Papa: 'Prefiro o pecador ao corrupto'
Bergoglio afirma que é um “pecado gravíssimo” usar Deus para acobertar a injustiça
O Papa Francisco
disse que, quem vai à missa todos os domingos, comunga, dá esmolas e
inclusive envia um cheque para ajudar a Igreja, mas depois paga mal seus
empregados ou o faz informalmente, sem depositar a contribuição para
que tenham acesso à saúde e à aposentadora, está usando “Deus para
acobertar a injustiça: e isso é um pecado gravíssimo”. Durante sua
homilia matutina na residência de Santa Marta, Jorge Mario Bergoglio
alertou os presentes que a Quaresma — o tempo litúrgico no qual os
cristãos se preparam para a Páscoa — não consiste em “não comer carne às
sextas-feiras, fazer qualquer coisinha, e depois fomentar o egoísmo, a
exploração do próximo, ignorar os pobres; não é bom cristão aquele que
não faz justiça com as pessoas que dependem dele”.
Não é a primeira vez que Bergoglio avisa que tem marcados os fariseus
do século XXI. No começo de novembro de 2013, Francisco utilizou duas
intervenções sucessivas — uma na missa de Santa Marta e outra na praça
de São Pedro — para destacar os corruptos que pretendem lavar sua alma dando dinheiro à Igreja.
“Talvez comecem com um pequeno envelope, mas isso são como as drogas: o
hábito do suborno se transforma em um vício”, disse durante a homilia.
“Dão de comer aos seus filhos pão sujo! E seus filhos, talvez educados
em colégios caros e ambientes cultos, terão recebido do pai a sujeira
como comida, porque seu pai, levando o pão sujo para casa, terá perdido a
dignidade! E isso é um pecado grave! Porque talvez comece com uma
pequena mordida, mas é como a droga!”.
O Papa disse então que prefere mil vezes um pecador do que um
corrupto. “A diferença”, explicou, “é que quem peca e se arrepende, pede
perdão, se sente frágil, se sente filho de Deus, se humilha e busca o
perdão”. Por outro lado, acrescentou “o corrupto leva uma vida dupla.
Mete a mão no bolso e doa para a Igreja. Mas, com a outra mão, rouba: o
Estado, os pobres... Rouba”. Segundo Bergoglio, que está fazendo de seu
pontificado um apelo constante à tolerância e ao perdão, com os
corruptos — “que escandalizam porque não se arrependem”— não pode haver
nenhum tipo de compaixão: “Merecem — foi Jesus quem disse, não eu — que
uma pedra de moinho seja amarrada no pescoço e que sejam jogados ao mar.
Não se fala em perdão aqui”.
Durante sua homilia de Santa Marta, que como todos os textos que lê
são escritos com o próprio punho, o Papa também pediu que os fiéis se
perguntem o que podem fazer para evitar tantas injustiças sociais: “O
que posso fazer pelas crianças ou pelos idosos que não têm a
possibilidade de receber a visita de um médico, ou que esperam mais de
oito horas para serem atendidos e depois sua consulta é mudada para o
dia seguinte?”.