sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Sobre o post anterior....Roque vai ao ponto, como sempre.

No jornal Tribuna do Planalto, uma explicação para o conúbio peto-tucano, no caso do Senado e da Câmara...que família!

‘Tucanos e petistas são primos’

Um dos fatores que levaram o PSDB de Geraldo Alckmin à derrota na última eleição presidencial é o fato deles (tucanos) nada terem a opor, de fato, ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Quem analisa é o professor de filosofia da Unicamp Roberto Romano, uma das mentes mais lúcidas do pensamento político nacional. Para ele, PT e PSDB são "primos" na política, com vários pontos de aproximação. Na entrevista a seguir, concedida na sexta-feira, 26, à Tribuna do Planalto, o professor aborda, entre outros assuntos, o desgaste que vem sofrendo a palavra "ética" e as conseqüências disso para a sociedade brasileira. Romano avalia que o presidente Lula é "o maior propagandista de si mesmo que seu partido conhece". Para ele, a recente frase de Lula, que colocou "pessoas esquerdistas com mais de 60 anos como problemáticas" é uma banalização proposital dos termos. "A divisão esquerda/direita é complexa. Lula a simplifica em proveito próprio", diz Romano. O professor diz, também, que é preciso que haja oposição de verdade no Brasil. "Se não for possível vislumbrar o crescimento da oposição (qualquer oposição), pode-se dizer que não há futuro democrático para o Brasil", pontua.

Eduardo Horácio, entrevistador.


São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2009



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Decisão de comitê contradiz todas as alegações de Tarso

Órgão do ministério afirmou que temor de perseguição a Battisti não se sustenta

Decisão do ministro, que tem poder para rever as determinações do Conare, contrariou tudo o que o órgão havia argumentado

ANDRÉA MICHAEL
FELIPE SELIGMAN
LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em um documento de 16 páginas, os integrantes do Conare (Comitê Nacional para os Refugiados) justificam a negativa de status de refugiado a Cesare Battisti afirmando que Justiça italiana é democrática e respeita os direitos humanos, que não há "nexo causal" entre a perseguição alegada por ele e o pedido de refúgio e que não caberia ao órgão, vinculado ao Ministério da Justiça, definir se os crimes atribuídos a ele foram ou não "políticos".
A Folha teve acesso ao processo sigiloso do comitê -ontem o Supremo Tribunal Federal pediu uma cópia dessa decisão. Os argumentos do documento foram ignorados por completo pelo ministro Tarso Genro (Justiça), que reverteu o entendimento do órgão e concedeu o refúgio a Battisti.
O Conare é um órgão interministerial formado por conselheiros de diversas áreas do governo e da sociedade civil. Suas deliberações, conforme prevê a lei, podem ser revistas pelo ministro da Justiça -como ocorreu com Battisti. Mas isso é raro: desde a criação do comitê, em 1998, houve revisão em só 25 de 2.026 casos de refúgios.
A decisão do Conare de negar o pedido de refúgio a Battisti ocorreu em novembro, mas não foi unânime. De cinco conselheiros, três optaram pela negativa e dois pela concessão do refúgio. Votaram contra Luiz Paulo Barreto, presidente do comitê e secretário-executivo do Ministério da Justiça; Gilda Santos Neves, do Itamaraty; e o delegado Antônio Carlos Lessa, da PF, outro órgão subordinado ao ministro.
O principal argumento apresentado por Tarso é que o italiano "possui fundado temor de perseguição por suas opiniões políticas". Para os conselheiros do Conare, porém, "não há como considerar que na Itália não vige um sistema jurídico capaz de resguardar a vida daqueles que cumprem pena em seus cárceres". Acrescenta que o país é democrático, com o funcionamento normal de suas instituições, e que não há violações aos direitos humanos.
Os argumentos de Tarso, se comparados à decisão do Conare, representam mudança radical na interpretação dos fatos. O ministro afirma que a situação de Battisti na França, onde viveu por mais de uma década, foi alterada com "a mudança de posição do Estado francês, que havia lhe conferido guarida". A França concordou com sua extradição.
Já o Conare entendeu o contrário. "Se for feita uma análise real da situação do senhor Cesare Battisti, verifica-se que o mesmo foge da condenação desde 1981." E mais: "A Justiça italiana buscou a sua extradição desde o início, perpassando por diversos governos".
Em sua decisão, Tarso cita pensadores como Norberto Bobbio e Hannah Arendt, mas pouco se atém às decisões judiciais da Itália, referendadas anos depois na França e pela Corte Europeia de Direitos Humanos. O Conare reproduz despacho do último tribunal, no qual o italiano teve "direito de defesa e estava informado sobre a acusação contra ele".
O Conare se nega a avaliar se são políticos os crimes atribuídos a Battisti, dizendo ser essa "competência exclusiva" do STF, diz que não cabe a ele "instaurar" novo julgamento e atesta a legalidade do processo.

Quanto às pressões da Itália para que o Brasil extraditasse Battisti, que agora tanto tem incomodado autoridades brasileiras, os conselheiros do Conare concluíram que a atitude era um "direito legítimo de qualquer Estado que pretende ver cumpridas as suas decisões, como o faz da mesma maneira o governo brasileiro, sem que se caracterize constrangimento à soberania de outros país".


São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2009




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Texto do Conare é contraditório, diz ministro

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Justiça, Tarso Genro, disse ontem que a decisão do Conare que negou o pedido de refúgio a Cesare Battisti, em novembro, tem "contradições" e deixa dúvidas sobre a concessão do status ao italiano.
Ele disse ainda que é "perfeitamente natural" a radical mudança dos argumentos do comitê para sua decisão: "Trata-se de interpretação de fatos e conexão deles com a lei. Isso ocorre todos os dias no Poder Judiciário", disse por telefone de Belém, onde participa do Fórum Social Mundial. "Toda reforma de sentença é radical."

Ele se disse descontente com a decisão do Conare, ligado ao Ministério da Justiça e presidido pelo secretário-executivo de sua pasta, Luiz Paulo Barreto.

"Os fundamentos do Conare não estão devidamente conectados com a lei. Foi essa a conclusão a que cheguei." A principal diferença entre uma decisão e outra é sobre o "nexo causal" entre o pedido de refúgio e a perseguição alegada por Battisti, que ele julgou existir, mas que teria sido desconsiderada pelo comitê. "Quando existe dúvida, o Conare deveria decidir em sentido contrário, porque a dúvida beneficia a pessoa que está em busca do refúgio."
Ele também falou sobre o futuro do caso Battisti, agora sob responsabilidade do Supremo Tribunal Federal, no qual tramita processo de extradição solicitado pela Itália. Tarso entende que, se a Corte aplicar os mesmos critérios adotados em outros pedidos semelhantes, sua decisão será mantida.
"Se o STF disser que a decisão administrativa não interrompe o processo de extradição, a consequência é que o refúgio não será mais uma prerrogativa do Executivo, passará a ser do Judiciário". O ministro defende a atual lei, que considera correta: "Decidindo isso, todos os refúgios podem ser decididos pelo STF. Será uma inovação em relação a toda a tradição jurídica do país".

A Constituição dá ao presidente da República o poder de autorizar ou não a extradição de estrangeiros, independentemente da decisão do Supremo.

São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2009




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Dez testemunhas embasaram condenação

Decisões das Justiças da Itália e da França e da Corte Europeia mostram que foi assegurado ao italiano amplo direito de defesa

Tarso havia argumentado que condenação foi baseada em um único depoimento e dito ter "profunda dúvida" sobre o processo legal


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A análise de cinco decisões proferidas pelas Justiças da Itália e da França e pela Corte Europeia de Direitos Humanos, relacionadas a Cesare Battisti, revela que sua condenação à prisão perpétua pela prática de quatro homicídios teve como base o depoimento de pelo menos dez testemunhas e também que a ele foi assegurado amplo direito de defesa ao longo dos processos judiciais.
A Folha obteve cópia dos documentos, que fazem parte do processo, em tramitação no STF (Supremo Tribunal Federal), no qual o governo italiano pede ao Brasil a extradição de Battisti pela prática de crimes comuns, que pela legislação nacional seriam hediondos.
As decisões não convenceram o ministro da Justiça, Tarso Genro, que concedeu status de refugiado ao italiano por entender que há "fundado temor de perseguição" política e "profunda dúvida" de que o julgamento do ex-militante de extrema esquerda seja fruto do devido processo legal.
Na decisão do Tribunal de Apelação de Milão, que em 1990 confirmou decisão na qual Battisti foi condenado à prisão perpétua pela prática de quatro assassinatos em situação de crime comum, são citados os depoimentos de pelo menos dez testemunhas, além do também militante Pietro Mutti, bem como dados colhidos em investigações policiais ocorridas na época dos fatos.
Para Tarso, no entanto, as condenações do italiano foram baseadas "em uma testemunha de acusação", em referência a Mutti, que, como Battisti, militava no movimento terrorista de esquerda PAC (Proletários Armados pelo Comunismo). O ministro acusou a falta de provas periciais que justificassem a condenação.
Ao ler a decisão judicial e entrevistar ontem o juiz que investigou o caso na época, o hoje procurador-adjunto da cidade de Turim, Pietro Forno, a reportagem identificou as seguintes testemunhas que, mediante benefícios da lei de delação premiada, contribuíram com informações para os processos que levaram à condenação de Battisti: Maria Cecilia "Barbetta", Enrico "Pasini Gatti", Marco "Barbone", Maurizio "Ferrandi", Santo "Fatone", Marco "Donat-Cattin", Antonio "Cavallina", Maurizio "Mirra", Giuseppe "Memeo" e Marina "Premoli".
Em sua maioria, eram integrantes da organização Prima Linea, que acolheu militantes do PAC após sua extinção.
Maria Cecilia Barbetta, por exemplo, contou que "soube do [próprio] Cesare Battisti do homicídio de [Antonio] Santoro, ou melhor, de sua participação no homicídio do Santoro, muito tempo depois do fato". Ela disse ainda que Battisti "falava sobre a impressão que se sente ao disparar em uma pessoa, ao ver sair o sangue".
Agente penitenciário, Santoro, a primeira das quatro pessoas assassinadas por Battisti, segundo a Justiça italiana, foi morto a tiros na cidade de Udine, em 6 de junho de 1978.
A morte do também policial Andrea Campagna, em Milão, no dia 19 de abril de 1979, teve como testemunha o militante Santo Fatone. De acordo com o procurador Forno, Fatone atuava com Battisti no PAC e seu testemunho foi fundamental para elucidar o caso.
Disse Fatone à Justiça: "A preparação do homicídio foi efetuada pelos companheiros que ficaram em Milão, ou seja, Battisti, [Giuseppe] Memeo, Lavazza, Bergamin e La Marelli, e pessoas próximas a Memeo que não saberei precisar".
Ainda sobre o assassinato de Campagna, constam da decisão do Tribunal de Apelação de Milão referências a "investigações da polícia realizadas logo após o delito" e relatos "prestados por testemunhas inquiridas na imediação dos fatos". Os dados colhidos coincidem com o depoimento de Mutti.
Os dois outros homicídios atribuídos a Battisti ocorreram em 16 de fevereiro de 1979 e vitimaram o açougueiro Lino Sabbadin e o joalheiro Pierlugi Torregiani.


França

Para derrubar na Justiça francesa a concessão de sua extradição para a Itália, Battisti disse ser vítima de perseguição política e que não lhe fora assegurado direito a defesa.
Ambos os argumentos foram refutados pelos magistrados franceses em três instâncias judiciais. Para o Conselho de Estado (segunda instância), Battisti "não tem motivos para afirmar que a extradição tenha sido pedida com finalidades políticas" e "beneficiou-se em todas as fases de um processo longo e complexo da defesa de advogados por ele escolhidos".
Diantes das negativas da Justiça francesa, Battisti recorreu à Corte Europeia de Direitos Humanos, em Estrasburgo (França). Novamente teve refutados os seus argumentos e confirmada a extradição, em 12 de dezembro de 2006, quando já vivia clandestino no Brasil.
A corte entendeu que era lícito "concluir que o requerente [Battisti] tinha renunciado de maneira inequívoca a seu direito de comparecer pessoalmente e de ser julgado em sua presença".

(ANDRÉA MICHAEL, FELIPE SELIGMAN E LUCAS FERRAZ)



quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

É bom prestar atenção ao esclarecimento sobre a "doutrina Mitterand", só os que não tivessem assassinado...a entrevista toda é excelente.

"Je voudrais souligner, cependant, que la fameuse «doctrine Mitterrand» prévoyait d'offrir l'asile politique aux ex-terroristes italiens à certaines conditions très précises: qu'ils n'aient pas commis d'assassinats, qu'ils n'aient pas de condamnations définitives et qu'ils s'engagent à ne pas commettre d'actes terroristes en France. Je ne pense pas que l'on puisse invoquer l'hospitalité traditionnelle de la France pour permettre à un assassin de se soustraire à la justice."




Armando Spataro

«La culpabilité de Battisti repose sur des preuves»

Propos recueillis par notre correspondante à Rome Vanja Luksic, publié le 15/03/2004 - mis à jour le 12/03/2004

Procureur adjoint de Milan, Armando Spataro a participé au procès de l'ex-terroriste italien. Il dénonce la manipulation de l'opinion française

A Paris, les intellectuels se mobilisent pour Cesare Battisti. A Rome, la justice le considère comme un terroriste et un assassin. Que lui reprochez-vous exactement?

Il y a une incroyable désinformation autour de Battisti, en France. Je parle de l'opinion publique, pas de la justice française, dont je respecte absolument les décisions. Battisti a été condamné en Italie, de façon définitive, pour une série de délits tels que «participation à bande armée», «recel d'armes», «hold-up». Mais, surtout, il a été condamné à la détention perpétuelle pour quatre homicides. Il a matériellement commis deux d'entre eux, il a participé au troisième. Il n'était pas présent sur les lieux du quatrième, mais c'est lui qui l'avait décidé. Voilà ce qui explique le fameux mystère des deux meurtres, commis au même moment dans deux villes différentes, Milan et Venise, le 16 février 1979. C'est le principal argument pour présenter Battisti comme une innocente victime de la justice italienne.

On dit aussi que ses condamnations ne reposent que sur des aveux de «repentis» peu crédibles.

Sa culpabilité repose sur des confessions et des preuves solides. On sait qu'il a tué. Et, de plus, le groupe terroriste dont il était l'un des responsables, les PAC (Prolétaires armés pour le communisme), était à la limite de la délinquance de droit commun. C'est d'ailleurs pendant qu'il purgeait une peine de prison pour des infractions de droit commun que Cesare Battisti est entré en contact avec des terroristes.

Les PAC ont tué par mesure de rétorsion. Ils se vengeaient des personnes qui, au cours d'un hold-up, s'étaient défendues ou avaient tué leurs agresseurs. Ce fut le cas du bijoutier Pierluigi Torregiani, à Milan, et du boucher Lino Sabbadin, à Venise. Les deux assassinats avaient été organisés le même jour et revendiqués ensemble pour rendre plus spectaculaire la leçon que les PAC voulaient donner à ceux qui «auraient dû laisser agir les prolétaires contraints à voler pour survivre».

Le carabinier et le policier tués par Battisti (en 1978 et en 1979) l'ont été pour les mêmes raisons. L'un, gardien de prison, était accusé d'avoir malmené un détenu membre des PAC et l'autre avait eu la malchance de participer à l'enquête sur le bijoutier de Milan. C'était la justice prolétarienne!

En 1991, la France avait refusé l'extradition de Cesare Battisti parce qu'il avait déjà été jugé en Italie, par contumace, et que l'Italie ne rejuge pas les personnes condamnées en leur absence.

C'est ce qu'on lit dans les journaux. En réalité, il s'agissait, à l'époque, d'une question purement formelle, un problème de procédure. La demande d'extradition avait été faite avant le jugement. Or, entre-temps, le jugement définitif avait été prononcé, ce qui nécessitait un autre type de requête. De toute façon, le jugement par contumace est irréprochable lorsqu'il obéit à certaines règles, comme c'est le cas chez nous et comme l'a reconnu, récemment, la Cour de justice européenne de Strasbourg. En effet, le procès s'est déroulé en présence de l'avocat choisi par Battisti lui-même. De plus, au début de l'audience, en 1981, Battisti était là. On ne peut pas dire que le procès a eu lieu à son insu. Je me souviens même qu'on avait dû l'expulser parce qu'il menaçait les juges... Après, il a réussi à s'évader.

En France, on accuse la «justice de Berlusconi» et celle des «chemises noires» de s'acharner contre lui.

C'est absolument ridicule. Je vous rappelle que notre chef du gouvernement désigne par l'expression «les toges rouges» ceux qui ont condamné Battisti. Nous aimerions le voir extradé tout comme nous aimerions obtenir l'extradition du terroriste d'extrême droite Zorzi, réfugié au Japon.

Battisti est loin d'être le seul ex-terroriste italien réfugié en France. Ne faudrait-il pas trouver, après toutes ces années, une solution?

Certainement, mais cela concerne les politiques et pas les magistrats. Je voudrais souligner, cependant, que la fameuse «doctrine Mitterrand» prévoyait d'offrir l'asile politique aux ex-terroristes italiens à certaines conditions très précises: qu'ils n'aient pas commis d'assassinats, qu'ils n'aient pas de condamnations définitives et qu'ils s'engagent à ne pas commettre d'actes terroristes en France. Je ne pense pas que l'on puisse invoquer l'hospitalité traditionnelle de la France pour permettre à un assassin de se soustraire à la justice.



O Estado de São Paulo, na resenha do Itamaraty.

Brasil - um País de todos
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Resenha de imprensa nacional


Notícias mais recentes

Noticiário - Seleção Diária de Notícias Nacionais - 29/01/2009

O Estado de São Paulo

Assunto: Nacional
Título: 1c ''Concessão de refúgio é atuação partidária''
Data: 29/01/2009
Crédito: Daniel Bramatti

Daniel Bramatti

Para Roberto Romano, doutor em filosofia pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (França) e professor da Universidade Estadual de Campinas, a concessão do refúgio político a Cesare Battisti foi ideológica e partidária. A seguir, trechos de entrevista concedida por telefone:

O governo agiu certo ao conceder o refúgio político a Battisti?

Não. Neste episódio, como tem sido a norma no governo Lula, o Brasil abriu mão de sua tradição diplomática. O Itamaraty sempre teve pauta independente do presidente, sobretudo de sua ideologia. Em vez de diplomacia, houve atuação partidária em escala internacional.

O sr. acha que o ministro Tarso Genro fez um juízo de valor indevido sobre o Judiciário italiano ao dizer que Battisti não teve direito a ampla defesa?

Sim. Foi um juízo não fundamentado na leitura do processo, inclusive do processo histórico. Ao julgar um indivíduo, não se pode olhar apenas os papéis, é preciso ver o contexto. Aquela facção (Proletários Armados pelo Comunismo) estava, na época, em guerra, praticando assaltos a banco e uma série de atividades ilegais que não cabem no sistema democrático.

Como o sr. avalia a reação das autoridades italianas?

Mesmo em se tratando de um processo que, da parte brasileira, foi profundamente desastrado, a reação de parte da imprensa italiana, da opinião pública e do próprio governo me pareceu em um tom demasiado elevado. Deveria haver mais frieza por parte da Itália em relação ao Brasil. Na opinião pública italiana havia uma avaliação demasiadamente positiva de Lula e de seu governo. Então a decepção trouxe essa acidez, que no meu entender é excessiva, inclusive em termos diplomáticos.

Há outros casos de italianos envolvidos na luta armada que ficaram no Brasil por decisão do Supremo Tribunal Federal. O sr. acha que Battisti teria sido extraditado se a decisão ficasse nas mãos do STF?

Creio que sim. O Supremo é uma corte com pessoas altamente gabaritadas, algumas nomeadas pelo atual presidente da República, mas que têm mostrado autonomia nos julgamentos. Apesar de a lei dizer que o Poder Executivo pode conceder o refúgio, a prudência recomendava ouvir a maior autoridade judiciária do País.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

CARL SCHMITT, O RETORNO NOS DESPACHOS OFICIAIS.

ASSISTO NESTE MOMENTO UMA ENTREVISTA DE TARSO GENRO A ALEXANDRE GARCIA (ESPAÇO ABERTO, GLOBONEWS). O ARGUMENTO CENTRAL DO MINISTRO, SEGUNDO ELE MESMO, EM SEU DESPACHO FAVORÁVEL AO REU ITALIANO, É A TESE JURÍDICA DE QUE "O ESTADO DE DIREITO CONVIVE COM O ESTADO DE EXCEÇÃO". OU SEJA, VIA AGAMBEN, O VELHO CARL SCHMITT RETORNA À ATIVA. ASSIM, PERCEBEMOS QUE IMPORTA MESMO, LER CARL SCHMITT E SEUS PROPAGANDISTAS.

O ESTADO DE EXCEÇÃO MOSTRA SEUS SINAIS PRECURSORES . COMO ESCREVE JEAN PIERRE FAYE, A LINGUAGEM DA ESQUERDA SE ENCONTRA COM A FALA MANTIDA PELA DIREITA E VICE VERSA. CARL SCHMITT, APÓS SERVIR PARA ALICERÇAR O NAZISMO, TEM SUA "MISSÃO" RETOMADA NO BRASIL, EM OUTRO CENÁRIO E OUTRA IDEOLOGIA. MAS É SEMPRE O MESMO RESSENTIMENTO CONTRA O PENSAMENTO LIBERAL E CONTRA O ESTADO DE DIREITO.

GENRO AFIRMA AINDA QUE A MAIOR PROVA DE QUE O ESTADO DE DIREITO CONVIVE COM O ESTADO DE EXCEÇÃO É A DESATIVAÇÃO DE GUANTÁMANO PELO NOVO PRESIDENTE DOS EUA. RACIOCÍNIO TURVO. O QUE GUANTANAMO E LEIS COMO O ATO PATRIÓTICO PROVAM É QUE O ESTADO DE DIREITO ESTAVA SENDO MINADO POR GOVERNOS QUE NÃO ACEITAM, JUSTAMENTE, O ESTADO DE DIREITO LIBERAL.

TARSO FAZ UMA TRANSLATIO DE SENTIDOS E DE PAÍSES. SE ACEITARMOS SUA PETIÇÃO DE PRINCÍPIO, A ITÁLIA É UM PAÍS SEMI DEMOCRÁTICO E SEMI DITATORIAL. ASSIM COMO OS EUA. E O BRASIL DE GENRO? É EXATAMENTE O QUE, NESTE MOMENTO? DIREITO OU EXCEÇÃO ? O TERRENO ESTÁ SENDO PREPARADO, PODEMOS CRER, PARA A EXCEÇÃO. TRISTE POLÍTICA NACIONAL.

RR

Os santos do poder petista, com seu exemplo dignificante.













Quando o Magistrado Supremo age como Pedro Malazartes, meu Deus, o que esperar dos que colaboram para a "Grande Obra"? Que descalabro! E ainda mais, sob o nome de um ecologista...
Segue o Garotinho de Ouro para os que se julgam "otoridade"acima, como seu Líder, da lei e do acatamento aos direitos humanos. É a política no modelo de Berzoini.Quem recorda os velhinhos jogados na rua, com a obrigação de "provar" sua existência para o arrogante do petismo ditatorial?

UOL on Line, imagens


Alan Marques/Folha Imagem

No Palácio do Planalto

Carros oficiais ocupam vagas de deficientes no estacionamento

De Paulo Araújo...

Caro
Gosto de folhear e procurar ao acaso algum poema do Fernando Pessoa. Hoje pela manhã eu me detive nesta frase "O que há em mim é sobretudo cansaço". Li agora o post Shijitsu No Seishin, que me revigorou.
Abs.
Álvaro de Campos
O Que Há
O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço..

Excelente post de Marcos Otterco. Ajudou a pensar, com paz de vontade.

Quarta-feira, 28 de Janeiro de 2009

Shijitsu No Seishin

Shijitsu (sinceridade) - Um dos fudamentos das artes marciais
"Lutador é aquele que briga só pelo prazer de brigar,
O homem justo é aquele que briga porque é necessário"

Provérbio Japonês

Ontem o Hamas, como usualmente faz, quebrou mais uma vez o acordo de cessar-fogo e matou um militar israelense com um atentado à bomba, além de disparar novamente mísseis contra Israel. Por sua vez e dentro de seu direito, Israel respondeu aos ataques bombardeando os túneis que levam contrabando, especialmente de armas, para o Hamas na Faixa de Gaza.

Ficou claro, especialmente na declaração dos próprios líderes do Hamas, que Israel está fazendo uma guerra contra o Hamas e atacando pontos estratégicos, como os túneis e depósitos com o arsenal do Hamas. Israel possui um dos melhores exércitos do planeta, se não fosse assim, já teria deixado de existir faz tempo. Já o Hamas e seus similares atacam a esmo, o que acertar estará de bom tamanho. O importante é matar judeus.

Escrevi essa ‘introdução’ para falar sobre sinceridade. Como dialogar ou negociar com quem quebra sua palavra e seus acordos sistematicamente? Como negociar com outra parte se você não tem nada para oferecer, a não ser a sua própria aniquilação?

Barack Obama deu uma entrevista recente para uma rede de televisão árabe na qual afirmou que os Estados Unidos não são inimigos dos mulçumanos. Até ai tudo bem e ele agiu corretamente em reforçar essa mensagem, pois no oriente o mundo islâmico prega isso como uma verdade incontestável. Porém voltou a afirmar que está disposto a negociar com o Hamas e com Irã. Embora reconheça o Hamas como o que ele é, uma organização terrorista. Aqui faltou sinceridade.

Não me tome pelo Apedeuta, mas farei um paralelo com arte marcial agora. Quando você entra em um Dojo ou em uma academia, a primeira coisa que lhe ensinam é como ser sincero durante um treino, ou mesmo em um combate. Isso significa que devemos desferir nossos ataques com a intenção certa de atingir o nosso oponente, mesmo em treinos. Se durante um treino eu desfiro um soco ou um chute que passa ao lado de meu adversário, estou incorrendo em três faltas graves: primeiro estou subestimando sua capacidade de se esquivar ou reverter o meu golpe, portanto, estou sendo arrogante e prepotente. Em segundo lugar, não estou sendo sincero em minhas intenções e realizando uma falsa simulação, meu parceiro de treino nunca saberá se sua técnica é eficaz para sair dessa situação em um combate real e não terá chance de aprimorá-la comigo. Além de ser um mau parceiro de treino, estou sendo egocêntrico, pois acredito que apenas eu consigo realizar uma esquiva ou reversão satisfatória. Em terceiro lugar estou ofendendo meu parceiro de treino, pois tal atitude é considerada desrespeitosa, ofensiva e deselegante para com ele e para com meus senseis, mestres e mesmo para meu Dojo ao pressupor que escolheram um parceiro que não possui nível adequado para praticar comigo, portanto sendo orgulhoso e nada humilde. Em um combate real, a falta de sinceridade em meus ataques ou em minhas intenções, fatalmente me conduzirá a derrota.

Obama está fazendo o mesmo. Ele está subestimando o Irã e os fundamentalistas islâmicos, está creditando a si muita fé ao crer que resolverá com diplomacia com partes que não honram suas palavras ou são desonestas com seus interlocutores. O Irã já disse o que pensa de Israel e o que pretende, isso desde os tempos do aiatolá Khomeini. A região toda já deixou bem claro quais são os seus planos para com Israel.

A única coisa que o Irã e Ahmadinejad desejam dos Estados Unidos é urânio e tecnologias para construir bombas atômicas, para ameaçar Israel, seus vizinhos e o mundo com seu arsenal nuclear. Para o Hamas a única coisa que interessa é varrer Israel do mapa e se der o próprio Estados Unidos.

Obama está fazendo jogo de cena? É provável que sim, se eu sei disso, ele certamente sabe disso e muito mais. Mas tal atitude é deplorável, pois carece de sinceridade. Goste ou não, os Estados Unidos da América ainda são o país mais importante do mundo em termos tecnológicos, científicos, culturais, militares e até econômicos, mesmo com a crise, continuam sendo a primeira economia do mundo. E uma crise nos Estados Unidos afeta o mundo todo. São um império desde 1950 e Obama deve tomar posições em certos assuntos. O Oriente Médio é um deles.

Não dá para presidir um Império e não agir como um. Isso demonstra falta de sinceridade entre outras coisas. Mais uma vez isso é fruto de inúmeras coisas, mas principalmente do mito criado sobre sua pessoa. A pior parte foi que ele acreditou.

* Shijitsu No Seishin (Sinceridade no Espírito) era um dos fundamentos ensinados aos samurais em sua arte Daito Ryo Aikijutsu. Hoje é usado por suas artes sucessoras como o Kenjutsu, Aikido e Karatê.

No Blog Panorama de Mário Araújo Filho

Vestindo-se para o Fórum Social Mundial


Charge do Paixão

O circo pornográfico, Berlusconi e seus pares.

Dcclaração de Berlusconi sobre estupro gera críticas

Conhecido por suas gafes, o premiê Silvio Berlusconi tem sido criticado mais uma vez por um comentário sobre uma onda de estupros em algumas cidades do país. Questionado sobre o uso de tropas federais para conter a violência sexual, o premiê saiu-se com essa: "Não poderíamos recrutar uma força grande o suficiente para evitar este risco. Teríamos de ter tantos soldados quanto meninas bonitas. Não acho que conseguiríamos". Nem mesmo a ministra da igualdade, Vittoria Franco, perdoou o premiê : "Ele foi insolente e disse coisas ofensivas às mulheres (...) Berlusconi está dizendo que as mulheres que saem de casa correm o risco de ser estupradas ou atacadas porque não é possível deixar o país seguro". Em Roma e na Sardenha, ilha do Mediterrâneo, foram registrados mais de 60 casos no último mes, quase 30% a mais do que a média.

Jornal Destak, São Paulo, 27/01/2009, p. 06.

Comentário:

1) Maluf diz "estupra mas não mata".

2) Marta Suplicy diz "relaxa e goza".

3) Lula diz : "emprenhei a galega, porque pernambucano não faz por menos".

4) Berlusconi diz que a culpa do estupro encontra-se nas meninas bonitas.

Agora digam: tinha eu razões, ou não, para denominar um artigo meu, que serviu para processo, dores de cabeça, insultos etc, "O prostíbulo Risonho"?

É assim: declaração de políticos, nacionais e estrangeiros, deveria ser posta em papel negro, ou ser cortada no ar, proibida para menores de 90 anos, e para os que teriam mais, só acompanhados pelos genitores. E esta não é a pior pornografia dos políticos....

RR


E no Blog Perolas, de Alvaro Caputo...


VERDADE, HONRA, VERGONHA

Maria Lucia Victor Barbosa

28/01/2009

Nosso relativismo moral vem de longe. É obra cumulativa de séculos. A acachapante aprovação nacional de Lula da Silva, sem contar com sua eleição e reeleição, demonstra que já chegamos aos píncaros das conseqüências históricas com requintes de caos. E diante do que se passa na atualidade, lembremos de Gregório de Matos e Guerra (1636-1696) advogado e poeta, alcunhado Boca do Inferno ou Boca de Brasa. Em Epílogos, ele retrata a paisagem moral de Salvador, Bahia, nossa capital na época colonial. Mudando a palavra cidade para país, teremos a paisagem moral atual em alguns dos versos do poeta:

Que falta neste pais? Verdade.

Que mais por sua desonra? Honra.

Falta mais que se lhe ponha? Vergonha”.

“O demo a viver se exponha,

Por mais que a fama o exalte,

Num país onde falta

Verdade, honra, vergonha”.

Nunca nos faltou tanto verdade, honra, vergonha. Convivemos alegremente com “mensaleiros”, sanguessugas, transportadores de dólares em cuecas e até os reelegemos. Somos antiamericanistas doentes, mas volta e meia vamos aos Estados Unidos para fazer turismo, comprar, estudar, trabalhar, cuidar da saúde, além dos milhões de brasileiros que partem em busca da América, América e lá permanecem clandestinos, mas ganhando o que jamais ganhariam aqui. Odiamos os judeus porque preferimos o Hamas dos Palestinos. Como bons latino-americanos somos de esquerda e por isso idolatramos Fidel Castro, não importando ser ele um ditador implacável que nunca respeitou os direitos humanos. Se Lula da Silva, o grande pai de seu povo, põe o Brasil de joelhos diante de Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa, Fernando Lugo, Cristina Kirchner, nos inclinamos também perante as lideranças populistas que infestam a América Latina sempre imersa em sua mentalidade do atraso, em suas mazelas, em seus fracassos. A corrupção faz parte de nossa história e aprovamos governos corruptos ao dizer que se estivéssemos lá faríamos as mesmas coisas. Afinal, somos espertos, malandros e nossa satisfação em passar os outros para trás não tem limites. Indiferentes ou ignorando o que ocorre no Congresso Nacional ou no âmbito da Justiça seguimos cantando o samba de Zeca Pagodinho que nosso presidente da República tanto aprecia: “Deixa a vida me levar”. Futebol, carnaval e Big Brother são nosso alimento espiritual. Acreditamos que o MST é um movimento social pacífico que não esbulha proprietários rurais destruindo maquinário, roubando gado, pilhando, queimando sedes de fazendas. Do mesmo modo admiramos as sanguinárias Farcs, idealizadas como heróicas e defensoras do povo colombiano.

No momento dois fatos empolgam os noticiários. O primeiro diz respeito ao caso do terrorista Cesare Battisti, que a Itália quer de volta, mas que já foi perdoado por nosso ministro da Justiça com o acordo de Lula da Silva. Não devolveremos Battisti de jeito nenhum, o criminoso é nosso. Também estamos de braços abertos para receber os terroristas de Guantánamo. Aplausos para a Justiça brasileira, pois aqui o crime compensa. Do jeito que a coisa vai, pode ser que Lula da Silva crie o Ministério do Terrorismo e convide Osama Bin Laden para ministro. Seria mais uma vez delirantemente aplaudido pelo povo e seu prestígio subiria como atestado em pesquisa.

O segundo fato é relativo ao Fórum Social Mundial, que ocorre em Belém do Pará. O governo investiu milhões na festividade, inclusive, em camisinhas. Tudo pago com o dinheiro do contribuinte, ou seja, estamos financiando a esbórnia que atrai pessoas de todo o Brasil e do exterior. Presentes ao festival estarão Lula da Silva, ministros, assessores, figuras como João Pedro Stédile, além dos caudilhos Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa. Fernando Lugo, que fazem Lula sonhar com outro mandato possível. Lula não irá ao Fórum Econômico Mundial em Davos. Ficará em Belém dançando o Carimbó.

Aliás, não faltarão ao carnavalesco evento, além das camisinhas, muita cachaça e folia. Naturalmente, os participantes se posicionarão contra o capitalismo que os sustenta, contra a liberdade que permite a festividade, contra a riqueza que almejam para si. Dizem que no globalizado Fórum será dada oportunidade aos participantes, se os eflúvios etílicos permitirem, de perceberem que os problemas que assolam o mundo derivam da competição pelo poder e do acúmulo de bens materiais. Ou seja, tudo que eles mesmos fazem ou almejam. Em suas utopias delirantes as esquerdas clamarão pela volta do socialismo, nem que seja o do século XXI. E enquanto a crise avança sobre o planeta, em Belém do Pará se dançará o Carimbó, pois o tal outro mundo possível nunca foi definido nesses fóruns onde acontece de tudo, menos idéias.

Sem dúvida, esse "Fórum Socialista" faz recordar as proféticas palavras de Ortega y Gasset em A Rebelião das Massas: “A vida toda se contrairá. A atual abundância de possibilidades se converterá em efetiva míngua, escassez, em impotência angustiante, em verdadeira decadência. Porque a rebelião das massas é a mesma coisa que Rathenau chamava de ‘a invasão vertical dos bárbaros”.

No Brasil essa invasão começou faz tempo, mas diante dela nos quedamos indiferentes porque nos falta verdade, honra e vergonha ou, talvez, porque sejamos nós os bárbaros.

Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.

mlucia@sercomtel.com.br

No Blog Panorama, linka abaixo...


Ilusão de ótica

Em que direção gira a moça?

Para a direita ou para a esquerda?

Interessante: ora para a direita, ora para a esquerda...

Depende do observador...




Link



Discordo: este humor é políticamente mais do que correto, caro Marcos Otterco!

Cuidado! Humor Politicamente Incorreto!





Sobre caso do desabamento na Igreja Renascer, corre uma piada muito maldosa:


E o pastor disse:
“Se eu estiver mentindo, quero que o teto caia sobre a minha cabeça!”


Esse, certamente, é um erro que não será mais repetido em templos, congressos (especialmente no Congreço), parlamentos, câmaras, gabintes, repartições públicas...

Uma declaração pessoal.

O estilo usado na guerra ideológica e nas outras guerras me cansa, ou melhor, enjoa. Fico com nauseas porque não posso acreditar que o mundo, como tentou ensinar Mani, é apenas preto e branco.

Quando olho a natureza vejo o amarelo, o vermelho, o cinza, o verde, o azul, etc. com os seus matizes. Sinto o conforto de viver num cosmos e não por acreditar na romântica e rousseoísta "boa physis". Sei bem que a natureza é violência bruta que prossegue no animal humano.

Mas o estilo exibido nas tocaias ou em campo aberto reduz o universo noético a slogans (algo herdado tanto de Voltaire quanto de Joseph de Maistre) diminui o quadro mental às cores e formas duras. Procuro, sempre que possível, fugir da ótica maniqueísta. É claro que sempre me dei mal com a esquerda e a direita, com os católicos e protestantes, com todos os partidos e seitas.

Em situações nas quais que tive horror de mim mesmo, fui levado ao ataque pessoal, às teses como instrumento de aniquilação alheia. Não me orgulho de semelhantes recaídas, sob os ditames de Mani.

Em Araraquara ( eu ainda era um "jovem professor" de 35 anos, exilado na Unesp por decreto de uma seita imperante no Departamento de Filosofia da USP) uma aluna me perguntou qual seria o conteúdo do curso a ser dado por mim. "Maquiavel", respondi. E a réplica : "Numa universidade marxista se ensina Marx". Naqueles tempos, Marx ainda não era o "cão morto" de hoje. De bate pronto disse eu : "Errado, a universidade, pública ou particular, não pode ser marxista, católica, liberal ou macumbeira. Nela todas as expressões do pensamento humano devem e podem ser estudadas". E dei o tiro de misericórdia : "Se fosse uma universidade marxista, faria como fez Marx: nela seriam estudados Platão, Aristóteles, Vico, Adam Smith, David Ricardo, Hume, Camões, Shakespeare, etc., todos citados com rigor nos escritos de Marx".

Pensadores, por mais graves os seus erros teóricos e práticos, a partir do instante em que refletem com profundidade sobre os problemas humanos, merecem respeito. Quando alguém fala de Marx ou de Hegel (de Spinoza ou de Kant) como se fossem o padeiro da esquina, afirmando que tudo o que eles escreveram é inútil ou perigoso, tenho quase a certeza de estar diante de uma pessoa que não pondera. O mesmo sentimento surge quando alguém da esquerda diz jamais ter lido Hayek ou seus pares, mas luta contra o neo liberalismo. Daí vem a reação diante da animalidade, que de humana tem a forma talvez, mas cujo pensamento é nulo. Instintivo horror diante da carne sem espírito. Todos os que afirmam, sem pestanejar, que não leram e não gostaram de um autor filosófico, científico, historiográfico, jornalístico, jurídico, etc., no meu entender, não deveriam cumprir função alguma na cultura. Desculpem o aparente aristocratismo (ou real). Mas quem se nega a seguir os argumentos de outros e se aferra a certezas a priori é militante nazista, fascista, stalinista, maoísta, fundamentalista. Não exerce a função do pensamento.

Na graduação de filosofia, da velha e triste USP, tive uma colega cujo vezo era o seguinte: nos seminários dos cursos, quando chamada a examinar textos e conceitos de Spinoza, Kant, Hegel, Rousseau, era preparado por ela um seminário sobre Marx, Trotsky ou algum outro patrono do setor. No inicio da exposição surgia um pobre resumo dos textos a serem analisados. Após 10 minutos, a seminarista entoava a cantiga sectária : "até agora, vimos o que Spinoza disse.Vejamos o que Spinoza não disse e Marx disse". E desciam catadutas de slogans indemonstrados, verdades acacianas ou simplesmente tolices ideológicas.

Não apenas colegas agiam assim. Em inúmeros cursos nos mais de 30 anos de docência, encontrei alunos que se recusavam a ler autores clássicos da filosofia, porque eles seriam burgueses e porque a Verdade não residia neles, mas em Trotsky, Gramsci ou em outro ídolo qualquer. Não raro precisei provar conhecimento dos livros de Trotsky, etc. e convidear os fanáticos (o termo é o único cabível) para a leitura de autores cuja apreciação do mundo era uma benção de humanidade. Muitos doutrinados assim, após algum tempo, me procuraram para dizer que jamais suspeitariam o quanto Spinoza, Kant, Diderot e outros foram estratégicos.

Não abro meu Blog a comentários. Tenho ansias de vômito quando leio, em outros, expressões chulas próprias de bordéis desqualificados (na minha época, alguns bordéis finos existiam, alguns atingiram o estatuto de mitos para os moços, como o da Eni, em Baurú, os paulistas sabem do que falo). Comentários dignos da classificação "rampeira" (termo em desuso, mas que na minha juventude significava puta do pior escalão) surgem naquela área que, supostamente, deveria servir para troca de idéias, informações, etc. Os tais comentários babam ódio contra os "inimigos"a serem destroçados, sobretudo moralmente, e babam encômios ao líder, o tocador do Blog. E não importa a placa afixada no frontão: de esquerda ou direita, todos operam com expressões estereotipadas, certezas grupais e tribais, anátemas e palavrões contra quem ousa pensar diferente. Ética lamentável, indigna dos princípios comezinhos de civilidade e civilização.

Hoje ocorre um embate entre ideólogos da Itália e do Brasil. Os primeiros, em boa parte, são notórios defensores do racismo e, para ser elegante, fascismo. Lí na imprensa da Itália declarações etnocêntricas sobre "os brasileiros", "o Brasil". Uma delas dizia que o Brasil deve muito à Itália e agora paga com ingratidão. O mundo deve muito aos romanos que souberam se apropriar da cultura grega, egípcia, hebraica, mesopotâmica, etc. O mundo deve muito aos escritores do Renascimento que souberam retomar a herança múltipla dos romanos e da Igreja. Mas o mundo deve muito pouco, e na verdade o mundo tem imenso saldo credor diante da Itália fascista, mafiosa e bandida que exportou o crime e a corrupção, a Mafia e a Camorra, sem mencionar os tocadores secretos do "Banco do Santo Espírito" e tutti quanti para todos os continentes. O mundo deve muito a Norberto Bobbio. Este jurista e filósofo, apesar o espraiado anti semitismo na universidade italiana, escolheu um jurista de origem judaica, Hans Kelsen, para ser o parceiro dos diálogos sobre a lei, a democracia, etc. O mesmo Bobbio levou décadas buscando o diálogo respeitoso com a direita e com a esquerda. Não por acaso era respeitado em todos os setores políticos.

Nós, os brasileiros, incluindo os de origem italiana (a maioria saída da Itália para não morrer de fome ou para não ser esmagada pelos Signori e seus apadrinhados) não temos lição alguma de trabalho, honestidade, ética, etc. a receber da Itália comandada por Silvio Berlusconi ou pelos inúmeros "Padrinhos"que infestam a Itália, os EUA, e outras terras . Dou uma colher de chá: o corrupto Berlusconi talvez não represente a maioria do povo italiano. Ou talvez use a propaganda milionária de suas televisões para hipnotizar gente honesta e inteligente.

Mas o mesmo pode ser dito do Brasil. A seita que se apoderou do poder federal, bárbara mas esperta, não representa o país em todos os seus matizes. Só pessoas que não refletem imaginam que as "pesquisas de opinião" sejam portadoras de veracidade. Como o nome diz, elas espelham a doxa imperante, a revolta dirigida contra um Congresso corrompido, uma classe política ignara e contrária à república (sou dos poucos que não se cansam e denunciam o privilégio de foro nesta terra).

A diplomacia de hoje, no Brasil, dirigida por ideólogos e por diletantes, acolhe um terrorista. Boa parte da opinião pública brasileira se indigna contra o procedimento. Integro o setor que julga ser contrário às regras do direito internacional o feito do Ministério da Justiça, do Itamaraty e da Presidência. Eles usaram a lei para favorecer evidente criminoso. Apesar do Procurador Geral da Justiça, favorável à permanência do indivíduo no Brasil, a questão ainda não está decidida no STF.

Mas ainda é cedo, e sempre será demasiado cedo, para atacar a honra e a dignidade dos brasileiros sob pretexto de criticar o governo de plantão. Est modus in rebus. O costume de reduzir a nossa gente a lixo, e lamber as botas (agora também em sentido geográfico) dos outros países serve apenas como elemento corruptor de nossos costumes. Uma coisa ridícula (com origem grega e passada aos modernos) é a doutrina sobre o "caráter"dos povos. "O frances é assim, o ingles é assado, o alemão é...". Falta base lógica, empírica, científica para tais juizos de valor. Quando alguém fala, repetindo os racistas do século 19, "o brasileiro é preguiçoso, desonesto, etc", sempre pergunto se o falante conhece pessoalmente os milhões de seres humanos enquadrados no artigo definido "o ". Quem fala, naquele instante, quase sempre, é Gobineau. O suposto falante apenas cumpre a missão, pouco gloriosa para o pensamento, de medium que transmite mensagens do Além, de uma verdade transcendente ao tempo e ao espaço, logo de um não conhecimento (favor reler a Crítica da Razão Pura).


Volto ao universo da poikilia: como diz Tertuliano, o real é multicolor, versicolor.... o poeta acertou em cheio : "mundo, mundo, vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria rima, não seria solução". Indivíduos "combativos" tem causas. E causas são ídolos devoradores, sanguinários. "Os deuses tem sede" diziam os lúcidos do século 18. O coração dos fanáticos é cativo dos idolos, eles jamais serão mais vastos do que o mundo.

RR