REFLEXÕES
J.
R. Guedes de Oliveira
PROBLEMA DAS ÁGUAS – I
Muito
embora sejamos um país onde a água se concentra em grande volume, observamos
que esta água não é perfeitamente distribuída, existindo regiões secas e
úmidas. Basta-nos olhar o nosso mapa, para verificarmos que se destoam região
nordestina das demais, capaz de provocar uma enorme interrogação.
Mas o
problema da água como um todo, se verifica também pelo exagero de consumo, pela
sua degradação constante, pela sua contaminação e pela ocupação do espaço
físico pelo homem. Não são raros os casos que todos este problemas se verificam
cumulativamente e, em maior proporção, nas regiões úmidas.
O
ideal seria que, num raciocínio lógico, o homem ponderasse realmente sobre os
vários aspectos da água, como elemento vital para a sua sobrevivência. Tal
raciocínio, entretanto, não se completa, já que as nossas reservas são
sistematicamente degradadas pela ação devastadora da posse terrena – este
instrumento avassalador que não mede consequências: expansão imobiliária,
propriedades em constantes focos de queimas, o lixo, as partículas químicas e
os detritos orgânicos lançados nas correntes de água.
Então
não há como cruzar os braços, deixando tudo isto ocorrer, sem uma ação
conjunta, eficaz e pronta, coibindo estes abusos e, de forma ordeira, partir
para a cobrança do uso da água.
Mas
a cobrança do uso da água, não é um instrumento inibitória de tão somente
punir. Em absoluto. A cobrança é, na sua essência, uma forma de beneficiar as
bacias, com estes recursos distribuídos para a sua perfeição, ou seja, para a
implementação de projetos de toda ordem, cujo objetivo primordial é a defesa
das águas.
Com
a criação da ANA – Agência Nacional de Águas, houve, na verdade, uma revolução no meio e, a partir de então,
iniciou-se uma nova fase, já que o mundo de hoje briga pelas águas: são mais de
60 países com problemas seríssimos de escassez de água. Nós, aqui no Brasil,
observamos tudo isto, imaginando que o nosso potencial extraordinário não pode
se extingir. Ledo engano. É necessário, pois, a conscientização de todos para o
gravíssimo problema.
Algumas considerações a respeito de objetivos e vontades da ANA seriam
necessários descrevê-los e, ao longo de uma série de artigos sobre o assunto,
estaremos relatando, pormenorizando os múltiplos aspectos que a recém-criada
Agência (desde julho de 2000) tem como proposta para a defesa da água e, num
todo, para os Recursos Hídricos.
A Lei
no. 9984, de 17.07.2000, que criou a ANA, declara, textualmente, os princípios
norteadores da sua Política Nacional de Recursos Hídricos, integrante do
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Isto significa dizer
que, entre outros, a sua administração da outorga do direito de uso das águas
no domínio da União.
Em
síntese, além de outros objetivos altamente preservativos e de uso racional da
água, o fundamento da concessão desta outorga que já se mostra altamente
significativo para as regiões afetas a ela.
Avalia-se, em primeiro plano, que este trabalho se presta a atender a
demanda e racionalização de uso, permitindo, pois, a utilização real e
necessária para cada qual. A indiscriminada utilização das águas, sem
regramento, sem um monitoramento eficaz e duradouro, até então se mantinham
abertamente. De agora em diante, porém, mudam-se as regras, prevalecendo o
espírito da lei e do que a ANA se presta: atender a todos, de uma forma geral,
uniforme e metódica. A água, assim, não será fruto de abusos e de incertezas
para o seu futuro, principalmente sabendo que representa um recurso natural que
pode se findar, caso não tenhamos a consciência do que representa esse bem.
Estaremos, assim, em outros artigos, detalhando aspectos variados, sempre,
é claro, evidenciando o problema das águas, já que são medidas urgentes e
importantes para a nossa sobrevivência terrena.
PROBLEMA DAS ÁGUAS – II
Há
algum tempo, os jornais deram manchetes sobres a futura (e bem próxima) escassez
das águas em nosso planeta. Chegaram a sentenciar sobre o futuro sombrio: dois
terços do mundo ficará sem água até 2030.
Para
se ter uma ideia geral, países como Arábia Saudita, Líbia, Baharain, Jordânia,
Catar e Emirados Árabes Unidos, sofrem com a falta da água, muito embora jorrem
petróleo às cântaras.
Dados estarrecedores, demonstram que a água provocará guerras e haverá
disputas acirradas entre as nações desérticas, se atentarmos para as
estatísticas que nos dizem ser 500 milhões de pessoas que enfrentam, hoje, o
problema desta falta.
Diante de todo este dilema que muito bem sabemos existir e pelo que os
especialistas dizem sistematicamente, nós, brasileiros, não podemos ficar à
mercê do tempo, pelo simples fato de possuirmos um rio, como o Amazonas, capaz
de abastecer o mundo todo desta futura e profética calamidade. Seríamos, na
verdade, um mero espectador das desgraças alheias, o que não condiz com a nossa
formação.
Com
tudo isso, cremos ser necessário uma tomada de posição e passarmos a cuidar do
nosso potencial natural com mais carinho, dentro de uma nova sistemática que
nos ensina uma teoria tão simples e corriqueira: se temos 100 para gastar,
gastemos 99, nunca 101. Empreguemo-la na questão das águas.
Observamos, contudo, que desavisados brasileiros não se dão conta do
problema. É costumeiro observarmos o que se utilizam de água para banalidades
e, o que é pior, sem o seu real reaproveitamento. O desperdício toma conta até
das pequenas cidades, já que as grandes sofrem de toda forma com os
abastecimentos e o controle rigoroso do órgãos ligados aos recursos hídricos.
Alguns jornais e várias revistas estão em campanha direta para orientar
os usuários mas, com certeza, isto atinge uma faixa reduzida da população:
apenas àquelas que tem acesso a estes meios de comunicação. Então, seria
necessário que as companhias de abastecimento, distribuíssem folhetos
explicativos sobre o real problema que, dentro de pouco tempo, estaremos
vivenciando, caso medidas urgentes não sejam tomadas, principalmente por parte
daqueles usuários.
Temos observado que a ANA – Agência Nacional de Águas, órgão
governamental de implementação da política nacional de recursos hídricos, vem
demonstrando o quanto precisamos reparar e recuperar o tempo perdido. Isto,
pelo que podemos observar com os nossos rios sofredores, objeto sempre das
descargas industriais e de todo tipo de contaminação que se possa conhecer.
A
ANA, criada em 2000, já vem atuando de forma eficaz, metódica e rápida, para
prestar os seus serviços à causa maior: a defesa das nossas águas e o processo
de sua distribuição regrada e para todos. Este processo está se realizando em
conjunto com os mais variados segmentos da sociedade.
Mas não só aos órgãos públicos, como a ANA, está o modelo da economia
das águas. Ela é tarefa de todos nós usuários, procurando não gastar mais do
que o necessário. É assim que vale a teoria aqui relatada. Cada gota
economizada, será um trunfo maior, quando chegarmos no futuro com uma profética
escassez, como esta que os técnicos e especialistas vem apregoando.
Lembramos, aqui, que a “água é o ouro do século XXI”, segundo o eminente
Dr. Bernardo Cabral.
PROBLEMA DAS ÁGUAS – III
Quanto vale uma caneca de água? E o que valeria um litro, um barril, um
caminhão-pipa? É esta a pergunta que se faz, quando se sabe que, dentro de
pouco tempo, haverá um preço para a utilização da água, tanto do domínio da União,
como do domínio dos Estados.
Mas
qual a razão de, agora, aparecer esta cobrança, sendo que é um bem natural,
disposto à utilização de todos? E até dizem os mais estudiosos que é Direito
Difuso e, assim sendo, ninguém é obrigado a pagar pelo seu uso.
Isto
realmente seria legítimo se as coisas não fossem diferente do que aparenta
sê-lo, se apanharmos as estatísticas e comprovadamente verificarmos que estamos
às vésperas de uma eminente escassez. A água, no mundo, dentro de aproximadamente
50 anos, irá faltar em grande escala, se as medidas de agora não forem tomadas
com urgência.
Uma
dessas medidas, louvável em todo sentido, é a cobrança da água, através da
chamada “outorga”, que nada mais é que a concessão para a sua utilização. Isto
representa um grande passo para deter o ímpeto do homem em esbanjar um líquido
tão precioso.
Mas
esta outorga não é um sentido punitivo que pode parecer ao primeiro lance. Em
absoluto. Ela tem a sua consagração na certeza de que a arrecadação será em
benefício da própria comunidade, ou melhor, de suas próprias bacias
hidrográficas, como ficou caracterizado na Lei no. 9433/97, que instituiu a
Política Nacional de Recursos Hídricos: “....assegurar à atual e às futuras
gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados
aos respectivos usos”.
O problema crucial que se verifica
no mundo atual é o desperdício e a degradação dos corpos de águas. É notória
esta afirmativa, ao constatarmos que não há um regramento uniforme e que,
todos, seguem com a mesma vontade e determinação. Quando se nota um
economizando, se observa dez gastando. É uma máxima corrente no nosso
cotidiano.
Ao dar início ao debate deste
problema e, do governo, partir a edição das leis concernentes ao uso da água e
sua regulamentação, bem como da criação de órgãos federais, com “status” de
autarquia, sob regime especial, com autonomia administrativa e financeira, como
é o caso da ANA – Agência Nacional de Águas, mudou-se o panorama das coisas em
nosso país, quando falada sob a óptica das águas. Fundiu-se, em tese, águas com
recursos hídricos, uma tendo como consequência a outra. O aprimoramento dessa
agência, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, vem se registrando de maneira
a ordenar a nova política de recursos hídricos, como um todo.
Contudo, o que se salienta, desde a
implantação dessas novas diretrizes, é que haverá um regramento geral. Ninguém,
por qualquer questão que seja, terá o direito de desperdiçar a água e achar
que, com isso, não haverá quem possa puni-lo. Ledo engano, porque já sentimos
muito a falta do precioso líquido, não só pela ação devastadora do homem (o seu
maior agressor), mas também pelas condições das intempéries. Das intempéries, não
podemos penalizar; mas do homem, este sim, haverá a punibilidade, pelo
princípio de que o agressor-depredador deverá arcar com as consequências dos
seus atos.
Mas qual o preço que podemos falar
diante da tal cobrança. É o preço que devemos pagar se não quisermos ser
amaldiçoados pelas novas gerações. Serão os nossos netos ou bisnetos que no
enterrarão no lixo da história, se de nós não partir a conscientização da
economia, do regramento, do uso correto e ponderado das águas e, em
consequência, de todos os recursos hídricos que a nós foram dispostos e que
serão objetos de desenvolvimento, dentro deste planeta já tão agredido pela
ação do homem.
Portanto, o preço da água é o preço da
nossa vontade em contribuir para que a mesma não venha a faltar (e já são mais
de 60 países brigando pela falta de água). É o preço da vergonha de tantas
nascentes, córregos, riachos e rios serem sacrificados pela ação devastadora
daqueles impiedosos chamados de gananciosos, agressores, depredadores e outros
adjetivos de baixa qualificação ética e moral que os nossos bons costumes não
permitem vociferar.
PROBLEMA DAS ÁGUAS – IV
Como será o mundo em 2050? Há um velho ditado (e sempre oportuno) que
diz: “se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come”.
O
nosso planeta Terra, ao passar do tempo, vem sofrendo uma horrível e descompassada
transformação, em todos os sentidos, principalmente no que tange ao avanço nas
suas riquezas naturais, devastadas pela ação do homem. Nesse contexto incluo,
evidentemente, a água.
O
volume de habitantes, implementações imobiliárias, parques industriais e
veículos, em função desse progresso, vem se registrando, nos últimos decênios e
aparecendo, pois, um problema de maior gravidade: o espaço físico de cada
comunidade. Nesse contexto incluo, evidentemente, os recursos hídricos.
Como
efeito disso tudo, um já caótico trânsito, associado ao volume de pessoas,
marcando a presença de uma “pegada ecológica” de arrepiar aos mais estudiosos
da concentração em espaço físico. É que a Terra não cresce tanto quanto para
acolher o avanço demográfico.
Mas,
por outro lado, ainda temos problema do avanço dos condomínios e das
construções verticais que se assomam a cada instante nas cidades. É preciso
água, o verde, os espaços sociais, as áreas de preservação ambiental e segue outras
determinações que produzem o meio ambiente saudável.
O
problema, mais ainda, reside na segurança que cada qual deseja e pensa para si
e para os seus. Num país dispare, entre o baixo índice de pobreza (paupérrimo),
passando por uma classe média baixa e a rica, o caminho de se defender tem um
significado maior. Busca-se, se fechar em casa, trancando-a com grades,
armações elétricas e eletrônicas. Nos edifícios, segurança 24 horas,
interfones, guaritas e identificação de entrada. Nos condomínios, cancelas, olho de identificação,
portaria com vidro fumê, homens armados, etc.
Tudo
isso tem a ver com a questão do meio ambiente saudável que desejamos para todos
os que vivem aqui na Terra, tanto agora, como depois – digamos – daqui a 40 anos.
As
perspectivas futuras de vivência, em cidades, estados e países passam pela
disposição dos entes públicos em mapear todos os pontos críticos e resolvê-los
de forma a abrandar o impacto progressista.
Mas,
com tudo isso, como será o mundo em 2050? Creio, sinceramente, a se ver pelo
medo que gera o futuro, que as coisas vão mudar... e para melhor. Haverá maior
luta e disposição a favor do nosso meio ambiente; haverá mais entidades
dispostas a desfraldar a bandeira a favor de uma sustentabilidade mais elevada;
haverá personalidades mais que estarão dispostas a levar a todos os rincões do
mundo estas questões, sensibilizando as plateias. E enquanto o tempo passa e as
transformações vão se processando, os homens vão se conscientizando de que a
sua sobrevivência aqui na Terra depende deles mesmos, sendo favor primordial
cuidar da Terra.
Talvez, ainda, ajude a transformar tudo isso em realidade, o que o homem
sentiu nos últimos anos, do que a Terra pode causar. A teoria de que a Terra
responde com maior intensidade à agressão sofrida, pode causar efeito importante para deter a febre
do homem em agredir o ecossistema.
Talvez, muito mais, o homem se conscientize de sua responsabilidade
perante o mundo e que ele, ele mesmo, não é o epicentro de tudo isso aqui. Ele
é parte integrante, mas há todo um complexo estrutural terreno, entre vidas
humanas, plantas, minerais, água, ar, fogo – enfim o espaço todo tomado pelos
elementos que compõem esta nossa Terra.
Penso e reflito que os anos vindouros, até chegarmos em 2050, haverá
grandes transformações e novas posições em favor da Terra. Não é hora do
pessimismo, mas do otimismo, sem o que fatalmente estaremos produzindo um
planeta sem vida e com ela a extinção de tudo. Não é isso que queremos,
naturalmente. O que queremos, evidentemente, é que as novas gerações recebam de
todos nós um mundo marcado pela existência física e pela tomada do espaço com
toda sustentabilidade.
Em
todas estas colocações, o que mais me preocupa é a questão da contaminação da
água, o seu dispersar, a sua mudança de comportamento, a sua imigração para o
mar e o terror que tudo isso pode causar. Mas haveremos de nos recompor.
W.
G. Ward dizia: “O pessimista se queixa do vento, o otimista espera que ele mude
e o realista ajusta as velas”. Parafraseando o emérito teólogo inglês, diria:
“O inconsolado se queixa do homem, o eufórico deseja que ele mude e o
entusiasta prepara-o para o futuro promissor”.
Chegaremos, pois, em 2050, com uma Terra perfeitamente sintonizada e
habitada com o amor pelas coisas naturais. Creio, sinceramente, que novos
paradigmas serão peças importantes e, neste contexto, tudo o que a água
representa para a nossa subsistência. É o que
penso e o que desejo – e que todos nós desejamos.
J. R. Guedes de Oliveira
Ex-Membro do CNRH – Conselho
Nacional de Recursos Hídricos
E-mail: guedes.idt@terra.com.br