segunda-feira, 29 de junho de 2009

No Blog de Ucho Haddad, a reprodução do Blog de Sarney Filho. Leia e lembre que é esta gente a ser defendida, como "incomum" por Lulla.











SEGUE O GAROTINHO DE OURO PARA A GENTE INCOMUM.







E COMO É INCOMUM ESTA GENTE! EXISTIRÃO SEMPRE BEÓCIOS PETISTAS PARA JUSTIFICAR OS GASTOS DOS MARIA ANTONIETA DO MARANHÃO. PETISTA QUE PENSA É UM CÍRCULO QUADRADO, OU UMA IMPOSSIBILIDADE ONTOLÓGICA. E NOTE-SE NA NOTA (INSISTO, MESMO QUE ME SERVINDO DE REDUNDÂNCIAS) A PRESENÇA DOS PRIMOS TUCANOS, FELIZES FELIZES. É POR ESTAS E OUTRAS QUE JAMAIS SAIRÁ CPI DA PETROBRAS, JAMAIS SERÁ MUDADA A ADMINISTRAÇÃO DO SENADO. E JAMAIS O CONGRESSO, TAL COMO SE DETERMINA AGORA, SERÁ UMA INSTITUIÇÃO DEMOCRÁTICA. AQUELAS CASAS SÃO REGIDAS POR NORMAS E OCUPADAS POR PESSOAS OLIGÁRQUICAS. SIMPLES ASSIM. AGORA, NÃO ME CURVO, COMO OS MAQUIAVÉIS DE BOTECO QUE OSTENTAM BONÉS E ESTRELAS VERMELHAS, À CASA GRANDE. E ME RECUSO A ACEITAR A SENZALA. LUTAREI ATÉ O ULTIMO FÔLEGO CONTRA TODOS, PRIMOS PETISTAS E TUCANOS, PARENTES PEEMEDEBISTAS, DEMISTAS, ETC.
QUE SE VAYAN TODOS!
RR

PS: OS GASTOS, COM CERTEZA, FORAM CONSIDERADOS MÍNIMOS, PELOS "BIEN NÉS" DO MARANHÃO, O ESTADO COM O MENOR ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL DESTE INFELIZ BRASIL. MARIMBONDOS DE FOGO NO TRASEIRO DELES!


Festa para PH em Paris
19/05/2004


Pergentino Holanda muda de idade hoje e comemorou a data na madrugada, regado a Chateua Margot, no restaurante La Coupole, em Paris, numa mesa com o senador Tasso Jereissati e sua esposa Renata, Jorge Murad Júnior e a senadora Roseana, Fernando e Teresa Murad Sarney, o ministro Antenor Bogéa, o presidente da CBF Ricardo Teixeira, o advogado Carlos de Almeida Castro, José Adriano Sarney (filho do deputado Sarney Filho que
está fazendo mestrado em Direito Internacional na Sorbonne) e sua namorada Sabrini Choquet, Carlos Filho e Rafaela Sarney, Maria Vandira Peixoto, o comendador Bacarat Veloso e o embaixador Sérgio Amaral (sem a esposa Rosário, que está em Nova York).

No começo da noite o embaixador Sérgio Amaral recebeu a delegação do Brasil que foi participar das comemorações do centenário da Fifa em Paris, oferecendo em seguida um coquetel na residência oficial da Embaixada Brasileira na capital francesa.

À meia-noite, o “Parabéns” foi comandado por uma fila de 10 garçons do La Coupele, que capricharam na apresentação de um bolo multicolorido.

A comemoração do aniversário do PH em Paris continua hoje, com um coquetel que será servido no apartamento do casal Rodrigo Fonseca (conselheiro da Embaixada) e Ana Paula. Depois o grupo segue para o restaurante Tailleivamp, um dos redutos gastronômicos mais sofisticados do mundo. No dia 21 PH decola com a delegação da CBF para Barcelona.

http://www.chicoalencar.com.br/chico2004/chamadas/2009/Charge28022009.jpg

Correio da Cidadania.

"James Petras é sociólogo, nascido em Boston, e publicou mais de sessenta livros de economia política e, no terreno da ficção, quatro coleções de contos." Assim o autor do texto abaixo é apresentado, no encerramento de sua obra. Entendo, com a leitura atenta de suas repetições ideológicas que o escrito se insere na sua obra de ficção ideológica. Ou entre os seus contos fantásticos. Vale a pena ler uma obra prima de escrita stalinista, décadas após a queda do Kremlin totalitário. Recordemos : o jornal mais mentiroso da Histórica tinha como nome "A verdade". Bom G. Orwell, com a novilíngua... RR


Irã: A mentira das "eleições roubadas" PDF Imprimir E-mail
Escrito por James Petras
24-Jun-2009

"Mudança para os pobres significa comida e empregos, não um código de vestuário descontraído ou recreações diversas... A política no Irã é muito mais sobre guerra de classe do que sobre religião".

Editorial do Financial Times, 15 de junho de 2009.

Introdução

Dificilmente haverá qualquer eleição, na qual a Casa Branca tenha um interesse significativo, em que a derrota eleitoral do candidato pró-EUA não seja denunciada como ilegítima por todos os políticos e veículos de comunicação de massa da elite. Nos últimos tempos, a Casa Branca e seus seguidores gritaram "pênalti" após as livres (e monitoradas) eleições na Venezuela e em Gaza, enquanto alegremente fabricaram um ‘êxito eleitoral’ no Líbano apesar do fato de a coligação liderada pelo Hezbollah ter recebido mais de 53% dos votos.

As eleições concluídas a 12 de junho no Irã são um caso clássico. O candidato à reeleição, o nacionalista-populista presidente Mahmoud Ahmadinejad (MA), recebeu 63,3% da votação (ou 24,5 milhões de votos), ao passo que o principal candidato da oposição liberal, apoiado pelo Ocidente, Hossein Mousavi (HM), recebeu 34,2% (ou 13,2 milhões de votos).

A eleição presidencial iraniana atraiu um comparecimento recorde de mais de 80% do eleitorado, incluindo uma votação sem precedentes de 234.812 do estrangeiro, na qual HM obteve 111.792 e MA 78.300. A oposição liderada por Mousavi não aceitou a sua derrota e organizou uma série de manifestações de massa que se tornaram violentas, resultando na queima e destruição de automóveis, bancos, edifícios públicos e confrontos armados com a polícia e outras autoridades.

Quase todo o espectro de formadores de opinião ocidentais, incluindo todos os grandes meios eletrônicos e impressos, principais sites liberais, radicais, libertários e conservadores, refletiu a queixa da oposição de fraude eleitoral desenfreada. Neoconservadores, conservadores libertários e trotskistas juntaram-se aos sionistas louvando os insatisfeitos da oposição como a guarda avançada de uma revolução democrática. Democratas e republicanos condenaram o regime, recusaram-se a reconhecer o resultado da votação e louvaram os esforços dos manifestantes para subverter o resultado eleitoral. O New York Times, a CNN, o Washington Post, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel e toda a liderança dos presidentes das principais organizações judias americanas clamaram por sanções mais duras contra o Irã e anunciaram o proposto diálogo de Obama com o Irã como esforço inútil.

A mentira da fraude eleitoral

Os líderes ocidentais rejeitaram os resultados porque ‘sabiam’ que o seu candidato reformista não podia perder... Durante meses publicaram entrevistas diárias, editoriais e reportagens de campo ‘pormenorizando’ os fracassos da administração de Ahmadinejad. Mencionaram o apoio de clérigos, antigos oficiais, comerciantes do bazar e acima de tudo mulheres e jovens de cidades fluentes em inglês para provar que Mousavi estava destinado a uma vitória esmagadora. Uma vitória de Mousavi foi descrita como uma vitória das ‘vozes moderadas’, pelo menos na versão da Casa Branca deste vago clichê. Eminentes acadêmicos liberais deduziram que a contagem de votos fora fraudulenta porque o candidato da oposição, Mousavi, perdeu no seu próprio enclave étnico, entre os azeris. Outros acadêmicos afirmaram que o voto da juventude – baseados em suas entrevistas com estudantes universitários da alta e média classe das vizinhanças do Norte de Teerã - era esmagadoramente a favor do candidato ‘reformista’.

O que é espantoso acerca da condenação universal do Ocidente do resultado eleitoral como fraudulento é que nem uma única partícula de evidência, tanto na forma escrita como de observação, foi apresentada tanto antes como uma semana após a contagem de votos. Durante toda a campanha eleitoral, nenhuma acusação crível (ou mesmo dúbia) de interferência junto aos eleitores foi levantada. Como os meios ocidentais acreditaram na sua própria propaganda de uma vitória intrínseca do seu candidato, o processo eleitoral foi descrito como altamente competitivo, com debates públicos candentes e níveis sem precedentes de atividade pública e desembaraçada pelos prosélitos dos candidatos. A crença numa eleição livre e aberta era tão forte que os líderes ocidentais e os veículos de massa acreditaram que o seu candidato favorito venceria.

Os meios ocidentais confiaram nos seus repórteres que cobriam as manifestações de massa dos apoiadores da oposição, ignorando e subestimando o enorme comparecimento a favor de Ahmadinejad. Pior ainda, ignoraram a composição de classe das manifestações concorrentes, o fato de que o candidato à reeleição tinha o apoio da muito mais numerosa classe trabalhadora pobre, formada por camponeses, artesões e empregados de setores públicos, ao passo que o grosso dos manifestantes da oposição provinha de estudantes da classe alta e média, da classe dos negócios e dos profissionais.

Além disso, a maior parte dos líderes de opinião e repórteres ocidentais instalados em Teerã extrapolou suas projeções a partir de observações na capital – poucos aventuraram-se nas províncias, cidades e aldeias de pequena e média dimensão, onde Ahmadinejad tem a sua base de massa de apoio. Além do mais, os apoiadores da oposição eram uma minoria ativista de estudantes facilmente mobilizada para atividades de rua, ao passo que o apoio de Ahmadinejad provinha da maioria da juventude trabalhadora e donas de casa que exprimiriam o seu ponto de vista na urna eleitoral, mas tinham pouco tempo ou inclinação para empenhar-se em política de rua.

Um certo número de sabichões dos jornais, incluindo Gideon Rachmn do Financial Times, apresenta como evidência de fraude eleitoral o fato de Ahmadinejad ter ganho 63% dos votos numa província de língua azeri contra o seu oponente, Mousavi, de etnia azeri. A suposição simplista é que a identidade étnica ou o pertencimento a um grupo lingüístico é a única explicação possível do comportamento eleitoral, ao invés de outros interesses sociais ou de classe.

Um olhar mais atento ao padrão de votação na região Leste-Azerbaijão do Irã revela que Mousavi venceu apenas na cidade de Shabestar entre as classes alta e média (e apenas por uma pequena margem), dado que foi completamente derrotado nas áreas rurais mais vastas, onde as políticas redistributivas do governo Ahmadinejad ajudaram os de etnia azeri a cancelarem dívidas, obterem créditos baratos e empréstimos fáceis para os agricultores. Mousavi venceu na região do Azerbaijão Ocidental utilizando suas ligações étnicas para ganhar os eleitores urbanos. Na altamente populosa província de Teerã, Mousavi bateu Ahmadinejad nos centros urbanos e Shemiranat ao ganhar o voto dos distritos da classe média e alta, ainda que tenha perdido duramente nos subúrbios adjacentes da classe trabalhadora, pequenas cidades e áreas rurais.

A ênfase descuidada e distorcida sobre ‘votação étnica’ citada por redatores do Financial Times e do New York Times a fim de apresentar a vitória de Ahmadinejad como uma ‘eleição roubada’ é acompanhada pela obstinada e deliberada vontade dos meios de recusarem uma rigorosa pesquisa de opinião em escala nacional efetuada por dois peritos dos EUA, apenas três semanas antes da votação, a qual mostrava Ahmadinejad liderando por uma margem de 2 para 1 – ainda maior do que a sua vitória eleitoral de 12 de junho. Esta pesquisa revelava que entre os de etnia azeri Ahmadinejad era favorecido por uma margem de 2 para 1 em relação a Mousavi, demonstrando como os interesses de classe representados por um candidato podem ultrapassar a identidade étnica do outro candidato (Washington Post, 15/06/2009). A pesquisa também demonstrava como as questões de classe, dentro de grupos etários, eram mais influentes na moldagem de preferências políticas do que o ‘estilo de vida geracional’. De acordo com este inquérito, mais de dois terços da juventude iraniana era demasiadamente pobre para ter acesso a um computador, e aqueles com idade dos 18 aos 24 anos ‘incluíram o bloco eleitoral mais forte a favor de Ahmadinejad entre todos os outros grupos’ (Washington Post, 15/06/2009).

O único grupo que apoiou fortemente Mousavi foi o dos estudantes universitários e licenciados, donos de negócios e a classe média alta. O ‘voto da juventude’, o qual os ocidentais louvaram como ‘pró-reformista’, era uma clara minoria de menos de 30%, mas veio de um grupo altamente privilegiado, eloqüente e que em grande parte falava inglês, com um monopólio sobre os veículos ocidentais. A sua presença esmagadora nas reportagens ocidentais criou o que foi mencionado como a "Síndrome de Teerã Norte", o confortável enclave da classe alta do qual provieram muitos destes estudantes. Apesar de que pudessem ser articulados, bem vestidos e fluentes em inglês, no segredo da urna eleitoral foram profundamente derrotados.

Na generalidade, Ahmadinejad saiu-se muito bem nas províncias produtoras de petróleo e petroquímica. Isto pode ter sido um reflexo da oposição dos trabalhadores do petróleo ao programa ‘reformista’, o qual incluía propostas para ‘privatizar’ empresas públicas. Da mesma forma, o presidente em exercício saiu-se muito bem junto às províncias fronteiriças devido à sua ênfase no fortalecimento da segurança nacional em relação às ameaças estadunidenses e israelenses depois de uma escalada de ataques terroristas transfronteiriços patrocinados pelos EUA a partir do Paquistão e de incursões apoiadas por Israel a partir do Curdistão iraquiano, as quais mataram grande número de cidadãos iranianos. O patrocínio e o financiamento maciço dos grupos por trás destes ataques é uma política oficial dos EUA desde a administração Bush, que não foi repudiada pelo presidente Obama. De fato, ele escalou-a como preparação para as eleições.

O que os comentaristas ocidentais e os seus protegidos iranianos ignoraram é o impacto poderoso que as devastadoras guerras dos EUA e a sua ocupação do Iraque e do Afeganistão têm sobre a opinião pública iraniana: a posição forte de Ahmadinejad em matéria de defesa contrastou com a postura pró-ocidental e fraca de muitos dos propagandistas da campanha da oposição.

A grande maioria dos eleitores favoráveis ao presidente em exercício provavelmente sentiu que os interesses da segurança nacional, da integridade do país e do sistema de previdência social, com todas as suas falhas, podiam ser melhor defendidos e melhorados com Ahmadinejad do que com os tecnocratas das classes altas, apoiados pela juventude privilegiada orientada para o ocidente e que aprecia mais os estilos de vida individualistas do que os valores da comunidade e solidariedade.

A demografia dos votos revela uma polarização de classe real, contrapondo capitalistas individualistas de alto rendimento e orientados para o mercado livre à classe trabalhadora, de baixo rendimento, apoiadora de uma ‘economia moral’ baseada na comunidade, na qual a usura e a especulação são limitadas por preceitos religiosos. Os ataques abertos de economistas da oposição às despesas do governo com a previdência, com o crédito fácil e com os pesados subsídios a alimentos básicos não os favoreceram junto à maioria dos iranianos beneficiários daqueles programas. O Estado era encarado como o protetor e benfeitor dos trabalhadores pobres contra o ‘mercado’, o qual representava riqueza, poder, privilégio e corrupção. O ataque da oposição à ‘intransigência’ da política externa do regime e a posições ‘isolando’ o Ocidente só tinha eco junto a estudantes liberais da universidade e grupos de negócios do import-export. Para muitos iranianos, o fortalecimento militar do regime foi visto como impedimento a um ataque dos EUA ou de Israel.

A escala do déficit eleitoral da oposição deveria contar-nos quão fora de sintonia ela está em relação às preocupações vitais do seu próprio povo. Deveria recordar-nos que, ao mover-se para mais perto da opinião ocidental, ela removeu-se dos interesses cotidianos da segurança, habitação, emprego e preços subsidiados dos alimentos que tornam a vida tolerável para aqueles que vivem abaixo da classe média e do lado de fora dos portões privilegiados da Universidade de Teerã.

O êxito eleitoral de Ahmadinejad, visto na perspectiva do contexto histórico, não deveria surpreender. Em competições eleitorais semelhantes entre nacionalistas-populistas contra liberais pró-ocidentais, os populistas ganharam. Os exemplos passados incluem Perón na Argentina e, mais recentemente, Chávez da Venezuela, Evo Morales na Bolívia e mesmo Lula da Silva no Brasil, todos eles tendo demonstrado uma capacidade para assegurar margens próximas ou mesmo superiores a 60% em eleições livres. As maiorias votantes nestes países preferem a previdência social em relação a mercados sem restrições e segurança nacional ao invés de alinhamentos com impérios militares.

As consequências da vitória eleitoral de Ahmadinejad estão abertas ao debate. Os EUA podem concluir que continuar apoiando uma minoria barulhenta, mas pesadamente derrotada, tem poucas perspectivas de assegurar concessões sobre o enriquecimento nuclear e um abandono do apoio do Irã ao Hizbollah e ao Hamas. Uma abordagem realista seria abrir uma discussão ampla com o Irã e reconhecer, como o senador Kerry destacou recentemente, que o enriquecimento de urânio não é uma ameaça existencial para ninguém. Esta abordagem diferiria agudamente daquela dos sionistas americanos, incorporada no regime Obama, que segue a orientação de Israel de pressionar por uma guerra antecipatória com o Irã e que utiliza o argumento falacioso de que nenhuma negociação é possível com um governo "ilegítimo" em Teerã, que ‘roubou uma eleição’.

Acontecimentos recentes sugerem que líderes políticos na Europa, e mesmo alguns em Washington, não aceitam a linha dos meios de comunicação sionistas de "eleições roubadas". A Casa Branca não suspendeu a sua oferta de negociações com o governo recém-eleito, mas centrou-se na repressão dos manifestantes da oposição (e não na contagem de votos). Da mesma forma, os 27 países da União Européia exprimiram ‘séria preocupação acerca da violência’ e apelaram a que ‘as aspirações do povo iraniano sejam alcançadas através de meios pacíficos e que a liberdade de expressão seja respeitada’ (Financial Times, 16/06/2009, p.4). Exceto por Sarkozy, da França, nenhum líder da UE questionou o resultado da votação.

A interrogação na sequência das eleições é a resposta israelense. Netanyahu assinalou aos seus seguidores sionistas americanos que eles deveriam utilizar o ardil da ‘fraude eleitoral’ para exercer a máxima pressão sobre o regime Obama no sentido de acabar com todos os planos para encontrar-se com o novamente reeleito Ahmadinejad.

Paradoxalmente, comentaristas estadunidenses (da esquerda, direita e centro) que ‘compraram’ a mentira da fraude eleitoral estão de forma não intencional proporcionando a Netanyahu e seus seguidores americanos argumentos e falsificações: onde eles vêem guerras religiosas, nós vemos guerras de classe; onde eles vêem fraude eleitoral, nós vemos desestabilização imperial.

James Petras é sociólogo, nascido em Boston, e publicou mais de sessenta livros de economia política e, no terreno da ficção, quatro coleções de contos.

São Paulo, segunda-feira, 29 de junho de 2009



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ENTREVISTA DA 2ª - ABBAS MILANI

O Irã pode se transformar em um novo Paquistão

Analista iraniano identifica risco de uma ditadura militar se instalar em Teerã

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

SERGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Se conseguir esmagar a oposição, o Irã corre o risco de se tornar "um novo Paquistão", "uma ditadura militar usando aiatolás como ferramentas subservientes". A opinião é do diretor do Centro de Estudos do Irã da Universidade Stanford, o iraniano Abbas Milani, 60, um dos pensadores mais prestigiados nos Estados Unidos sobre o Irã. Ele dirigiu o Centro de Estudos Internacionais da Universidade de Teerã até 1987, quando deixou o país.

Para ele, o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do país, sai enfraquecido porque "sua voz foi desafiada e precisou se sustentar na Guarda Revolucionária para garantir Ahmadinejad no poder". Ele também fala da real disputa interna pelos negócios de petróleo e infraestrutura, que, segundo ele, Ahmadinejad foi entregando a militares e milicianos.

Milani falou à Folha por telefone, da Califórnia, onde moram 2 milhões de iranianos.

REGIME ISOLADO

A liderança iraniana está buscando um país mais isolado ao resto do mundo, com uma retórica mais agressiva e uma repressão doméstica maior. Eles acham que essa é a única forma de manter a coesão interna. Um regime mais aberto tiraria a razão de existir da teocracia dos aiatolás.


TESTE DE FORÇAS

A oposição verá se consegue organizar mais protestos em massa, eventualmente greve geral. Khamenei e Ahmadinejad e seus aliados vão tentar garantir que nada disso aconteça e continuar com as prisões de jornalistas e partidários de Mousavi. Se a situação for bem-sucedida, veremos Ahmadinejad tomar posse do segundo mandato muito em breve e começar seu segundo mandato num período de relativa calma. Será uma impressão falsa passada ao mundo, mas será a impressão imediata.


GOLPE PREVENTIVO

Acho que houve um golpe preventivo. Eles temiam ou tinham certeza de que perderiam a eleição e não quiseram correr riscos. Mousavi sempre teve uma péssima relação com o aiatolá Khamenei. Na época em que os dois coabitaram, Mousavi foi um primeiro-ministro forte, o maior executivo do governo com total apoio do então aiatolá Khomeini, e Khamenei foi um presidente com poderes limitados. Quando Khamenei virou líder supremo, Mousavi passou para uma hibernação política de 20 anos, pintando e desenhando prédios. Quando voltou, Khamenei viu que havia uma ameaça.


ENFRAQUECIDOS

Se conseguirem massacrar a oposição, tanto Khamenei quanto Ahmadinejad terão poderes mais limitados, sairão mais enfraquecidos. Deverão muito à Guarda Revolucionária e aos basijis (a milícia paramilitar "vigilantes da Revolução"). E terão de dividir o poder. Khamenei ficará endividado com Ahmadinejad, que, internamente, terá mais poder, mas ficará como o presidente que não venceu a eleição.


PAQUISTANIZAÇÃO

O Irã corre o risco de virar um novo Paquistão. Os militares podem começar a mandar mais e mais, e colocar os aiatolás de lado. Há até o risco de que Ahmadinejad dê um golpe para virar o ditador único.
Em vários sentidos, o governo Ahmadinejad já militarizou o país, com 80% de seus ministros ex-comandantes da Guarda Revolucionária. O ministro do Interior, que comandou a apuração dos votos, é ex-brigadista. Embaixadores e governadores são militares. O poder religioso diminuiu.


PETRÓLEO

Há uma enorme disputa de poder pelos grandes negócios do Irã, do petróleo à construção de infraestrutura. Basijis e a Guarda Revolucionária já fazem bilhões em negócios petrolíferos e de construção, e no governo Ahmadinejad ganharam diversos contratos. Nos últimos 12 meses, empresas ligadas às duas forças ganharam 1,4 mil projetos só na área de irrigação. E isso é só um pequeno setor do governo! Seus comandantes vão querer mais poder.


LÍDER DESAFIADO

Khamenei sai diminuído. Em 20 anos como supremo líder, sua palavra determinava o fim da discussão e todo mundo seguia. Agora, não. Para quem era a voz de Deus, sua figura encolheu. Antes mesmo do final da apuração, o papel de Khamenei disse muito. Ele não esperou para referendar os resultados três dias após o anúncio. Apressou-se para anunciar o resultado e pedir aos adversários que apoiassem Ahmadinejad.

Agora, seu destino está amarrado ao de Ahmadinejad. Não se sabe o quanto ele pode contar com a obediência da Guarda Revolucionária ou até se ele se transformou em uma arma subserviente desta.

AGENDA DE OBAMA

O presidente americano tem lidado muito bem com a situação. Tem tomado cuidado para não dar ao regime uma desculpa para dizer que esse é um evento insuflado pelos americanos, mas deixou claro que está do lado do povo iraniano. Ao mesmo tempo, manteve aberta a possibilidade de, daqui a meses, negociar sobre o programa nuclear. Foram oito anos de Bush no extremo oposto, incluindo o Irã no "eixo do mal", anunciando US$ 75 milhões para movimentos que querem derrubar o atual governo, dizendo que apoia mudança de regime. Isso em cima de 50, 60 anos de relações traumáticas.


NEGOCIAR COM O IRÃ

Há visões conflitantes, de que o iraniano não está interessado em política e os EUA têm de lidar com o regime atual tal como é. Mas alguns de nós dizemos não, há um movimento democrático e, mesmo que os EUA negociem com o Irã, não devem perder esse movimento de vista. A solução é que ele ganhe espaço. Obama sabe disso.


RELÓGIO DA HISTÓRIA

Há possibilidade de vitória. Se milhões continuarem a ir às ruas, a força brutal do regime terá de se recolher. Você adia um round da luta, mas o relógio da história está contra os aiatolás. Veja as fotos da oração de sexta-feira de Khamenei, onde só há septuagenários com ideias medievais, e as fotos das manifestações, cheias de mulheres e jovens. Dois mundos que não se misturam.


APATIA E EXÍLIO

Meu temor é que a apatia e a descrença da classe média iraniana só cresçam a partir de agora. Desde os anos 90, milhares de doutores e profissionais qualificados emigram por ano por acharem que o país não tem solução. Há 5 milhões de iranianos no exterior. Se os ultraconservadores reprimirem ainda mais a liberdade, o número vai aumentar.


AHMADINEJAD

Não há dúvidas de que Ahmadinejad tem uma base de apoio entre os mais pobres e os camponeses. Mas é a base que mais sofre com a crise econômica do governo dele. Não tenho dúvidas de que houve fraude. Ahmadinejad pode ter 30% dos votos, pouco mais, e ganhou em 2005 porque houve boicote da classe média contra a eleição pela desilusão com a ausência de reformas.

O comparecimento foi de metade do eleitorado. Agora foi de 84%. A coligação que seguiu Mousavi é muito maior e mais abrangente. Mulheres, jovens, universitários, classe média, minorias étnicas, mercadores dos bazares, aiatolás como Montazeri e Rafsanjani e o muito popular Khatami. Foi um plebiscito sobre o status quo e Ahmadinejad.


REPRESSÃO

A Guarda Revolucionária já havia dito que reprimiria a "Revolução de Veludo" antes das eleições. Na própria sexta-feira, horas depois do fechamento das urnas, Ahmadinejad já era declarado vencedor. Mas os anúncios foram feitos de forma bagunçada. Cada porcentagem dos candidatos permaneceu igual do início ao fim da apuração, estatisticamente impossível em um país diverso como o Irã. E a demonstração de força militar se sucedeu nas ruas. Tudo prenunciava um golpe.


MUDANÇA DE REGIME

Acho que a mudança de regime virá, mas de dentro do Irã. Não vejo ninguém de fora com força para qualquer coisa. Mas a mudança interna será gradual. Não chamaremos de mudança de regime, mas será uma mudança fundamental no país como o conhecemos, em que um homem comanda tudo.

Veremos gradualmente a emergência de uma estrutura política mais robusta, em que os impedimentos para uma representatividade legítima serão removidos. Será mais parecido com a ideia inicial da revolução islâmica, em que o papel do líder supremo, do aiatolá, era mais decorativo, inspirado no da rainha da Inglaterra, não o que Khamenei se tornou, um líder autoritário com a palavra final em assuntos de Estado.

Voltaire e a Sátira...final.

E por falar em trabalhos publicados e não citados pelos coleguinhas, veja-se o trecho final do meu artigo "Voltaire e a Sátira" (link abaixo), hoje tão comum na escrita acadêmica nacional:

"O medo da impopularidade soma-se à demagogia e temos o falso pudor dos pensadores. A fala politicamente correta deixa impune o charlatanismo mais escandaloso. Os cérebros pensantes, em grande parte, são coniventes com as novas infâmias. Não se critica, nas rodas intelectuais, os milagreiros cujas anedotas fariam as delícias de Luciano, Rabelais, Erasmo, Voltaire, Diderot. Em plena São Paulo moderna já estão sendo vendidos, nos lucrativos escritórios das seitas, apartamentos paradisíacos. O seu preço aumenta se eles estiverem próximos à morada de Jesus Cristo. As chaves são entregues pelos pastores
com honestidade, depois da fatura paga... Esta história, como a de Luciano, é verdadeira. Como é efetiva a ignorância em nosso país. Aqui, as universidades são asfixiadas criminosamente pelos governos e astrólogos norteiam as mentes incultas. No Brasil, quem não acredita em milagre perde eleições. Urge purificar a fé pública e imprimir os iluministas franceses. Antes de escurecer os cérebros dos estudantes com o lero-lero irracionalista, ponha-se diante de seus olhos a saudável irreverência das Luzes, a razão satírica que atenua a loucura séria do fanatismo."

Apropriações estranhas, não reconhecidas...

Procuro não ser pequeno na avaliação dos colegas universitários que frequentam, comigo, a imprensa. Acho interessantes suas razões, quando analisam a corrupção sistêmica que toma conta do Brasil há muitos e muitos anos. Mas o que me choca é a falta de cerimônia com a qual abordam o problema, ignorando de propósito formas de tratamento e de compreensão do mesmo, já apresentadas por mim de modo público e, sublinho, original. Agora virou moda dizer que a corrupção deve ser encarada de maneira histórica e social. Em inúmeros artigos, palestras, entrevistas, apontei este lado epistemológico do estudo sobre a corrupção. E os colegas sabem disso. É o mesmo que ocorre com o problema do favor na vida social e política brasileira. Todos leram o livro da professora Maria Sylvia Carvalho Franco (Homens Livres na Ordem Escravocrata), mas quase todos que tratam o ponto fingem ter descoberto aquela característica ética do Brasil. E citar? Nem imagine, porque a autora não pertence às seitas peemedebistas, tucanas, petistas. É isso aí, minha gente! O Brasil intelectual, além das espinhas curvadas perenemente ao poder, ostenta mãos ágeis quando se trata de se apropriar do trabalho mental alheio. Triste assim. RR

Segue abaixo o trecho inicial da entrevista que concedi ao programa Roda Viva. Só por ele os leitores podem constatar a "originalidade" de muitos colegas universitários, nos seus embates de midia.


"Paulo Markun: Eu quero saber se a situação está melhorando ou está piorando em termos de corrupção no Brasil?

Roberto Romano: É difícil porque me parece que nós temos dois tipos de abordagem possível nesse caso. O primeiro é o seguido pelos senhores da imprensa, que é, eu diria, diacrônico. A cada novo fato vem um outro fato e outro fato e outro fato, mas todos que analisam em profundidade essa questão percebem que é sincrônica. No mesmo momento que uma chamada quadrilha está operando, a outra também está. Há uma sincronia muito grande, e aí é muito difícil você julgar se a situação, em termos diacrônicos, se está melhorando ou se, em termos sincrônicos, está piorando.

Paulo Markun: Mas à parte disso há uma corrente de opinião que acha o seguinte: à medida que novos fatos ou muitos mais fatos estão sendo investigados... a situação está melhor agora do que no passado, quando era tudo isso mas não havia investigação nenhuma. Ao passo que há outro grupo de pensamento que diz o seguinte: “não, hoje tem mais escândalos porque tem mais corrupção”. Nem isso é possível mensurar?

Roberto Romano: Olha é difícil. Eu volto a dizer que é difícil porque esses dois argumentos que você levantou são argumentos muitos partidários, nós sabemos bem isso. E me parece que é preciso, nesse caso, tirar um pouco este peso do partidarismo e da ideologia. Eu acho que nós, nos últimos anos, temos discutido sempre nessa perspectiva, agora melhorou porque a polícia está investigando, naquela época não investigava. É um pouco aventureiro dizer uma coisa dessas, no meu entender."

domingo, 28 de junho de 2009

Entrevista de Roberto Romano à Gazeta do Povo, Curitiba, sobre o Senado, Lula e quejandos.

Vida Pública

Domingo, 28/06/2009

Pedro Serápio/Gazeta do Povo

Pedro Serápio/Gazeta do Povo / “O Parlamento brasileiro é o lugar para as oligarquias regionais negociarem com o Poder Executivo central. Enquanto os parlamentares souberem que o governo federal não se sustenta sem o seu apoio, eles vão se sentir impunes e fazer o que quiserem.” “O Parlamento brasileiro é o lugar para as oligarquias regionais negociarem com o Poder Executivo central. Enquanto os parlamentares souberem que o governo federal não se sustenta sem o seu apoio, eles vão se sentir impunes e fazer o que quiserem.”
Política em baixa

“Lula está entrando para a História como aquele que abençoou a improbidade”

Entrevista: Roberto Romano,filósofo e professor de Ética e Política da Unicamp

Publicado em 28/06/2009 | Rhodrigo Deda

Os recentes elogios do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, à conduta do presidente do Senado, José Sarney (PMDB), num momento em que o Congresso Nacional passa por mais uma crise, soam mal aos ouvidos do filósofo e professor de Ética e Política Roberto Romano, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Para o professor, o comportamento do presidente acaba por legitimar práticas irregulares de autoridades públicas.

Romano criticou também a declaração de Lula que disse que Sarney tem uma biografia e não pode ser tratado como um cidadão comum. “Isso é lamentável. Não existe essa coisa de História do indivíduo”, afirmou. “Só que o problema de Sarney é mais grave do que tenta passar o presidente Lula. Ele (Sarney) tem uma incomum prática de permanência no poder.” O professor da Unicamp sugeriu algumas medidas para moralizar a política partidária.

Roberto Romano esteve em Curitiba na semana passada para a participar da segunda edição de 2009 do Papo Universitário, organizado pela Gazeta do Povo. O tema do encontro foi “Política acima do bem e do mal. Político pode tudo?”. Leia a seguir a entrevista que Romano concedeu à Gazeta.

Há uma série de escândalos no Congresso Nacional – atos secretos no Senado, farra das passagens da Câmara. Os parlamentares reconhecem os erros, mas não se pune os responsáveis. Qual o motivo para essa situação de crise que vive o Congresso?

No nosso caso, o Brasil é uma peculiar unidade de absolutismo. Ainda não rompemos com essa herança. E ainda há um longo predomínio da corte sobre o Parlamento. Muitos analistas políticos e historiadores dizem que o Parlamento brasileiro é o que mais durou aberto enquanto outros na América do Sul permaneceram fechados por um longo tempo. Mas ele permanece aberto porque não é exatamente um Parlamento – o lugar da representação popular. O Parlamento brasileiro é o lugar para as oligarquias regionais negociarem com o Poder Executivo central. Enquanto os parlamentares souberem que o governo federal não se sustenta sem o seu apoio, eles vão se sentir impunes e fazer o que quiserem. O Parlamento brasileiro é o lugar em que as reivindicações regionais são levadas ao Executivo, ao mesmo tempo em que é realizada a chantagem contra o Executivo. Resumindo: o Legislativo é um poder impotente.

Há um paradoxo hoje: políticos tentam esconder atos públicos, num momento em que o acesso à informação fica cada vez mais fácil. Há uma nova ética de informação transparente?

O exemplo do Irã é muito importante. Pois está vivendo hoje o que acontece aqui há dez anos, com tecnologias acessíveis ao cidadão comum. É muito difícil hoje esconder atos contrários à lei quando há cidadãos observando. É por isso que o grande inimigo – a besta negra dos improbos – é a imprensa. Desde o episódio do mensalão (suposta compra de apoio de parlamentares a projetos do governo federal) até o dos “aloprados” (petista envolvidos na compra de um dossiê para prejudicar o então candidato ao governo de São Paulo José Serra) e outros, todo o deputado improbo, sobe a tribuna para denunciar a imprensa e a opinião pública. Houve aquele episódio lamentável do deputado que disse que se lixa para a opinião pública. Ele vai se lixar por pouco tempo porque o famoso grotão – aquele lugar onde não chega nenhuma informação – não existe mais.

A imprensa tem recebido diversas críticas do presidente Lula. A Petrobras cria um blog que rebate jornalistas. E agora o presidente do Senado, José Sarney se diz vítima de campanha da mídia. O senhor acredita que pode haver investidas contra a imprensa por ela levantar denúncias contra autoridades públicas?

Acredito que as critícas à imprensa vão se acirrar ainda mais. Mas isso tem limites. Parece-me que essas investidas todas são tentativas de operacionalizar a grande popularidade que tem o presidente. De certa forma, ele é o grande calcionador dessas políticas improbas. Isso é muito ruim. Talvez ele não perceba que, como pessoa pública, está entrando para a história como aquele que abençoou a improbidade.

Há alguns dias, o presidente Lula disse que o presidente do Senado José Sarney não poderia ser tratado como uma pessoa comum. Do ponto de vista ético, como o senhor vê essa afirmação?

Isso é lamentável. Não existe essa coisa de história do indivíduo. A pessoa pode ser um grande herói, bondosa e tudo o mais. Mas, ela, de repente, comete um crime. Faz parte da natureza humana a falibilidade. Todo ser humano é falível. Sarney é homem, logo é falível. Só que o problema de Sarney é mais grave do que tenta passar o presidente Lula. Ele tem uma incomum prática de permanência no poder, inclusive no período ditatorial. É um homem a quem não devemos muita coisa. Assim como não devemos nada a Antonio Carlos Magalhães, nem a quem apoiou a ditadura militar. Não temos nada a agradecer a Sarney. Como presidente, o seu governo foi um dos mais lenientes da história da República.

No Paraná, uma denúncia de suposto caixa 2 na campanha de reeleição do prefeito Beto Richa (PSDB) está sendo investigada, assim como a suposta compra de apoio político de dissidentes do PRTB. Esses episódios acabam mostrando que dirigentes de partidos nanicos usam muitas vezes seu poder para benefício pessoal. O que falta aos partidos políticos para melhorarem suas práticas?

Esse é o problema da falta de democracia dos partidos brasileiros. Os grandes partidos são oligárquicos – DEM, PSDB e PT. E você tem essas “maquinetas” de caçar votos que são chamados de partidos por uma figura de linguagem. Esses pequenos partidos são, de fato, propriedades de duas ou três pessoas. Para mudar isso é preciso que seja realizada a “famosa reforma política”. Hoje você não tem no Brasil elementos saneadores, como as eleições primárias dentro dos partidos. O eleitor primário é simplesmente ignorado. As indicações das candidaturas não passam por esse processo. São feitas pelos donos dos partidos, que têm acesso ao fundo partidário.

E como mudar?

O meu discurso parece pessimista. Mas é preciso uma modificação estrutural para federalizar o Brasil. É preciso dar autonomia financeira aos municípios. Os estados não são autônomos. Se você federaliza, começa a dar responsabilidade aos entes da federação. Hoje o que se tem é um governo central que age como um exército invasor vitorioso, que dá as regras. Se você muda isso, começa a mudar os costumes da população, porque quebra-se a lógica atual do “é dando que se recebe”, em que parlamentares captam recursos do governo federal para suas bases. Isso é algo que tem de ser feito em longo prazo.