segunda-feira, 6 de outubro de 2014

TV UOL, 05/10/2014

 http://eleicoes.uol.com.br/2014/noticias/2014/10/05/marina-e-figura-antiga-e-nao-esperava-um-bombardeio-grande-diz-filosofo.htm

 

Análise: Marina é figura antiga e não esperava ataque por laços com Lula

Do UOL, em São Paulo

O filósofo Roberto Romano, comentarista convidado na transmissão ao vivo do UOL sobre o primeiro turno das eleições, apontou "a figura e a personalidade" de Marina Silva como antigas, embora sua campanha eleitoral tenha se fincado na ideia de algo novo em relação ao tradicional confronto PT x PSDB na disputa pelo governo federal.

Romano acredita que Marina errou "quando pediu confiança nela enquanto indivíduo", e que "esse foi seu ponto fraco".

Análise: Marina não esperava bombardeio tão grande

"Ela não esperava que viria um bombardeio tão grande, dado seu passado com Lula", afirma Romano. 

Ao se defender, Marina acabou ajudando seus adversários

Para o blogueiro Mário Magalhães, que também comentou os resultados do primeiro turno no estúdio do UOL, as críticas dos oponentes da candidata Marina Silva acabaram revertendo seu crescente desempenho. Marina estava disparando na corrida eleitoral quando começou a cair por conta dos ataques. 
"Marina acabou ajudando o trabalho de seus adversários", diz Magalhães. 
Já o blogueiro de política Josias de Souza acredita que Marina "reagiu muito mal e se revelou muito frágil" em relação às críticas recebidas, todas sempre com algo "hipocrisia".  

Opinião: Marina acabou ajudando seus adversários

domingo, 5 de outubro de 2014

Midia News

Opinião / LUIZ FLÁVIO GOMES
05.10.2014 | 09h00 - Atualizado em 05.10.2014 | 09h30 
 
 
 
 Petrolão e o voto no escuro

  

 

 

Não bastavam o mensalão do PT, mensalão do PSDB e mensalão do DEM?


Neste domingo, muitos eleitores estarão elegendo não só um novo presidente senão também (no escuro) um novo Parlamento, que tem tudo para ser um dos mais corruptos de toda nossa história política, se levarmos em conta não só a quantidade exorbitante de dinheiro que as construtoras, empresas de alimentos e de bebidas, bancos etc. "investiram" nas asquerosas e abjetas campanhas dos "seus" candidatos, senão também o envolvimento de muitos políticos no escândalo dopetrolão (Petrobras), que se transformou numa fonte inesgotável de corrupção.

Depois do mensalão do PT, mensalão do PSDB (Minas Gerais), mensalão do DEM (Distrito Federal), cartel do metrô em São Paulo (PSDB), vêm agora as águas profundas do petrolão, que tem tudo para ser um dos maiores de todas as épocas, não só pela enormidade da roubalheira (mais de 10 bilhões), senão, sobretudo, pelo envolvimento de dezenas de políticos de vários partidos (incontáveis raposas de todas as cores partidárias estarão sendo eleitas para tomar conta do Orçamento Público do país e das suas empresas).

O ministro Teori Zavascki, ao homologar o acordo da delação de Paulo Roberto Costa, afirmou: "Há elementos indicativos, a partir dos termos do depoimento, de possível envolvimento de várias autoridades detentoras de prerrogativa de foro perante tribunais superiores [STF e STJ], inclusive de parlamentares federais".
"Depois do mensalão do PT, mensalão do PSDB (Minas Gerais), mensalão do DEM (Distrito Federal), cartel do metrô em São Paulo (PSDB), vêm agora as águas profundas do petrolão"


Muitos desses parlamentares, certamente, serão reeleitos (dentre outras razões, porque suas campanhas foram "turbinadas" com o dinheiro do petrolão).

Milhares de eleitores elegerão políticos que se transformarão em réus prontamente (veja Josias de Souza - UOL).

Seus nomes ainda não foram revelados, mas já foram citados na delação premiada do ex-diretor da Petrobras (Paulo Roberto Costa). Dezenas de outros virão com a delação do doleiro Youssef (que está em curso).

Carl Schmitt foi um dos teóricos mais enfáticos do poder ditatorial exercido por Hitler (de 1933 a 1945). Idealizou "uma das tiranias mais abomináveis da história" (como disse Roberto Romano). É, portanto, um dos autores mais hediondos que a humanidade conheceu.

Apesar da sua ficha-suja (repulsiva, horrorosa, degradante, aviltante), não há como deixar de prestar atenção nas suas contundentes críticas aoparlamento (e aos parlamentares) da sua época (veja F. Bianchini, Democracia representativa e democracia participativa, p. 98 e ss.).

"Tornou-se muito duvidosa a real competência do Parlamento para formar uma elite política. Hoje em dia não somos mais otimistas a respeito desse instrumento de seleção, muitos já encaravam essas expectativas como obsoletas, e a palavra 'ilusões' (...) poderia facilmente aplicar-se a certos democratas alemães.

As centenas de ministros constantemente apresentados como elite política pelos inúmeros Parlamentos dos diversos Estados europeus e não-europeus não justificam nenhum otimismo.

Mas o que é pior, e desfaz qualquer esperança, é que em algumas nações o sistema parlamentar conseguiu transformar todas as questões políticas em objeto de cobiça e de compromisso dos partidos e dos agregados, e a política, longe de ser a ocupação de uma elite, passou a ser a desprezível negociata de uma desprezível classe de gente".

Deixando muito claro que não coadunamos de forma alguma com o resultado final do pensamento totalitário e ditatorial de Carl Schmitt, reiterando que não refutamos o regime democrático representativo e participativo, não há como deixar de reconhecer a atualidade da sua crítica, contra essa "desprezível classe de gente".

Como bem ponderou o filósofo da Unicamp Roberto Romano (no prefácio ao livro de F. Bianchini, citado),

"De fato, no cotidiano as notícias sobre a corrupção, a venalidade, a tibieza dos deputados e senadores (não apenas no Brasil) parecem dar plena razão às acidas críticas do jurista alemão aos parlamentos. Certas diagnoses de Schmitt, se aplicadas ao Brasil, por exemplo, guardam toda sua atualidade: negociatas em comissões, chantagens para obter espaço e cargos no poder, distância cada vez maior dos eleitores etc. Bianchini desce fundo nas razões alegadas por Schmitt, sem tergiversar sobre os defeitos do sistema representativo de governo. Mas ele mostra, também, com o mesmo rigor, o quanto - já nas críticas do alemão - estavam presentes as teses que deram vez a uma das tiranias mais abomináveis da história [regime nazista de 1933-1945, que provocou o ignóbil e nauseabundo assassinato de milhões de pessoas, destacando-se os judeus dentre as vítimas).

LUIZ FLÁVIO GOMES é jurista e diretor-presidente do Instituto Avante Brasil.
professorlfg.com.br
@professorlfg

Site da Rádio Bandeirantes, uma notícia assustadora. É o "capitalismo"nacional.

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por: Mariana Mazza

28/08/2014 11:31

Manual da TIM para torturar clientes

Quando a Anatel decidiu lançar o Regulamento Geral de Direitos do Consumidor de Serviços de Telecomunicações (RGC) duvido que imaginava o tamanho da resistência que iria enfrentar. As empresas não tem mostrado nenhum pudor em contestar item por item do documento, que pretende aumentar a qualidade do atendimento ao consumidor. Não que seja surpresa para alguém que companhias de grande porte não queiram facilitar a vida de seus clientes. Mas isso normalmente é feito na surdina. Contestar na Justiça direitos básicos que os consumidores deveriam ter garantidos há muito tempo é sempre assustador.

Desde que essa nova batalha começou, tenho ponderado sobre a eficácia desse regulamento. Não tenho dúvidas de que as regras são um avanço. Mas sem uma ação efetiva da agência reguladora, fiscalizando o cumprimento das exigências e incentivando uma mudança na cultura dos Call Centers, temo que as medidas se tornem inócuas.

Uma reviravolta recente no processo trouxe à tona um chocante documento que mostra como regras, sem fiscalização, não são o suficiente para mudar as coisas. Na última semana, a Hoje Telecom decidiu se retirar do rol de associados da Telcomp, uma das principais entidades representativas do setor. É por meio da Telcomp que boa parte das companhias telefônicas tem contestado a validade do RGC.

A Hoje Telecom, uma pequena empresa que há sete anos batalha para ampliar a concorrência no mercado de telecomunicações, resolveu se afastar da entidade por entender que as grandes companhias ali representadas têm se esforçado em prejudicar o surgimento de novos competidores. A empresa já vinha sentindo na pele a dificuldade de abrir espaço no mercado de telefonia brasileiro e tem travado uma disputa com suas rivais por conta das tarifas de interconexão. O que nem ela esperava é que esta batalha a levaria a descobrir provas de que o jogo para minar a concorrência e prejudicar os consumidores faz parte de uma estratégia concreta, documentada e implementada não só no Brasil, mas nas próprias matrizes das grandes operadoras.

A personagem das denúncias é a TIM. A Hoje Telecom teve acesso ao processo movido na Justiça italiana sobre a controladora da rival no Brasil, a Telecom Itália. E na papelada reunida pelos promotores italianos encontrou uma verdadeira pérola do descaso das companhias com seus clientes. Em um e-mail com data de 20 de março de 2009, o presidente da TIM, Luca Luciani, orienta seus funcionários a dificultar qualquer tentativa de cancelamento de linhas ou mudança para uma outra operadora. O trecho inserido no processo italiano e, agora, apresentado à Justiça brasileira é autoexplicativo.

"Então, deveremos agir nos comportamentos:

- Aumentaremos o nível de dificuldade do processo de cancelamento (ou seja, "na unha”). Isto vale para linhas portadas e para cancelamentos voluntários. Isto incluiu uma série de comportamento, tais como:

- declarar que estão incompletos os dados cadastrais / documentação para cancelamento.

- reduzir a transparência e informações (por exemplo, as mensagens automáticas de voz não devem ser informativas, pois ao transferir a ligação para o operador este não terá chance de defesa).

- exercer pressão no caso de faturas não pagas ou multa contratual (a quantos efetivamente pedimos a retenção pela multa?). Vamos procurar uma forma automática de inclusão nas listas negras de crédito."

Ou seja, Luciani orienta claramente seus funcionários a agir sem escrúpulos para impedir que os clientes da TIM deixem a empresa, inclusive sonegando informações. O contexto deste e-mail é atualização da Lei do SAC (decreto 6.523/2008) que, entre outros avanços, visava acabar com as horas de espera dos clientes nas linhas de atendimento. O executivo ainda conta com o lançamento no Brasil de uma campanha para incentivar os atendentes a serem mais severos com os clientes insatisfeitos. "Na Itália, a premiação ´ganhe um Mini Cooper´ foi um sucesso notável. Em curtíssimo prazo, a premiação atrai e focaliza a atenção dos operadores." Pra quem acha que só o consumidor brasileiro passa por essas coisas, está ai a prova de que há abuso nos outros países também, embora isso não seja nenhum consolo.

O e-mail deixa claro que a TIM está disposta a assumir os riscos de descumprir a lei para manter, como reféns, seus clientes. Ou como escreveram os advogados da Hoje Telecom na ação apresentada na Justiça: "Para quem acha que o atendimento é ruim porque a TIM é incompetente, fica provado que ela é competente em ser ruim".

Mas não sejamos ingênuos. A TIM foi pega em flagrante, mas este espírito de maltratar os clientes não pertence apenas a ela. Clientes de todas as operadoras sofrem nos Call Centers. Tanto que a peça-chave do RGC, lançado cinco anos após a Lei do SAC, ainda é garantir ao consumidor o direito de cancelar sua linha sem ser molestado.

Além de escrever a regra no papel, a Anatel tem que fiscalizar rigorosamente essas empresas se quiser de fato implementar mudanças. Os clientes, por sua vez, devem denunciar na agência toda vez que sentirem que estão sendo passados para trás nas centrais de atendimento. Quem sabe, sob pressão, a agência reguladora aja com mais força. O e-mail da TIM é uma amostra da cultura que se expandiu no setor de telecomunicações, onde o importante é "prender" o cliente com estratagemas e desinformação ao invés de garantir uma fidelização por meio de um serviço de qualidade.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

CBN Entrevista de Roberto Romano para Milton Jung. 03/10/2014

  • 03 de outubro de 2014

  • 08:10

    Democracia venceu a ditadura mas costumes de autoridades ainda deixam a desejar

    O Jornal da CBN conversou com Roberto Romano, filósofo e professor de ética e política da Unicamp. Segundo ele, muitos políticos ainda 'pagam tributo' ao regime autoritário.

  • quinta-feira, 2 de outubro de 2014

    Programa Faixa Livre Paulo Passarinho entrevista Roberto Romano


    Programa Faixa Livre - 01/10/2014

    http://www.aepet.org.br/site/faixalivre/pagina/236/Programa-Faixa-Livre-01102014


    Roberto Romano - Professor de Ética e Filosofia da UFRJ
    Tema: Nova pesquisa eleitoral

    Dércio Garcia Munhoz - Professor de Economia da UNB
    Tema: Situação da economia

    Siilvio Sinedino - Presidente da AEPET

    Tema: Leilão de petróleo

    Rui  Costa Pimenta - Candidato do PCO

    Tema: Plataforma de sua candidatura à Presidência da República

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    • FL 01/10/2014_1 - Paulo Passarinho - Tema: Comentário
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    • This is the end... my only friend, the end.

    quarta-feira, 1 de outubro de 2014

    Panorama Mercantil, Entrevista.

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    Quarta-feira, 01 de outubro de 2014





    Sapato Site
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    Postado 1 de outubro de 2014 por Eder Fonseca em Pensamento

    “Ainda vivemos as mazelas do absolutismo”
    Roberto Romano – Professor de Ética e Filosofia da Unicamp

    Roberto Romano
    Nascido na pequena cidade de Jaguapitã no norte do Paraná, Roberto Romano é professor de Ética e Filosofia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Filho da comunhão de uma família paulista que ia em direção ao Sul e de uma família gaúcha que seguia em direção ao Norte, cresceu em uma região predominantemente rural. Graduado em Filosofia pela USP (Universidade de São Paulo) e doutor em Filosofia pela École des hautes études en sciences sociales, de Paris. Escreveu os livros: “Moral e Ciência – A Monstruosidade do Século XVIII”; “O Caldeirão de Medéia”, (São Paulo, Imprensa Oficial); “Cidadania – Verso e Reverso”, (Ed. Guanabara); “Lux in Tenebris” (Meditações sobre Filosofia e Cultura), (Cortez Editora); “Silêncio e Ruído”, (Ed. da Unicamp); “Silence et Bruit”, (Ed. do autor); “Brasil, Igreja contra Estado”, (Ed. Kayrós – 1979); “Conservadorismo Romântico”, (Ed. Brasiliense –
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    Postado 1 de outubro de 2014 por Eder Fonseca em Pensamento





    “Ainda vivemos as mazelas do absolutismo”

    Roberto Romano – Professor de Ética e Filosofia da Unicamp



    Nascido na pequena cidade de Jaguapitã no norte do Paraná, Roberto Romano é professor de Ética e Filosofia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Filho da comunhão de uma família paulista que ia em direção ao Sul e de uma família gaúcha que seguia em direção ao Norte, cresceu em uma região predominantemente rural. Graduado em Filosofia pela USP (Universidade de São Paulo) e doutor em Filosofia pela École des hautes études en sciences sociales, de Paris. Escreveu os livros: “Moral e Ciência – A Monstruosidade do Século XVIII”; “O Caldeirão de Medéia”, (São Paulo, Imprensa Oficial); “Cidadania – Verso e Reverso”, (Ed. Guanabara); “Lux in Tenebris” (Meditações sobre Filosofia e Cultura), (Cortez Editora); “Silêncio e Ruído”, (Ed. da Unicamp); “Silence et Bruit”, (Ed. do autor); “Brasil, Igreja contra Estado”, (Ed. Kayrós – 1979); “Conservadorismo Romântico”, (Ed. Brasiliense – 1981). Para o portal Panorama Mercantil, o filósofo traz a sua visão sobre ética e civilidade entre outros assuntos do cenário político e social.



    Professor, como o senhor enxerga a ética hoje no mundo da política?


    A política, como todos os fenômenos sociais, não possui ética única. Como expressa os desejos, pensamentos e projetos de múltiplos setores (religiosos, econômicos, ideológicos, culturais, étnicos, etc) ela se caracteriza pelos ajustes e conflitos das várias éticas existentes. Mas há uma cristalização ética própria às instituições. O Estado brasileiro, no qual se exerce o monopólio da política pública, traz ainda hoje as marcas do absolutismo que o gerou no século 19. Nele, não existem plenamente as noções de responsabilidade do gestor diante do contribuinte. A famosa “accountability” foi haurida na democracia grega do século quinto antes de Cristo pelos autores da Revolução Inglesa do século 17 (sobretudo os liberais, os Levellers). Ela foi, depois, transmitida aos estadistas norte-americanos e franceses do século 18. No mesmo passo em que as democracias ocidentais firmaram modelos modernos de gestão e de prestação de contas, no Brasil foi mantido o privilégio dos operadores do Estado, nos três poderes. Resulta que a ética política institucional brasileira é infensa à responsabilidade plena dos governantes. Daí, todos os abusos que levam ao perene “é dando que se recebe”, as prerrogativas de foro, etc. Estamos ainda muito longe da ética democrática, para a qual o povo é soberano. Basta entrar em qualquer repartição pública brasileira: na parede pode-se ler em letras garrafais : “insulto ao funcionário, tantos anos de cadeia”. Mas não existe, ao lado, outro cartaz dizendo “desrespeito ao contribuinte, tantos anos de cadeia”. A ética política nacional escancara todos os estigmas do absolutismo, regime que, afirmam historiadores como Joël Cornette [historiador francês, 1949], é um dos mais corrompidos da história moderna. Nele, os cargos eram vendidos, alianças estapafúrdias foram mantidas, o favor imperou nos tratos de soberanos e súditos. E, sobretudo, foram definidas técnicas para a hegemonia do Executivo sobre os demais aspectos do poder público (seja consultado o excelente livro de Alexis de Tocqueville, “O Antigo Regime e a Revolução”, Editora UNB). O sistema brasileiro seria o sonho de Richelieu [Cardeal de Richelieu, político francês, 1585 - 1642] e de Luís 14 [monarca conhecido como "Rei-Sol" 1638 - 1715]: o governante concentra nas mãos todas as prerrogativas, compradas por acordos e favores no Parlamento e sob as vistas cegas da Justiça. A ética política institucional brasileira é anacrônica, não democrática, nada republicana. Cada vereador tem privilégios que, mesmo no Antigo Regime, seriam proibidos aos membros da nobreza. Não era todo conde ou duque que tinha carro, aposentadoria, etc, pagos pelo contribuinte.



    O senhor diz que nossa sociedade não tem costume de respeitar o que é público e elege governantes que também não respeitam. Como fugir desse espelhamento?


    Em primeiro lugar, em segundo lugar, em terceiro lugar, e assim por diante, com instrução. Condorcet [Marquês de Cordorcet, filósofo e matemático francês 1743 - 1794], um dos grandes democratas do século 18 francês, dedicado às questões eleitorais (leia-se seu clássico, “Sobre as eleições”), mostrou que sem um escrutínio severo, vence eleições os que foram hostilizados pela maioria dos votantes. É o famoso “Paradoxo de Condorcet”, que não posso analisar aqui com detalhes. Após as eleições problemáticas dos EUA, quando George Bush chegou à presidência, o “Paradoxo de Condorcet” voltou a ser muito estudado nas universidades. Importa que, para bem estabelecer uma eleição democrática, Condorcet mostra ser necessária a capacidade do eleitor para o cálculo das probabilidades. Ou seja, a instrução do eleitorado em matemáticas é essencial. Se forem verificados os índices de aprovação dos cursos brasileiros de matemática, em plano internacional, verificamos o quanto estamos longe de efetivar tal requisito. A educação de massa que não traga melhorias consideráveis no estudo do cálculo, é mero adestramento retórico para escolhas cegas. Se o leitor desejar um pouco mais de informes sobre o “Paradoxo de Condorcet”, dele falo em vídeo publicado pelos Seminários Internacionais Fronteiras do Pensamento. A partir daí é possível consultar, posteriormente, a vasta bibliografia sobre o tema. Outro problema ligado ao ponto encontra-se na estrutura de nossos partidos políticos. A sua maioria esmagadora é oligarquizada, ou seja, é propriedade de alguns indivíduos e grupos. Tais elites (se é possível usar o termo…) mandam nos cofres, nas escolhas de candidatos, nas alianças, na distribuição de cargos, etc., sem ouvir os militantes de base, os que arcam com o mais pesado na prática. Existem dirigentes que mandam nas agremiações há décadas, nelas tudo controlando. Não temos eleições primárias, não temos assembleias partidárias autônomas. Os jovens que desejam entrar para a política devem aprender a lição de servilismo e corrupção, beijando a mão dos líderes idosos e mestres na arte de bajular, chantagear, vender. Resulta que a urna já apresenta um “prato feito” ao eleitor. É um espelhamento equívoco: o eleitor deseja honestidade, mudança, mas os candidatos, que passaram pelo filtro das direções, apenas prometem, mas não podem entregar o exigido, porque já se comprometeram com os donos do seu partido. A mocidade e os velhos, ambos se afastam dos partidos, o que redunda em descontrole e falta de fiscalização no exercício do poder Executivo, Legislativo e, mesmo, do Judiciário. Numa reforma política que não fosse demagógica e simplesmente eleitoreira, a primeira providência seria democratizar os partidos, proibindo a permanência, nos postos de direção agremiativa, por mais de dois anos. Escrevi sobre o tema para a Folha de São Paulo (“Pela democratização dos Partidos”, 20/09/2013).



    A urbanização de um certo modo, fez diminuir a civilidade?


    A dialética do campo e da cidade é algo conhecido desde a era em que Babilônia, Atenas, Roma, mandavam no mundo. Sempre que há uma concentração de pessoas em espaço limitado, formando urbes, existe um descompasso ético coletivo. As antigas formas de convívio, de respeito e polidez, entram em crise nas ruas numerosas, nas praças lotadas, nas massas anônimas. Leva tempo para que novas formas de convívio sejam solidamente instituídas, porque é preciso chegar ao ponto em que os prejuízos da ausência de regras sejam notados pela maioria dos habitantes. No Brasil, até 1950, tínhamos uma rede delgada de cidades litorâneas e um imenso sertão. A urbanização foi acelerada após Brasília e mantida pelos governos, ditatoriais ou civis. Estamos nos acostumando aos hábitos requeridos por um trato polido. Por enquanto, a violência nos confrontos face a face domina todos os setores de classe, ricos ou pobres. Basta ver o que ocorre nas periferias e nos shopping centers: as pessoas ainda não aprenderam a respeitar o corpo alheio. Nas áreas endinheiradas de consumo, quando alguém empurra uma pessoa a desculpa é sempre “não vi”. Aprender a ver é um dos primeiros elementos da ética na vida coletiva. Quem sequer enxerga o próximo, ignora as demais regras da polidez e urbanidade.



    A democracia não fica prejudicada, quando um partido político fica no poder por um longo tempo como é o caso do PT atualmente?


    A democracia sempre é a maior prejudicada quando um partido permanece no poder durante muito tempo. É uma tendência natural que todo grupo queira conquistar e manter o mando. Mas a política não é algo “natural”, ela é produto da cultura e das técnicas de Governo. Elemento básico da democracia é a renovação dos dirigentes. Quando um agrupamento tende a se encastelar nos palácios, no seu interior surgem os que, segundo Norberto Bobbio [filósofo, historiador e senador vitalício italiano, 1909 - 2004], esquecem que devem seu poder às praças. Eles se tornam arrogantes como os soberanos absolutistas que, à semelhança de Tiago 1 da Inglaterra, dizia no século 17 não dever prestação de contas a ninguém, mas apenas a Deus. Ainda segundo Bobbio, o embate entre praça e palácio é vital para a democracia. Todo partido, para não degenerar totalmente, precisa perder o palácio de vez em quando e ouvir os reclamos da praça. Tratei de analisar mais longamente o assunto na conferência publicada em vídeo pelo Café Filosófico da CPFL (“O poder dos palácios e a força das praças”, 18/outubro, 2013 – clique aqui).



    A liberdade de expressão esbarra em algo que não a faz ser totalmente plena em nosso país?


    Como disse, ainda vivemos as mazelas do absolutismo. No Brasil, em primeiro lugar, é proibido fazer oposição ao Governo. Quem se levanta, perde recursos públicos para suas regiões. Daí se entende o quanto nossas “oposições” são tímidas e, não raro, silentes diante dos abusos governamentais. Recomendo aos leitores, para entender a situação brasileira, a leitura do capítulo 20 do “Tratado Teológico-Político” de Bento Spinoza [filósofo holandês, 1632 - 1677]. Ali, o filósofo defende a liberdade de pensar e dizer (e de escrever), como fundamento de um Estado democrático. E mostra que os desejos de censura, assumidos por quase todos os regimes, esbarram na natureza livre do ser humano. A intolerância diante da divergência é marca do fanatismo (ideológico, religioso, doutrinário). E o fanatismo é inimigo da democracia.



    Como se situa a esquerda hoje, já que às vezes temos a sensação de que muitos esquerdistas são mais parecidos com os grandes capitalistas globais, saindo daquela ideologia tão pregada em outrora?


    A esquerda surgiu da metáfora espacial. O lugar ocupado pelos jacobinos radicais na Assembleia Nacional, durante a Revolução Francesa. Do espaço às mentes, foi um pulo. Esquerda, de modo geral, significa inconformismo com a desigualdade, a injustiça, a corrupção. Mas a história da própria Revolução Francesa mostra que, sob a capa do rigor moral da esquerda, se escondia muito arbítrio, desejo de mando, corrupção. O historiador Michel Benoit [escritor, ensaísta, historiador, teólogo e doutor em biologia francês, 1943] publicou uma pesquisa muito instrutiva a respeito, infelizmente ainda não traduzida para a nossa língua: “1793, a República da Tentação, um negócio de corrupção na primeira república” (Éditions de l’Armançon, 2008). Os documentos mostram que líderes jacobinos, apesar de seu homem maior, Robespierre [Maximilien de Robespierre, advogado e político francês 1758 - 1794] receber o apelido de “Incorruptível”, se apropriaram de bens públicos (como jóias da coroa, terras, etc) para enriquecimento próprio. Outro escritor, um homem ainda hoje de esquerda, Alain Badiou [filósofo, dramaturgo e novelista francês, 1937], mostra que o golpe do Termidor, que acabou com a Revolução democrática na França, foi dado pela esquerda, os jacobinos. Volto a Norberto Bobbio: quando um grupo, de esquerda ou conservador, se instala no palácio, imagina eternizar seu mando. Elias Canetti [romancista e ensaísta de nacionalidade búlgara e britânica 1905 - 1994] tem excelentes análises, no livro “Massa e Poder”, sobre o poderoso como sobrevivente. O poderoso aposenta ideologias, programas, crenças, para manter seu controle sobre os demais entes humanos. É o famoso “realismo”. E muitos, ainda, desculpam seu desejo de mando sob o nome de Maquiavel [Nicolau Maquiavel, historiador italiano 1469 - 1527] , um republicano exemplar que nada mais fez do que exibir o modo de funcionamento da máquina política, movida por autoritários e oportunistas.




    Ideias: Para o filósofo professor de Ética e Filosofia da Unicamp, a democracia sempre é a maior prejudicada quando um partido permanece no poder durante muito tempo (Foto: Arquivo)



    Alguns filósofos dizem que existe muita mentira na vida acadêmica nacional. Como enxerga essa questão?


    Existe mentira e verdade em todos os setores sociais, os campi (polo universitário) não significam exceção. O pior, neles, é o enquistamento nas seitas que disputam recursos humanos e financeiros. Não aceito, por exemplo, que verbas públicas aos milhões sejam distribuídas a pesquisadores, e a seus afilhados, pelo método do sigilo do assessor. Tal “método” serve para perseguir, de modo anônimo, investigadores contrários aos dogmas do assessor e de seu agrupamento. Se a pesquisa tem como alvo a verdade, um meio assim, anônimo e covarde, mancha a prática científica. A desculpa é proporcionar privacidade e autonomia do assessor. Mas o fato é que tal anonimato foge da prestação integral de contas, porque o nome de quem veta ou concede verbas é ignorado pelos candidatos e pelo público que paga as contas. O problema não é apenas brasileiro e a avaliação pelos pares tem sido questionada com ênfase, sobretudo nos EUA. O poder micrológico das seitas acadêmicas é um dos maiores defeitos da instituição.



    Qual a visão do senhor sobre as universidades públicas do Brasil?


    São as únicas que, a rigor, merecem o título de “universidades”. Nelas são feitas pesquisas, técnicas, modos de melhorar a vida humana de maneira significativa. O interior do Estado de São Paulo não exibiria sua plena pujança econômica sem o aporte da USP, Unicamp, Unesp. Apesar das seitas acadêmicas, citadas na resposta acima, as universidade oficiais brasileiras e paulistas preparam fortes bases para uma economia sólida, sobretudo quando se trata de preparar mercadorias com valor agregado. Tal alvo que deve ser assumido, se quisermos sair do triste destino, que nos orienta desde 1500, de meros exportadores de matéria prima. Mas os campi precisam dialogar mais com a sociedade, sobretudo no campo das políticas públicas.



    Voltando à política, hoje está cada vez mais difícil de se discutir ideias, nas redes sociais por exemplo é um bate-boca constante entre oposição e situação. Isso é irreversível?


    Como disse, o fanatismo combate a democracia. Fanáticos ignoram o respeito próprio e mútuo, querem impor na base da força física ou constrangimento moral os seus dogmas e dirigentes. Nem sempre os costumes se refinam com a técnica. Não raro, novas técnicas de comunicação servem apenas para transmitir ódio. O nazismo aprimorou muito as técnicas de comunicação (rádio, cinema e até a televisão!) e as reduziu a meio de propaganda, mentira, terrorismo. Chegar à internet sem cultura democrática, significa usar a nova tecnologia como se ela fosse um tacape. É um anacronismo triste.


    Em 2005 o senhor disse que a função dos intelectuais é de pesar as palavras, pesar as ideias e mostrar os caminhos. Eles (intelectuais) nesse momento estão fazendo isso ou simplesmente estão fazendo algo que o senhor abomina que é se curvar diante do poder?


    Luciano Canfora [filólogo clássico, historiador ensaísta italiano, 1942], historiador do pensamento político antigo e moderno, publicou um livro (traduzido no Brasil) onde são coletados os atos dos filósofos a serviço dos poderosos e de seus golpes. O título do volume é expressivo: “Um ofício perigoso” (Editora Perspectiva). Da Grécia clássica aos nossos dias, ocorre a traição dos intelectuais. No “Pasquim”, jornalzinho contrário ao poder instituído em 1964, ficou célebre a desculpa dos acadêmicos que a ele aderiram : “eu preciso sobreviver, entende?”. No antigo Regime, nas revoluções modernas, no Nazismo, no Fascismo, no Stalinismo, sempre existiu uma grei intelectual que ajudou a justificar tiranias. Quando o compromisso maior de um intelectual é com o gabinete dos poderosos, e não com a busca da verdade, ele deixou de ser um pensador e reduz seu papel na ordenação de mentiras, piedosas ou sangrentas. Jean-Paul Sartre [filósofo, escritor e crítico francês, 1905 - 1980] distingue corretamente entre o filósofo, o que busca a sabedoria, e o ideólogo, que justifica poderes. Muitos começam sua vida pública como filósofos e se transformam em ideólogos. Muitos começam como ideólogos e se rendem tardiamente à filosofia. Os bajuladores dos palácios, se receberam informações sobre a filosofia, são tão responsáveis pelos genocídios e massacres quanto os que os efetivaram. Um etnólogo que muito prezo, André Leroi-Gourhan [arqueólogo, paleontólogo, paleoantropólogo e antropólogo francês 1911- 1986], diz que na marcha da evolução nosso corpo se aprimorou como instrumento técnico: na postura ereta, o cérebro aumentou, a face diminuiu, os olhos se agudizaram, as mãos se tornaram politécnicas. “Somos inteligentes, porque ficamos de pé”, diz o cientista. Quem rasteja diante dos governos e se julga inteligente é apenas esperto, mas indigno do mundo humano. Infelizmente, ainda hoje, para chegar aos gabinetes dos palácios é preciso passar sobre corpos rastejantes que ali buscam recursos financeiros, cargos, glória efêmera. Mas tal coisa não é nova, como bem evidenciam Julien Benda [crítico, escritor e filósofo francês, 1867 - 1956] e outros espíritos lúcidos.


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    Eder Fonseca




    Eder Fonseca é jornalista. Fundou e atualmente é o diretor-executivo do Panorama Mercantil, um dos principais portais de entrevistas do país.






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    Viva a democracia, contra todo machismo idiotizante do mundo, seja árabe, seja israelense, seja brasileiro.



    Companhia aérea de Israel é criticada por discriminação às mulheres

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    A companhia aérea nacional de Israel, El Al, está sendo criticada por permitir que homens judeus ultra-ortodoxos perturbem seus voos pelo fato de se recusarem a sentar ao lado de mulheres. Uma petição na change.org reivindica que a empresa "acabe com o bullying, a intimidação e a discriminação contra mulheres em seus voos". 

    De acordo com passageiros, um voo feito na semana passada entre o aeroporto JFK, em Nova York, e o aeroporto Ben Gurion, em Tel Aviv, mergulhou no caos quando um grupo grande de haredim (judeus ultra-ortodoxos) se recusou a sentar-se ao lado de mulheres, obedecendo a seus preceitos religiosos. 


    Reprodução
    Petição na internet pede que El Al proíba judeus ultra-ortodoxos não discriminem mulheres em voos
    Petição na internet pede que El Al proíba discriminação de judeus ultra-ortodoxos a mulheres em voos
    O episódio levou outras mulheres a denunciar casos semelhantes ocorridos em voos internacionais com destino a Tel Aviv ou partindo da cidade. 

    Amit Ben-Natan, passageira de um voo da El Al que partiu de Nova York na semana passada, disse que a decolagem foi atrasada por vários e repetidos pedidos de homens ultra-ortodoxos para que passageiras fossem transferidas para outros assentos.

    "Algumas pessoas ficaram em pé nos corredores e se recusavam a ir para frente", ela disse ao site Ynet. "Embora todos tivessem bilhetes com assentos numerados que tinham comprado com antecedência, pediram que trocássemos de assentos com eles e chegaram a oferecer dinheiro, porque não podem sentar-se ao lado de uma mulher. Evidentemente, o avião não podia decolar enquanto houvesse pessoas em pé nos corredores." 

    Outra passageira no voo, identificada apenas como Galit, disse que passageiros ultra-ortodoxos sugeriram que ela e seu marido se sentassem separados para se adaptar às exigências religiosas deles. Galit se negou, mas disse: "Acabei sentada ao lado de um homem haredi que se levantou do assento assim que a decolagem terminou e ficou em pé no corredor." 

    Num voo diferente, Elana Sztokman, diretora executiva da Aliança Feminista Judaica Ortodoxa, recusou um pedido de mudar de assento, com isso desencadeando "negociações frenéticas" entre homens ultra-ortodoxos e funcionários da companhia aérea. 

    "O que me aconteceu nesse voo não foi diferente do que acontece em quase todos os voos", ela contou à rádio Voz de Israel. "Você embarca, e o avião está prestes a decolar, mas um grupo inteiro de homens ultra-ortodoxos começa a fazer confusão, andando de um lado a outro, cochichando, indo para lá e para cá para tentar encontrar assentos diferentes. Qualquer pessoa que já tenha viajado na El Al já passou por isso." 

    Sharon Shapiro, de Chicago, é a organizadora da petição online, que até a manhã da terça (30 de setembro) já tinha cerca de mil assinaturas. Ela disse que "não é certo que as passageiras sejam intimidadas ou molestadas. Pedir com educação é uma coisa, mas, se a pessoa diz 'não', não é certo que ela seja pressionada." 

    Mas ela acrescentou que o dilema que se coloca para os judeus ultra-ortodoxos é genuíno. "A maioria das pessoas não entende que não é uma questão pessoal, é literalmente a lei religiosa." 

    Para Shapiro, as companhias deveriam buscar uma maneira de atender às exigências religiosas dos passageiros sem infringir os direitos civis de outros. "Não sei bem por que a El Al pede que os passageiros resolvam essa questão, eles próprios. Seria melhor se as pessoas pudessem embarcar no avião sabendo que iriam sentar-se em um lugar onde ficariam à vontade. Senão, isso aumenta as tensões e os mal-entendidos entre religiosos e seculares." 

    A petição diz: "Se um passageiro agredisse os funcionários da companhia aérea verbal ou fisicamente, seria retirado do avião imediatamente. Se um passageiro praticasse discriminação racial ou religiosa abertamente contra outro passageiro ou contra um comissário de bordo, seria retirado do avião imediatamente. Então por que a El Al permite a discriminação de gênero contra as mulheres?"
    "Por que a El Al permite que passageiras mulheres sejam assediadas e intimidadas para deixar os assentos pelos quais pagaram e que lhes foram designados pela El Al? Os direitos religiosos de uma pessoa não valem mais que os direitos civis de outra pessoa." 

    A petição sugere que a El Al reserve algumas fileiras de assentos segregados, que poderiam ser comprados com antecedência por um valor mais alto. 

    Entre os comentários postados no change.org, Judith Margolis, de Jerusalém, ponderou: "O comportamento que envolve o assédio de mulheres em nome da observância religiosa é ultrajante. É inaceitável que companhias aéreas deixem alguns passageiros perturbar os voos." 

    Myla Kaplan, de Haifa, comentou: "Não me sinto mais à vontade em voar pela El Al, devido ao bullying, aos atrasos e à humilhação geral de ser solicitada a vagar um assento que reservei de antemão". 

    Em comunicado, a El Al disse que faz "todos os esforços possíveis para garantir a tranquilidade dos voos, o cumprimento dos horários e a chegada ao destino em segurança. A El Al se compromete a responder a cada queixa recebida, e, se constatar que há possibilidades de melhora no futuro, essas sugestões serão levadas em consideração." 

    Passageiras mulheres em voos de outras companhias, como British Airways e EasyJet, que chegam ou partem de Israel, já foram instadas a trocar de assento a pedido de judeus ultra-ortodoxos. 

    Algumas companhias fecham os banheiros durante certos períodos durante os voos para que os homens possam reunir-se para orar. 

    A indignação quanto aos voos acontece contra um pano de fundo de iniciativas da comunidade ultra-ortodoxa israelense de impor às mulheres regras de vestimenta, restrições a onde podem sentar-se nos ônibus públicos, filas segregadas nos caixas de supermercados e a remoção das imagens de mulheres em outdoors publicitários. 

    Sztokman -cujo voo aconteceu depois de um giro que ela fez pelos EUA para divulgar seu novo livro, "The War on Women in Israel: A Story of Religious Radicalisation and Women Fighting for Freedom" (A guerra às mulheres em Israel: uma história de radicalização religiosa e mulheres que lutam pela liberdade)-disse que esse tipo de exigência aumentou nos últimos dez anos. 

    "Muito do que estamos vendo hoje tem a ver com apagar os rostos de mulheres da esfera pública, deletar seus nome de artigos de jornal, não deixar que elas falem nas rádios. É toda uma gama de práticas de exclusão e degradação de mulheres, que vem se agravando muito."
    Tradução de CLARA ALLAIN