domingo, 22 de maio de 2011

Diário de Pernambuco (Recife), 22/05/2011.

http://jconlineblogs.ne10.uol.com.br/pingafogo/

Entrevista >> Roberto Romano
Recife, domingo, 22 de maio de 2011

"Eles não são masoquistas"


Autor de sete livros, a exemplo do Caldeirão de Medéia, o professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Roberto Romano, não acredita que a reforma política passe no Congresso Nacional sem haver pressão da sociedade. Especialista em ética na política, Romano também defende outros mecanismos para se evitar a corrupção e o caixa 2, algo que, segundo ele, deve passar longe do voto em lista fechada.

O senhor acha que a lista fechada evita o caixa 2 e a corrupção?

A Reforma Política sem uma democratização dos partidos leva a um procedimento enganoso. O problema não é a lista fechada ou aberta. O problema é que a lista é produzida pelos donos dos partidos. E cada um quer discutir os seus interesses. O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), por exemplo, propôs que a prioridade da lista fosse dada aos que já têm mandatos. Isso beneficia, sobretudo, os donos dos partidos, que vão privilegiar os seus. A lista fechada só piora a situação de caixa 2 e a corrupção. Por quê? Porque, para escolher os candidatos, haverá uma imposição da cúpula dos partidos, que tem diversos interesses. Os candidatos serão indicados verticalmente e isso aumenta a corrupção.

E quais são os caminhos para se melhorar a transparência dos partidos?

Se você tivesse no Brasil eleições primárias, como acontecem nos Estados Unidos, a situação melhoraria bastante, porque haveria mais participação e fiscalização dos eleitores. Você vê que a cúpula do Partido Democrata nos Estados Unidos escolheu Hillary Clinton como candidata à presidência, mas a base escolheu Barack Obama. Outra coisa, ninguém deveria poder ficar numa direção partidária por mais de quatro anos, porque essa pessoa passa a controlar tudo… São coisas desse tipo, pequenas, que podem melhorar a transparência. Sou a favor, por exemplo, do projeto de lei que normatiza o lobby, que foi apresentado pela primeira vez pelo ex-senador Marco Maciel (DEM). Se você tem o lobby normatizado, você sabe oficialmente a pessoa que vai trabalhar em busca de recursos. Isso diminui a promiscuidade.


Os partidos têm dificuldade de ouvir as bases. O PT, por exemplo, fazia um processo de escuta grande, mas parece que nem o PT está fazendo mais isso…Existe uma oligarquização dos partidos de uma maneira geral. O PMDB, por exemplo, é um conjunto de oligarquias. O PT era o único partido que fazia consulta as bases, mas já há uma oligarquia do PT que controla a outra. O caso do ministro (da Casa Civil) Antônio Palocci é um exemplo. Hoje, existe o PT do Acre, o PT de São Paulo, o PT de Pernambuco…O PT de São Paulo é a maior das oligarquias


O senhor acha que, com tanta polêmica, os deputados e senadores vão cortar na própria pele?
Não, eles não são masoquistas. Eles gostam de cortar a nossa pele, não a deles. No Brasil, os grandes mitos são feitos para se enganar os trouxas. E a reforma está se tornando cada vez mais uma fábula para adormecer as consciências. A solução para que aconteça é a cidadania, a pressão popular. Nós conquistamos muito com o Ficha Limpa para se ter uma ideia. A cidadania é a saída, porque o que está acontecendo com os partidos políticos no Brasil é muito sério.

O Estado de São Paulo 22/05/2011

Início do conteúdo

Bin Laden e o martírio

22 de maio de 2011 | 0h 00

Roberto Romano - O Estado de S.Paulo

Morto Osama bin Laden, importa dissecar a lógica do martírio que orientou os seus atos. O termo vem do grego e significa "testemunho". Ele se liga às técnicas para encontrar a verdade em processos jurídicos.

O testemunho obrigatório e sob tortura surge na democrática Atenas, cujos cidadãos não poderiam ser maltratados fisicamente para confessar malfeitos. O tormento sobrava para os escravos e, em alguns casos, para os estrangeiros. O escravo que mentia não estava submetido, como o seu proprietário, às penalidades contra o perjúrio.

Tortura e testemunho ligam-se, por metáfora, à pedra usada pelos ourives para testar e aprimorar peças de ouro. As sevícias teriam a virtude de provar a fala verdadeira. Tratava-se, literalmente, de conseguir a justiça com a mão do gato: as partes, nos tribunais, eram demasiado nobres para serem estraçalhadas em processos polêmicos. A decisão judicial vinha com os martírios, que, não raro, conduziam os escravos à morte horripilante.

Na vida cristã foi preservada a significação de sofrimento no testemunho. Nos Atos dos Apóstolos (1, 8) os cristãos recebem o título de mártires que deveriam dizer a verdade trazida pelo Deus morto e ressuscitado. O testemunho, no caso, não requer necessariamente a morte e o sofrimento do fiel. Quando, no entanto, chegam o trespasso e a dor, eles evidenciam a verdade evangélica. Na Igreja primitiva o martírio, gerador de novos adeptos, recebeu sua fórmula em Tertuliano: "O sangue das testemunhas é semente de cristãos" (Apologético, 50).

No Islã, o martírio é entendido no contexto da guerra santa. Esta, por sua vez, se liga à doutrina que ensina a distinguir o bem e o mal segundo a luz divina, cuja mensagem foi transmitida pela profecia autorizada. O martírio deve ser percebido na submissão à vontade suprema de Alá. Quem morre para manter e ampliar a fé, com sofrimento na jihad, sobe ao paraíso.

No judaísmo não existe a busca do martírio como instrumento de propagação da fé. Nele, o povo de Israel deve buscar, sobretudo, a vida. E, no entanto, o valor dos mártires é imenso na História e na cultura judaicas.

Spinoza lembrou a Albert Burgh, jovem e fanático, convertido ao catolicismo, que não apenas na Igreja cristã os martírios chegam aos milhares. Mesmo os fariseus, diz o filósofo, contam em sua grei com miríades de testemunhas. Na carta em que se defende de ser aliado do demônio, Spinoza toca na essência das relações entre a fé e o saber científico. Burgh lhe perguntara, visto que nosso pensador não confiava nos mártires como caminho para chegar ao verdadeiro, como distinguir a péssima da melhor filosofia. Resposta: "Não encontrei a melhor, mas a verdadeira. E você me pergunta como o sei. De maneira igual à usada por você para saber que os três ângulos de um triângulo igualam dois retos. E ninguém dirá que isso não basta".

Quem acredita no martírio o faz por ouvir dizer, a maneira mais baixa de se atingir o conhecimento. Temos aí a diferença entre o martírio e a procura da verdade científica. Esta última não requer demônios, paraísos, recompensas, torturas, guerras. "A verdade é índice de si mesma, e do falso": tal é o núcleo spinozano do pensamento moderno, que recusa, como prova, o sangue derramado. No caso de Galileu, o martírio não foi o alvo, pois as suas provas são estranhas às formas geométricas e físicas. "Não preciso de tal hipótese", disse um dia Laplace a Napoleão, que lhe perguntou sobre o divino em seu sistema astronômico.

O marxismo, na sua origem, exacerbou o ideal científico. Mas seguiu rumo inverso ao criar mitologias e místicas cuja base principal se encontrava no martírio. A verdade emanaria das oniscientes direções, o Comitê Central. Este, por sua vez, tinha profetas e sacerdotes em Lenin e Stalin. A ciência foi abandonada em favor do "materialismo histórico e dialético". E Lyssenko acelerou a ruína da União Soviética com uma "genética" cujos fundamentos eram ideológicos, ou religiosos. Outra forma de martírio era praticada nos campos de concentração e nas celas da KGB. Tudo para testemunhar a glória do Estado proletário.

Divinizados os dirigentes - "O Sol é mais luminoso que as estrelas e a Lua, mas teu espírito, Stalin, é mais luminoso do que o Sol!", entoava Zozulia Tchachikov em 1937 -, os militantes transformaram-se em mártires da "causa". A história de Fan Chji Min é exemplar. Membro do Exército Vermelho chinês morto pelos nacionalistas, ele tornou possível que "nas posições de combate da frente de libertação milhares de Fan Chji Min legendários realizem milagres de valor e intrepidez". Tal hagiografia circulou na esquerda. O capitalismo de Estado que vigora hoje na China, e não hesita em transformar pessoas em escravas passíveis de serem torturadas, mostra o terrível delírio que gerou os Fan Chji Min.

O sangue dos mártires é semente. Nos partidos totalitários e terroristas do século 21, e até em Estados orgulhosos de sua democracia, o culto dos heróis justiceiros hipnotiza os incautos. O inimigo mais impiedoso é o educado para o martírio: ele decreta a morte alheia em nome da História ou do ser divino. O sangue, diz com a lucidez nele costumeira Friedrich Nietzsche, "é a pior testemunha da verdade, ele envenena a doutrina mais pura e a transforma em loucura, um ódio no fundo dos corações".

Enquanto existirem mártires, persistirão zonas de ódio nas sociedades. Em vez de caluniar a ciência, nela podemos reunir sinais de saúde espiritual, contra a loucura do fanatismo. O uso da tecnologia como arma vem mais das religiões, que a empregam para conquistar novos fiéis, novos mártires (agora mesmo, no Irã), ou das crenças ideológicas e políticas.

No Brasil, podemos escapar do martírio em massa. Mas o tempo está se esgotando.

FILÓSOFO, PROFESSOR DE ÉTICA E FILOSOFIA NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS (UNICAMP), É AUTOR, ENTRE OUTROS LIVROS, DE ''O CALDEIRÃO DE MEDEIA'' (PERSPECTIVA)



Globo News Painel, 21/05/2011.

Globo News Painel

Painel discute a publicação do MEC

O MEC fez uma publicação didática que ensina a escrever errado. Professores e Educadores comentam sobre o assunto que movimentou o país. Veja mais no primeiro bloco do Globo News Painel.

21m18s
21/05/2011
Globo News Painel

Educadores falam sobre a cartilha do MEC e a qualidade dos debates no Brasil

O MEC pretende distribuir para escolas do Ensino Médio cartilhas contra homofobia. Segundo especialistas, o governo não deve opinar sobre o assunto. Veja mais no segundo bloco do Globo News Painel.

22m58s


Painel discute a publicação do MEC

Sábado, 21/05/2011

O Ministério da Educação e Cultura fez uma publicação didática que ensina a escrever errado. Professores e Educadores comentam sobre o assunto que movimento o país.

temas relacionados

Globo News jornalismo Globo News Painel
ver publicidade novamente [ + ]

vídeos relacionados por

sábado, 21 de maio de 2011

Estado de São Paulo (jornal)

Sociedade tem direito de cobrar ministro, dizem especialistas

Para eles, governante não representa só a si mesmo: ele deve se explicar a quem o paga para servir ao País

21 de maio de
Gabriel Manzano

O ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, "precisa, sim, vir a público e dar explicações sobre o espantoso aumento de seu patrimônio". A frase, da cientista política Celina Vargas do Amaral Peixoto, da FGV-Rio, resume a impressão dominante entre historiadores e cientistas políticos - ainda que, como ponderam alguns deles, o ministro não tenha nenhuma obrigação legal de revelar sua vida financeira.

Essa dispensa legal, adverte o historiador Marco Antonio Villa, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), não representa grande coisa: "Legalidade e justiça, no Brasil, são coisas dissociadas". "Entre nós, a ética não está consolidada na política e a lei não é garantia de justiça", afirma. "Se o ministro ganhou em um ano o que não havia ganho a vida inteira, isso causa grande estranheza. Por isso mesmo, ele deve dizer à opinião pública que tipo de consultoria prestou, a quem, e por quanto dinheiro."

Celina Vargas, que entre 1998 e 2002 ajudou o governo a criar o Código de Conduta da Alta Administração - um texto de 19 artigos que impõe normas e limites ao comportamento de ministros e funcionários diretos da Presidência - lembra que a população "paga e dá sustentação ao governo". Portanto, "tem direito de "cobrar e saber o que se faz com o dinheiro dos impostos."

É a mesma cobrança que faz o filósofo Roberto Romano, professor da Unicamp, antigo estudioso de questões éticas da sociedade. "Um deputado não representa só o seu eleitorado, representa todos os cidadãos. Ouvir suas explicações nesses episódios é um direito da sociedade."



Unicamp Forum

INFORMAÇÕES GERAIS

Local: Auditório III, Centro de Convenções da UNICAMP
Data: 10 de junho de 2011 de 2011
Horário: das 9h00 às 16h30

SOBRE O EVENTO

O Fórum tem por objetivo promover o debate acerca do tema “Excelência no Atendimento ao Cidadão: conquistas e desafios da atualidade”, difundindo o conhecimento e troca de experiências exitosas no atendimento ao cidadão-usuário. Neste sentido, visa esquadrinhar e debater as propostas que configuram a atual agenda de políticas públicas, descortinando os desafios, iniciativas, estratégias e obstáculos enfrentados pelo Estado e pela iniciativa privada na busca de um atendimento e prestação de serviços de elevada qualidade. Com foco nas boas práticas de atendimento ao cidadão, direitos do consumidor e ética nas relações de consumo, o Fórum contempla não só as ações do poder público, centradas na reestruturação dos processos de atendimento, com investimento em recursos de tecnologia e informação, como as estratégias e ferramentas adotadas com sucesso pelas organizações privadas.

PROGRAMA

MANHÃ

9h00 – Abertura
Profa. Dra. Carmen Zink Bolonhini - Assessora da Coordenadoria Geral da Universidade

Prof. Dr. Paulo Eduardo Moreira Rodrigues da Silva - Pró-reitor de Desenvolvimento Universitário da UNICAMP

Prof. Dr. Mohamed Ez Din Mostafa Habib – Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários
Prof. Dr. Euclides de Mesquita Neto - Pró-reitor de Pós-Graduação da UNICAMP
Prof. Dr. Marcelo Knobel - Pró-reitor de Graduação da UNICAMP
Gláucia Beatriz Freitas Lorenzetti - diretora da Agência para a Formação Profissional da UNICAMP
Júlio César Ferreira Campos, diretor de comunicação do Núcleo das Empresas Juniores da UNICAMP
9h30 – Conferência de abertura: “Atualidade e perspectivas de atendimento ao cidadão na formulação das políticas públicas”
Dr. José Eduardo Elias Romão – Ouvidor Geral da União

10h20 – Coffee Break
Exposição de pôsteres sobre as boas práticas de atendimento ao cidadão na Unicamp

10h50Mesa-redonda “Diferentes visões e conceitos do atendimento de excelência ao cidadão”

“A administração pública na busca do fortalecimento da cidadania e na promoção de melhorias no atendimento ao cidadão”
Júlio Semeghini – deputado federal e secretário de Gestão Pública do Estado de São Paulo

“A evolução do direito do cidadão nas relações de consumo”
Paulo Arthur Lencioni Góes - diretor executivo do Procon/SP

“A ética e as relações contemporâneas”
Prof. Dr. Roberto Romano - IFCH/UNICAMP

Moderador: Prof. Dr. Geraldo Di Giovanni - IE/UNICAMP

12h30 – Almoço

TARDE

14h00Mesa-redonda: “Os elementos da excelência no atendimento ao cidadão: experiências premiadas”

“Emprego das tecnologias de informação e comunicação no atendimento ao cidadão”

Tânia Virgínia de Souza Andrade - superintendente de operações do programa Poupatempo

“Hospitais públicos de excelência do Sistema Único de Saúde”
Prof. Dr. Oswaldo da Rocha Grassiotto - diretor executivo do CAISM/Unicamp

“Práticas de atendimento ao cidadão nas empresas privadas”
Eliane de Oliveira - Natura

“Serviços de excelência ao consumidor moderno”
Whirlpool S. A. – a confirmar

Moderador: a confirmar

16h00 - Apresentação cultural de alunos-artistas – SAE/UNICAMP

16h30 – Coffee Break

ORGANIZADORES:

Agência para a Formação Profissional da UNICAMP: é um órgão da Pró-Reitoria de Desenvolvimento Universitário (PRDU), criado em 1999, responsável pelo planejamento e execução de ações institucionais destinadas ao desenvolvimento e qualificação profissional dos funcionários da Unicamp, em todos os níveis funcionais, por meio de cursos, oficinas, treinamentos e palestras.


Núcleo das Empresas Juniores da UNICAMP: é uma entidade não governamental sem fins lucrativos que reúne as Empresas Juniores de todos os campi da universidade. Fundado em 1995, o Núcleo conta com o capital humano de mais de 400 empresários juniores, estudantes de diversas áreas do conhecimento, e busca causar impacto na economia, realizando projetos em diversas áreas, especialmente para a pequena e média empresa, e na educação, pela formação de líderes socialmente responsáveis entre seus membros.


INSCRIÇÕES ABERTAS

"Fórum Permanente de Empreendedorismo e Inovação"

(Encerramento das Inscrições - 09/06 às 11h)




Nome
Email
Instituição

Preencha os campos Nome e E-mail

Diário de Pernambuco...








Arte de Samuca 22-05-2011
Arte de Samuca/DP

Correio Popular de Campinas

Analistas acreditam que futuro político de Hélio foi abalado


Segundo o cientista político Eliezer Rizzo de Oliveira, num primeiro momento, o que se tem é que as futuras pretensões políticas foram atingidas


21/05/2011 - 08h29 . Atualizada em 21/05/2011 - 08h32
Maria Teresa Costa Agência Anhangüera de Notícias




As prisões e a busca a integrantes do primeiro escalão do governo municipal podem ter reflexos irreversíveis no futuro político do prefeito Hélio de Oliveira Santos (PDT). Segundo especialistas, embora ainda seja cedo para uma análise aprofundada, é provável que a intenção dele em fazer do secretário de Segurança, Carlos Henrique Pinto, seu sucessor seja abortada e que o próprio Hélio perca possibilidades de alianças que poderiam fazê-lo alçar cargos nas esferas estadual ou nacional.

Para o filósofo Roberto Romano, é difícil prever o impacto do caso, até porque, afirmou, depois de certos tipos de crises, os escândalos se resolvem na base dos acertos, da solidariedade política. O que é certo, disse, é que a autoestima da cidade está abalada. “Campinas é uma das cidades mais importantes da América do Sul e acordou com as cenas de integrantes da Prefeitura sendo presos por fraude em contratos de licitação. A cidade tem uma história política das mais relevantes do País e uma crise como essa causa perplexidade”, afirmou. Ele lembrou que o prefeito tem legitimidade, mas ao mesmo tempo tem uma série de auxiliares que passaram a ser tratados pela população, pela polícia e pelo Ministério Público como suspeitos.

Segundo o cientista político Eliezer Rizzo de Oliveira, num primeiro momento, o que se tem é que as futuras pretensões políticas foram atingidas. “O que todos querem é que as apurações continuem.” O sociólogo Carlos Alberto Mello observou que o fato mais relevante é o impacto que as denúncias têm sobre a cidade. “É o assunto do dia. E o que se ouve é uma população indignada”, disse. “Mesmo não havendo denúncias contra o prefeito, as imagens das prisões de seus assessores certamente serão as cenas que os partidos de oposição levarão ao ar.”



Marta Bellini...

sábado, 21 de maio de 2011

Madre de Dios, quanta asneira!



Num mundo - universitário - em que a pensar a pesquisa é pensar quanto vou ganhar com meu projeto e não o quê, como, quando e para quê vou fazer uma investigação, a rede mercadológica prevalece. QUEM TEM MAIS? QUEM PEDE MAIS? Os resultados? Ah, esses são publicados em revistas que são pagas, em revistas qualificadas pelos próprios donos das revistas e assim vamos. Um aluno - estudante de biologia - no mar desse mercado -, assistiu a uma palestra sobre Ética profissional. Ouviu da palestrante: "O DNA é responsável pela transmissão das características fisiológicas e morfológicas das espécies. Mas, também transmitem a personalidade dos pais. Pais que são bandidos transmitem essa característica aos filhos, a de bandidos". ALô, Lombroso! Alô, mercado de pesquisas rápidas! Alô, estudo sem estudo! Alô, alunos! Pobres alunos.



Marta Bellini.


sábado, 21 de maio de 2011

Manifestando ...



Tenho recebido inúmeras manifestações de apoio desde o lançamento de meu Manifesto e da resposta do senhor Pró-reitor da UEM no Blog do Campana. Inicio a publicação. O Júnior envia uma Carta de Apoio. Fez o Curso de Psicologia na UEM. É mestre em Educação pela UEM. è, também, um ex-perseguido pela administração na UEM. Ele também já experimentou o dedo do poder da Universidade.



*************************************************


Como todo espaço social, a UEM é habitada por pessoas provenientes de distintas experiências de vida. É "natural" que isso se expresse no conhecimento produzido na universidade e nas posições que cada um assume frente aos principais acontecimentos da instituição. Nunca foi diferente. Não será agora, como atestam as opiniões registradas no blog do Sr. Fábio Campana, no qual uma chuva de acusações foi endereçada contra a professora Marta Bellini.
Assim como não existe conhecimento neutro, não existem posturas neutras. Todos as opiniões contrárias à professora Marta de alguma maneira deixam escapar pelas linhas e entrelinhas suas orientações políticas e ideológicas, veladas ou manifestas. O discurso da “competência”, da “ética” e da “neutralidade acadêmica” é apenas uma cortina atrás da qual se escondem professores e alunos, com posições políticas claramente definidas.
Qualquer aluno que não tenha compartilhado da posição política da professora Marta deixará que o antigo silêncio ressentido manifeste-se aos gritos de condenação quando agora as condições assim o permitam. O mesmo vale para os que aspiravam assumir um cargo de prestígio para poder desencadear contra a professora insinuações maldosas, acusações levianas e comentários raivosos.
Incrível como a perseguição sempre serviu de ração para os que ladram em nome da "ética", da "responsabilidade" e da "competência" na UEM. Para os que nunca contraíram nenhum desses 3 compromissos na universidade, a melhor forma de se defender é atacando.
Como dirigente do movimento estudantil, fui perseguido e processado incontáveis vezes na UEM. Por experiência de causa, sei precisamente o que está acontecendo com a professora Marta, com quem pude experimentar confluências e divergências de opiniões que se alternavam no marco de um permanente e crescente processo de respeito, transparência e companheirismo.
Não passa à prova os que a caluniam de autoritária, ditadora ou conspiradora. Se Marta tem alguma virtude – e posso garantir que tem milhares – é a de ser respeitosa, democrática e transparente como um cristal frente aos que discrepam ou coincidem com suas opiniões.
Não quero aqui fazer uma defesa da profissional. Seu currículo fala por si. Não quero aqui defender apaixonada e incondicionalmente as posições políticas que Marta assume, privada ou publicamente. Mas, precisamente porque com ela sempre nos foi permitida a diferença, é que quero defender o irretocável caráter dessa professora, mulher de luta, ser humano incrível e que nunca se furtou de deixar claro o que pensa, sempre respeitando o arco-íris de posições que contornaram a enriquecedora história política e intelectual da UEM.
Para quem já viu, sofreu e combateu os inúmeros casos de professores e alunos queimados impunemente nas fogueiras inquisitórias das Comissões de Sindicância, ardilosamente construídas com o propósito de penalizar aqueles que de alguma maneira ameaçam os caciques da universidade, não precisa dedicar muito esforço para ver que se trata de mais um vergonhoso caso de perseguição. Como sustenta o jargão popular: quem com leite se queima, não pode ver uma vaca que chora.



À professora Marta, corajosa como sempre, resistente como é e valente como nunca, transmito aqui todo meu apoio e solidariedade.

Durval Wanderbroock Junior
Mestre em Educação
Assessor Político e Sindical do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Vejam que interessante: desde 2005, falo na CBN Campinas, sobre os nossos políticos. E parece que tenho mantido coerência. Já eles...

Sexta-Feira, 20 Maio de 2011

» Professor da Unicamp comenta sobre prováveis perdas de alianças políticas após crise na Prefeitura

Terça-Feira, 05 Outubro de 2010

» "Resultados das Eleições 2010 quebraram mitos", diz filósofo ROBERTO ROMANO

Quarta-Feira, 07 Abril de 2010

» Professor da Unicamp defende imprensa livre como o pilar da democracia

» Professor de ética fala sobre o Dia do Jornalista

Quinta-Feira, 02 Outubro de 2008

» Professor de ética da Unicamp defende reestruturação no serviço público brasileiro

Quinta-Feira, 24 Maio de 2007

» Professor da Unicamp estranha que mobilização sindical no país não tenha pedido ética

Terça-Feira, 25 Julho de 2006

» Especilista em ética e política da Unicamp não acredita no fim do Caixa 2 nas eleições

Quarta-Feira, 26 Abril de 2006

» Professor de ética da Unicamp cobra rigor na investigação da Farra da Gasolina

Sexta-Feira, 07 Abril de 2006

» Professor da Unicamp afirma que impotência do conselho de ética pode acabar com a credibilidade do C

Terça-Feira, 28 Março de 2006

» Saída de Palocci é vista com cautela por profissionais de Campinas

Quinta-Feira, 29 Setembro de 2005

» Cientista político da Unicamp critica a saída de figuras históricas do PT

Terça-Feira, 27 Setembro de 2005

» Professor de ética da Unicamp aposta em segundo turno para a eleição da nova presidência da Câmara F

Quinta-Feira, 21 Julho de 2005

» Professor da Unicamp diz que dirigentes petistas vêm destruindo a imagem do partido há muito tempo

O vice prefeito foge da polícia, secretários, etc. todos fogem da polícia, em Campinas, logo em Campinas. Falei sobre o tema com a CBN Campinas.

CBN Campinas


Caso Sanasa

Ouça esta Notícia.


Caso Sanasa - 20/05/2011

Professor da Unicamp comenta sobre prováveis perdas de alianças políticas após crise na Prefeitura
O entrevistado é Roberto Romano - Professor de Ética e Filosofia da Unicamp

Rosana Lee




Marta Bellini...



Negros Tempos

Um belíssimo texto de Aldina Duarte no «Passa Palavra». No Blog de Joana Lopes, Portugal, Entre as brumas da memória AQUI


«As notícias da morte de Bin Laden, do filho e dos netos de Kadhafi, os festejos duns e a apatia doutros, tornaram este dia negro, tão negro como os negros anos da minha infância no fascismo".


O fascismo roubou-me a primeira infância. Um dano irrecuperável que dificilmente se perdoa. A tristeza e a pobreza, vizinhas da miséria, inveteradas nos olhos pretos ou castanhos, sempre cansados e tristes, das mães, dos pais, das crianças, dos jovens e dos velhos, tudo era escuro, baço e ressequido, fosse qual fosse o mês do ano. Só nos olhos dos velhos havia o falso fulgor de quem alcançou um pouco de paz, sabendo que a morte se tornava mais próxima do que a vida. A maior parte acreditava que aos olhos de Deus eramos todos iguais, por isso, estar mais próximo da morte significava estar mais perto da dignidade que a vida lhes recusara. Olhos azuis ou verdes nunca os vi no meu bairro.


Refeições da família à mesa não me lembro, porque não havia comida para compor um prato quanto mais uma mesa; não me lembro de fazer anos [festejar o aniversário], nem ninguém da minha família, vizinhos ou colegas da escola primária, durante os meus primeiros sete anos; não havia banheira na casa dos pobres (bairros sociais), para não falar das barracas, onde nem uma sanita ou um lavatório havia; fruteira e mar, por exemplo, eram palavras abstractas; aos seis anos, eu tinha a chave de casa, tinha aulas e não tinha com quem ficar durante as tardes livres até à hora do jantar, quando a minha mãe voltava do trabalho.»

(Ler o resto aqui.)

Canal IG


Entenda a polêmica do livro que defende o “nós pega” na escola

Obra distribuída pelo MEC provoca debate sobre o papel da língua popular na sala de aula

Tatiana Klix, iG São Paulo | 19/05/2011 11:00

Compartilhar:

Aceitar a expressão “nós pega o peixe” como parte de uma linguagem adequada causa estranhamento e – em alguns casos – indignação de brasileiros zelosos pela língua culta. Mas a linguagem popular, considerada por linguistas como uma forma de comunicação válida e com regras próprias, é também usada em salas de aula, conforme revelou o iG na semana passada ao mostrar que um livro utilizado em 4.236 escolas públicas do País para a Educação de Jovens e Adultos defende que o uso desta língua oral é adequado.

Mais do que um fato isolado, o livro Por uma Vida Melhor, da Coleção Viver, Aprender, trouxe à tona uma polêmica antiga nos meios acadêmicos. De um lado, estão linguistas que defendem a obra que prega que o aluno pode falar “os livro”. Eles entendem que o uso da língua popular no ensino ajuda os estudantes de classes populares a se sentirem incluídos e, com isso, aprenderem com maior facilidade a norma culta. De outro, os que acreditam que esta prática limita a ascenção social dos próprios alunos.

“Para a linguística, não é um problema descrever a maneira como as pessoas falam, mas isso é diferente de dizer que o uso popular é desejável”, explica o linguista Bruno Dallari, ao comentar o conteúdo da obra da Coleção Viver, Aprender. “Esse não é um episódio isolado. Um grupo da linguística, ligado a sociolinguística e a educação popular, defende que considerar a língua falada no ensino é uma forma de evitar preconceito linguístico, de incluir as pessoas das classes mais populares, mas é preciso tomar cuidado para não achar que todas as pessoas da área pensam dessa forma”, explica. “Aceitar o ensino da língua popular pode provocar o efeito contrário, deixando apenas para a elite o uso da norma culta”, complementa Dallari.

Na mesma linha, o imortal da Academia Brasileira de Letras e gramático Evanildo Bechara, autor da Moderna Gramática Portuguesa, afirmou na semana passada que o aluno não vai para a escola “para viver na mesmice” e continuar falando a “língua familiar, a língua do contexto doméstico”, mas para se ascender a posição melhor. Na segunda-feira, a preocupação da ABL foi transformada em uma nota em que a instituição diz estranhar certas posições teóricas dos autores de livros que chegam às mãos de alunos dos cursos Fundamental e Médio.

Na defesa da obra, Marcos Bagno, autor de livros como A norma oculta – língua & poder na sociedade brasileira, explica que o livro está de acordo com parâmetros curriculares do Ministério da Educação, que entendem que a língua é heterogênea e que não há feio e errado. “A função da escola é introduzir novidades”, diz. Segundo o professor, antigamente as escolas trabalhavam para substituir o jeito que os estudantes falavam, o que os deixava inseguros. “Agora, o aluno se reconhece no material didático e consegue se apoderar de outras formas de falar”.

A autora da obra, Heloisa Ramos, ao comentar o conteúdo afirmou que apesar de haver trechos dedicados ao uso da norma popular, o livro não está promovendo o ensino dessa maneira de falar e escrever. “Esse capítulo é mais de introdução do que de ensino. Para que ensinar o que todo mundo já sabe?”

Apesar da polêmica, o Ministério da Educação não pretende proibir o livro. Depois de divulgar nota em que afirma que papel da escola não é só o de ensinar a forma culta da língua, mas também o de combate ao preconceito contra os alunos que falam “errado”, o próprio ministro Fernando Haddad afirmou que não tem motivos para censurar a obra. “Estamos envoltos em uma falsa polêmica. Ninguém está propondo ensinar o errado”, disse em entrevista à rádio CBN.

Ensino da língua culta é consenso

Entre as posições contra e a favor da obra resta o consenso da necessidade de ensinar a língua culta na escola. A professora Magda Soares, autora de livros didáticos de português, acredita que as pessoas que estão criticando a obra não leram todo o capítulo que trata da língua popular. Na avaliação dela, o trecho fala exatamente sobre a importância da aprendizagem da norma culta. A discussão, que parece nova, é recorrente nos meios acadêmicos e ultrapassa os departamentos que tratam da língua e vai até os que se dedicam à literatura.

Alcir Pécora, professor de teoria literária na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), conta que entre os que atuam nesta área a defesa das normas é ainda mais veemente: ”Como um aluno vai entender um texto antigo se não tiver as ferramentas para isso?”, pergunta, sem deixar de comemorar que a discussão esteja sendo feita pela sociedade. “Debatemos esta questão acaloradamente há 40 anos na academia. Acho ótimo a polêmica ter sido levantada em outros meios”, conclui.

Entrevista antiga ao Jornal da Unicamp. Mas parece que sobraram algums idéias atuais...


PORTAL UNICAMP
4
AGENDA UNICAMP
3
VERSÃO PDF
2
EDIÇÕES ANTERIORES
1


A agenda da paz em tempos de guerra

ÁLVARO KASSAB

O filósofo Roberto Romano, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), é um dos autores do livro História da Paz (Editora Contexto). A obra, organizada por Demétrio Magnoli, reúne artigos de 15 especialistas que abordam alguns dos tratados internacionais mais importantes dos últimos 500 anos. Na entrevista que segue, Romano, que escreveu sobre a Paz de Westfália (1648), analisa o papel do Estado e das matrizes éticas no mundo contemporâneo.

O professor e filósofo Roberto Romano: “O Estado não conseguiu vencer, em termos estratégicos, as agências de fé”  (Fotos: Antoninho Perri) O livro
O livro A História da Paz é muito interessante porque vai seguindo as etapas das dificuldades e do surgimento das instituições. Ele começa com a questão dos concílios medievais, quando a Igreja era o grande árbitro, e depois segue a cronologia dos tratados, sem ficar no esquematismo. O meu trabalho é uma tentativa de mostrar que, pela primeira vez, um tratado internacional vingou sem as asas da Igreja. A obra aborda todos os tratados importantes da modernidade, até Kioto. Há uma estrutura cronológica, que eu diria que é até diacrônica, mas em cada passo tem coisas diferentes.

A questão dos tratados internacionais é abordada sob vários ângulos. Não há uma doutrina comum. Trata-se de um ponto importante do livro: nem todos pensam da mesma maneira. Há uma diversidade não apenas metodológica como também doutrinária. Terminando a leitura do livro, o leitor tem a síntese da situação. Não se pretendeu fazer uma coisa para esgotar o assunto, seja do ponto de vista diplomático, filosófico, econômico etc. É uma espécie de visão sinótica do problema. Apesar de todos os articulistas tentarem estabelecer uma espécie de agenda da paz, a constatação é que o que existe de fato é uma agenda de guerra. Trata-se de uma guerra contínua.

Corrosão do Estado
O Estado vive uma crise inédita no mundo de hoje. Ele enfrenta uma corrosão, seja do lado do mercado seja do lado das matrizes éticas mundiais. Neste último caso, estou me referindo particularmente as grandes religiões de massa. Há, portanto, uma corrosão que ocorre simultaneamente em termos éticos, econômicos, tecnológicos e religiosos. Isso tudo coexiste com o fenômeno da guerra. No primeiro volume, os autores trataram da história da guerra, que não se pretende uma história no sentido científico da palavra. Além de historiadores, temos também filósofos, diplomatas, jornalistas etc. É uma abordagem multidisciplinar de um fenômeno polissêmico. A guerra, a corrosão do Estado, a tecnologia e o mercado fazem com que, de certo modo, seja obrigatória a retomada da história do Estado – das instituições civis e estatais.

Capa do livro História da Paz: artigos de 15 especialistasOs interesses
Temos hoje o financiamento das guerras por grandes grupos. A produção de instrumentos de guerra está ligada a esses interesses financeiros, que não correspondem necessariamente à economia desse ou daquele país. Temos então um mundo que vive permanentemente em estado de guerra. Não dá para dizer mais que predomina o interesse da classe burguesa ou da classe capitalista. É claro que ele existe, mas não é uma relação que beneficia esses segmentos. Por exemplo, na guerra do Iraque, temos nos Estados Unidos, e também em seus parceiros, pequenos grupos dentro do setor financeiro e dentro do setor petrolífero.

A dissolução
Esses grupos fizeram, nos dois períodos Bush, coisas absolutamente inéditas em termos de desaparecimento da idéia de público e de privado. São licitações secretas dirigidas por generais diretamente interessados nas empresas petrolíferas. Isso corresponde a uma queda inédita de alguns princípios do Estado democrático, inclusive o norte-americano, entre os quais a idéia de transparência. Estudos internos, inclusive do Congresso norte-americano, mostram que é imensa a quantidade de atos do Executivo que escapam quase que totalmente ao resto do Estado. É um fenômeno inédito. É a dissolução do Estado. Na verdade, tem-se uma apropriação da coisa pública por grupos que não correspondem exatamente ao setor mais amplo do capitalismo ou de outros campos.

Agências de fé
Temos, por outro lado, o grande projeto de laicização da política, que está ligado à temática da racionalização. Quanto mais racional, tecnológico e científico, tem-se um Estado-máquina que serve para estabelecer a paz de todos, para que a lei seja obedecida. Com esse padrão, você enxerga, na verdade, uma tensão muito grande com aquilo que é chamado de racional, que é o âmbito da fé religiosa. As grandes agências éticas, que durante os séculos XVI, XVII e XVIII foram afastadas inclusive da vida pública, como é o caso da França, são retomadas no século XIX e XX. O Estado não conseguiu vencer, em termos estratégicos, essas agências de fé.

O domínio dos corpos
As agências de fé não se conformam, e jamais se conformarão, com o papel de uma ordem privada. Tanto no catolicismo como no islã, para ficar nos dois exemplos, já que a vertente protestante leva para a secularização da política, predomina essa forma de dominar corpos, de definir não apenas o que está no plano da mente e da consciência. Todas as regras de funcionamento dos corpos estão ali. São agências cujo espectro é mais amplo que o dos Estados nacionais. Ademais, têm uma experiência de trato com as populações muito mais refinada e estabelecida no fundo das almas e que mostram que elas não são absolutamente alheias à modernidade. Esse é um traço também que me parece sério, já que, sempre que se falou de Estado, como no caso de Weber, de Marx, etc; ele seria a ponta extrema da modernidade. Não é isso que estamos observando no catolicismo e no islã. Isso leva a questionar a idéia de modernidade.

‘Se hoje o petróleo está justificando a invasão do Iraque e aquela tragédia toda, que é uma coisa que vem do século XVIII, a hora em que água assumir o estatuto que o petróleo tem hoje, a coisa vai ser mais selvagem’ (Foto: Antoninho Perri)

O ébrio convertido
A lógica do Estado, tal como foi construída desde o século XVI, seria a da racionalidade laica, científica e tecnológica e, portanto, da não-ingerência de valores transcendentes na ordem da justiça, do mercado etc. No entanto, na mesma medida em que o Estado não cumpre mais o seu papel de regulador dos mercados e tudo mais, abriu-se essa lacuna. É possível entender porque numa democracia laica por excelência, como nos Estados Unidos, é comandada por um presidente da República que é quase um pastor leigo... Em campanhas eleitorais, Bush aparecia como um ébrio que se converteu a Jesus. Com isso, são vetadas leis que favoreçam até mesmo o tratamento da Aids, células-tronco etc. E isso não é um fenômeno de meia dúzia de seitas. Trata-se de um fenômeno muito mais amplo.

A guerra perene
A questão da guerra e da paz precisa ser vista com o realismo do que aconteceu com o Estado. Numa perspectiva pessoal, creio que falar hoje de paz é uma tarefa muito árdua. Tivemos duas guerras mundiais, dois regimes estatais fortíssimos – stalinismo e o nazifascismo – e ditaduras que duraram décadas e mais décadas. Contudo, acabada a Segunda Guerra, constatou-se, olhando o quadro, que a guerra continua. Não faltam exemplos: Coréia, Vietnã, conflitos na África, guerras coloniais, regionais etc. Presenciamos uma continuidade perene da guerra, sendo que não dá para esperar nem do Estado nem das agências éticas uma atenuação desse status quo. E isso, na minha opinião, é o mais trágico. Não há um momento de paz.

E os tratados?
Não existe mais Estado que seja capaz de garantir a palavra apenas pela força. Muitas vezes, a palavra é inclusive empregada justamente para disfarçar a força. O mundo de hoje é dividido em grandes federações: a norte-americana, com todos os seus satélites; a européia, com todos os seus problemas; a China, o Japão e alguns países asiáticos; e a Rússia, que ninguém sabe para onde vai e não sabe se é européia ou asiática. Cada bloco tem a força e não hesita em utilizá-la. Quando se fala dessa crise do Estado, a própria união em termos federativos já mostra essa crise e a tentativa de encaminhamento de solução. O que isso quer dizer? Sem essa política dessas superfederações, não há nenhum tratado internacional que possa subsistir. E, nisso tudo, a ONU é uma espécie de delírio ou de sonho. Trata-se de um organismo que na sua própria constituição já mostra que é uma coisa maluca. Ela tem uma quantidade imensa de países que aderem a ela. Supostamente, os tratados e convenções que ela proclama são de validade internacional e são desobedecidos pelos membros do seu próprio Conselho de Segurança. Não faltam exemplos. Se a ONU tivesse um exército a seu dispor, talvez os tratados tivessem validade. Como isso não acontece, os tratados ajudam apenas a atenuar algumas situações, como é o caso dos prisioneiros capturados pelos Estados Unidos e levados para Guantánamo, em Cuba. Os tratados exercem alguma pressão moral sobre a opinião pública e sobre os governos, mas o seu alcance é pequeno. No caso de Guantánamo, pesou a atuação da opinião pública e da imprensa. Nem as grandes agências éticas ajudaram. Vamos pegar o exemplo do papado de João Paulo II. O que ele falou, de fato, para mudar a situação dos prisioneiros? O que foi feito pelo Vaticano? Nada.

Desejo da paz
A história da paz é a história do desejo da paz. É uma espécie de alvo que teria o mesmo batismo dos grandes pensadores sobre a crise da humanidade. Não é mais uma crise de Estado. É uma coisa muito própria do século XVIII. Apenas nesse período se encontra, com as Luzes, a idéia de uma Cosmópolis, de uma grande comunidade de povos regidos por leis internacionais e válidas para todos. Já o século XIX é o século do nacionalismo, da recusa dessa idéia. Quando eu era jovem, chamar alguém de cosmopolita era o equivalente a ser taxado de burguês idiota do século XVIII. O cosmopolitismo ia contra o nacionalismo e o marxismo, que era internacionalista.

O corolário
A guerra já traz a morte, a destruição e o sofrimento. Junto com ela, vem a desobediência aos mínimos preceitos do direito civil e do respeito aos direitos humanos. Não me parece irracional fazer a seguinte ilação: não existiria Auschwitz se não existissem a Primeira e a Segunda Guerras. Nós não sabemos até onde vai a violência. Não existiria o massacre em Sabra e Chatila se não houvesse uma guerra permanente no Oriente Médio. Os atos contra a população é o corolário da guerra.

As matrizes éticas
A idéia de matriz é uma idéia de forma originária. Ocorre que essa forma originária é também histórica. Basta pegar, por exemplo, a matriz ética maior, que abarca o cristianismo, o islamismo e o judaísmo, e que são as culturas que vão do Médio Oriente até a Inglaterra, ao longo de dois mil anos. Nesse caudal, temos elementos de uns emprestados de outros. Nenhuma delas, porém, surge do nada – são apropriações seletivas de culturas, tais como a egípcia, a grega, a fenícia etc. Essa matriz aparece por meio da escrita, por meio do que chamamos de “religião do livro”, com todas suas variantes, continuidades e rupturas internas. Quando falo em matrizes éticas, constato que não é possível identificar os comportamentos e valores de um segmento ignorando os outros. Aqueles valores são, em boa parte, partilhados. A questão que se coloca é: vale a pena fazer a guerra para ampliar a glória de Deus? Sempre fico com a seguinte frase do Diderot: “Não se pode transforma Deus num punhal”. Pode-se argumentar que isso não é fundamental nem no cristianismo, no judaísmo e no islamismo, mas cabe outra pergunta: onde está esse valor que não aparece?

O belicismo religioso
É muito interessante observar, na cultura formadora dessa matriz ética, que ser pacifista muitas vezes é sinônimo de ser traidor, de não ser suficientemente ardente na fé. Esse belicismo não é composto apenas de armas físicas; trata-se, também, de um belicismo intelectual. As idéias são usadas para arrebentar com o outro. Infelizmente, a cultura universitária – e, conseqüentemente, a científica – não é diferente. Nem sempre as idéias estão a serviço do bem da humanidade. Inclusive é sempre bom lembrar a distinção ética, que na minha opinião é muito importante: uma coisa é o valor ético e moral do indivíduo; outra coisa são seus conhecimentos. Imagine um nazista, altamente qualificado em física, que apóia o Hitler. É possível encontrar um físico fantástico que seja um cidadão de quinta categoria, quando não um bandido. Ou, então, é possível encontrar um grande filósofo que seja um tremendo nazista, como é o caso Heidegger. É perfeitamente possível ser louco tendo um cérebro poderoso, com uma capacidade de intelecção dos problemas humanos e naturais absolutamente superior. Isso é o mais comum na nossa cultura. Esse ideal de elevação moral é muitas vezes visto como hipocrisia ou ausência de coragem para enfrentar a luta.

O útero
Nessa matriz ética, como no caso da União Soviética, a partir do momento em que o indivíduo recusa os pressupostos do sistema, se recusa a assumir o papel de guerreiro, para defender, no caso, o estado soviético, ele acaba no campo de concentração. Isso aconteceu, também, com as testemunhas de Jeová. E isso é interessante, porque eles não são um exemplo de progressistas. Mas, o fato de eles serem pacifistas, criou problemas com as democracias ocidentais e com o nazismo, fascismo e o stalinismo. Alguma coisa, portanto, tem que fazer pensar sobre a matriz ética, que é o que me deixa mais preocupado. Por isso que eu tentei mostrar, no artigo, que o Estado até saiu um pouco dessa matriz ética, mas hoje não é isso que está acontecendo. Ele não conseguiu sair desse útero, e não vai conseguir.

O intelectual empenhado
Quantos Kant você tem? Quantos Bertrand Russel você tem na história da filosofia. Não colocaria Sartre nessa lista, mesmo porque ele abençoava as guerrilhas e a União Soviética. Essa idéia de intelectual empenhado é muito própria da matriz. O bom cidadão, nesse contexto, é aquele que assume a defesa e o ataque dos valores fundamentais, destruindo quem o ameaça. Pior: destruindo com a bênção de Deus... Não adianta apenas ter Deus: temos que providenciar uma boa espada...

Ceticismo
Não vejo esperança absoluta em termos de paz porque nós somos seres naturais e os recursos da natureza são infinitos. Mas, para nós, os recursos da natureza são escassos, finitos. Se hoje o petróleo está justificando a invasão do Iraque e aquela tragédia toda, que é uma coisa que vem do século XVIII, a hora em que água assumir o estatuto que o petróleo tem hoje, a coisa vai ser mais selvagem. No caso do petróleo, você ainda pode tentar energias alternativas, mas e com a água? Acabou, não tem mais jeito. O mais trágico é que tudo isso é para aumentar um pouco mais o tempo da existência de determinado povo no planeta, já que a morte está definida. Todo mundo sabe que o planeta Terra vai morrer. Isso não é apenas uma profecia, é um fato real: nós vamos morrer. Talvez consigamos viver mais um milhão de anos, mas ninguém sabe. Sair pelo universo à maneira da ficção científica é um escape, mas é muito mais delirante do que aconteceu no Renascimento. Uma coisa é você sair de Portugal e da Inglaterra e ir até Cingapura, e outra é ganhar o espaço.

Delírios
Em 1993, o jornal Libération publicou um dossiê de umas 15 matérias sobre a água no trato palestino-israelense. A matéria mostra que aquele delírio do deserto, que floriu no deserto israelense, ocorreu à custa da água retirada dos palestinos. Contudo, gastaram tanta água que agora existe uma comissão formada por cientistas israelenses e palestinos para ver o que pode ser feito para reparar o estrago. Ficam as perguntas: como vai ser reparado o estrago de uma terra que já não tinha água? Como a paz vai ser estabelecida com a morte genérica se tornando cada vez mais dura? Como produziremos alimentos sem água? O que fazer com esse uso absolutamente delirante de agrotóxicos?

O calor das massas
Os revolucionários franceses tinham plena noção das nossas limitações, sobretudo a partir da questão da termodinâmica. A partir do momento que se percebe que o sistema está esfriando, para compensar é necessário que se obtenha calor suficiente, que por sua vez somente pode ser obtido por meio da tecnologia. Por isso que o pessoal do século XVIII era absolutamente apegado à tecnologia e ao avanço tecnológico. A Enciclopédia de Diderot é isso: uma tentativa de ampliar, o máximo possível, a tecnologia para que mais gente tivesse colaborando nessa tarefa de ampliar a fonte de calor e de vida.

Mas percebeu-se que a entropia é uma coisa que funciona no plano da natureza, das relações políticas e do Estado. Essa idéia, por exemplo, de produzir calor revolucionário. A frase mais terrível dos jacobinos, proferida por Saint-Just, quando eles perderam a parada, foi: “A revolução gelou”, ou seja, as massas já não eram mais fontes de calor. Assim, é preciso produzir artificialmente, tecnologicamente, o entusiasmo das massas. E é isso que vivemos desde o final da Revolução Francesa: os Estados utilizam a propaganda para produzir o calor das massas. Trata-se de uma produção que não dá garantia nenhuma...

Domínio da técnica
Vamos supor que funcione a aposta na tecnologia. Nós tivemos pelo menos três revoluções tecnológicas no século XX, sendo que as duas últimas são as mais importantes: a informatização e, por meio dela, a apropriação de determinadas formas de gerar conhecimento e manter, ao contrário do que se imagina, em poucos círculos o poder mundial. O capital financeiro é um exemplo dessa superconcentração. O que vem a ser ele? É o domínio da técnica de comunicação a serviço da desestabilização de todo um sistema nacional. Temos, então, as chamadas elites dos países dominados, que são reprodutoras dessas condições. Elas não são produtoras. Onde, por exemplo, o Brasil produz hardware? Nós somos apenas consumidores de tecnologia de ponta. Vão dizer que sou nacionalista, mas não é nada disso. Ocorre que há uma distribuição desigual de saberes no mundo.

E o acesso?
Há o ideal da ciência e da tecnologia, mas há tem também uma apropriação disso, e ela é muito séria. Vamos supor, por exemplo, que um bioquímico desenvolva uma fórmula para a economia de água. Quantos povos teriam condições de ter acesso a esse saber? Aplica-se, então, o aforismo do Bacon: “saber e poder encontram-se num só...” Com Bacon, a Inglaterra tornou-se grande potência, unindo ciência, tecnologia e força física.

Impondo a morte
Na tarefa de tentar adiar essa morte genérica programada, torna-se necessário impor a morte aos outros. Escapar a essa lógica é uma tarefa que desafia o pensamento, a moral, a ética etc. Não é possível dar respostas ingênuas a esse estado de coisas.

A tradição dos mortos
Quando um país é invadido e sua cultura é atacada, o invasor está atacando os mortos. Benjamin disse: “Se os vencedores vencerem, e a história mostra que eles sempre venceram, então nem os mortos estão em segurança”. Esse imaginário cultural é justamente o lugar onde as matrizes se manifestam. A tradição dos mortos é o que garante a nossa continuidade.