quarta-feira, 26 de agosto de 2015
CARISSIMA MARTA BELLINI: MIGREI POR UNS TEMPOS PARA O FACEBOOK. POSTEI SUA ÚLTIMA MENSAGEM ALÍ. E, PODE TER CERTEZA, SABIA QUE SEU CORAÇÃO BATE, AO CONTRÁRIO DE MUITOS COLEGAS UNIVERSITÁRIOS QUE TEM O SANGUE GELADO E O CORAÇÃO IDEM, PORQUE NÃO TEMN CÉREBRO PARA PENSAR E CORAÇÃO PARA SENTIR. UM FORTE ABRAÇO SAUDOSO!
quinta-feira, 13 de agosto de 2015
Renúncias, Roberto Romano
Renúncias
Roberto Romano
13 Agosto 2015 | 03h 00
Quais reflexões surgiram na mente de
Bento 16 quando decidia, na solidão dos apartamentos pontifícios, a sua
renúncia? Ponderava as várias faces do seu governo, as dificuldades
vencidas e as insuperáveis, em razão da idade? Pensou ele nos inúmeros
obstáculos para chegar ao trono de São Pedro? Rememorou os instantes de
crise desde que, assessor em teologia reconhecido pela competência entre
padres do Vaticano II, seguiu pelos corredores dos palácios recolhendo
títulos? Reviu a cena de sua consagração episcopal, depois cardinalícia
por João Paulo 2? Evocou as vezes em que exigiu explicações dos teólogos
progressistas, antes seus aliados, para atender a pastoral do papa
reinante? Num átimo, repassou sua vida toda, desde a infância na
Bavária, quando vestiu o uniforme da juventude hitlerista? Ninguém sabe.
O fato é que, inesperadamente, com latim castiço, ele
surpreendeu os líderes da Igreja com sua renúncia. E o mundo ficou
perplexo com eles. Foi matéria rica para a imprensa mundial durante
dias, numa época em que as notícias da manhã são gastas e sem interesse
no crepúsculo. Joseph Ratzinger entrou para a seleta companhia dos
poderosos que abriram mão do poder, deixando a liderança de uma
instituição antiga como o Ocidente.
A Igreja Católica é rica de ensinamentos espirituais que
reúnem prismas os mais diversos. Os seus símbolos ultrapassam em
dignidade as que se baseiam em signos lógicos, jurídicos, políticos,
econômicos. A Igreja é um tecido simbólico intrincado. A nos inspirar em
Tertuliano, ela é uma cauda de pavão com múltiplas cores, todas
convergindo para o efeito maior, a vista sinótica do arco-íris. Nela,
têm lugar todas as culturas e ideias. A única exigência é que a harmonia
do todo seja respeitada pelos particulares. Administrar cada uma das
formas da cultura e conduzi-las à concórdia sempre foi o desafio dos
pastores. O catolicismo reúne os opostos e os conduz, na observação de
E. Canetti, rumo ao Eterno. A sua hierarquia não se deixa dominar pela
voragem do tempo que desgraça os Estados, a sociedade civil e os
mercados. Jacques le Goff o diz bem num artigo eloquente: “Tempo da
Igreja e tempo do mercador”. Este último deixa-se penetrar pela rapidez
das trocas, vende e compra o tempo na forma dos juros. Mas a Igreja
declara que o tempo a Deus pertence e adverte contra a divinização das
moedas.
Muito se fala, no Brasil, sobre o dito de Lampedusa em O
Leopardo: é preciso mudar tudo, para que tudo permaneça como está.
Poucos recordam a desolada atitude do personagem principal do romance, o
Príncipe de Salina, com sua plena consciência de que os poderosos têm
hora e data para mandar e para desaparecer do cenário político e
mundano.
Quando seu confessor o reprova, e à aristocracia, por não
defender a Igreja, o nobre responde com clareza meridiana: “Não somos
cegos, caro padre, somos apenas homens. Vivemos numa realidade
transitória à qual tentamos nos adaptar como as algas se dobram em face
das ondas marítimas”. À Igreja foi dada implicitamente a promessa da
imortalidade, diz ele, modificando o dito evangélico de que as portas do
inferno não prevalecerão sobre a pedra na qual Pedro vigiará os céus e a
terra. Tu est Petrus et super hanc petram aedificabo Ecclesiam meam.
Entre a imortalidade eclesiástica e a vida dos indivíduos e classes,
brota o abismo. “Para nós, um paliativo que promete cem anos equivale à
eternidade. Poderemos nos preocupar com os nossos filhos, talvez com os
netinhos; mas além deles tudo o que podemos acariciar com estas mãos não
nos obriga. Não posso me preocupar sobre quem serão os meus
descendentes eventuais em 1960. Mas a Igreja, sim, deve se preocupar,
porque ela é destinada a não morrer. No seu desespero está implícito o
conforto. E o senhor acredita que, se ela pudesse salvar a si mesma com o
nosso sacrifício, não o faria?
Sim, com certeza. E faria bem.”
As dimensões do tempo esmagam poderes e riquezas. A Igreja não
é eterna, mas recebeu a promessa da imortalidade. Haverá um dia em que
ela será chamada por Deus a prestar contas dos fiéis e de si mesma. Este
será o dia do Juízo Final, quando o tempo sumirá no Eterno, com todas
as vaidades do mundo. Não haverá mais tempo e espaço. Mas até o instante
oportuno (Kayrós) ela, por não ser eterna, conhecerá a tentação do
nada, do mal. Na marcha rumo à salvação, ela passará por todos os
príncipes, Estados, sociedades, classes, cujo tempo é finito, pura
degração do Eterno. Nada no tempo é estável, durável, sobretudo os
homens e seu poder.
Com base em tais doutrinas, a dupla de escritores Alain
Boureau e Corinne Péneau publicou em data recente um livro com vários
ensaios mais do que oportuno no mundo político e no Brasil de hoje: O
luto do poder, ensaios sobre a abdicação (Paris, Les Belles Lettres,
2013). O volume repassa a renúncia da rainha Cristina, do general De
Gaulle, do literário Rei Lear, de Bento 16. Todos os autores da
coletânea insistem na situação peculiar dos abdicantes: com seu gesto,
eles se põem acima do poder que lhes foi delegado. Mas, assim, eles
também se colocam entre os mais solitários dos seres humanos. Ao poder
estatal é atribuída a permanência, desde que súditos e reis morram ou
renunciem. O segredo da estabilidade reside justamente na substituição
dos entes efêmeros que ocupam os postos de poder.
A leitura da coletânea pode ser útil para todos os políticos
nacionais que, no governo e nas oposições, se preocupam com a solidez
institucional. Esta, não raro, depende de muitas renúncias: dos que
estão como hóspedes nos palácios ou de quem almeja neles se instalar
temporariamente. Para bom entendedor, uma vírgula basta.
*Roberto Romano é professor da Unicamp, é autor de ‘Razão de Estado e Outros Estados da Razão’ (Perspectiva)
domingo, 9 de agosto de 2015
Zero Hora, Coluna PROA
Colunistas
Roberto Romano: inflações
"A inflação, como os tumores, é sintoma, não origem. O desarranjo na estrutura do corpo, biológico ou social, brota dos excessos, tolerâncias imprudentes, hábitos perniciosos à saúde"
Por: Roberto Romano*
08/08/2015 - 15h07min
Outrora, até mesmo o chuchu foi culpado pela inflação
Foto:
Marcelo Oliveira / Agencia RBS
* Roberto Romano é professor titular de Ética e Filosofia Política da Unicamp. Escreve quinzenalmente.
O termo inflação, como boa parte dos vocábulos políticos, econômicos ou éticos ocidentais, tem origem na medicina. “Inflatio” significa comumente inchaço, tumor, enfizema, edema. No campo espiritual, o sujeito “inflatus”
é o pavão humano cheio de ar, tolo. A medicina que honra seu nome
jamais confunde os registros físicos e os morais. Ela observa os
excessos da paixão que acomete o cliente e o próprio médico. Existem
pacientes intratáveis, mas também médicos autoritários, incompetentes,
vácuos. A razão é que ambos integram a humanidade, mistura de bom senso e
loucura, simpatia e malícia, honradez e crime.
A inflação monetária – fato físico e espiritual – destrói valores. Páginas sombrias foram escritas por Elias Canetti em Massa e Poder,
monumento antropológico do século 20. Ali, uma tese exige reflexão:
“Pode-se afirmar que nas nossas civilizações modernas, excetuando-se as
guerras e as revoluções, não existe nada que em sua envergadura seja
comparável às inflações”. Se o índice inflacionário na república de
Weimar fosse menos grave, diz ele, milhões teriam escapado dos campos
construídos pelos nazistas.
Apenas imprudentes menosprezam o fenômeno inflacionário. Um livro que
amplia o pensamento de Canetti pode ser lido pelos que se empenham em
direitos civis. Refiro-me ao trabalho de B. Widdig, Culture and Inflation in Weimar Germany
(Berkeley, University of California Press, 2001). Ao falar do invento
do zero e sua relevância no drama financeiro, Widdig afirma: “A
inflação marca um derretimento catastrófico no qual os opostos do
infinito crescimento e do vazio entram em colapso um no outro”. Se
há eficácia econômica, o zero indica acréscimo vital. Na inflação impera
o zero como vazio e morte. Um trabalhador ganha milhões de salário, mas
só recebe a fieira de zeros que nada garantem para sua família. Temos a
base social para o niilismo totalitário. Não por acaso, o fascismo
gritou na Europa, sobretudo na Espanha: “viva la muerte!”. A
ruptura dos laços humanos, o regresso ao animalesco, o sumiço da
compaixão seguem o inchaço da moeda na dança macabra que termina em
monstruosos cemitérios. Widdig mostra, índices à mão, que o fato
inflacionário não foi gerado pela república de Weimar, mas o antecedeu
com as despesas alemãs no primeiro conflito mundial. Nele, todo o horror
que Erasmo de Rotterdam aponta nas guerras se realizou, piorado.
No Brasil, a “inflação Sarney” começa na ditadura, quando Mario
Henrique Simonsen chegou ao deboche de atribuir a culpa do fenômeno ao…
chuchu. A inflação, como os tumores, é sintoma, não origem. O desarranjo
na estrutura do corpo, biológico ou social, brota dos excessos,
tolerâncias imprudentes, hábitos perniciosos à saúde.
Segundo G. Naudé, autor do primeiro livro sobre os golpes de Estado (1640) “os
hábitos do intelecto são distintos dos vividos pela vontade. Os
primeiros pertencem às ciências e sempre são louváveis; os segundos
ligam-se às acões morais, que podem ser boas ou más”. E arremata : “é
lei comum que todas as coisas instituídas para um fim bom, com
frequência são abusadas: a natureza não produz venenos para matar os
homens, se ela fizesse tal coisa, destruiria a si mesma; a nossa malícia
gera tal uso”.
A trégua da inflação brasileira, algo bom, elegeu no entanto
presidentes populistas, esmagou a oposição, gerou servilismo de
intelectuais e universitários, garantiu a lisonja jornalística ao poder.
Ela anestesiou as massas. Com o retorno do descontrole monetário vem o
ódio que dissolve amizade e companheirismo em todos os setores e
partidos. O ético não deriva do econômico, mas dele não escapa. Cuidado,
para que não cheguemos aos extremos ditatoriais que “salvaram” povos da
inflação com o esmigalhamento de seres humanos. A cautela maior deve
ser contra o ego inchado dos governantes, parlamentares, acadêmicos. Com
frequência é neles que a inflação recebe impulso, pois o dogmatismo os
leva à cegueira política, uma loucura sem remédio.
Leia mais textos de Roberto Romano
quinta-feira, 6 de agosto de 2015
Apesar de ver a Folha, hoje em dia sobretudo, como um jornal pouco confiável (aboli minha assinatura e não tenho saudade), o artigo abaixo, enviado por um amigo, merece leitura e reflexão.
Clóvis Rossi
Folha de São Paulo
Sempre
achei que a esquerda, nacional e internacional, ficou soterrada sob os
escombros do Muro de Berlim. Até aí, dava para entender embora não para
justificar. Afinal, a queda do Muro e o consequente fim simbólico do
comunismo foram acontecimentos tão transcendentais que teriam mesmo que
desnortear até quem estava do lado de cá do Muro, quanto mais os que
simpatizavam com o lado derrotado.
O
que surpreende, agora, com o manifesto de escritores e artistas em
defesa de José Dirceu, é que esse pessoal não conseguiu sair nem sequer
da rua Maria Antônia, cuja simbologia antecede de muito a queda do Muro.
É inacreditável que gente que parece
inteligente não perceba que José Dirceu deixou há séculos de ser o jovem
idealista que lutava contra a ditadura nas barricadas estudantis de
1968.
Nem era preciso o mensalão ou, agora, o petrolão para fazer uma constatação tão óbvia.
Bastava
saber, por exemplo, que Dirceu admitiu à revista "Piauí", em 2008, que
prestava consultoria ao bilionário mexicano Carlos Slim, um dos três
homens mais ricos do mundo, segundo a revista "Forbes".
A
esquerda, inclusive muitos ou todos que assinam o manifesto, sempre
denunciou a maneira como se enriquece no México (ou no Brasil).
Um idealista de verdade jamais prestaria serviços a esse tipo de empresário.
O
estranhamento não é apenas meu, mas de um fundador do PT, o cientista
político Rudá Ricci, que se afastou do partido desencantado.
Escreveu Rudá após a entrevista de Dirceu à "Piauí":
"O
grande problema não foi se expor como um megaconsultor, homem de R$ 15
mil por consultoria, ou R$ 150 mil mensais. Esta vaidade de se expor é
estranha para um ex-clandestino de esquerda. Revelar que trabalha para o
homem mais rico do mundo também é estranho para um ex-presidente do
maior partido de esquerda do país. Mas são idiossincrasias que acometem
as melhores famílias".
À
essa lucrativa "idiossincrasia" somaram-se consultorias –não
devidamente comprovadas, segundo a Polícia Federal– às maiores
empreiteiras do país.
No
tempo em que a esquerda pensava, não deixava de denunciar a
promiscuidade entre obras públicas, tocadas em geral por essas mesmas
empreiteiras, e poder público.
Hoje,
ao defender Dirceu, defende-se automaticamente a promiscuidade, como se
houvesse maracutaia do bem (as "nossas") e do mal ("as dos outros").
Os pedidos, em voz quase inaudível, para que o PT faça um reexame de suas práticas já surgiram em 2008, na esteira do mensalão.
Rudá
Ricci, por exemplo, escrevia então: "Seria fantástico se o julgamento
[do mensalão] provocasse um debate franco entre petistas e toda esquerda
tupiniquim. Mas já não tenho mais 20 anos. Não tenho motivos para
acreditar que o brilho da utopia seja mais forte que as cores reluzentes
do poder absoluto e domesticador".
Bingo, Rudá. O poder domesticou não só dirigentes do PT mas também uma fatia da intelectualidade, o que é um contrassenso: intelectual, por definição, é contestador.
terça-feira, 4 de agosto de 2015
quinta-feira, 30 de julho de 2015
sábado, 25 de julho de 2015
Um prefácio meu para a Anistia Internacional
Educando para
a Cidadania
Os Direitos Humanos no Currículo Escolar
Os Direitos Humanos no Currículo Escolar
PREFÁCIO
A presente coletânea destaca temas
elevados do espírito humano, dando-lhes tratamento respeitosos. Da
língua à biologia, passando pela química, sistemas filosóficos, alma
religiosa, desvelam-se camadas do intelecto, dobras do coração. Tudo
isso convida à tarefa de refletir. Cada um dos artigos aqui reunidos
– breves, decorosos – gira ao redor do fato educativo. Como levar
nossa gente, em especial a juventude, até o respeito pelos direitos
humanos?
Esta tarefa tem sido o alvo da Anistia Internacional, movimento
a quem o mundo deve pouco do ânimo e da bondade que ainda lhe restam.
Os homens e mulheres comprometidos com a Anistia atenuam, todos os anos,
com seus relatórios e denúncias, os efeitos da bestialidade estatal
tirânica, reforçada neste fim de século. Com isso, milhares e
milhares de vidas são resgatadas para a esfera da vida pública,
beneficiando lares, igrejas, partidos das mais diversas atitudes
doutrinárias. Se existe um setor realmente democrático em nossa terra,
este é a Anistia Internacional.
A coletânea é fiel a esse espírito
eminente. Todos os trabalhos preocupam-se com a falta de base, nas
políticas convencionais, ou a falha ética afirmada com a desmedida
valorização do ser humano no interior do cosmos. O orgulho luciferino
dos engenhos finitos fez com que eles esquecessem o fundamento natural
que os une aos demais seres. Combatendo o privilégio arrogante da
razão cartesiana, disse um dia Espinosa em sua Ética: “os que
escrevem sobre as paixões e a conduta da vida humana parecem, na maior
parte, tratar não de coisas naturais, seguindo as leis comuns da
natureza, mas de coisas exteriores à natureza. Na verdade, eles
concebem o homem de fora da natureza, como um império dentro de outro
império” (Ethica, Pars Tertia, De
Origine et Natura Affectuum).
A separação entre homem e cosmos ajuda
na tarefa de justificar – no plano social – os sistemas de força. O
cogito extra-natural,
milagrosa propriedade de alguns gênios, é, para Espinosa, produto do
imaginário auto-centrado. Quem se julga dono da natureza e do Estado (e
das Igrejas) está pronto para qualquer aventura despótica, contra o
“comum dos mortais”.
Todos os arautos de sua própria
eminência – diminuindo os semelhantes – seguem, céleres, para a
negação da cidadania e dos postulados democráticos. Deste modo, “eles
imaginam realizar uma obra sublime, atingindo a mais alta sapiência, ao
elogiarem uma natureza fictícia, acusando sem piedade aquela existente.
Pois eles não concebem os homens tal como eles são, mas pelo modo pelo
qual sua filosofia quer que eles sejam. Ao invés de uma ética, eles
escreveram uma sátira” (Tratado
da Autoridade Política). Espinosa foi o filósofo da alegria. Todo
o seu pensamento se dirige no sentido de assegurar a posse comum do
conhecimento pelos homens numa democracia política não repressiva.
Comentando as perturbações políticas e
as guerras de seu tempo, nosso filósofo diz sempre com humor lúcido:
“Se o famoso personagem que ria de tudo viesse ao nosso tempo, ele
morreria de rir, com certeza. Quanto a mim, essas violências não me
incitam nem ao riso nem às lágrimas; pelo contrário, elas excitam em
mim o desejo de filosofar, melhor observando a natureza humana”. Tese
estratégica: “os homens, como os outros seres, são apenas uma
parcela da natureza”. Como o todo desta última é desconhecido por
nós, julgamos absurdas muitas coisas que podem ser perfeitamente
normais. Daí a intolerância face à alteridade, base da raiva
aristocrática contra a democracia. Qual o princípio de Espinosa, neste
plano? “Deixo cada um viver segundo sua própria compleição e
consinto que cada um, se o desejar, morra por aquilo que acredita ser o
seu bem, desde que me seja permitido viver para a verdade” (Carta XXX,
a Oldenburg).
Lição dura de ser assumida,
convenhamos. Normalmente, nossa “tolerância” não se pauta pelo veraz,
mas pelo que nós consideramos “normal”, sagrado, ético. Nega-se,
deste modo, qualquer direito à alteridade, destruindo-se, ipso facto, a noção de direitos
e deveres universais, abalando a própria idéia democrática. Contra
essa corrosão do respeito mútuo, que gera os Estados policiais, as
torturas, as mortes dos adversários políticos, o confinamento de
indivíduos que pertencem a etnias minoritárias e todo rol de
barbáries praticadas no cotidiano de nossas sociedades, ergue-se até
hoje o ensino espinosano, sobretudo no Tratado Teológico – Político.
Citarei apenas alguns trechos desse
último e nobre monumento à democracia moderna. “Dos fundamentos do
Estado, tal como o explicamos, resulta com evidência máxima que seu
fim último não é a dominação: não é para manter o homem no medo,
e pelo medo, fazendo-o pertencer a um outro, que o Estado é
constituído; pelo contrário, é para liberar o indivíduo do medo,
para que ele viva tanto quanto possível em segurança, isto é,
conserve, quando puder, sem danos para outrem, seu direito natural de
existir e agir. Não, eu repito, o fim do Estado não é o de conduzir
os homens da condição de seres racionais para o de bestas feras, ou
autômatos, mas pelo contrário, o Estado é instituído para que suas
almas e seus corpos cumpram com segurança todas as suas funções, para
que eles usem uma razão livre, para que eles não lutem apenas por
ódio, cólera ou astúcia, para eles suportarem uns aos outros, sem
maldade”.
A busca de alvos semelhantes faz da Anistia Internacional uma
herdeira dos mais nobres sonhos filosóficos. Enquanto isso, nosso povo,
incitado por fascistas que não ousam dizer o próprio nome, irrita-se
contra a defesa dos direitos humanos. Há ignorância nesse ponto, mas
também má-fé espantosa. Pelo rádio, televisão, imprensa escrita,
repetem-se slogans assassinos
e sofísticos que marcam a consciência dos mais humildes. Para eles, o
próprio vocábulo “direitos” tornou-se um sinônimo de conivência
com o crime. A par do não saber, temos a demissão coletiva dos
educadores na escola primária, secundária e no terceiro grau. Em
parcas ocasiões os nossos engenhos universitários pronunciam-se
coletivamente, verberando o estupro da liberdade e da igualdade, quando
se trata dos “negativamente privilegiados”. Mesmo nas igrejas isso
ocorre. Além de poucos heróis, como na Comissão de Justiça e Paz,
tudo se dirige para manter a aparência de normalidade, dentro da pior
violência.
Os escritos aqui reunidos podem ser um
início da pedagogia mais necessária para nosso tempo: a descoberta da
nobreza que reside em toda vida. Sem cidadania universal, ninguém está
seguro. Ou todos se transformam, como temia Espinosa, em autômatos a
serviço deste ou daquele tirano. Porém, além de autômatos, os entes
humanos podem regredir à condição de feras. Olhemos os dados sobre os
assassinatos de crianças, no Brasil e na América Latina. Aristóteles
costumava afirmar que um indivíduo isolado ou é Deus, ou uma fera. Os
ajustamentos políticos que por eufemismo chamamos “Estado”, em
nosso continente e no mundo, provam que as feras se reúnem. O diálogo
racional, compreendido agora no plano da educação para os direitos,
pela Anistia Internacional ,
oferece uma esperança de metanóia
em nossos estudantes – futuros dirigentes – e nos partícipes da
coletividade mais ampla. O livro foi feito para ser discutido. Assim,
merece o respeito de todas as mentes democráticas e livres. Sem o seu
concurso, e o de outras formas de melhorar o panorama axiológico
pátrio, a palavra “ética”, com o seu correlato “direitos”
(também “deveres”), corre o risco de ser um termo vazio, ou de se
reduzir ao simples prisma do slogan.
Esperemos, portanto, que estas páginas,
editadas pela Anistia
Internacional, sejam estudadas nas salas de aula, nos debates
públicos, nas reuniões informais e cotidianas. O pensamento prudente
vale mais, a longo prazo, do que a propaganda que tende para o
repetitivo e carente de espírito. Esta é uma aposta vital para quem
preza a dignidade e a sublime elevação do homem no interior de uma
natureza respeitada.
Roberto Romano
Minha coluna semanal no Zero Hora, caderno PROA
Colunistas
Roberto Romano: milagrosa normalidade
"Fatos mostram à saciedade o quanto é anômalo o funcionamento de nossas estruturas políticas"
Por: Roberto Romano*
25/07/2015 - 15h02min
Quadro de Justus Sustermans representando Galileu Galilei
Foto:
Wikicommons / Reprodução
* Roberto Romano é professor titular de Ética e Filosofia Política da Unicamp. Escreve quinzenalmente.
O Brasil, dizem alguns, tem instituições democráticas garantidas.
Elas, repetem as mesmas vozes, funcionam em plena normalidade. Atrapalho
o foguetório e afirmo que estamos longe da norma na ordem democrática.
Basta pensar nos bilhões subtraídos dos cofres públicos. A Petrobras é
uma empresa estatal a mais no rol dos roubos cometidos por lobistas e
políticos. O dinheiro foi usado em campanhas políticas. As contas
partidárias receberam aprovação da justiça eleitoral. O “normal” seria o
controle rigoroso que não abençoasse números espúrios, marcas do
submundo que Norberto Bobbio chama de “anti-Estado”.
Se for lida a Constituição, ela manda ser o exercício dos cargos, nos
três poderes, impessoal. Como aceitar que o presidente da Câmara dos
Deputados “rompa pessoalmente” com o Executivo e ofenda o Judiciário?
Fatos mostram à saciedade o quanto é anômalo o funcionamento de nossas
estruturas políticas. Basta pensar nas esdrúxulas coalizões partidárias,
nos apadrinhamentos para cargos “de confiança”, na indignação de quem
paga impostos, na ruína da fé pública. A normalidade alardeada indica
que a prática desmente o idioma do encantamento publicitário, feito para
enganar os incautos que ainda restam na vida pública.
Tais mentiras piedosas me fazem recordar uma história do século 17
mas atualíssima, dados os aproveitadores da crendice geral. A narrativa é
de Gabriel Naudé, pensador importante sob Richelieu e Mazarino –
cardeais astutos, verdadeiros ditadores truculentos e impiedosos –,
homens que moldaram o Estado moderno. Naudé usa a religião, mas
desconfia das batotas encenadas pelo clero para engambelar as massas.
Com base na política religiosa, ele publica o clássico Considerações
Políticas Sobre o Golpe de Estado (1640).
Diz ele que encontrou certo dia o padre Melchior Inchofer, jesuíta
que escreveu o livro intitulado Veritas Vindicata (“A Verdade
Defendida”). Vários panfletos da época traziam tal título, dada a
discórdia na Igreja Católica e a guerra de religião que atingia a fé
mística e a confiança pública, arruinando reputações de intelectuais.
Pois bem, o bom padre Inchofer defendia a veracidade de uma carta
remetida diretamente pela Virgem Maria às pessoas da Sicília. Naudé
apresentou ao padre razões pelas quais a missivista não poderia ser a
mãe de Jesus. E ficou espantado (ou fingiu espanto) quando o autor
declarou saber perfeitamente que se tratava de uma fraude. Mas escrevera
assim mesmo o texto “para agradar e obedecer os superiores que lhe
haviam mandado fazer tal coisa e, ademais, ele nada acreditava de tudo o
que estava contido na referida carta”. Medita Naudé : “Eis como se
espalham no mundo os erros e os abusos; eis como os espíritos simples
são enganados todos os dias”. Quantos intelectuais de hoje, ao se
tornarem militantes, escrevem ao modo do padre Melchior!
O nome completo do livro escrito por Maquiavel, perdão, pelo jesuíta,
é o seguinte: Epistolae B. Virginis Mariae ad Messanenses Veritas
Vindicata (Messina, J. Matarozii Ed., 1619). Outra informação valiosa: o
padre embusteiro é membro da Comissão que examina o Diálogo Sobre os
Dois Sistemas do Mundo, de Galileu. Ele justifica a condenação do
pensador e de seu livro num opúsculo intitulado Tractatus Syllepticus
(1633). Mentira em dose dupla, no caso da Virgem e da ciência. Numa
instituição milenar que cometera tantas fraudes – a Doação de
Constantino foi uma delas – o engodo a mais seria “normal”.
Termino: as falas sobre a “normalidade institucional” no Brasil são
tão verazes quanto a carta da Virgem aos sicilianos. Entre a fé pura e a
mistificação, não raro, a distância é pequena. Cabe à prudência julgar e
bem agir.
Leia mais textos de Roberto Romano
O governo Dilma é um desastre...
A Semana > Entrevista
| N° Edição: 2382
| 24.Jul.15 - 20:00
| Atualizado em 25.Jul.15 - 18:05
ROBERTO ROMANO
"O governo Dilma é um desastre"Professor da Unicamp diz que o Estado brasileiro funciona à base da corrupção e considera grave a situação da presidente
por Ludmilla Amaral (ludmilla@istoe.com.br)
REIS SEM COROA
Para o filósofo Roberto Romano, negociadores
designados por Dilma agem de forma imperial
Doutor em filosofia e professor de Ética
Política na Unicamp, Roberto Romano mostra ceticismo em relação ao
futuro do País. Para ele, a crise política é estrutural e remonta ao
processo de criação de um Estado de modelo absolutista. “No princípio
absolutista, os governantes estão acima do cidadão comum e, portanto,
não têm de prestar contas a ninguém. Há o controle do poder no plano
central, mas não há autonomia dos municípios e dos Estados. Um País onde
70% dos impostos vão direto para o cofre do poder central é um país de
exército vencido”, critica.
"O Lula adota um modo muito antigo de governar o País. Ele atua na
base do caciquismo. O Lula é um cacique"
Na avaliação de Romano, a crise se agrava
quando uma presidente, no caso Dilma Rousseff, encontra sérias
dificuldades para dialogar com a sociedade e escala auxiliares tão ou
mais inábeis quanto ela. “Se somar a incapacidade de dialogo notório que
a presidente tem com a incapacidade de seus auxiliares, você tem um
governo que é esse desastre”. Para um partido que vendeu esperança, na
eleição de Lula, o quadro é grave, avalia. Na opinião do professor da
Unicamp, equivoca-se quem diz que as instituições operam normalmente.
Ele considera a intervenção estatal no BNDES uma prova de que a
democracia ainda capenga no Brasil.
Desde que assumiu a Câmara, Eduardo Cunha tem defendido uma
pauta que não é do interesse geral, e sim de facções
Istoé -
O senhor disse uma vez
que “a inflação é um desagregador político muito forte”. A crise no
governo Dilma se dá por conta da alta dos preços?
ROBERTO ROMANO -
A inflação é um
ingrediente complicador. Ela quebra a capacidade que o ser humano tem de
confiar. Esse fenômeno desagregador da inflação é o ponto essencial,
mas não é o único ponto da crise política.
Istoé -
Quais são os outros pontos?
ROBERTO ROMANO -
O fato de o nosso Estado
ser ainda gerado para combater a democracia moderna. Dom João VI trouxe
para cá um Estado contra revolucionário. O modelo trazido para cá é um
modelo absolutista. Tanto que na primeira Constituição independente do
Brasil há a figura de irresponsabilidade do chefe de Estado. No
princípio absolutista, os governantes estão acima do cidadão comum e,
portanto, não têm de prestar contas a ninguém. Há o controle do poder no
plano central, mas não há autonomia dos municípios e dos Estados. Nós
não temos municípios até hoje. É uma ficção. Um País onde 70% dos
impostos vão direto para o cofre do poder central é um país de exército
vencido. O poder central age em relação aos estados e municípios como um
poder invasor, que controla tudo.
Istoé -
Como esses pontos influenciam na crise do governo Dilma?
ROBERTO ROMANO -
O problema não é só essa
questão da estrutura do Estado que é obsoleta. Você tem essa figura do
chefe de estado que possui prerrogativas de imperador. Em vez de a
preocupação ser com a estrutura da máquina do Estado, a preocupação é
com as pessoas. Se a pessoa está distribuindo favores e as políticas
sociais são transformadas em favores, quando a fonte dos favores diminui
evidentemente que a popularidade também diminui. Eu sempre digo que o
presidente brasileiro é um gigante de pé de barro. É um gigante, mas
precisa da base aliada, dos acordos com as oligarquias, do dinheiro das
empresas. Então, você tem um presidente que, ao invés de mandar no
sentido absolutista, ele é mandado. E se ele tiver capacidade política,
diplomática, ele pode se sair razoavelmente bem. Infelizmente a
presidente Dilma não tem essa capacidade política e diplomática. Para
piorar, ela escolheu muito mal os seus auxiliares.
Istoé -
De quem o sr. está falando especificamente?
ROBERTO ROMANO -
Veja os chefes da Casa
Civil escolhidos pela Dilma: Erenice Guerra, Gleisi Hoffmann e Aloízio
Mercadante. Eles não sabem conversar. Eles sabem mandar. E são
desastrados. Então, se somar a incapacidade de dialogo notório que a
presidente tem com a incapacidade de seus auxiliares, você tem um
governo que é esse desastre.
Istoé -
Na semana passada, o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha, anunciou o rompimento com a
presidente Dilma Rousseff. A crise se agrava na opinião do sr.?
ROBERTO ROMANO -
Enquanto presidente da
Câmara e também como deputado, ele não pode dizer que está rompendo em
caráter pessoal. Ele está cometendo um atentado à Constituição e isso é
gravíssimo porque ele não é do Executivo. Um técnico do Executivo até
pode cometer erros constitucionais assim, mas quem elabora as leis em
nome do povo como pode dizer que decidiu pessoalmente uma coisa que não
pode ser decidida pessoalmente?
Istoé -
Como o sr. vê a atuação dele como presidente da Câmara?
ROBERTO ROMANO -
Desde que assumiu a
presidência da Câmara, ele tem defendido uma pauta que não é do
interesse geral, e sim de facções. Hoje ele é líder de uma facção. Como
deputado ele tem direito de liderar uma facção, mas como presidente da
Câmara, não.
Istoé -
O sr. acha que o PMDB realmente terá candidato próprio em 2018?
ROBERTO ROMANO -
É uma situação muito
interessante, porque na época do Sarney, o PMDB era quem decidia tudo no
governo. Passado esse período, eles têm só suportado governos. Na
ditadura, o MDB tinha presença em todo o Brasil, e ampliou suas bases
municipais. Isso faz com que sempre em toda eleição eles consigam uma
base parlamentar, tanto de deputados como de governadores, bem razoável.
O PSDB e o PT não aproveitaram seus oito anos de governo para ampliar
suas bases municipais, então eles continuam dependendo muito do PMDB
para ter a famosa base parlamentar de apoio. No entanto, os
peemedebistas ganham cargos, mas do ponto de vista macro, eles continuam
coadjuvantes, o que não interessa. Isso, ao que parece, mudou. O
problema é quem será o candidato deles. Existe a possibilidade de ser o
Eduardo Paes, prefeito do Rio. O Cunha, antes cotado, se isolou no
próprio PMDB, além de ter rompido com o Ministério Público e o Supremo.
Foi um pulo mortal sem rede. Um ato de imprudência política.
Istoé -
E o papel do vice-presidente Michel Temer nesse momento?
ROBERTO ROMANO -
O Temer é uma garantia de
que a presidente não vai continuar fazendo impolidez ou falta de tato
maior. Por enquanto ela está afastadinha e eu acho que é o mínimo que
ela pode fazer. Não porque quando ela fala toca panela, não. É porque
efetivamente a situação dela é muito grave.
Istoé -
O senhor enxerga alguma semelhança entre as situações de Collor, em 1992, e a de Dilma agora?
ROBERTO ROMANO -
O Collor conseguiu muita
impopularidade com o golpe que ele deu nas poupanças. Ele confiou demais
na sua popularidade e arruinou o seu relacionamento com todas as
classes brasileiras. Ele pertencia a um partido minúsculo que dependia
vitalmente de outros partidos também, mas ele nunca teve, por exemplo, a
base sólida do PMDB. Já a Dilma recebeu do Fernando Henrique e do Lula
essa capacidade de aliança com grandes partidos. Mas Dilma não levou
adiante isso graças a inabilidade de seus negociadores que agiram de
forma imperial. Boa parte dessa erosão que a Dilma está vivendo já foi
eclodida no segundo governo de Lula, quando essa aliança com o PMDB já
começou a periclitar.
Istoé -
Mas os escândalos também
começam a se aproximar do gabinete da presidente... Inclusive há uma
outra CPI em gestação, a do BNDES, que pode ser arrasadora para o
governo. Há quem diga que os estragos podem ser maiores do que o
Petrolão.
ROBERTO ROMANO -
Há um mantra entre meus
colegas de que as instituições estão operando normalmente. Isso é
conversa mole para boi dormir. Não estão operando normalmente e nunca
estiveram operando normalmente. Não foram resolvidos os problemas de
estrutura do Brasil em termos democráticos. O BNDES é uma instituição
pública que tem dinheiro da população e que operava de maneira sigilosa
até agora. Como isso pode ser normal numa democracia? Pega-se bilhões da
população e coloca-se na mão de Eike Batista. Isso é normal? Não se
justifica a atitude de gerir o BNDES no sigilo. É preciso, sim, fazer
uma investigação das contas do BNDES, do Banco do Brasil, de todas as
estatais para se constatar quanto está sendo subtraído dos planos
propriamente econômicos.
Istoé -
Num capítulo do livro
“Uma Oveja Negra al Poder” diz-se que Lula teria dito ao presidente
uruguaio que ele teve de lidar com “coisas imorais, chantagens.” Esse é o
cenário da política brasileira?
ROBERTO ROMANO -
O Estado brasileiro
funciona à base da corrupção. Em todo o Estado do mundo ocorre essa
negociação e essa tomada de cargos, mas tal como existe no Brasil é uma
coisa absolutamente delirante. Não há outra saída, porque não houve o
parlamentarismo. A Presidência da República é quase irresponsável e o
Parlamento não é responsável. Não há o princípio da responsabilidade. O
Congresso não assume a plena responsabilidade pela governança do País,
ele ou chantageia o Executivo ou é subserviente a ele. Isso vem
acontecendo desde a morte do Getúlio.
Istoé -
Em uma de suas colunas, o
senhor disse que “usar utopia, como faz Luiz Inácio Lula da Silva, é
pintar cinza sobre cinza.”O que o senhor quis dizer com isso?
ROBERTO ROMANO -
Em 1987, eu escrevi um
artigo chamado “Lula, o senhor da razão”, e eu mostrava claramente que
ele tinha posição extremamente conservadora, muito carismática e muito
ligada a sua pessoa, ele era o dono da razão. Isso não coaduna com um
País democrático e com um partido democrático. Desde a greve do ABC, o
Lula sempre é o protegido, nunca se pode criticar o Lula, o que faz com
que ele seja uma continuidade de personalidade como Getúlio Vargas,
Perón, e etc. Ele não tem a característica de um líder colegiado, tanto é
verdade que hoje o PT só tem o Lula. Todas as tentativas de lideranças
regionais do PT foram cortadas em favor do Lula. Hoje, se o Lula faltar,
o PT está sem uma alternativa. O Lula adota um modo muito antigo de
governar o País. Ele atua na base do caciquismo. O Lula é um cacique.
Istoé -
As investigações da
Lava-Jato têm chegado cada vez mais perto de Lula. O que isso pode
significar para a história do ex-presidente e para o futuro do PT?
ROBERTO ROMANO -
Vamos supor que seja
provado que ele fez lobby e tudo mais. Vai ser mais uma decepção para a
população brasileira. Desde Getúlio Vargas nós vendemos pais do Brasil e
o Lula sempre dizia que era o pai do Brasil. O caudal de tristeza e da
perda de fé pública em termos de perda de confiança nos líderes vai ser
algo muito grave. Um slogan muito usado na campanha do Lula era “a
esperança venceu o medo”. O que está acontecendo é que o medo está
voltando e a esperança chegando a ponto mínimo. A popularidade de Dilma
ilustra o índice da diminuição do nível da esperança. Eu diria que o
povo brasileiro tem 7,7% de esperança na sua sobrevivência. E isso é
muito grave.
domingo, 19 de julho de 2015
terça-feira, 14 de julho de 2015
terça-feira, 7 de julho de 2015
segunda-feira, 6 de julho de 2015
sábado, 4 de julho de 2015
J. R. Guedes de Oliveira
Imigração Norte-Americana ao Brasil
J. R. Guedes de Oliveira
Neste 2015, lembramos do 150º aniversário do final da Guerra da Secessão Norte-Americana (1861-1865).
Em homenagem ao povo americano, pelo que representa no contexto das
nações, pela sua firmeza de decisões em prol da democracia, pela sua
capacidade de unir os povos para o convívio salutar entre todos e pela
sua luta incessante contra os tiranos e déspotas, realizamos este vídeo
histórico.
Portanto,
segue anexo documentário que trata da história da "Imigração
Norte-Americana ao Brasil", ocorrida a partir do ano de 1866,
especialmente para os locais onde hoje estão as cidades de Santa Bárbara
d’Oeste e Americana, na atual região metropolitana de Campinas,
interior do Estado de São Paulo. Mas há registros da chegada desses
imigrantes em Iguape-SP, Santarém, Rio de Janeiro, Natal, Fernando de
Noronha, porém, como o grupo de Santa Bárbara foi bem sucedido,
imigrante estabelecido em outras regiões migrou-se para lá.
Durante os anos de 1861 a 1865, os Estados Unidos experimentaram uma
das piores guerras da sua história: a “Guerra da Secessão” como foi
chamada, onde, por motivos abolicionistas, 11 estados do sul dos Estados
Unidos queriam se tornar independentes e assim formar um novo país, que
seria chamado de "Estados Confederados da América". Em 12 de abril de
1861, às 04h30minh da manhã, para cumprir esse intento, os Estados
Confederados atacaram o Forte de Sumter, um posto militar americano na
Carolina do Sul. Só ali soltaram nesse ataque mais de 3 mil bombas.
Os Estados Confederados já trataram de designar sua capital - Richmond -
e eleger para o governo provisório o presidente Jefferson Davis.
Os estados do norte reagiram dizendo que os estados do sul não
tinham o direito de separar-se e criar um novo país. Assim começou a
Guerra da Secessão, uma guerra civil que durou 4 anos e que terminaria
somente em 28.06.1865, com a rendição das últimas tropas remanescentes
dos Estados Confederados e devastação total dos estados do sul. O saldo
de mortes chegou a quase 1 milhão de pessoas.
Nos estados do sul a atividade principal era a agricultura de algodão,
com significativo volume de exportações, muito dependentes da
mão-de-obra escrava. Possuíam apenas 10,5 dos 31,0 milhões de habitantes
norte-americanos, e ainda quase 4 milhões deles eram escravos. O sul
tinha apenas uma fábrica de armamentos. Já o norte possuía 3 fábricas de
armas muito mais modernas, extensa rede ferroviária, e contava com 2/3
da população total. Evidentemente, os estados do sul iniciaram uma
batalha com larga desvantagem humana, de armamentos e de recursos.
Para fortalecer os estados do norte, tentando assim enfraquecer os do
sul e acabar com a guerra, o então presidente americano Abrahan Lincoln,
um republicano contrário à escravidão, em plena Guerra da Secessão,
assinou o "Emancipation Proclamation" no dia primeiro de janeiro de
1863, libertando todos os escravos. Mas os escravos eram analfabetos e
ainda proibidos de aprender ler e escrever, e, portanto, não tomaram
conhecimento dessa lei na ocasião.
Em 15.04.1865, praticamente no final da Guerra da Secessão, o
presidente Abrahan Lincoln foi assassinado pelo fanático ator sulista
John Wilkes Booth.
Durante essa guerra foi interrompida a produção e o fornecimento de
algodão nos estados do sul, tanto às empresas têxteis dos Estados
Unidos, como para empresas do resto do mundo, e evidentemente, o preço
do produto disparou no mercado internacional.
A Guerra de Secessão foi considerada a primeira guerra moderna da
história, fazendo surgir os fuzis de repetição e as trincheiras, que
irão marcar, de forma mais acentuada, a Primeira Guerra Mundial entre
1914 e 1918. As novas técnicas tornaram obsoletos o sabre e o mosquete,
fazendo da luta corpo a corpo uma forma de combate cada vez mais inútil.
Um dos combatentes sulistas, o Coronel Willian Hutchinson Norris,
insatisfeito com a derrota e com as condições a que teriam que se
submeter, e agora sem poder contar com a mão-de-obra escrava em suas
lavouras, lidera um movimento migratório para outro país. O Brasil foi o
país escolhido, por possuir grandes extensões de terras férteis, por
ainda poder contar com o trabalho escravo e pela acolhida com que o
governo imperial brasileiro, liderado por D. Pedro II oferecia. Tanto D.
Pedro II, como o Cel. Norris eram ligados à Maçonaria, o que facilitou
muito essa aproximação. O Coronel Norris foi Grão Mestre da Grande Loja
Maçônica do Alabama e senador por este estado americano.
E, então, o Cel. Willian H. Norris lidera esse movimento de imigração
para o Brasil, trazendo para cá intelectuais, profissionais liberais e
pessoas com larga experiência na agricultura, na medicina, na geologia,
professores, dentistas, a grande maioria deles já fazendeiros nas
localidades de origem. O processo de imigração desses norte-americanos
ao Brasil iniciou-se em 1866, mas culminou em 1868.
O local escolhido para a fixação da maioria deles foi onde hoje estão
situadas as cidades de Santa Bárbara d’Oeste e de Americana, na região
metropolitana de Campinas, interior do Estado de São Paulo. Isto se
deveu à fertilidade do solo, às facilidades e abundância de água e
disponibilidade de terras para a lavoura. A pequena Villa de Santa
Bárbara já existia, fundada em 04.12.1818, por Dona Margarida da Graça
Martins, e viveu uma euforia de progresso com a chegada desses
imigrantes norte-americanos.
Chegando, imediatamente cuidaram de construir suas casas, formar as
vilas e começar o plantio do algodão, que estava com altos preços no
mercado internacional.
A prosperidade chegou à região. Logo depois, apoiada por fazendeiros de
café do interior de São Paulo, chegou a ferrovia tendo uma estação na
Villa de Santa Bárbara e se estendendo até o local onde hoje se localiza
o município de Rio Claro. Criou-se a primeira indústria têxtil na
região, a histórica "Indústria Têxtil Carioba". A industrialização de
Americana se deveu a essa fábrica, que vendia suas máquinas obsoletas
aos funcionários, e estes abriam pequenas fábricas têxteis de fundo de
quintal em suas casas.
O progresso não parou mais, tanto que Americana ganhou a carinhosa
denominação de a “Princesa Tecelã”, por conta da qualidade do tecido
fabricado ali e do volume de indústrias têxteis na cidade, fato que se
nota até hoje.
Uma história bonita de progresso, de trabalho, de determinação e acima
de tudo, de união das famílias em prol do desenvolvimento, que acabou
culminando no surgimento e no desenvolvimento das cidades de Americana e
de Santa Bárbara d’Oeste, hoje dois pólos de desenvolvimento no
interior de São Paulo, podem ser sentidas visitando essas cidades.
Mas eles expandiram seus horizontes. Várias cidades na região também
sofreram a influência e o benefício dessa imigração. Em Piracicaba-SP,
vizinha de Santa Bárbara d’Oeste, a missionária Martha Watts fundou, em
13.09.1881, a primeira escola metodista do Brasil: o "Colégio
Piracicabano", sendo referência em instituição de ensino até os dias
atuais.
As músicas inseridas nesta apresentação são as seguintes:
- StarsStripes Forever – USSMA Regimental Band
- National Emblem March – The Boston Pops Orchestra
Agradeço a contribuição de informações prestadas pelos amigos Sr. José
Roberto Guedes de Oliveira, historiador de Indaiatuba-SP (guedes.idt@terra.com.br),
Dr. Marcus Vinícius, de São Paulo e Dr. Tito Sobrinho, de Augusta, na
Geórgia, Estados Unidos, que foram de extrema valia para a elaboração e
complementação deste trabalho. Agradeço, também, ao Museu da Imigração
de Santa Bárbara d’Oeste, pela cessão das imagens antigas (em preto e
branco) exibidas nesta apresentação.
Abra o arquivo anexo, ligue o som e conheça um pouco da história desses
desbravadores norte-americanos, que um dia escolheram o Brasil como sua
segunda pátria e para cá trouxeram o progresso.
Edison Piazza – Piracicaba, SP. (organizador)
José Roberto Guedes de Oliveira – Indaiatuba, SP. (historiador).
sexta-feira, 3 de julho de 2015
Sobre Eduardo Cunha, maquete de ditador.
http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2015/07/03/manobras-de-cunha-enfraquecem-processo-politico-dizem-especialistas.htm
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As decisões do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), de reverter decisões da Casa sobre duas PECs (Propostas de
Emendas Constitucionais) no dia seguinte à votação original, como
ocorreu em maio no financiamento privado em campanhas eleitorais, e na última quarta-feira (1º) na redução da maioridade penal para 16 anos, poderão ter repercussões que enfraquecerão o processo político brasileiro, dizem cientistas políticos ao UOL.
Para conseguir a reversão dos resultados, Cunha empregou uma interpretação própria do regimento da Câmara (que regulamenta as votações no plenário) e o agendamento urgente de propostas de lei similares às que foram derrotadas. Dessa forma, conseguiu burlar o trecho da Constituição que determina que a matéria seja rediscutida apenas no ano seguinte à votação anterior. Juristas e parlamentares criticaram severamente a atitude de Cunha e prometem recorrer ao STF para reverter as manobras.
Os professores de ciência política ouvidos pela reportagem se dividiram sobre considerar um "golpe" as "pedaladas regimentais" de Eduardo Cunha, como falaram alguns deputados.
No entanto, o próprio Cunha poderá se dar mal por conta de sua postura, no entender de Romano. "Ele não percebe que esse instrumento de poder é complexo e poderá se voltar contra ele mais tarde, se por acaso ele se candidatar a presidente em 2018, como andam dizendo, e ele perca a eleição. Fora das eventuais alinaças do PT e do PSDB, ele com certeza vai perder essa hegemonia e sentir as dores do parto", especula o professor.
Manobras de Cunha são 'golpe' no processo político? Especialistas avaliam
Márcio Padrão
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
Ouvir texto
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- Pedro Ladeira/Folhapress2.jul.2015 - Com uma manobra regimental, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, colocou em votação novo texto da PEC que reduz a maioridade penal
Para conseguir a reversão dos resultados, Cunha empregou uma interpretação própria do regimento da Câmara (que regulamenta as votações no plenário) e o agendamento urgente de propostas de lei similares às que foram derrotadas. Dessa forma, conseguiu burlar o trecho da Constituição que determina que a matéria seja rediscutida apenas no ano seguinte à votação anterior. Juristas e parlamentares criticaram severamente a atitude de Cunha e prometem recorrer ao STF para reverter as manobras.
Os professores de ciência política ouvidos pela reportagem se dividiram sobre considerar um "golpe" as "pedaladas regimentais" de Eduardo Cunha, como falaram alguns deputados.
"Apesar de um exagero na palavra, a Ordem dos Advogados do Brasil já vai pedir ao Supremo analisar essas manobras se forem aprovadas. A sugestão de golpe é apropriada" Wanderley Reis, do departamento de ciência política da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)
"Não diria que é golpe, mas um procedimento golpista. Quando ele impõe a pauta, está agindo como líder da facção que está momentaneamente no poder da presidência da Câmara" Roberto Romano, professor de ética e filosofia política da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas)
"Golpe é um pouco exagerado, mas acho importante o Supremo Tribunal se pronunciar sobre o assunto" Leonardo Avritzer, do departamento de Ciência Política da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)
Crise política enfraquece Dilma
Os especialistas são unânimes, porém, em afirmar que a situação é reflexo do momento político vivido pelo país. A formação de um parlamento mais conservador após as eleições de 2014, que por sua vez está levando ao enfraquecimento da presidente reeleita Dilma Rousseff, permitiram a ascensão de Cunha e de sua postura mais agressiva à frente do Congresso."Outros líderes da Câmara já realizaram manobras regimentais antes, mas não a ponto de causar uma resposta considerável, como ocorreu com Eduardo Cunha. Sinto que ele está usando o interesse próprio para marcar a presença dele e aumentando a insatisfação no plenário" Argelina Cheibub Figueiredo, professora da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro)
"As bancadas não obedecem a liderança de ninguém e e fácil cooptá-las. Isso ocorre por causa do troca-troca entre deputados. É uma das formações mais fisiológicas que já vi" Michel Zaidan Filho, cientista político da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco)
Futuro
Tal situação poderá ser o início de uma crise de Estado mais profunda. "Quando se tem uma presidência falha, um Judiciário que se preocupa com as próprias benesses, como esses 78% de aumento salarial, e um Legislativo que age sob os atos de um dirigente ocasional, são sintomas que indicam que a soberania do Estado está em xeque", declarou Romano.No entanto, o próprio Cunha poderá se dar mal por conta de sua postura, no entender de Romano. "Ele não percebe que esse instrumento de poder é complexo e poderá se voltar contra ele mais tarde, se por acaso ele se candidatar a presidente em 2018, como andam dizendo, e ele perca a eleição. Fora das eventuais alinaças do PT e do PSDB, ele com certeza vai perder essa hegemonia e sentir as dores do parto", especula o professor.
quinta-feira, 2 de julho de 2015
A boçalidade em quatro patas, se "manifesta"na viagem de Dilma Roussef aos EUA
A emergência do fascismo, com pessoas cujo nível latrinário supera a raia do insuportável. Não votei em Dilma Roussef, não apoio o PT. Mas me recuso a avalizar uma linguagem de bandido analfabeto como o do vídeo em questão.
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/nos-eua-brasileiro-se-infiltra-em-comitiva-e-xinga-dilma
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/nos-eua-brasileiro-se-infiltra-em-comitiva-e-xinga-dilma
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