segunda-feira, 29 de junho de 2009

Apropriações estranhas, não reconhecidas...

Procuro não ser pequeno na avaliação dos colegas universitários que frequentam, comigo, a imprensa. Acho interessantes suas razões, quando analisam a corrupção sistêmica que toma conta do Brasil há muitos e muitos anos. Mas o que me choca é a falta de cerimônia com a qual abordam o problema, ignorando de propósito formas de tratamento e de compreensão do mesmo, já apresentadas por mim de modo público e, sublinho, original. Agora virou moda dizer que a corrupção deve ser encarada de maneira histórica e social. Em inúmeros artigos, palestras, entrevistas, apontei este lado epistemológico do estudo sobre a corrupção. E os colegas sabem disso. É o mesmo que ocorre com o problema do favor na vida social e política brasileira. Todos leram o livro da professora Maria Sylvia Carvalho Franco (Homens Livres na Ordem Escravocrata), mas quase todos que tratam o ponto fingem ter descoberto aquela característica ética do Brasil. E citar? Nem imagine, porque a autora não pertence às seitas peemedebistas, tucanas, petistas. É isso aí, minha gente! O Brasil intelectual, além das espinhas curvadas perenemente ao poder, ostenta mãos ágeis quando se trata de se apropriar do trabalho mental alheio. Triste assim. RR

Segue abaixo o trecho inicial da entrevista que concedi ao programa Roda Viva. Só por ele os leitores podem constatar a "originalidade" de muitos colegas universitários, nos seus embates de midia.


"Paulo Markun: Eu quero saber se a situação está melhorando ou está piorando em termos de corrupção no Brasil?

Roberto Romano: É difícil porque me parece que nós temos dois tipos de abordagem possível nesse caso. O primeiro é o seguido pelos senhores da imprensa, que é, eu diria, diacrônico. A cada novo fato vem um outro fato e outro fato e outro fato, mas todos que analisam em profundidade essa questão percebem que é sincrônica. No mesmo momento que uma chamada quadrilha está operando, a outra também está. Há uma sincronia muito grande, e aí é muito difícil você julgar se a situação, em termos diacrônicos, se está melhorando ou se, em termos sincrônicos, está piorando.

Paulo Markun: Mas à parte disso há uma corrente de opinião que acha o seguinte: à medida que novos fatos ou muitos mais fatos estão sendo investigados... a situação está melhor agora do que no passado, quando era tudo isso mas não havia investigação nenhuma. Ao passo que há outro grupo de pensamento que diz o seguinte: “não, hoje tem mais escândalos porque tem mais corrupção”. Nem isso é possível mensurar?

Roberto Romano: Olha é difícil. Eu volto a dizer que é difícil porque esses dois argumentos que você levantou são argumentos muitos partidários, nós sabemos bem isso. E me parece que é preciso, nesse caso, tirar um pouco este peso do partidarismo e da ideologia. Eu acho que nós, nos últimos anos, temos discutido sempre nessa perspectiva, agora melhorou porque a polícia está investigando, naquela época não investigava. É um pouco aventureiro dizer uma coisa dessas, no meu entender."