sexta-feira, 29 de julho de 2011

Portal Unicamp

Roberto Romano integra comitê para comemoração dos 300 anos de Diderot

Edição das imagens:
Everaldo Luís Silva

O filósofo Roberto Romano: “É muito importante revisar os pesandores das luzes, que pregavam a tolerância”

[29/7/2011] Os franceses preparam uma série de atividades científicas e culturais para o longo de 2013, quando se comemora o tricentenário do nascimento de Denis Diderot, considerado um dos grandes pensadores do Século das Luzes. A iniciativa da revista Recherches sur Diderot et l 'Encyclopédie está mobilizando a comunidade científica e principalmente de Langres, cidade natal do filósofo e escritor (1713-1784). Roberto Romano, professor titular de Ética e Filosofia Política da Unicamp, é o único brasileiro a integrar o Comitê Científico constituído para ter dimensão internacional.

“Um evento desta magnitude é muito simbólico, por lembrar a herança das luzes neste momento em que vemos o renascimento de ideologias terroristas, antidemocráticas e racistas na França e na Europa inteira – o caso da Noruega é típico – e o antissemitismo, que agora se manifesta particularmente contra os árabes, o Islã, mas havendo ainda muita violência contra os judeus. Por isso, é importantíssimo revisitar os pensadores que pregavam justamente a tolerância. Há uma frase de Diderot que acho fantástica: ‘Não se deve usar Deus como um punhal’”, lembra Roberto Romano.

Na opinião do docente da Unicamp, Diderot foi um dos instauradores da perspectiva moderna de pensamento político, um republicano já com tendências democráticas num período em que a tendência era de manter a monarquia. “Ele é uma figura mestra do pensamento das luzes do século XVIII, ao lado de outras figuras como Voltaire e Rousseau, e está sendo cada vez mais estudado por causa da sua pluralidade de interesses: sem ser um especialista, dedicava-se a estética, política, direito, física, matemática –existem trabalhos mostrando que sua capacidade matemática era quase similar à de D’Alembert, o grande matemático da Enciclopédia”.

Retrato de Denis Diderot pintado por Louis-Michel van Loo em 1767Romano se refere à obra prima de Denis Diderot, Encyclopédie, em parceria com o matemático e físico Jean D’Alembert, em que reuniu todo o conhecimento produzido pela humanidade até a sua época, demorando 21 anos para editar os 28 volumes. “Ele criou um núcleo de expansão do saber internacional, que teve muita importância na proposta de atualização da ciência, da universidade. A Enciclopédia, sobretudo, é uma espécie de retomada da obra maior de Francis Bacon, Instauratio magna [Grande restauração]”.

Além de conduzir e orientar pesquisas sobre o pensador francês, Roberto Romano escreveu Silêncio e Ruído – A Sátira em Denis Diderot (Editora da Unicamp, 1997), que republicou em francês e disponibilizou na internet. “Mandei cópias do livro para a Biblioteca Nacional da França e para institutos de pesquisa sobre Diderot em Paris, Londres e Estados Unidos. Os organizadores da comemoração dos trezentos anos leram e consideraram meu trabalho propício para o evento”.

Os organizadores também ficaram sabendo que o docente da Unicamp e o professor Jacó Guinsburg, diretor-presidente da Editora Perspectiva, estão editando a obra praticamente completa de Diderot em português – trabalho iniciado há dez anos e com previsão de término em 2014. “Estamos organizando volumes por obras políticas, estéticas, romances, textos da Enciclopédia. Há um texto onde Diderot defende ideias bastante democratizantes para a universidade, como por exemplo, que a universidade pública é lugar dos pobres, e não dos ricos, até por questão de probabilidade: diz ele que é mais fácil encontrar gênios em choupanas do que em palácios”.

Vem à mente de Roberto Romano, ainda, a tese de doutorado que Maria Laura Guimarães Gomes defendeu na Faculdade de Educação da Unicamp (o professor participou da banca), intitulada Quatro visões iluministas sobre a educação matemática – Diderot, D’Alembert, Condillac e Condorcet. Analisando várias obras desses pensadores, a autora da tese constata que, além de conferirem à matemática um lugar privilegiado entre os conhecimentos humanos, eles enfatizaram que o acesso a essa ciência era possível a todos.

Mais informações sobre os preparativos para os 300 anos de Diderot na França estão no site, que pertence a um grupo de professores universitários e pesquisadores que coordenam projetos científicos sobre o pensador.

Agencia Estado

28/07/2011 às 12:45:06 - Atualizado em 28/07/2011 às 12:45:06

PT e PSDB trocam de papel em prévias, dizem analistas

O discurso de lideranças do PT contra a realização de consultas primárias para a disputa municipal de 2012 representa uma mudança na postura histórica da sigla, que se assemelha, pouco a pouco, a legendas como o PMDB e o DEM, cujas candidaturas costumam ser definidas pelas cúpulas partidárias. A avaliação é de analistas políticos consultados pela Agência Estado, que veem na mudança de atitude uma posição das lideranças petistas de tomar cada vez mais decisões por meio de acordos, sem ouvir as bases da legenda.

Se os petistas dão mostras de que irão evitar as prévias, os tucanos fazem o caminho inverso. As lideranças do PSDB têm defendido nos últimos tempos a consulta primária, pouco presente, segundo os analistas, na sua trajetória política. "O PSDB percebeu que estava se tornando um partido de muito cacique para pouco índio", explica o professor de Filosofia Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Roberto Romano.

A possibilidade de recorrer às prévias para a escolha do candidato tucano para a Prefeitura de São Paulo é discutida pelo comando municipal do PSDB, que prepara para os próximos meses um cronograma para a realização de uma eventual prévia. A proposta tem o aval do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que já disse ser favorável à iniciativa.

Na contramão do PSDB, o PT enfrenta atualmente um impasse em torno do debate sobre a realização de prévias para a Prefeitura de São Paulo. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, embora negue oficialmente, tem capitaneado nos bastidores um movimento contrário à consulta primária, encontrando resistência em algumas alas petistas.

'Federações oligárquicas'

"Na verdade, quando o PT se imaginava um partido socialista e democrático, ele primava por consultar as bases", destaca o professor Roberto Romano. O analista político explica, contudo, que a partir do momento em que o partido conquistou os governos estaduais e federal, iniciou um movimento de mudança, mimetizando aspectos de outras siglas, chamadas por ele de "federações oligárquicas". "É hoje natural que eles recusem as primárias e que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva julgue-se no direito de indicar quem vai ser candidato aqui, ali e acolá", afirma. "E se o PT continuar nessa marcha, pouco a pouco vai ter o destino de outros partidos, isso é, vai ter muito general para pouco exército."

O cientista político Marco Antonio Carvalho Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), concorda com a análise de que o discurso contra as prévias destoa da tradição histórica do PT. O analista político observa que, ao carregar essa bandeira, a legenda deixa para trás, cada vez mais, "a história de um partido diferente na cultura política brasileira". "É normal que os outros partidos não tenham a cultura de prévias, mas no PT não, isso está na sua própria origem", avalia.

"Eu acho que isso se deve, sobretudo, à profissionalização da militância do partido, onde de certa forma as lideranças querem tomar decisões com base em acordos", acrescenta. Ele avalia ainda que o esforço do ex-presidente em lançar candidatos de sua preferência, sem consultar as bases do partido, é um sinal de que a legenda talvez tenha se tornado menor do que as suas lideranças. "Hoje, parece que o Lula tem um partido e que, de certa forma, tudo se espelha naquilo que ele cria como referência de orientação."

O analista político Carlos Melo, do Insper - Instituto de Ensino e Pesquisa - observa que o discurso contrário à realização das prévias demonstra a tentativa das atuais lideranças da legenda de evitar a deflagração de um conflito por espaço dentro do PT, mantendo, assim, a sua atual influência sobre a sigla. "Há um conflito hoje no PT, de disputa de espaço no partido, que uma prévia tenderia a aguçar ainda mais", explica. "A postura das lideranças é de tentar conter essa tensão, evitando que ela estoure", emenda.

Melo observa ainda que interessa ao ex-presidente, hoje a maior liderança da sigla, administrar esse conflito, mantendo a capacidade de fazer valer o seu prestígio. "É uma maneira de manter a sua influência sobre o partido, por meio da autoridade de que atualmente dispõe", explica.

PSDB

A avaliação do professor Roberto Romano é de que, ao pregar caminho oposto ao dos petistas, pela realização da consulta primária, os tucanos tenham como foco uma maior coesão no interior da sigla, buscando, assim, uma solução para a crise que enfrenta o partido desde o início do ano, com a sucessiva perda de quadros. "Como eles estão encontrando problemas internos, isso talvez seja uma fórmula interessante que permita uma reestruturação estratégica da sigla", observa o analista político. Ele lembra que, diferente do PT, o PSDB não tem a tradição de consultar as suas bases para a escolha de candidatos. "Eles perceberam que estavam no rumo errado e estão tentando corrigir isso agora."

O cientista político Marco Antonio Carvalho Teixeira não crê muito na possibilidade de o PSDB realizar uma consulta primária para a Prefeitura de São Paulo, mas considera que, por meio das prévias, os tucanos possam buscar um meio de superar a desarmonia interna. "A tradição clássica do PSDB é de tomar decisões de cúpula", lembra. "Se o modelo anterior, de certa forma, gerou crise e não está dando certo, são tentados novos caminhos.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

A marolinha, inha, inha, inha...

Total de famílias endividadas cresce em SP, diz Fecomercio

Número subiu de 46,9% em junho para 47,3% em julho; na comparação com o mesmo período do ano passado, no entanto, total diminuiu

27 de julho de 2011 | 13h 26
Wladimir D'Andrade, da Agência Estado

SÃO PAULO - O número de famílias paulistanas endividadas subiu de 46,9% em junho para 47,3% em julho, o que corresponde a 12 mil novas famílias com contas a pagar. Em julho havia 1,695 milhão de famílias nesta situação, em comparação com 1,848 milhão em igual mês do ano passado. Para a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio), que realiza a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), o nível de endividamento ainda é considerado baixo.

A relativa estabilidade do número de paulistanos endividados deve-se, conforme a assessora econômica da entidade Fernanda Della Rosa, à manutenção de baixos níveis de desemprego e à cautela do consumidor em relação ao crescimento da economia. "Ainda vemos um cenário de geração de emprego e renda que sustenta o endividamento das famílias e permite que o consumidor faça financiamento e tenha capacidade de honrar os compromissos", diz.

Na pesquisa, a Fecomercio cita a taxa de desemprego na região metropolitana de São Paulo medida em maio pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que baixou para 6,7%, de 7,1% no mês anterior; e o recuo de 0,9 % no Índice de Confiança do Consumidor (ICC) em julho. "As pessoas, no geral, escutam notícias sobre alta de juros e incertezas da economia brasileira e mundial, mas elas não sentem ainda reflexos na geração de emprego e renda, o que impulsiona o consumo", afirma.

O cartão de crédito é o principal meio de endividamento dos paulistanos, segundo a Peic: 73,9% das famílias pesquisadas recorrem a esse tipo de dívida. "Esse é um tipo de endividamento que cresceu muito na classe C", explica Fernanda. Em seguida aparecem carnês (23,6%), crédito pessoal (13,3%), financiamento de carro (8,6%) e cheque especial (5,8%).

Inadimplência

A pesquisa mostra que o número de famílias com contas em atraso apresentou queda de 0,4 ponto porcentual em julho ante o mês anterior, para 15,5%. Esse dado mostra redução do número absoluto de famílias inadimplentes de 569 mil para 555 mil neste mesmo período. "Também é um número muito baixo e que dá um alívio", diz Fernanda Della Rosa.

Na diferença por renda, 17% das famílias que ganham até 10 salários mínimos têm contas em atraso, enquanto se encontram nesta condição apenas 6% das que possuem renda maior.

Pouco mais da metade das famílias inadimplentes (50,3%) estão com contas em atraso há mais de 90 dias, 28% até 30 dias e 19,9% entre 30 e 90 dias. A pesquisa revela ainda que só 6% das famílias acreditam não ter condição de pagar total ou parcialmente suas contas em agosto.

No Blog da Mary...

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Deutsche Welle

Cultura | 26.07.2011

Orquestra de Israel quebra tabu e toca Wagner na Alemanha

Pela primeira vez, uma orquestra israelense tocou uma música de Richard Wagner em território alemão, na cidade de Bayreuth. Defensor de ideias antissemitas e compositor preferido de Hitler, Wagner é tabu em Israel.

O primeiro concerto de uma orquestra israelense em Bayreuth, cidade que sedia um festival anual dedicado à obra do compositor alemão Richard Wagner, terminou com o público aplaudindo de pé a apresentação, nesta terça-feira (26/07).

"Foi uma alegria para nós tocar Wagner aqui", disse Roberto Paternostro, maestro da Israel Chamber Orchestra, após a apresentação naquela cidade da Baviera, estado no sul da Alemanha.

O concerto foi dominado por obras de compositores judeus, como Gustav Mahler, Tzvi Avni e Felix Mendelssohn-Bartholdy, além de uma peça de Franz Liszt. A noite foi encerrada com Idílio de Siegfried, uma das poucas peças sinfônicas de Wagner.

Hitler em 34, com a então chefe de Bayreuth, Winifried WagnerHitler em 34, com a então chefe de Bayreuth, Winifried WagnerOs músicos e seu dirigente, Roberto Paternostro, disseram que, com o concerto, quiseram enviar um sinal de "aproximação, de tolerância e promover um intercâmbio cultural franco e historicamente consciente" entre Israel e Alemanha.

O evento não integra a programação oficial desta 100ª edição do Festival de Bayreuth, inaugurada nesta segunda-feira com a estreia de uma nova montagem da ópera Tannhäuser.

Mas, atendendo a um desejo do maestro, Katharina Wagner, bisneta de Wagner e uma das diretoras do Festival de Bayreuth, assumiu o patronato do concerto, dentro dos eventos em comemoração ao 200° aniversário do sogro de Richard Wagner, Franz Liszt. Ela classificou a apresentação como um "sinal importante e pioneiro".

Tabu em Israel

O músico alemão e seu festival ainda fazem despertar em Israel recordações do nazismo e do Holocausto. Wagner, que viveu entre 1813 e 1883, tinha posições antissemitas e era o compositor predileto de Adolf Hitler. O líder nazista era convidado regular da família Wagner e do festival, garantindo presença frequente no evento, mesmo antes de chegar ao poder, em 1933.

A obra wagneriana é inoficialmente banida de apresentações públicas em Israel, devido às posições antissemitas do músico e à utilização de sua obra durante a ditadura nazista.

Músico com ideias antissemitas: Richard Wagner Músico com ideias antissemitas: Richard Wagner O anúncio do concerto causou acaloradas discussões em Israel. Paternostro relatou que quase foi realizado um inquérito parlamentar com objetivo de cortar os subsídios estatais à orquestra. Ele também disse que foi atacado pessoalmente. "Eu não vou me deixar levar por discussões emocionais com essas pessoas", relevou o maestro. "Está claro para mim que parte da filosofia de Richard Wagner e a relação de Bayreuth com o regime nazista não são justificáveis nem podem ser ignoradas", ressalvou. Mas Paternostro não descarta que um dia a música de Wagner volte a ser executada em Israel.

O maestro definiu o concerto como uma ponte, dizendo estar convencido de que existe em Israel "uma geração que está crescendo, para a qual podemos ensinar a importância musical de Wagner de forma nova".

Controvérsia parecida foi provocada em Israel em 2001 pelo maestro argentino de cidadania israelense Daniel Barenboim, quando executou em Jerusalém um trecho da ópera Tristão e Isolda com a orquestra alemã Berlin Staatskapelle. Na ocasião, dezenas de pessoas da plateia deixaram a apresentação em sinal de protesto.

MD/dpa/afp
Revisão: Alexandre Schossler

Brickmann...VALE A PENA LER!

Murdoch...

O caso Rupert Murdoch e o escândalo do
News of the World é uma antologia das doenças dos meios de comunicação nos dias de hoje - doenças que prosperam não apenas na Inglaterra, mas também, e muito, no Brasil:

1 - Propriedade cruzada. O mesmo grupo detém, no mesmo local, empresas de rádio, TV, jornais, revistas, Internet, fazendo com que cada meio alavanque o outro e usando seu poder combinado para matar a concorrência;


2 - Prepotência. O jornal, ou jornalista, coloca-se acima da lei, usando como pretexto o interesse público;


3 - Cumplicidade. Para obter favores das autoridades, presta-lhes serviços diversos, atende a pedidos de amigos, atinge inimigos dos amigos, dá aos amigos cobertura editorial suficiente para garantir-lhes promoções e prestígio;


4 - Cobra a contraprestação desses serviços, recebendo informações privilegiadas. No caso Murdoch, por exemplo, houve o caso de um depoimento assinado por um bandido e autenticada por suas impressões digitais. O grupo de Murdoch tinha contatos na Scotland Yard que analisaram as impressões digitais, comparando-as com as de seus arquivos, e autenticaram o depoimento, dando aos jornalistas amigos um lucrativíssimo furo de reportagem.


Os pecados de Murdoch são amplamente debatidos neste
Observatório da Imprensa, por colegas de notável qualificação. Mudemos o ângulo. Como é que as coisas funcionam no Brasil?

...e nós


1 - Um grande grupo de comunicações publicou uma nota, no ano passado, confirmando ter usado os serviços de inteligência da Polícia estadual em auxílio às suas reportagens. Um
ganso (delator) da Polícia foi emprestado à empresa, que o usou amplamente, até atuando em conjunto com equipes de reportagem.

2- Uma das equipes de reportagem de um grande grupo jornalístico brasileiro participou de uma operação policial que visava documentar uma tentativa de suborno. Como a disputa envolvia dois grupos empresariais, um deles com apoio de agentes policiais, a empresa jornalística não se limitou ao contato mais estreito do que o aceitável com a Polícia, mas tomou parte na luta de empresários.


3 - No troca-troca de favores, houve repórteres que sempre tiveram preferência das autoridades no acompanhamento de operações policiais - o que significa que o sigilo das operações foi rompido em benefício de determinados repórteres "amigos dos hômi" e das empresas em que trabalham.


4 - Boa parte da imprensa se deleitou com as informações que recebia de um procurador da República, com denúncias sucessivas contra as autoridades. Só um repórter conferiu a documentação - e descobriu que tinha sido produzida, quase no total (mais de 90%), nos escritórios de advocacia das partes adversárias dos acusados. O mal já estava feito: quem sofreu, sofreu. O procurador calou-se tão logo o partido de sua preferência chegou ao poder. Alguém, nos meios de comunicação, fez
mea culpa pela negligência na apuração?

5 - Um repórter chegou ao extremo de forjar um diálogo que simplesmente não existiu entre o delegado que fez uma prisão e o prisioneiro. O objetivo era mostrar como o delegado era maravilhoso e o prisioneiro um ser abjeto.


6 - Comentário do corregedor de ética e disciplina da OAB de São Paulo, Romualdo Galvão Dias, a respeito da Operação Anaconda, em que não houve gravação telefônica que não vazasse para a imprensa (que retribuiu ao noticiar acriticamente as falhas do trabalho policial): "Aquilo que foi vendido à opinião pública brasileira como uma ‘mega-operação’ da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, ‘uma investigação como jamais vista na história’, tem se revelado apenas um amontoado de trapalhadas, prisões injustas, acusações sem provas e linchamento moral de inocentes".


Um pouco diferente do que ocorre na Inglaterra, talvez. Mas não muito. E precisa ser corrigido com urgência, como parece que, enfim, ocorrerá na Inglaterra.


A suposta notícia


Primeiro era a certeza: o cavalheiro suspeito de um crime era apontado na imprensa como criminoso, bandido, facínora. Depois de muitos processos judiciais e muitas indenizações cobradas, surgiu a fórmula do suposto: o "suposto assassino", por exemplo. Só que o suposto caiu na lista das expressões que, de tanto que foram usadas, perderam o sentido: hoje, o cavalheiro mata uma pessoa com 18 tiros, na frente de 54 testemunhas, confessa a autoria, explica por que matou, e mesmo assim é chamado de "suposto matador".


Um caso supostamente interessantíssimo foi supostamente noticiado por um suposto veículo de comunicação, em São Paulo, suposta capital do Estado de São Paulo. Título:


"Garoto recebe R$ 260 mil após suposto racismo em mercado de SP"
.

Na verdade, não era mercado, era supermercado. Um menino de dez anos foi detido ao sair do supermercado com biscoitos, refrigerantes e salgadinhos. De acordo com a acusação, os seguranças chamaram o garoto de "negrinho sujo e fedido", levaram-no a uma sala e o obrigaram a tirar a roupa para ver se não escondia mercadoria nenhuma. Não escondia. E, ainda por cima, tinha a nota fiscal da compra. Acabou sendo libertado do cárcere privado.


E como é que se sabe que a coisa aconteceu exatamente assim? Porque o supermercado fez acordo com a vítima, pagando-lhe R$ 260 mil para desistir da ação judicial. Considerando-se que empresa nenhuma dá nada de graça, conclui-se que era mais barato pagar do que sofrer o processo.


E mesmo assim é "suposto"? Que é que precisava ter ocorrido para que a imprensa desse a notícia da violência, e não da suposta violência? Que o repórter estivesse por acaso no lugar certo, bem na hora em que a violência ocorreu, com filmadora ligada e um relógio bem atrás da vítima, para registrar a hora?


Teve, terá, teria


Uma variação do "suposto" é o condicional - ou, como se chama atualmente, "futuro do pretérito". Algo como um cavalheiro que "teria" se jogado do 40º andar e "supostamente" se arrebentado no chão. Há um exemplo precioso de texto, publicado na semana passada num portal noticioso de importância:


"O grupo conseguiu fugir de carro. Nesse momento, o soldado da Rota Rodrigo Aparecido Pansani teria percebido a movimentação e, com sua moto, também teria passado a perseguir os assaltantes.

"Já na avenida Bandeirantes, perto do aeroporto de Congonhas, os criminosos
teriam tentado abandonar o veículo para correr pelo canteiro central da via. Nesse momento, Pansani teria largado sua moto e, segundo as investigações, teria perseguido os criminosos."


Cá entre nós: que é que foi que comprovadamente aconteceu?

MARTA BELLINI: O QUE NÃO É NADA SUBLIME, MAS DISGUSTING...

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Marta Bellini: sublime, mesmo !

SUBLIME !

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terça-feira, 26 de julho de 2011

Uma esperança...uol news

Cientistas descobriram um quasar com o maior e mais distante reservatório de água do Universo, a mais de 12 bilhões de anos-luz de distância. Gás e poeira formam nuvens ao redor do buraco negro central do quasar. A água, em forma de vapor, equivale a 140 trilhões de vezes toda a água do oceano da Terra Nasa/Esa

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Os cinicos eram santos. Já os nossos parlamentares não são cínicos. São outra coisa, outra...


Roberto Romano

Em Defesa do Cinismo

O autor é filósofo e professor de Ética e Filosofia Política da Unicamp. Artigo publicado na "Folha de SP":


Nos últimos tempos da República brasileira, os eventos políticos atingiram um grau inédito de corrosão. De momentos assim, só me lembro os que antecederam o golpe de 64. Mas hoje as coisas são mais graves. Não é o Executivo nem são os quartéis a ameaça ao Parlamento, mas a sua autocorrosão. Os analistas que procuram descrever os costumes de nossos representantes no Congresso sempre repetem uma palavra mágica. A atitude e a fala dos parlamentares e dos agentes do governo, para não falar nas togas, tem sido alcunhadas de "cínicas". Em defesa da verdade factual e histórica, é preciso dizer que isso é uma injustica gritante. Os cínicos receberam tal apelido (do latim "cynicus", de origem grega, para designar o cachorro) porque mordiam como cães ferozes os hipócritas e os poderosos. O modo cínico de agir é o exato oposto do empregado pelos senhores do Parlamento. O bom padre Vieira, no atualíssimo "Sermão do Bom Ladrão", elogia o cínico Diógenes, "que tudo via com mais aguda vista do que a dos outros homens", quando ele, apontando o dedo para os "ministros da justica" que levavam à força uns ladrões, "começou a bradar: "Lá vão os ladrões grandes enforcar os pequenos" ". Quem vive em tempos de Nicolau dos Santos Neto percebe a justeza dessas frases do jesuita austero, inspiradas na conduta cínica. Aqueles filósofos ensinavam que a alma humana é imortal, sendo preciso bem administrá-la, pois a sua estrutura, embora mais elevada do que a do corpo, possui uma imensa fragilidade. O autoconhecimento mostra-se estratégico, bem como a vida em perfeita amizade ("um amigo é uma só alma em dois corpos"). Dentre os empecilhos à boa amizade, ensinam os cínicos, estão a lisonja, a inveja, a ignorância e as humilhações recíprocas. Contra elas, o treino ascético é fundamental. Quem se acostuma a bajular o próprio corpo logo estará apto, na alma, a ser bajulado pelo primeiro inimigo disfarçado. A felicidade só pode ser atingida se resultar da mais rigorosa justiça e da mais rigorosa liberdade. Não depender dos confortos ilusórios trazidos pela riqueza e pelo mando político é o modo de ser livre e de conquistar a plena autarquia, o domínio sobre si mesmo. Sem ela, a escravidão ronda as almas e os corpos. Assim falavam os cínicos. Disso resulta a franqueza da lingua. A palavra livre, segundo os cínicos, é a mais bela das conquistas humanas. Nem preso aos ricos e poderosos nem sujeito à multidão, o verbo consciente recusa a lisonja pessoal e a demagogia. Do mesmo cínico Diógenes é a frase famosa: "Quando sou aplaudido por muitos, certamente devo examinar-me para saber se não disse uma bobagem". A liberdade assim percebida se baseia na ascese (leia o belo texto de Goulet-Caze', M.O: "L'Ascèse Cynique"). A virtude ascética fez o filósofo jogar longe o seu caneco ao ver um menino bebendo da fonte com a palma da mão. Apenas o necessário à vida, sem luxos, sem pedantismos e sem laureis. Essa é a doutrina cínica. Os cínicos ajudam-nos, até hoje, a romper com a hipocrisia da fala "politicamente correta". Tamanha potência da virtude fez o pensador gritar ao poderoso Alexandre: "Saia daí. A tua presença me retira a luz do sol". Ah, se os nossos políticos e "democratas" fossem de fato cínicos! Todos os ensinamentos dessa escola resistiriam ao tempo e aos regimes políticos. O prisma negativo que essa escola recebeu foi dado justamente pelos ardilosos donos do poder, político ou religioso. A calunia perdura até os nossos dias, em proveito dos inimigos da disciplina, da liberdade de atos e palavras e dos que amam a riqueza (sobretudo a pública) para seu conforto e ostentação. O cachorro é símbolo, na cultura grega, da amizade política mais nobre. Platão afirma que os dirigentes da república devem ser como os cães: gentis e leais para com os de casa; ferozes contra os inimigos. E o tirano seria como o lobo que devora os bens dos cidadãos em proveito próprio. Daí a tese de Jean Bodin sobre a tirania: "Tirano é o que usa os bens dos súditos como se fossem seus". Vivemos em continua tirania neste país. Tudo entre nós está invertido e pervertido. A começar pelo tom errado que damos à uma das mais rigorosas éticas filosóficas do Ocidente, a cínica. Os políticos, lobos que dominam o picadeiro de Brasília, se distanciam dos cínicos. Eles são hipócritas e corruptos, amolecidos nos costumes e luzidios de riqueza roubada. Se não temos a coragem dos cínicos, pelo menos não aceitemos as calúnias contra eles, que apenas servem para absolver os seus alvos, os relaxados na moral que enodoam as instituições públicas brasileiras. (Folha de SP, 25/4)

Os vendilhões da filosofia...

No site Fapesp na Mídia, http://www.bv.fapesp.br/namidia/noticia/17262/ateu-virtuoso/

republicação do jornal Correio Popular (CIDADES) em 20 de Maio de 2003

O ateu virtuoso

Roberto Romano - Filósofo e professor de Ética e Política na Unicamp

"Por que, nas teses acadêmicas, existe o materialismo vulgar, se ninguém fala em espiritualismo vulgar?" A pergunta foi-me endereçada por um colega erudito e refinado, em conversa livre após nauseante reunião departamental. As melhores perguntas surgem assim, quando as pessoas se cansaram das taxinomias e das análises estereotipadas, ou dos seminários onde a disciplina proíbe questões impertinentes, as únicas necessárias. No mundo dos "especialistas" ocorre uma divisão territorial inabalável. Nele, indivíduos são donos dos espaços. Na filosofia, itens foram postos num fichário onde ficam presos os teóricos, como borboletas de entomologista. Os donos do idealismo proclamam virtudes de seus heróis. Os que vendem produtos na bolsa acadêmica de valores celebram a cotação diária, que significa aumento no montante de bolsas, ajuda à pesquisa etc. O sucesso do investimento requer golpes baixos e não pode ser ignorada a técnica que desvaloriza as ações adversárias. Essa via responde a dúvida do meu colega.

O materialismo é "vulgar" para que os espiritualistas do mercado no setor "ético" tenham lucro. Fichas em "ismo" levantam a suspeita: é propaganda em favor desta ou daquela mercadoria, no armazém filosófico? Nada que já não tenha sido esculhambado por Luciano de Samosata em A Feira dos Filósofos. Ali, o satírico gargalha com a venda das vidas filosóficas que forneceriam aos compradores um modelo curricular para... subir na vida! O fracasso levanta novas ondas de riso, prêmio da tolice. Falar em materialismo na universidade é arriscado. O bom tom exige o estudo de Rousseau, sem Diderot, Kant, sem La Mettrie, Hegel, sem Marx. Autores como o gênio da Enciclopédia foram desprezados, pelos vulgares espiritualistas, como "literatos" sem relevância filosófica. Uma reação se esboça. Estudos sobre Diderot ressaltam o peso de suas posições epistemológicas (I. Prigogine e I. Stengers); os nexos do materialismo e da estética mais refinada (G. Stenger); as inflexões da atitude materialista sobre a ética moderna (F. Salaün); a liberação dos sentidos (lógicos e somáticos) numa filosofia que brinca e joga no mundo das artes e da política (Eric-Emmanuel Schmitt). Tais análises unem ateísmo e moral, considerados como antiéticos pelo cristianismo.

No Brasil, Paulo Jonas de Lima Piva publica belo ensaio sobre a ética diderotiana. Em O Ateu Virtuoso, Materialismo e Moral em Diderot (Fapesp/ Discurso Ed.), ele apresenta uma análise original do tema. As principais obras do imaginário entram no seu debate sobre o materialismo. A escolha dos romances, pelo autor, não foi aleatória. Diderot inscreve-se no horizonte que, desde o Renascimento, valoriza as letras e as artes como as mais belas flores do trabalho humano. O programa de Diderot amplia a Instauratio magna baconiana: todos os poderes do intelecto e do corpo se concatenam. Assim, as minuciosas e bem sucedidas análises de Lima Piva sobre A Religiosa, O Sobrinho de Rameau e outros livros, levam à tese de que as virtudes éticas, no mundo pós-cristão, podem ser viáveis, desde que a ciência e as artes cumpram seu alvo civilizador.

As ambigüidades do programa iluminista são exploradas por Lima Piva, em páginas bem fundamentadas, a partir de comentadores competentes. Importantes, sobretudo, as passagens que discutem A religiosa, uma das fontes mais ricas para o estudo da mentalidade social, mística, política do século 18. Ali, o materialismo diderotiano atinge dimensões sublimes, ao contrário do esquematismo idealista e transcendental. A freira encarcerada reúne, na alma e no corpo, os tormentos de uma sociedade onde domina a hipocrisia e a má fé, onde a vida sexual, o lesbianismo por exemplo, não pode dizer seu nome e se esconde sob a máscara das "virtudes". Leo Spitzer, o mais fino analista dos textos do bom Diderot que eu conheço (a ignorância é o meu limite), diz ser apenas "um pretenso conhecedor do estilo diderotiano" (The Style of Diderot). E depois nos brinda com soberbo exame do filósofo. É insuperável sua descoberta de que o ritmo da frase, em Diderot, materializa os mais delicados e violentos atos do ser humano, do beijo à cópula. A modéstia de Spitzer nos choca quando lemos, em resenhas jornalísticas, elogios a notórios remendões da escrita, bem postos nas cátedras acadêmicas e nos comitês que distribuem benesses e bolsas de estudo.

No caso do jovem Lima Piva, fica ao leitor a certeza de que o mundo universitário, apesar dos ridículos, merece confiança. Se nele surgem trabalhos como O Ateu Virtuoso, as taxionomias não dominam absolutamente, as fichas que dividem o mundo intelectual perdem o sentido.


Marta Bellini. Os gênios que dão pareceres secretos, reúnem quadrilhas acadêmicas, controlam, vigiam, punem. Santo Foucault!


terça-feira, 26 de julho de 2011

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Texto enviado pelo Zé de Arimathéia, Londrina UEL
Imagem: do Solda


Tese da USP aponta para possibilidade de comportamento antiético na publicação de artigos científicos brasileiros

Agência Brasil

Tese de doutorado da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP) alerta para a possibilidade de problemas de conduta ética na publicação de artigos científicos de pesquisadores brasileiros, tais como coautorias forjadas e citações de fontes não consultadas na bibliografia dos trabalhos acadêmicos.

O autor da tese, Jesusmar Ximenes Andrade, cita entre os problemas mais comuns a citação de mais livros e artigos na bibliografia além dos realmente usados, o que aumenta a credibilidade do estudo, e a coautoria, que aparece como favor trocado. Nesse último caso, os falsos parceiros assinam dois artigos em vez de um e, assim, aumentam sua produtividade, quesito que é avaliado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), no processo de classificação dos programas de pós-graduação. Ligada ao Ministério da Educação, a Capes é uma das agências de fomento à pesquisa científica e acadêmica do governo federal.
A suspeita de ocorrências de conduta antiética na produção de artigos científicos veio a partir da aplicação de 85 questionários, respondidos por participantes do Congresso USP de Controladoria e Contabilidade, realizado em 2009, em São Paulo. Segundo a pesquisa, a maioria das pessoas afirmou não conhecer nenhum caso de má conduta, mas elas acreditam que tais práticas seja comuns.

Andrade estranhou o resultado. “As pessoas conhecem pouco, mas acreditam que ocorrem [problemas antiéticos] mais do que acontecem? Eu presumi que quem estava respondendo sobre as suas crenças também estava respondendo sobre os seus próprios hábitos”, disse o autor da tese, que é professor adjunto da Universidade Federal do Piauí (UFPI). A tese foi defendida em abril, no Departamento de Contabilidade da FEA/USP.

Andrade destaca o fato de os resultados de sua pesquisa dizerem respeito à “má conduta na pesquisa das ciências contábeis”, mas avalia que “não encontraríamos resultados muito diferentes se fôssemos para um censo”, incluindo todos os campos científicos.

Para ele, o Brasil mantém o foco na quantidade, critério que fez o país ocupar o décimo terceiro lugar na produção científica internacional, e não se preocupa com a qualidade. “Por que o Brasil não tem um [Prêmio] Nobel?”, pergunta ao afirmar que “a quantidade que nós estamos buscando é infinitamente desproporcional à qualidade dos estudos que estamos produzindo”.

A busca por quantidade é almejada por todos os pesquisadores, de acordo com Andrade. “Seja para conseguir recursos ou para obter status dentro da academia.” Em sua opinião, “para buscar essa quantidade, esse volume, termina-se utilizando certos artifícios que, segundo foi observado, não são condutas livres de suspeita. São condutas impregnadas de comportamentos antiéticos”.

O autor da tese diz que a Capes dispõe de “métricas” de avaliação mais voltadas à qualidade do trabalho do pesquisador do que à quantidade de artigos gerados. “O sistema de avaliação chamado Qualis pontua os artigos conforme a revista científica de publicação”, lembrou.

A Agência Brasil procurou pela Capes desde a última sexta-feira (22), mas foi informada hoje (25), por e-mail, que o diretor de Avaliação, Livio Amaral, “precisa de uns dias para ler a tese”.

O professor de metodologia do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), Marcelo Medeiros, não concorda com o conceito de que a busca por quantidade seja prejudicial. Segundo ele, a pressão da Capes por aumento da produtividade “é mínima”. Em sua opinião, “opor quantidade à qualidade não é correto”. “Nas ciências em geral, os melhores pesquisadores são também professores que têm bom nível de publicações. Publica muito quem pesquisa muito."



Notícia velha. Nada que não tenha sido analisado, com lógica férrea, por Max Weber em Ciência como Vocação.



"Of late we can observe distinctly that the German universities in the broad fields of science develop in the direction of the American system. The large institutes of medicine or natural science are 'state capitalist' enterprises, which cannot be managed without very considerable funds. Here we encounter the same condition that is found wherever capitalist enterprise comes into operation: the 'separation of the worker from his means of production.' The worker, that is, the assistant, is dependent upon the implements that the state puts at his disposal; hence he is just as dependent upon the head of the institute as is the employee in a factory upon the management. For, subjectively and in good faith, the director believes that this institute is 'his,' and he manages its affairs. Thus the assistant's position is often as precarious as is that of any 'quasi-proletarian' existence and just as precarious as the position of the assistant in the American university." Trecho que vem a calhar, de Weber, em Ciência como Vocação. O texto inteiro pode ser lido, inteiro, aqui:

Analytical Contents of "Science as a Vocation"

Material Condition of Scientist

German and the United States

Academic Expectation

State-capitalization of Academy

Academic Selection

Scholar and Teacher

Inward Calling

Qualification to Vocation

Nature of Idea

Individual Personality

Science vs. Art

Meaning of Scientific Progress

Meaning of Death

History of Science

Limitation of Science

Presupposition of Science

Asceticism from Value-Judgement

Task of Teacher

Resist Evil or Not

Test of Everyday Life

American Boy

Lecturer vs. Leader

Contribution of Science

Problem of Value

Irreconcilable Value-Struggle

Value of Science

What Shall We Do

Theology

Sacrifice of Intellect

Fate of the Time

Demand of the Day





São Paulo, terça-feira, 26 de julho de 2011



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Grupo de cientistas liderado por Miguel Nicolelis sofre cisão

Conflito por acesso a equipamentos está dividindo fundadores do Instituto Internacional de Neurociências

Sidarta Ribeiro, que ajudou a montar o centro de pesquisa, em Natal, está de saída para novo instituto

CLAUDIO ANGELO
DE BRASÍLIA

REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE CIÊNCIA E SAÚDE

Um casamento que na década passada prometeu revolucionar a ciência brasileira terminou ontem, com um dos cônjuges literalmente pegando suas coisas e se mudando.
Os neurocientistas Sidarta Ribeiro e Miguel Nicolelis, cofundadores do IINN (Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra), estão "divorciados".
Na manhã de ontem, Ribeiro saiu do instituto com um caminhão carregado de equipamentos científicos, como centrífugas e computadores.
O material pertence à UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e foi requisitado pela reitora, Ângela Paiva Cruz, para suprir o recém-criado Instituto do Cérebro da universidade, liderado por Ribeiro.

DE MUDANÇA
Professores da UFRN que compõem a equipe científica do IINN vão deixar o instituto. Dos dez membros da equipe científica listados no site do instituto (natalneuro.org.br), só Nicolelis e o chileno Romulo Fuentes vão ficar.
Ribeiro pediu à Finep (Financiadora de Estudos e Projetos, ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia) que transfira para a UFRN aparelhos comprados pelo instituto por R$ 6 milhões, como um microscópio caríssimo, encaixotado há seis meses.
Segundo a Folha apurou, a cisão foi causada por divergências sobre a gestão do instituto, nas mãos de Nicolelis.
O professor da Universidade Duke (EUA) preside a Aasdap (Associação Alberto Santos-Dumont), entidade privada que toca o instituto em convênio com a UFRN.
Apesar da parceria, ele teria limitado o acesso de alunos e professores da universidade aos equipamentos do IINN, irritando Ribeiro.
A gota d'água aconteceu em junho, quando Ribeiro, escolhido por Nicolelis para ser o primeiro diretor do IINN, em 2005, foi convidado a desocupar sua sala e a deixar de usar a garagem do instituto.

PATRIMÔNIO
Procurado pela Folha, Ribeiro não quis comentar a briga, mas disse que quer passar todos os equipamentos do IINN bancados com verba pública à gestão pública. "Os pesquisadores da Aasdap poderão ter acesso a tudo."
A reitora Ângela Paiva confirma que mandou retirar os equipamentos, mas nega a ruptura. "Estamos trabalhando com o Miguel Nicolelis para resolver o conflito."
O pesquisador da UFRN Sérgio Neuenschwander, que acaba de voltar ao Brasil para trabalhar no IINN após 23 anos no Instituto Max Planck, na Alemanha, tem uma visão diferente: "O Nicolelis contribuiu imensamente, mas a gestão dele foi muito destrutiva. Não tem volta."
Neuenschwander é um dos proponentes originais do instituto. Em 1995, ele, Ribeiro e Cláudio Mello, hoje na Universidade de Saúde e Ciência do Oregon (EUA), idealizaram uma forma de repatriar neurocientistas brasileiros.
O projeto ganhou forma após Nicolelis assumir sua liderança. Ele bancou a criação da Aasdap com US$ 450 mil do próprio bolso e obteve recursos do Banco Safra estimados em US$ 10 milhões.
A gestão público-privada, modelo usado nos EUA, daria mais agilidade à ciência, dizia Nicolelis.


IMPORTANTE, REVISTA ADUSP, JUNHO DE 2011. SOBRETUDO OS TEXTOS LINKADOS ABAIXO:

Plágio na produção acadêmica, vespeiro intocado. Ou não?
Antonio Biondi (503 Kb)

Exoneração de professor reaviva polêmica na USP
Beatriz Pasqualino (266 Kb)

Antonio Biondi e Beatriz Pasqualino (184 Kb)

Correio da Cidadania.

O juiz, o bispo e a forte onda reacionária Imprimir E-mail
Escrito por Francisco Bicudo
Sábado, 23 de Julho de 2011

Há dois episódios recentes envolvendo direitos civis de homossexuais e a violência atroz chamada estupro que, de imediato, provocam náuseas. É compreensível que seja assim. Mas é preciso superar esse torpor inicial e transformá-lo em indignação e em atitudes humanistas e civilizadas reativas e propositivas, sob pena de permitirmos que insanidades obscurantistas ganhem ainda mais corpo e fôlego, cravando suas estacas de fé cega e fundamentalista no coração da razão que, em pleno século XXI, deveria nortear as relações humanas e sociais.

Em Goiás, muito orgulhoso e faceiro, o juiz Jeronymo Villas Boas decidiu simplesmente ignorar a recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e anulou união civil firmada naquele estado por um casal de homossexuais, comparando essa relação a um ato criminoso. O magistrado usava ainda como "argumento" o conceito de família consagrado (segundo ele) pela Constituição do Brasil. Ousou ainda estabelecer que família é apenas aquela "capaz de gerar prole". Detalhe muito relevante: o juiz é também pastor da Igreja Assembléia de Deus, onde prega todos os domingos. Não se fez de rogado e chegou a deixar escapar em algumas entrevistas que deus o teria ajudado e conduzido na anulação da união do casal.

Esqueceu-se o nobre juiz que, em maio último, o STF decidiu, por unanimidade e em julgamento histórico, reconhecer o direito constitucional dos homossexuais à união estável. Em seu voto, o relator do processo, ministro Carlos Ayres de Britto, deixou muito claro que "a família é, por natureza ou no plano dos fatos, vocacionalmente amorosa, parental e protetora dos respectivos membros, constituindo-se, no espaço ideal das mais duradouras, afetivas, solidárias ou espiritualizadas relações humanas de índole privada", independentemente de o núcleo familiar ser formado por casais hétero ou homossexuais. Reforçando: a decisão do STF diz que a "família é o núcleo doméstico baseado no afeto". Ponto. Sem margem para interpretações de natureza homofóbica.

Analisando por outros ângulos, se o raciocínio construído pelo magistrado goiano fosse de fato considerado, casais heterossexuais que, por livre arbítrio, decidissem não ter filhos também não constituiriam famílias - o mesmo valeria para pais que, por qualquer impedimento, não pudessem gerar filhos. Importante lembrar ainda que preceitos e dogmas religiosos dizem respeito a grupos específicos, a comunidades nucleares, estão conectados a opções individuais, não podendo, portanto, pretender normatizar as relações coletivas e sociais ou ditar os parâmetros de funcionamento do Estado de Direito.

Claro, religiões devem ser respeitadas, mas servem como inspiração e referência de comportamentos apenas e tão somente para aqueles que professam e seguem determinada fé. Daí a segurança necessária instituída pelo Estado laico - que não é ateu e prega justamente a tolerância e a diversidade, a convivência civilizada entre os vários e os diferentes, os que acreditam e os que não acreditam. Estado de Direito e democracia são sustentados pela razão (que agrega), jamais pela fé (que separa).

Por fim, se ainda assim nenhum desses argumentos sensibilizasse o juiz Villas Boas, haveria o derradeiro e, sinto muito por informar, excelência, inquestionável: o STF reconheceu como constitucional a união estável entre homossexuais. Sem mais. Não há qualquer possibilidade de instância jurídica inferior afrontar essa decisão. Ou há ordem e estabilidade jurídicas, respeito às leis, ou entramos no campo do vale-tudo e das vontades pessoais, dos perigosos relativismos absolutos. O juiz pode até não gostar, não concordar com o que definiu o STF - está no direito dele, no plano individual. Mas deve acatar a norma, respeitá-la e segui-la, em suas sentenças judiciais. É a ordem coletiva constitucional. É assim que funciona a tal da democracia. O resto é fundamentalismo, fanatismo religioso, estado de exceção, desejo homofóbico delirante, obscurantismo do tribunal da Santa Inquisição.

Tenebrosas e inaceitáveis foram também as declarações do bispo Luiz Gonzaga Bergonzini, da cidade de Guarulhos, na região da Grande São Paulo, em entrevista originalmente publicada pelo jornal "Valor". Minhas mãos tremem de indignação e tenho confessas dificuldades em reproduzir a fala, mas disse em linhas gerais o religioso que as mulheres que são estupradas acabam não raro sendo coniventes com a violência - se não quisessem, não aconteceria.

Em artigo precioso publicado no Estadão, Debora Diniz, professora da Universidade de Brasília (UnB), resgata a perversa entrevista e lembra que, ao resumir na matéria o que provavelmente acontece em seu confessionário, "o bispo pega a tampa da caneta da repórter e mostra como conversava com mulheres. "Eu falava: bota aqui", pedindo, em seguida, para a repórter encaixar o cilindro da caneta no orifício da tampa. O bispo começa a mexer a mão, evitando o encaixe". Para o bispo, o orifício da tampa de uma caneta resume a verdadeira história das mulheres estupradas - uma mulher que não consente com o ato sexual "resiste ao encaixe do cilindro na tampa da caneta".

É torpe, vil, nojento, asqueroso, medíocre, cruel, perverso, desumano. Não consegue o religioso vislumbrar a brutalidade do ato, a agressão e a violência profundas representadas pelo estupro, quando a mulher, por meio do exercício da força, da ameaça muitas vezes feita com uma arma na cabeça, perde por completo o direito de decidir o que fazer com o próprio corpo (e com a alma). Não respeita o religioso as marcas profundas - e que jamais se apagam - daquelas que sofrem com tal ato animalesco e criminoso. Inverte ele a mão de direção, desvia o foco, transforma a vítima em cúmplice-vilã - e o criminoso em inocente, alguém que só fez aquilo que a mulher quis que fosse feito, que apenas deu conta de um desejo incontido. Quanta estupidez. Engulhos. Ânsia. Parei para respirar.

Talvez seja a fala do religioso fortemente inspirada na narrativa ficcional bíblica de Adão e Eva, que solidifica a imagem da mulher perversa, cínica, dissimulada, guardiã dos males do mundo, sempre a postos para dar o bote e enganar homens ingênuos, inocentes, desprotegidos, divinamente talhados para o bem. Sacana e ardilosa, mesquinha, Eva teria induzido Adão a comer a maçã, o fruto proibido ofertado pela serpente, e a enveredar dessa maneira por caminhos não autorizados e/ou permitidos por deus aos simples mortais. Por conta dessa maligna ousadia feminina, deixamos de habitar o paraíso. Não foi assim?

Penso que não há como negar: o sinal amarelo de alerta e perigo medievais se anuncia nas esquinas. É preciso reconhecer que os "argumentos" usados pelo juiz e pelo bispo alcançam forte apoio popular e encontram ressonância nas mais diferentes instâncias do tecido social. Há uma tecla em que tenho batido com muita constância aqui no Blog, uma fala recorrente, que tomo a liberdade de repetir: vencer eleições e construir maiorias eleitorais é importante, mas apenas uma etapa de uma luta política muito mais profunda e complexa. É imprescindível construir hegemonia de valores, radicalizar princípios democráticos e garantir o respeito profundo aos direitos humanos, cotidianamente.

Está em curso no Brasil uma aguerrida e consciente onda conservadora, que precisa ser combatida na mesma medida. Silenciar e esconder a cabeça tal qual avestruz significa ser conivente e permitir avanços do obscurantismo medieval - até porque, a retaguarda fica exposta. Como define a Física: espaço vazio é espaço ocupado. Ou, no dito popular: quem acha mole cava fundo. A rede libertária e as novas tecnologias são aliadas importantíssimas para tal exercício de resistência iluminista e chamamento da sociedade ao exercício cotidiano da racionalidade. Mas esse debate - e embate - precisam com urgência contaminar a arena pública, em toda sua plenitude e abrangência.

Talvez seja o momento, como sugere no twitter o advogado e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Tulio Vianna, de convocar em todo país marchas e manifestações em favor do Estado laico. O tempo urge.

Francisco Bicudo é jornalista e professor de Comunicação na Universidade Anhembi Morumbi.

Blog: http://www.oblogdochico.blogspot.com/

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Segredo e Bandalheira. Brasil, Brasil, Brasil.

Início do conteúdo

Segredo e bandalheira

24 de julho de 2011 | 0h 00

Roberto Romano - O Estado de S.Paulo

O Brasil é o país da corrupção e do segredo, lados da vida nacional que impedem qualquer confiança nas instituições. Os operadores do Estado, sobretudo com o "privilégio de foro", desobedecem às regras basilares da fé pública. O roubo dos recursos coletivos é respondido, entre nós, com perseguição à imprensa, compra de movimentos sociais, sigilo no financiamento de obras. Sem consciência histórica, os nossos políticos e partidos retomam séculos de tirania. A prudência mínima aconselha ligar a censura (o caso do jornal O Estado de S. Paulo é prova) e o segredo que encobre as piores ilicitudes cometidas à sombra do poder. Como disse alguém, "o dia pertence à opinião pública. Nele, os segredos são espancados e os governantes não podem usar o beleguim que realiza o serviço sujo "sob ordem superior". A noite aninha o segredo, covarde razão de Estado".

Os séculos 19 e 20 reuniram censura e hábitos políticos corrompidos, a começar pelo Império de Napoleão I, que espalhou o terror e a guerra com base nas imunidades do Poder Executivo. O fascismo, o nazismo e o stalinismo exibiram o exato contrário da transparência e do respeito à cidadania. Hannah Arendt afirma que a vida totalitária significa a reunião de "sociedades secretas estabelecidas publicamente". Hitler assumiu, para a sua quadrilha, os princípios das sociedades secretas. Ele promulgou algumas regras simples em 1939:

Ninguém, sem necessidade de ser informado, deve receber informação;

ninguém deve saber mais do que o necessário;

e ninguém deve saber algo anteriormente ao necessário.

Segundo Norberto Bobbio, não lido no Congresso Nacional e nos demais palácios de Brasília, "o governo democrático (...) desenvolve a sua própria atividade sob os olhos de todos porque todos os cidadãos devem formar uma opinião livre sobre as decisões tomadas em seu nome. De outro modo, qual razão os levaria periodicamente às urnas e em quais bases poderiam expressar o seu voto de consentimento ou recusa? (...) O poder oculto não transforma a democracia, perverte-a. Não a golpeia com maior ou menor gravidade em um de seus órgãos essenciais, mas a assassina" (O Poder Mascarado).

Quem abre os jornais brasileiros "antigos" percebe o caminho dos que hoje defendem mistérios nas contas públicas e não têm coragem de abrir arquivos ditatoriais. A luta pela transparência, que muitos fingiam conduzir, não passou mesmo de "bravata". O segredo embaralha interesses de grupos privados e assuntos de governo, como no caso Antônio Palocci e no recente episódio no Ministério dos Transportes. Ele ameaça as formas democráticas: nele, os administradores governamentais exasperam aspectos ilegítimos das políticas no setor público. Entramos no paradoxo: o público é definido fora do público e se torna opaco. O segredo, de fato, manifesta-se em todos os coletivos humanos, das igrejas às seitas, dos Estados aos partidos, dos advogados aos juízes, das corporações aos clubes esportivos, da imprensa aos gabinetes da censura, dos laboratórios e bibliotecas universitários às fábricas, dos bancos às obras de caridade. Mas vale repetir a suspeita de Adam Smith: "Como é possível determinar, segundo regras, o ponto exato a partir do qual um delicado sentido de justiça ruma para o escrúpulo fraco e frívolo da consciência? Quando o segredo e a reserva começam a caminhar para a dissimulação?" (Teoria dos Sentimentos Morais, 1759.)

A prudência define a passagem da prática correta do sigilo para uma outra, em que o poder abusivo e tirânico se manifesta. O pensamento ético sempre se opõe ao sigilo, salvo em situações de guerra. Segundo Bentham, a publicidade é "a lei mais apropriada para garantir a confiança pública". O segredo, pensa ele, "é instrumento de conspiração; ele não deve, portanto, ser o sistema de um governo normal. (...) Toda democracia considera desejável a publicidade, seguindo a premissa fundamental de que todas as pessoas deveriam conhecer os eventos e circunstâncias que lhes interessam, visto que esta é a condição sem a qual elas não podem contribuir nas decisões sobre elas mesmas".

Os democratas ou republicanos autênticos devem se acautelar contra o segredo, pois ele se instala na raiz do poder ditatorial e dos golpes de Estado. Não admira que os nossos políticos, herdeiros de costumes definidos nos porões de duas ditaduras, considerem "normais" (com bênçãos de alguns magistrados) tanto o disfarce no manejo das contas públicas quanto a censura à imprensa. Oligarcas manhosos de partidos fisiológicos estão bem no retrato do controle oficial secreto e corrupto. Eles se acostumaram a dobrar a espinha diante dos poderosos porque tal hábito lhes permite corroer as franquias dos "cidadãos comuns". Presos aos favores, vendem a preço vil a dignidade pública na bacia das almas dos Ministérios. Mas cobram caro, das pessoas livres, a crítica aos seus desmandos. A sua técnica de aliciamento usa os laços do "é dando que se recebe", que lhes propicia o controle das informações. Só pode chegar ao público o que eles autorizam. Os coronéis estão mais vivos do que nunca, na pretensa República brasileira.

Já os que, antes de chegar aos postos de autoridade, sempre criticaram os donos do poder, embora queiram exibir uma face polida e bela, escondem (nas paredes escuras dos corredores palacianos) uma repulsiva adesão à bandalheira. A sua figura efetiva? A carantonha de Dorian Gray ou a estátua de Glauco, imagem divina que, por causa das muitas trapaças do tempo, se transformou em bestial. Nada mais desprezível do que o paladino da ética que, por "realismo", age como secretário de práticas contrárias à transparência no manejo dos recursos públicos.

FILÓSOFO, PROFESSOR DE ÉTICA E FILOSOFIA NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS (UNICAMP), É AUTOR, ENTRE OUTROS LIVROS, DE ''O CALDEIRÃO DE MEDEIA'' (PERSPECTIVA)

COMITE INTERNACIONAL PARA OS 300 ANOS DE DIDEROT.

FUI CONVIDADO PARA INTEGRAR O COMITE INTERNACIONAL PARA OS 300 ANOS DE DIDEROT. ACEITEI. A LISTA DOS INTEGRANTES ESTÁ NO SITE DO EVENTO. Roberto Romano




773jours avant
le Tricentenaire de Diderot

Denis Diderot, figure majeure de la République des Lettres et du Siècle et des Lumières, est né à Langres en 1713. À l'occasion du tricentenaire de sa naissance, en 2013, une série d'activités culturelles et scientifiques seront organisées par la Communauté scientifique et la Ville de Langres. un Comité scientifique et la Ville de Langres.counter on tumblr

Ce site est celui d'un collège de professeurs d'université, de chercheurs, de passionnés qui coordonnent les projets scientifiques, sous le patronnage d'un Comité d'honneur et la direction d'un Comité scientifique.
Les projets langrois sont présentés sur le site créé par la Ville.
Vos questions, remarques et demandes de mise à jour peuvent être adressées à Éric Vanzieleghem (evanzieleghem@yahoo.fr).

Prochaine réunion du Comité
samedi 1er octobre 2011 à 10h00
Université Paris - Diderot
rue Thomas Mann, 5 - 6e étage

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773jours avant
le Tricentenaire de Diderot

Membres du Comité


Comité d'Honneur (en voie de constitution)

Paolo Casini, Anne-Marie Chouillet, Georges Dulac, Jean Ehrard,
Frank A. Kafker, Roland Mortier, Lucette Pérol,
Jean Sgard, Jean Starobinski
.

Comité scientifique
(en voie de constitution)

Coordination : Pierre Chartier, Marie-Léca-Tsiomis, Odile Richard-Pauchet
Contact et mise à jour du site : Éric Vanzieleghem (evanzieleghem@yahoo.fr)

Sylviane Albertan-Coppola (U. J. Verne Amiens), Thierry Belleguic (U. Laval), Georges Benrekassa (U. Paris Diderot), Jacques Berchtold (U. Paris Sorbonne), Bertrand Binoche ( U. PAris I), Michel Blay (CNRS), Jean-Claude Bonnet (CNRS), Andrew Brown (Centre international d'étude du XVIIIe siècle), Marc Buffat (U. PAris Diderot), Franck Cabane (U. Paris Diderot), Geneviève Cammagre (U. Toulouse le Mirail), Pierre Chartier (U. Paris Diderot), Pierre Crépel (CNRS), Andrew Curran (Wesleyan University), Michel Delon (U. Paris Sorbonne), Colas Duflo (U. J. Verne d’Amiens), Pierre Frantz ( U. Paris Sorbonne), Gianluigi Goggi (U. de Pisa), Shin-ichi Ichikawa (U.. Waseda, Tokyo), Marian Hobson (Queen Mary College), François Jacob (Institut Voltaire), Nicole Jacques-Lefèvre (U. Paris-Ouest Nanterre), Claire Jaquier ( U. de Neuchâtel), Didier Kahn (CNRS), Serguei Karp (Académie des sciences de Russie), Ulla Kølving (Centre international d'étude du XVIIIe siècle), Élisabeth Lavezzi (U. de Rennes), Marie Leca-Tsiomis (U. Paris Ouest Nanterre), Stéphane Lojkine (U. de Provence), Jeff Loveland (University of Cincinnati), Laurent Loty (CNRS), Laurence Mall (University of Illinois, Urbana Champaign), Francine Markovits (U. Paris Ouest Nanterre), Benoît Mélançon (U. de Montréal), Robert Morrissey ( U. de Chicago), Barbara de Negroni (Lycée La Bruyère, Versailles), Irène Passeron (CNRS), Olga Penke (U. de Szeged), François Pépin (U. Paris-Ouest Nanterre), Madeleine Pinault-Sørensen (Musée du Louvre), Stéphane Pujol (U. Paris-Ouest Nanterre), Odile Richard-Pauchet (U. de Limoges), Roberto Romano (U. Unicamp, São Paolo), Pierre Saint-Amand (Brown University), Franck Salaün (U. de Montpellier), Gerardt Stenger (U. de Nantes), Philipp Stewart (Duke University), Yoichi Sumi (U. Chubu, Nagoya), Motoichi Terada (U. de la ville de Nagoya), Kate Tunstall (Worcester College, Oxford), Ann Thomson (U. Paris VIII), Éric Vanzieleghem (Société Diderot).

Un Comité de pilotage avait été crée en octobre 2009 (voir la pièce jointe ci-dessous) à l'initiative de membres de la Société Diderot dont les travaux et les publications sont présentés ici.

Pièces jointes (1)

  • 200910 - Nouvelles n°75.pdf - le 7 juil. 2011 13:40 par Eric Vanzieleghem (version 1)
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