por juristas sob vários aspectos. A Comissão de Juristas que deve proceder à nova formulação do Código Penal declara que ela é inconstitucional e não pode ser adotada através de emenda, durante a revisão do texto da Constituição, o propalado plebiscito torna-se de todo irrelevante. [...] Revela-se, pois, remota, a possibilidade de sua introdução na lei brasileira.

Para o esclarecimento da opinião pública, julgo que pode haver ainda margem para algumas reflexões sobre o mérito desta importante questão, do ponto de vista moral, vale dizer, em confronto com os princípios da ordem moral dos quais decorrem os direitos fundamentais da pessoa humana.

As considerações que, de início, me ocorrem, dizem respeito ao caráter irreparável da pena de morte, que tem por fim imediato a destruição da pessoa do condenado. Os defensores desta forma de punição deveriam atender para as lições da história, que revelam as incertezas e a falibilidade das sentenças dos tribunais. O ministro Maurício Corrêa relembra que, em nosso país, no século passado, um fazendeiro foi acusado de ter trucidado sua família; condenado pelo tribunal por unanimidade, foi executado. Após alguns anos, foi comprovada sua inocência. A reabilitação póstuma constitui um ato de justiça e pode interessar os estudiosos da verdade histórica. Na realidade, porém, ela nada mais pode significar para os verdadeiros interessados, isto é, para a família do supliciado.

A reabilitação é o reconhecimento explícito de um erro judiciário de conseqüências irremediáveis. A execução de um inocente representa crime infinitamente mais grave do que a punição de um criminoso com a pena capital; contudo, mostrarei que, ainda com circunstâncias agravantes, a aplicação da pena máxima é de todo injustificável.

Desde logo vem a indagação: que instância superior julgaria, por sua vez, e condenaria os fautores de uma decisão que posteriormente se revelou injusta? A conclusão necessária é que, não havendo garantias judiciárias de que jamais um inocente seja condenado e executado, a pena de morte deve ser incondicionalmente excluída de toda lei penal. Como pondera o parlamentar José Serra, no Brasil, o risco de erro seria maior do que em outros países, visto que o sistema judiciário, em nosso país, comprovadamente se tem revelado deficiente.

Os que apelam para o poder de intimidação da pena de morte alimentam esperança ilusória. As estatísticas levadas a efeito nos países em que ela foi imposta falam em seu desfavor, mostrando que sua adoção não diminui, nem tampouco sua supressão aumentou a frequência da criminalidade. Esta é uma das razões por que em vários Estados modernos ela foi supressa ou não foi estabelecida.

Para o esclarecimento da consciência dos cristãos, é necessário informar que não existe doutrina oficial da Igreja a respeito da pena de morte. Os pensadores eclesiásticos dos primeiros séculos a condenavam, tendo em vista o preceito do Decálogo, sancionado pelo ensino evangélico. Após a conversão do império romano ao cristianismo, apareceram opiniões a favor da pena de morte. Na Idade Média, moralistas levando em conta o que era posto em prática nos Estados cristãos, justificavam e invocavam as exigências do bem comum da sociedade a defender, e por outra parte, denunciavam a degradação moral a que se expõe aquele que comete grave crime; contudo, não deixavam de fazer a esse gênero de punição severas restrições.

O papa Leão XIII, embora não se tratando expressamente da pena de morte, ao condenar o duelo, julga que a autoridade civil tem o direito de prescrever a pena capital. O papa Pio XII é mais explícito ao declarar que, em se tratando da execução de um condenado, o poder público não se sobrepõe ao direito à vida de um condenado à morte.

O catecismo da Igreja Católica, recentemente publicado, acolhe o ensino que nesta questão se tornou tradicional, em favor da pena de morte, não porém, de maneira unânime, visto que sempre houve moralistas até em épocas recentes que se opuseram à pena capital. O novo catecismo a mantêm circunscrita aos casos de extrema gravidade. Neste domínio, o magistério eclesiástico não teve o propósito de empenhar o caráter de infalibilidade. As duas declarações, embora versando sobre doutrina da fé, devem ser acolhidas com a consideração a que tem direito a mais alta instância religiosa, sem nos privar da liberdade de opinião a esse respeito.

Eu presto especial atenção ao ensino de Pio XII quando declara que, em se tratando de execução de um condenado, o Estado não dispõe do direito que a pessoa tem à vida. Compete ao poder público privar deste bem o condenado que, por grave delito, já se desapossou do direito à existência (Alocução de 13/9/1952). Em continuidade com o ensino do papa, eu digo que nenhuma razão nos persuade que o poder público seja, de fato, competente para proferir, com toda certeza, o veredicto da pena de morte, que priva o condenado da possibilidade de reabilitar-se.
Toda pessoa humana, em virtude de sua natureza espiritual, é uma realidade sagrada, possui eminente dignidade e o seu direito essencial, o direito à vida, é por si inviolável, não lhe sobrepondo nenhuma instância judiciária. A dignidade da pessoa humana é a razão fundamental para que a pena de morte, que tem por fim direto e imediato destruir a pessoa do sentenciado, seja, de modo incondicional, excluída de toda legislação penal e jamais seja introduzida na Constituição brasileira. Organismos sociais ou religiosos, como a Anistia Internacional, as Conferências Episcopais de muitos países, reclamam a abolição da pena de morte nos Estados em que ela é admitida.

O direito à vida é um bem que, por si, não admite restrições. Os casos limites de sua defesa, por meios cruentos, não representam exceções.Quem é ameaçado de morte por um agressor, pode tirar-lhe a vida, se não tem outro recurso; na ocorrência o homicídio constitui legítima defesa de um bem soberano. O chefe de uma nação cumpre imperioso dever quando defende a vida de seu povo, se for de todo necessário, pelas armas, contra uma potência inimiga.

Em razão destes princípios, compreendemos que um dos precípuos deveres da autoridade pública consiste em utilizar o meio mais apropriado à repressão de toda a forma de atentado às pessoas e à sociedade. Este meio não deve ser outro a não ser a prisão. Ela tem por fim privar o delinquente do uso da liberdade enquanto ameaça a vida e a segurança da população, mas não deve ser ambiente em que se procede ao aviltamento da pessoa do sentenciado.

As manifestações da violência, que de início assinalei, provêm de causas profundas que vem pôr em questão as bases em que se firmaram as culturas modernas. Estas bases repousam, sobretudo, em fatores de natureza econômica. A primazia atribuída ao capital em detrimento dos direitos dos operários à justa retribuição deu origem à formação do proletariado como classe. A subversão de valores na área econômica constituía grave forma de opressão da classe operária e, como denunciava Emmanuel Mounier, o capitalismo após um século de história assumiu o aspecto de tirania, acumulando no silêncio da normalidade injustiças e ruínas (revista Esprit, 1933).

Esse poder teve por conseqüência, no plano mundial, a divisão entre países ricos e países espoliados e empobrecidos, que tende a agravar-se. No Brasil, recente pesquisa revela que na Grande São Paulo mais de um milhão de pessoas vivem em condições subumanas de miséria. Em outros Estados é mais pungente a miséria em que jazem numerosas famílias. A desordem estabelecida pela economia capitalista representa requintada forma de injustiça social, que, nas sociedades evoluídas, podem assumir aspecto larvado e proteiforme, instaurando sob o véu da normalidade, permanente estado de injustiça.

Defrontamos, neste momento, com uma das principais causas da desordem moral que é a criminalidade. Ela surge, quase sempre, como resposta à intolerável situação de injustiça e miséria em que se debate amplos setor da população. Não se pode combater eficazmente as manifestações dessa desordem com meios igualmente violentos. As medidas eficazes consistem nas reformas sociais e econômicas que se impõem urgentes. Estas reformas estão sempre adiadas, e não sabemos se é por incompetência da classe governante ou por motivos inconfessáveis.

Deste modo, prolonga-se um estado de desesperança que pode levar a população sofrida a defender seus direitos à subsistência e justo bem-estar por seus próprios meios, não excluindo os atos de violência.

Se as verdadeiras causas da violência e da criminalidade são complexas, torna-se manifesto quanto é inconsistente aopinião dos que julgam resolver tão grave questão apelando para o pretenso poder coercitivo da pena de morte. Em todos os casos que envolvem atos de violência, cumpre não confundir o emprego de meios indiscriminados de compensação do real estado de miséria em que se encontram muitas pessoas, e que levam abertamente à prática de crimes, e a legítima defesa dos direitos humanos essenciais, se bem que pelo emprego da força, em face da injustificável omissão das autoridades públicas.

Por fim, convém saber que a supressão realmente eficaz das formas de violência de que padece o povo tão somente pode efetivar-se mediante a instauração em nosso país de uma ordem social, política e econômica com referência explícita aos postulados da moral social, que encontram sua mais perfeita expressão nos princípios da moral social cristã.

CIEE (Centro de Integração Escola Empresa), São Paulo. Palestra de Roberto Romano sobre Fanatismo e Política

 http://www.ciee.org.br/portal/apoio/eventos_opdig/documentos/apresentacao-Roberto-Romano-161-forum-debates-ciee-realidade-brasileira.pdf


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O fanatismo é zelo cego e apaixonado, nascido de crenças endurecidas e que faz cometer atos ridículos, injustos e cruéis, não apenas sem vergonha ou remorso, mas com uma espécie de alegria e consolo. O fanatismo é a recusa de qualquer convívio social livre e democrático.

Imaginemos um enorme templo onde a cada metro exista um altar a certo deus inimigo de outros, postos em altares próximos. A guerra entre os vários seguidores não se limita ao interior do templo mas segue fora dele, prejudica a todos os alheios aos cultos ali praticados. A técnica usada pelos adeptos de todos os deuses é o paradoxo. Paradoxo é termo grego que significa ir contra o pensamento comum. Absurdos são usados pelos  fanáticos para maravilhar ou trazer medo aos  que não partilham suas crenças. As falas paradoxais são acompanhadas de gestos paradoxais, prodígios, promessas, milagres. O medo, sobretudo o de perder a vida e o sentido da vida. Os fanáticos costumam aterrorizar os ainda não atraídos por seus dogmas. Do inferno às ameaças de morte, na receita do fanatismo o medo é o fermento que faz crescer a massa.

O medo divide os ameaçados física ou moralmente pelo fanático. Este não aceita a condição de minoria e tenta desorientar a maioria, gera guerra e secessão. Um meio para tal fim é a calúnia, a injúria,  mentiras sobre os que não vivem na seita e, mesmo, dos que nela vivem mas não aprovam totalmente seus métodos e certezas. A luta do fanático para impor dogmas começa na perseguição dos que, em vez de acreditar na sua palavra, procuram a verdade fora dos círculos por ele dominados. O medo faz o fanático indicar vítimas propiciatórias, as quais devem ser massacradas para que seu partido seja aceito ou aplacado. Não existe fanatismo sem execuções físicas ou morais dos alheios ou contrários à fé sectária. Quanto mais justa e prudente uma pessoa, mais será ela candidata ao ataque. As crianças e os velhos são também destinados ao sacrifício, porque as primeiras estão longe de serem militantes ágeis do fanatismo, e os segundos deixaram a idade em que podem ser úteis à causa assassina.

O fanatismo surge em todas as sociedades, classes, situações humanas. Nas igrejas e partidos políticos encontram-se fanáticos e pessoas prudentes. Numa crise social, política ou econômica, no entanto, os fanáticos ganham relêvo, aproveitam o medo da sociedade para aprofundar o embate de todos contra todos.  O fanatismo se instala no mundo islâmico ou cristão, católico ou protestante, ateu ou religioso. O fanático adere a certezas que ele jamais critica e tenta impor aos demais. O fanático nunca duvida. Sua fala e  atos sempre são afirmativos, sua escrita não conhece o sinal de interrogação, mas apenas o de exclamação. Seu discurso não busca persuadir pois sempre quer mandar sem réplicas. O fanático é surdo para as falas que não repetem suas doutrinas. Ele não ouve razões alheias que, no seu entender, são crime a ser punido com castigos físicos, morais, ou a morte. Elias Canetti, em Massa e Poder, fala dos poderosos que acumulam corpos mortos, para que o seu apenas sobreviva. Ela também fala de quem  acumula riquezas, do famoso que acumula aplausos ao seu nome. Ele não fala, nem seria preciso, do fanático que acumula espinhas curvadas diante de sua prática aterrorizante. Ele também acumula corpos de crianças, mulheres, jovens e idosos imolados à sua crença. A lógica do fanático é a seguinte: existem lados na sociedade. E nestes lados vivem o bem e o mal. O bem, por definição, está no acampamento do fanático. O mal, claro, reside nos setores que não o reconhecem.

O fanático é hipócrita, pois usa a máscara da religião, da democracia, do bem comum social, da justiça, para minar os mesmos valores em nome de seus desejos. O fanático ignora toda amizade efetiva . Para ele,  quem não aceita seus ultimatos são inimigos. Amigos, e sempre temporários, só os que pertencem no momento ao seu círculo sectário. O fanático não valoriza partidos políticos ou religiosos, mas vive e lavora em regime de facção, prestes a dar golpes nos agrupamentos que ele considera inimigos. O fanático se revela corrupto e não é responsável: se  calunia, rouba, mata, tudo é feito por ele em nome da Causa que, por definição jamais pode ser criticada pelos outros mortais. Se estes últimos falam em nome próprio, o fanático sempre se julga a voz de Deus, da História, da Ideologia, da Raça. E, como pressuposto, sua divindade, sua história, sua raça e ideologia são “superiores”.  Os seus decretos de vida e morte são inapeláveis. O fanático não aceita o Estado e a sociedade porque, na sua mente, só ele encarna o verdadeiro Estado e a verdadeira sociedade : ambos definidos pela sua crença. O fanático, como o terrorista, não reconhece autonomia e independência dos poderes porque ele se julga legislador, executor, julgador e carrasco. Sua lei não pode ser pensada ou discutida. O fanático é o executivo sem amarra externa, legislativa ou judicial. O próprio fanático é molécula das ditaduras mas, ao contrário das ditaduras comuns, a dele precisa durar eternamente.

O fanático não reconhece cidadanias, pois deseja mansos rebanhos comandados por ele. O fanatismo não tem base na ordem natural ou humana. Ele é uma distorção subjetiva, ocorrida na mente e na vontade. Como não pode se impor pelos meios da fala e do exemplo, ele só consegue mandar com violência física ou moral o  que aprofunda o medo da morte cívica ou biológica. O fanático não reconhece autoridade alheias : religiosa, intelectual, política. Ele é o princípio e o fim de toda autoridade. O fanatismo não encontra lugar no prudente pensamento. Ele mora nas paixões do orgulho, do poder, no que os gregos chamam pleonexia (pleon echein):  ele não aceita limites para o seu poder. O fanatismo é satânico. Lemos no Paraíso Perdido do poeta John Milton, que Lucifer o pai da arrogância e do orgulho. O fanático é ambicioso e não aceita limites ao seu poder, riqueza, honra. Só ele deve mandar, só ele deve enriquecer, só ele deve ser honrado.

O fanático ignora as virtudes coletivas da simpatia, despreza o termo e a realidade da misericórdia e do respeito. Se não encontra espinhas dóceis, além das ameaças,  usa o insulto, os palavrões contra quem pensa diferente dele. Um Deus cruel fala pela sua lingua e decreta o certo e o errado na sua integralidade, nada resta para a opção das pessoas. Quem não segue seus caminhos está condenado à morte e ao inferno, sem compaixão. Assim, é certo para o fanático destruir os inimigos da sua fé. Ele não aceita a igualdade jurídica nem a diferença de idéias. O fruto do fanatismo não é um povo pacífico, amigo e fraterno, mas a divisão, a perseguição mútua, o sacrifício dos dissidentes. O fruto do fanatismo é a guerra civil. Para o sectário faccioso, governantes que não se dobram aos seus ditames são tiranos e devem ser depostos ou mortos. O fanático não aceita eleições em que ele perde, só as que vence, sempre está à espreita de um golpe de Estado se os eleitores não o escolhem. O fanático ignora a coexistência dos opostos, mas louva a perseguição à diferença. O fanático pode se alojar na esquerda, direita, centro da política. Ele endurece toda prática e discurso, pois odeia o debate, o diálogo, a tolerância.

O que é o fanatismo? É o efeito de uma consciência falsa que abusa das coisas mais nobres e sujeita a política, a religião, as artes, as ciências aos caprichos de sua imaginação febril, às suas paixões do orgulho, ambição, desejo de mando.

Quais são os componentes do fanatismo?

1)   as certezas aceitas sem exame. Para afirmar uma idéia, é preciso estudar a sua história, a sua consistência lógica, a sua adequação à realidade. Mas as noções fanáticas são paradoxais, e não raro vão contra a racionalidade humana, o estudo, a comprovação factual. Elas têm mais a forma de imaginação delirante do que pensamento.
2)   Dogmas obscuros e delirantes geram  seitas que se guerreiam e lutam para que o coletivo inteiro se torne inimigo dos seus inimigos. Batalhas sectárias se transformam em guerras civis.
3)   Uma fonte do fanatismo é o moralismo. O moralista, ao contrário da pessoa moral, limpa o exterior mas guarda a sujeira como num túmulo. O moralista tem o odor da morte em tudo o que faz e diz. Ele, neste sentido, é fundamentalista:  a letra vale mais do que o espírito.
4)   Outra fonte do fanatismo é a incomprensão dos deveres. O ser humano vive num complexo de ordens e leis, dentre as quais ele deve optar se quiser o respeito dos semelhantes. O fanático não tem a experiência da vacilação e da escolha, aceita normas e as impõem sem refletir. Daí, suas certezas serem duras e, ao mesmo tempo, tolas.
5)    O fanático usa a intolerância já existente nas religiões e partidos e a transforma, de relativa em absoluta.
6)   Uma fonte do seu recrutamento é o fato seguinte : as seitas fanáticas são perseguidas. Como são perseguidas, só entendem a lingua da perseguição, ignoram o diálogo.
7)   Porque muito sofrem, os fanáticos adquirem impassibilidade: eles não sofrem com a dor alheia. Aprendem a ser implacáveis.
8)   O fanatismo oferece segurança, ao contrário da liberdade que só tem desafios a proporcionar.
9)   “O fanático”diz a Enciclopédia de Diderot, “faz um mal maior à humanidade do que o impio. Estes últimos pretendem se livrar de todo jugo. Já o fanático quer ampliar seus ferros para toda a terra”.

Todas essas marcas do fanatismo, as retiro da Enciclopédia francêsa comandada por Denis Diderot, pensador das Luzes no século 18. A responsabilidade do verbete é de Deleyre, um colaborador de Diderot. Algo da minha lavra foi posto nas frases acima.


O Brasil vive uma crise inédita de sociedade e de Estado. Tal crise inclui uma urbanização intensa, pois ainda em 1960 nosso país pouco ia além da franja do Oceano Atlântico. Logo após a inauguração de Brasília tivemos um enorme crescimento de cidades no interior. Todas elas são carentes de políticas públicas (água, esgôto, segurança, saúde, escola, cultura, etc). Com a centralização excessiva das mesmas políticas públicas no Executivo federal, os impostos saem das cidades mas só retornam pelo apadrinhamento de lobbies e políticos. Muitos deles cobram uma taxa dos municípios tendo em vista sua reeleição. As massas urbanas, carentes de quase tudo, têm no entanto acesso às informações: a imprensa cresceu bastante, o rádio e a TV trazem contínuas notícias, a internet pode ser acessada em qualquer lugar afastado.

No mesmo passo em que as massas urbanas se informam e amadurecem, a máquina do Estado brasileiro é anacrônica, centralista,  favorece a corrupção. Não existe elo federativo de fato em nosso país, mas um império do poder central, que retira dos Estados e munícipios toda autonomia efetiva. A burocracia gigantesca favorece o desperdício de recursos, o apadrinhamento de grupos econômicos e políticos. O poder de Estado brasileiro existe para garantir privilégios aos que integram os três poderes. Se fossem cortados todos os privilégios dos que operam o poder, alguns trilhões sobrariam para as políticas públicas. Cito apenas os carros, motoristas, gasolina, pedágios e outros enfeitos usados por vereadores, prefeitos, secretários, deputados estaduais, federais, senadores, ministros, magistrados, etc. Outro abuso encontra-se nas contas de publicidade dos governos, do município ao Palácio do Planalto. Tais gastos, supostamente para informar a opinião pública em assuntos relevantes para a saúde, educação, segurança, etc. na verdade constituem meios de propaganda e intimidação da cidadania, paradoxo e medo, portanto. Cito por último (a lista seria interminável), os “cargos em confiança” em número inédito e desconhecido no mundo. Eles representam na verdade cabos eleitorais a serviço de políticos e partidos, fontes de corrupção perene. Todos esses abusos são aceitos, apoiados, louvados pelos fanáticos, pois servem à Causa, ajudam a conseguir o alvo final que é o de impor o poder ao todo da sociedade.

Nossos partidos políticos são máquinas anacrônicas e pouco democráticas. Elas são dominadas por grupos de velhos políticos que nelas mandam com mão férrea. Alguns estão nos postos diretivos há décadas e décadas. Temos aí verdadeiros proprietários dos partidos pois controlam as alianças, os apoios ou oposições aos governos, as candidaturas, as propagandas, e sobretudo os cofres. Nas agremiações não existem corretivos aos desmandos dos dirigentes, não ocorrem eleições primárias, a fiscalização pelos filiados é quimera. A Justiça eleitoral, por sua vez, emperra o processo das eleições com mandamentos pouco democráticos e mostra ineficiência na fiscalização das contas partidárias. Fala-se muito em financiamento público de campanha. Mas sem democratizar os partidos, sem exigir que as direções sejam mudadas a cada dois anos pelo menos, a ditadura dos grupos poderosos será mantida e ampliada pela suposta reforma política e seu tipo de financiamento. Agora mesmo, num arroubo de descaso pela crise econômica que mostra sinais terríveis, o fundo partidário foi aumentado de maneira inusitada. Como os atuais dirigentes são donos dos cofres, imaginemos o que pode ocorrer se o financiamento for totalmente garantido pelos contribuintes, em termos de corrupção, arbítrio, abuso do poder pelos donos dos partidos. Os oligarcas partidários mandam nas candidaturas, nas alianças, nos cofres. Mandam também na propaganda eleitoral “gratuita” que leva bilhões da vida econômica, paga marqueteiros aos milhões, mente de modo desavergonhado e intimida eleitores. O medo surge novamente, nas operações de marketing político. Basta ver o que ocorreu na última campanha presidencial quando mentiras e medo partilharam as imagens da TV, as ondas do rádio, as páginas de jornais dependentes dos recursos financeiros governamentais.  

A máquina do Estado emperrada, os partidos autocráticos dão as costas à cidadania, sobretudo à juventude. Esta foge das agremiações e não recebe nelas acolhida. Se entram para os partidos é para cumprir tarefas, obedecer aos donos do organismo à espera de uma possível candidatura a cargo público. Os jovens, nos partidos, não aprendem a liderar, mas a obedecer servilmente. Daí a nossa carência de novos estadistas. Peço aos senhores que enumerem mentalmente o número de nossos líderes nacionais. Com certeza, a conta não supera os dedos das mãos.

Estado com imensa burocracia emperrada, partidos ossificados, juventude expulsa ou fugindo da política.

Agora, temos uma terrível novidade entre nós. Partidos que chegaram ao poder nacional decretam a divisão do país entre “eles”e “nós”. Ou seja, só merece respeito quem segue os nossos ditames. Os “outros”, por definição, pertencem às hostes inimigas. Esta é a palavra que deslancha o fanatismo, que estimula a secessão, que provoca a guerra civil, que justifica os golpes de Estado.

Termino. O que disse é o bastante para evocar os labirintos de nossa vida pública. O perigo maior é o crescimento da lógica fanática. O jurista alemão Carl Schmitt, idealizador do confronto político entre “amigo”e “inimigo” e justificador de Hitler, está em voga em muitos ambientes nacionais. Ele já esteve na moda na era Vargas quando Francisco Campos, leitor de Schmitt, idealizou a Polaca, constituição fascista que instaurou um Estado que ignorou todos os direitos da cidadania, sobretudo o direito à divergência em relação ao governo.

Na ordem democrática não existe a divisão entre “nós”e “eles”, entre o “nosso lado”e o “deles”. Todos são responsáveis pela vida comum, todos merecem respeito. Em Francogallia, tratado jurídico que ajudou a instaurar o moderno Estado democrático, Francisco Hotmann resume o ponto ao dizer que “é essencial à liberdade que as questões coletivas sejam administradas sob o conselho e autoridade de quem deve suportar seu risco, pois segundo antigo ditado, o relativo a todos deve ser aprovado por todos’”.  Althusius afirma o mesmo : “é justo que o relativo a todos, seja resolvido por todos”(Política). A tese de fundo reside na certeza de que o governante detém o uso do poder, mas a sua fonte é o povo, a quem deve prestar contas. O governo que se deixa levar pela diferenciação entre “nós”e “eles” não passa de uma facção fanática. Lutemos para que o Brasil não seja estraçalhado pelas  seitas, mas seja a terra comum de todos, livres e iguais.


E lá vai uma imperfeita tradução pelo Google.
Fanaticism is a blind and passionate zeal born of hardened beliefs and that is to commit ridiculous, unjust and cruel acts, not only without shame or remorse, but with a kind of joy and comfort. Fanaticism is the refusal of any free and democratic social life.
Imagine a huge temple where every in meter there is an altar to God right enemy of others, put into near altars. The war between several followers is not limited to inside of  the temple but goes out of it, without prejudice to all the others there committed services. The technique used by the followers of all the gods is the paradox. Paradox is the Greek term that means going against the common sense. Absurdities are used by fanatics to marvel or bring fear to those who do not share their beliefs. The paradoxical statements are accompanied by paradoxical gestures, wonders, promises miracles. Fear, especially for their lives and the meaning of life. The fanatics usually terrify the people who are not yet attracted by their dogmas. Hell to the death threats, the fanaticism recipe fear is the yeast that leavens the dough.
Fear divides the persons physical or morally threatened by fanatic. He, the fanatic, does not accept his minority status and tries to disorientate the majority, he generates war and secession. A means to that end, libel, slander, lies on those who do not live in the sect and even those who live there but not quite approve his methods and certainties. The fight fanatic to impose dogmas starts in pursuit of those who, instead of believing in his word, seek the truth outside the circles dominated by him. Fear makes the fanatic indicate scape goats, propitiatory victims, which should be slaughtered so that their party is accepted or placated. There is  physical or moral fanaticism against the person  contrary to the sectarian faith. The more fair and prudent is a person, the more she will be a candidate for the attack. Children and the elderly are also intended for sacrifice, for the former are far from agile militant, useful to  fanaticism, and the latter left the age when they can be useful to the killer .
Fanaticism is found in all societies, classes, human situations. In churches and political parties  there are fanatics and wise people. In a social crisis, political or economic, however, the fanatics gain relief, enjoying the fear of society to deepen the struggle of all against all. Fanaticism is installed in the Islamic world or Christian, Catholic or Protestant, atheist or religious. The fanatic adheres to certainties he never complains and tries to impose on others. The fanatic never doubts. His speech and actions are always affirmative, his writing does not know the question mark, but only the exclamation. His speech does not seek to persuade it always wants to have no replicas. The fanatic is deaf to the lines that do not repeat their doctrines. He does not listen to reasons beyond that, in his view, are crime to be punished with physical, moral punishment, or death. Elias Canetti, Mass and Power, speaks of the powerful accumulating dead bodies, so your only survive. She also speaks of who accumulates wealth, the famous drifting applause to his name. He does not speak, nor would it be necessary, the fanatic who accumulates curved spines before his terrifying practice. It also accumulates bodies of children, women, young and elderly sacrificed to their belief. The fanatic of logic is this: There are sides in society. And these sides live good and evil. The good, by definition, is the fanatic camp. Evil, of course, lies in the sectors that do not recognize.
The fanatic is hypocritical, because wearing the mask of religion, democracy, social common good, justice, to undermine the same values ​​in the name of your desires. The fanatic ignores all actual friendship. For him, who does not accept their ultimatums are enemies. Friends, and always temporary, only those who belong at the moment to its sectarian circle. The fanatic does not value religious or political parties, but lives and lavora faction system, about to give blows on groupings that he considers enemies. The fanatic is revealed corrupt and is not responsible, if slander, steal, kill, everything is done by him on behalf of the Cause which by definition can never be criticized by other mortals. If the latter speak for itself, the fanatic always believed the voice of God, History, Ideology, the Race. And, as a prerequisite, your divinity, history, race and ideology are "superior". Your decrees of life and death can not be appealed. The fanatic does not accept the State and society because, in his mind, only he embodies the true state and the real society: both defined by their belief. The fanatic, as the terrorist does not recognize autonomy and separation of powers because it is believed legislator, performer, judge and executioner. His law can not be considered or discussed. The fanatic is the executive without external, legislative or judicial ties. The very fanatic is dictatorships molecule but, unlike ordinary dictatorships, his need to last forever.
The fanatic does not recognize citizenship, because he wants to tame herds led by him. Fanaticism has no basis in natural or human order. It is a subjective distortion occurred in the mind and will. How can one not be imposed by means of speech and example, he can only send with physical or moral violence which deepens the fear of civic or biological death. The fanatic does not recognize outside authority: religious, intellectual, political. He is the beginning and the end of all authority. Fanaticism no place in the conservative thought. He lives in the passions of pride, power, as the Greeks call pleonexia (pleon echein): it does not accept limits to its power. Fanaticism is satanic. We read in Paradise Lost poet John Milton, Lucifer the father of arrogance and pride. The fanatic is ambitious and does not accept limits to their power, wealth, honor. Only he should have, he alone must enrich, only he should be honored.
The fanatic ignores the collective virtues of sympathy, despise the term and the reality of mercy and respect. If you do not find docile pimples, and threats, using insulting, swearing against those who think differently from him. A cruel God speaks through his tongue and decrees right and wrong in its entirety, nothing is left to the choice of the people. Who does not follow his ways are condemned to death and hell, without compassion. Thus, it is right for the fanatic destroy the enemies of their faith. He does not accept legal equality or the difference of ideas. The fruit of fanaticism is not a peaceful people, friend and fraternal, but the division, mutual persecution, the sacrifice of dissidents. The fruit of fanaticism is civil war. For the divisive sectarian, rulers who do not bend to its dictates are tyrants and should be deposed or killed. The fanatic does not accept elections in which he lost, only who wins, is always on the prowl for a coup if voters do not choose. The fanatic ignores the coexistence of opposites, but praises the pursuit of difference. The fanatic can live in the left, right, center of politics. He hardens every practice and discourse, since hates debate, dialogue, tolerance.
What is fanaticism? It is the effect of a false consciousness that abuses of the noblest things and subject to politics, religion, the arts, the sciences to the whims of his fevered imagination, their passions of pride, ambition, desire to command.
What are the components of fanaticism?
1) certainties accepted without examination. To affirm an idea, one must study its history, its logical consistency, their suitability to reality. But the fanatical notions are paradoxical, and often go against human rationality, the study, the factual evidence. They have more the form of delusional imagination than thought.2) dark and delusional Dogmas generate sects that war and struggle for the whole collective become the enemy of their enemies. Sectarian battles turn into civil wars.3) A source of fanaticism is moralism. The moralist, unlike the moral person, clean the outside but keeps the dirt like a tomb. The moralist has the odor of death in everything he does and says. He, in this sense, it is fundamental: the letter is worth more than the spirit.4) Another source of fanaticism is the incomprensão duties. The human being lives in a complex orders and laws, among which he must choose if you want the respect of similar. The fanatic does not have the experience of hesitation and choice, accepted standards and impose without thinking. Hence, they are hard and their certainty, while silly.5) The fanatic uses the existing intolerance in religions and parties and transforms, relative to absolute.6) A source of recruitment is the following fact: the fanatical sects are persecuted. How are persecuted, only understand the language of persecution, ignore the dialog.7) Because so much suffering, the fanatics acquire dispassion: they do not suffer from the pain of others. They learn to be ruthless.8) Fanatica provides security, unlike freedom only has to provide challenges.9) "The fanatic" says the Encyclopedia of Diderot, "is a greater evil to mankind than the unrighteous. The latter want to get rid of every yoke. But the fanatic wants to expand your irons for the whole earth. "
All these brands of fanaticism, the retreat of the French Encyclopedia led by Denis Diderot, thinker of the Enlightenment in the 18th century The responsibility of the entry is Deleyre, a developer of Diderot. Something of my mining was put in the above sentences.

Brazil is experiencing an unprecedented crisis of society and state. This crisis includes an intense urbanization, because still in 1960 our country just went beyond the Atlantic fringe. Soon after the inauguration of Brasilia had a huge boom towns in the interior. All of them are lacking in public policy (water, sewer, security, health, school, culture, etc). With the excessive centralization of the same public policy at the federal Executive, taxes come out of the cities but only return the sponsorship of lobbies and politicians. Many of them charge a fee of municipalities in order to re-election. The urban masses, lacking almost everything, have however access to information: the press grew, radio and TV bring continuous news, the internet can be accessed anywhere away.
In the same step in which the urban masses are informed and mature, the Brazilian state machine is anachronistic, centralist leads to corruption. There is no federal bond of fact in our country, but a central power of the empire, which removes the states and municipalities all effective autonomy. The bloated bureaucracy favors the waste of resources, sponsorship of economic and political groups. The Brazilian state power exists to ensure privileges to those included in the three powers. If they cut all the privileges of operating power, a few trillion would be left to public policy. I cite only the cars, drivers, gasoline, tolls and other enfeitos used by councilors, mayors, secretaries, state legislators, federal, senators, ministers, judges, etc. Another abuse is the advertising accounts of governments, the municipality in the Presidential Palace. Such expenses, supposedly to inform the public on relevant issues for health, education, security, etc. actually are a means of propaganda and intimidation of citizenship, paradox and fear so. I quote last (the list is endless), the "confidence in positions" in unpublished and unknown number in the world. They represent in fact the political canvassers service and parties, perennial corruption sources. All these abuses are accepted, supported, praised by fanatics, because they serve the Cause, help to achieve the final target is to impose the power to the whole of society.
Our political parties are anachronistic and undemocratic machines. They are dominated by old politicians groups that send them with iron hand. Some are in governing positions for decades and decades. Here we have true owners of the parties as they control alliances, support or opposition to governments, applications, advertisements, and especially the coffers. The associations are not corrective to the excesses of the leaders, do not occur primaries, supervision by affiliates is chimera. Electoral Justice, in turn, damages the process of elections with little democratic commandments and shows inefficiency in supervision of party accounts. There is much talk in public campaign financing. But without democratic parties, without requiring that the directions are changed every two years at least, the dictatorship of the powerful groups will be maintained and expanded by the supposed political reform and its funding. Right now, in a burst of disregard for the economic crisis that shows terrible signs, the party fund was increased in an unusual way. As the current leaders are owners of safes, imagine what could happen if funding is fully guaranteed by taxpayers, in terms of corruption, will, abuse of power by the owners of the parties. The oligarchs supporters send in applications, in alliances, in the vaults. Send also in electoral propaganda "free" that takes billions of economic, marketers paid the millions, mind shameless way and intimidate voters. Fear arises again, in political marketing operations. Just look at what happened in the last presidential campaign when lies and fear shared images of TV, radio waves, the dependent newspaper pages of government financial resources.
The machine jammed state, autocratic parties turn their backs to citizenship, especially the youth. This escape of associations and not get them accepted. If go to parties is to accomplish tasks, meet the owners of the body waiting for a possible candidacy for public office. Young people, parties, do not learn to lead, but to obey slavishly. Hence our lack of new statesmen. I would ask that mentally enumerate the number of our national leaders. Certainly, the account does not exceed the fingers.
State stuck with immense bureaucracy, ossified parties, youth expelled or fleeing political.
Now we have a terrible novelty among us. Parties that reached the national power decree dividing the country between "them" and "us." That is, only deserves respect those who follow our dictates. The "other", by definition, belong to the enemy hordes. This is the word that kicks off the fanaticism, which stimulates the secession, which causes the civil war, justifying the coup plotters.
End. What he said is enough to evoke the labyrinths of our public life. The greatest danger is the growth of fanatical logic. The German jurist Carl Schmitt, founder of the political confrontation between "friend" and "enemy" and the justifier of Hitler, is in vogue in many national environments. He has been fashionable in the Vargas era when Francisco Campos, Schmitt player, envisioned the Polish, fascist constitution that established a State which has ignored all the rights of citizenship, especially the right to divergence from the government.
In democratic order there is no division between "us" and "them", between "our side" and "them." Everyone is responsible for common life, everyone deserves respect. In Francogallia, legal treaty that helped establish the modern democratic state, Francisco Hotmann sums up the point by saying that "it is essential to liberty that collective issues are administered under the advice and authority of who should bear their risk, because according to the old saying, relative to all must be approved by all. '" Althusius says the same: "It's just that on all, be resolved by all" (Policy). The background thesis lies in the certainty that the ruler has the use of power, but its source is the people, to whom it is accountable. The government is led by the differentiation between "us" and "them" is nothing but a fanatical faction. Let us fight for Brazil is not shattered by the sects, but is common of all, free and equal.