Companhia aérea de Israel é criticada por discriminação às mulheres
A companhia aérea nacional de Israel, El Al, está sendo criticada por
permitir que homens judeus ultra-ortodoxos perturbem seus voos pelo fato
de se recusarem a sentar ao lado de mulheres. Uma petição na change.org
reivindica que a empresa "acabe com o bullying, a intimidação e a
discriminação contra mulheres em seus voos".
De acordo com passageiros, um voo feito na semana passada entre o
aeroporto JFK, em Nova York, e o aeroporto Ben Gurion, em Tel Aviv,
mergulhou no caos quando um grupo grande de haredim (judeus
ultra-ortodoxos) se recusou a sentar-se ao lado de mulheres, obedecendo a
seus preceitos religiosos.
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Petição na internet pede que El Al proíba discriminação de judeus ultra-ortodoxos a mulheres em voos |
O episódio levou outras mulheres a denunciar casos semelhantes ocorridos
em voos internacionais com destino a Tel Aviv ou partindo da cidade.
Amit Ben-Natan, passageira de um voo da El Al que partiu de Nova York na
semana passada, disse que a decolagem foi atrasada por vários e
repetidos pedidos de homens ultra-ortodoxos para que passageiras fossem
transferidas para outros assentos.
"Algumas pessoas ficaram em pé nos corredores e se recusavam a ir para
frente", ela disse ao site Ynet. "Embora todos tivessem bilhetes com
assentos numerados que tinham comprado com antecedência, pediram que
trocássemos de assentos com eles e chegaram a oferecer dinheiro, porque
não podem sentar-se ao lado de uma mulher. Evidentemente, o avião não
podia decolar enquanto houvesse pessoas em pé nos corredores."
Outra passageira no voo, identificada apenas como Galit, disse que
passageiros ultra-ortodoxos sugeriram que ela e seu marido se sentassem
separados para se adaptar às exigências religiosas deles. Galit se
negou, mas disse: "Acabei sentada ao lado de um homem haredi que se
levantou do assento assim que a decolagem terminou e ficou em pé no
corredor."
Num voo diferente, Elana Sztokman, diretora executiva da Aliança
Feminista Judaica Ortodoxa, recusou um pedido de mudar de assento, com
isso desencadeando "negociações frenéticas" entre homens ultra-ortodoxos
e funcionários da companhia aérea.
"O que me aconteceu nesse voo não foi diferente do que acontece em quase
todos os voos", ela contou à rádio Voz de Israel. "Você embarca, e o
avião está prestes a decolar, mas um grupo inteiro de homens
ultra-ortodoxos começa a fazer confusão, andando de um lado a outro,
cochichando, indo para lá e para cá para tentar encontrar assentos
diferentes. Qualquer pessoa que já tenha viajado na El Al já passou por
isso."
Sharon Shapiro, de Chicago, é a organizadora da petição online, que até a
manhã da terça (30 de setembro) já tinha cerca de mil assinaturas. Ela
disse que "não é certo que as passageiras sejam intimidadas ou
molestadas. Pedir com educação é uma coisa, mas, se a pessoa diz 'não',
não é certo que ela seja pressionada."
Mas ela acrescentou que o dilema que se coloca para os judeus
ultra-ortodoxos é genuíno. "A maioria das pessoas não entende que não é
uma questão pessoal, é literalmente a lei religiosa."
Para Shapiro, as companhias deveriam buscar uma maneira de atender às
exigências religiosas dos passageiros sem infringir os direitos civis de
outros. "Não sei bem por que a El Al pede que os passageiros resolvam
essa questão, eles próprios. Seria melhor se as pessoas pudessem
embarcar no avião sabendo que iriam sentar-se em um lugar onde ficariam à
vontade. Senão, isso aumenta as tensões e os mal-entendidos entre
religiosos e seculares."
A petição diz: "Se um passageiro agredisse os funcionários da companhia
aérea verbal ou fisicamente, seria retirado do avião imediatamente. Se
um passageiro praticasse discriminação racial ou religiosa abertamente
contra outro passageiro ou contra um comissário de bordo, seria retirado
do avião imediatamente. Então por que a El Al permite a discriminação
de gênero contra as mulheres?"
"Por que a El Al permite que passageiras mulheres sejam assediadas e
intimidadas para deixar os assentos pelos quais pagaram e que lhes foram
designados pela El Al? Os direitos religiosos de uma pessoa não valem
mais que os direitos civis de outra pessoa."
A petição sugere que a El Al reserve algumas fileiras de assentos
segregados, que poderiam ser comprados com antecedência por um valor
mais alto.
Entre os comentários postados no change.org, Judith Margolis, de
Jerusalém, ponderou: "O comportamento que envolve o assédio de mulheres
em nome da observância religiosa é ultrajante. É inaceitável que
companhias aéreas deixem alguns passageiros perturbar os voos."
Myla Kaplan, de Haifa, comentou: "Não me sinto mais à vontade em voar
pela El Al, devido ao bullying, aos atrasos e à humilhação geral de ser
solicitada a vagar um assento que reservei de antemão".
Em comunicado, a El Al disse que faz "todos os esforços possíveis para
garantir a tranquilidade dos voos, o cumprimento dos horários e a
chegada ao destino em segurança. A El Al se compromete a responder a
cada queixa recebida, e, se constatar que há possibilidades de melhora
no futuro, essas sugestões serão levadas em consideração."
Passageiras mulheres em voos de outras companhias, como British Airways e
EasyJet, que chegam ou partem de Israel, já foram instadas a trocar de
assento a pedido de judeus ultra-ortodoxos.
Algumas companhias fecham os
banheiros durante certos períodos durante os voos para que os homens
possam reunir-se para orar.
A indignação quanto aos voos acontece contra um pano de fundo de
iniciativas da comunidade ultra-ortodoxa israelense de impor às mulheres
regras de vestimenta, restrições a onde podem sentar-se nos ônibus
públicos, filas segregadas nos caixas de supermercados e a remoção das
imagens de mulheres em outdoors publicitários.
Sztokman -cujo voo aconteceu depois de um giro que ela fez pelos EUA
para divulgar seu novo livro, "The War on Women in Israel: A Story of
Religious Radicalisation and Women Fighting for Freedom" (A guerra às
mulheres em Israel: uma história de radicalização religiosa e mulheres
que lutam pela liberdade)-disse que esse tipo de exigência aumentou nos
últimos dez anos.
"Muito do que estamos vendo hoje tem a ver com apagar os rostos de
mulheres da esfera pública, deletar seus nome de artigos de jornal, não
deixar que elas falem nas rádios. É toda uma gama de práticas de
exclusão e degradação de mulheres, que vem se agravando muito."
Tradução de CLARA ALLAIN