terça-feira, 27 de outubro de 2009

No Blog A Luz Clara, Dia de chuva em Porto Alegre, 2009. Sublime.

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Cara Marta Bellini: não resisti à fantástica imagem posta em seu comentário à minha justificativa de certa resenha.

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La vem o General da Banda, he-he, lá vem o general da Band hê-á....


Ricardo Stuckert/PR
Qual a razão de trazer à tona uma resenha feita em 1982? É para mostrar aos sandeus do petismo, sobretudo aos que nasceram depois daquela data (estes se prestam ao ridículo quando defendem ou atacam intelectuais de quem nada sabem, porque...nada sabem) que nem sempre o "outro lado" é composto de seres iguais a eles, ou seja, de apedeutas. Quando vejo, na internet ou em revistas "acadêmicas", críticas dirigidas à minha pessoa PORQUE não aceito os enunciados em voga e discordo dos que os enunciam, sobretudo quando eles se juntam em grupos de poder que usam nomes que hoje circulam nas rodas palacianas, tenho vontade de rir. Quanto à autora da resenha, basta uma pequena inspeção nos blogs dos fanáticos petistas e próximos, para notar que meu nome é enxovalhado por erguer críticas aos seus textos e procedimentos. Alguns chegam a discutir "pedigree" de origem acadêmica, tentando desqualificar este que escreve. Basta ler o que a autora adianta sobre meu livro, aliás posto fora de circulação pelos seus auxiliares nas editoras ("Esgotado", eis a fórmula eficaz para deter a carreira de um livro) para que os seus admiradores tivessem alguma prudência com as pedradas que remetem contra mim. Não preciso que autor algum diga se tenho competência, ou não. Mas é difícil para os militantes, que mordem e não pensam, dizer que meu trabalho é insignificante (teve um, mais idiota dos que os demais, que exclamou num blog da Nonemklatura petista: "ele SE DIZ professor de filosofia na Unicamp"). Nada como viver no sertão, desconhecendo quem é quem nas grandes urbes...A resenha, portanto, apresenta aos apedeutas aliados que não leram nada que seja substancial em filosofia, ou em qualquer outro setor da pesquisa, a advertência de Spinoza: CAUTE. RR

Para surpresa dos petistas pouco letrados, uma tautologia...segue a resenha abaixo, de um livro que publiquei há bom tempo.

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Cores Soturnas do Romantismo


Tornou-se moda nos meios intelectuais brasileiros o uso do termo “romântico” para designar tudo quanto escape a um saudável realismo político. Os conservadores o lançam contra os progressistas, estes contra aquele e, ambos, contra o que se convencionou designar “radicalismo”. Nos vários empregos, “Romântico” é sinônimo de inconseqüente, disparatado e inconsistente. Excêntrico. Imprecisões terminológicas, porém, não significam imprecisões políticas —transformado em slogan ou em etiqueta, o “romantismo” permanece imune ao exame histórico e conceitual rigoroso. Serve para tudo justamente porque não diz coisa alguma, E porque jamais estudado, torna-se em termos rigorosamente freudianos, um fantasma, aquilo que se repete indefinidamente por não poder ser encarado de frente. Ignorado, pode ser empregado a torto e a direito porque os adversários não precisam abandonar as seguranças do já sabido, já dito, já feito.

O livro [Conservadorismo Romântico: Origem do Totalitarismo, de Roberto Romano, Brasiliense, 172 págs. ] não é de leitura fácil nem rápida. O pequeno número de páginas torna o texto ainda mais denso, pede paciência e cautela ao leitor, desvenda campos de pensamento e de práticas cujo entrelaçamento era insuspeitado. Resenhá-lo é tarefa difícil e arriscada a perder o movimento que o constitui como texto, sobretudo porque as reflexões do autor se abrem em múltiplas direções simultâneas e articuladas (teoria do conhecimento, metafísica, teoria da história, artes, estética, política, história passada e contemporânea), cada uma das quais tratadas com verdadeira arte dos matizes, num “exercício antimaniqueísta” aberto ao debate, em lugar de fechá-lo.

Roberto Romano articula teoria do conhecimento, história das idéias, questões políticas, teoria da história, estética, ética. Ao escolher a metáfora das história solar e a “Doutrina das Cores” de Goethe, o autor nos faz acompanhar as articulações (algumas imprevisíveis) entre aquelas dimensões. Um exemplo: o tema do conhecimento vinculado ao da luz (portanto à visão, à intuição), vindo de Platão e Aristóteles, passando pelos místicos medievais, encontrando a formulação racionalista dos cartesianos e a renascentista de Bacon, alcança plena secularização com a filosofia das luzes e com Hegel, ao mesmo tempo em que restaura a sacralização das trevas com os românticos. Ora, o pressuposto fundamental dessa teoria do conhecimento, em suas múltiplas versões, é o de que o conhecimento só se realiza entre os semelhantes, de sorte que a discussão milenar sobre as relações entre sujeito e objeto, consciência e mundo, finito e infinito, interior e exterior tem como pilar dito de Plotino, retomado por Goethe: “se o olho não fosse solar, como poderia ver a luz?”.

A história da filosofia nos conta os avatares da criação das condições de semelhança (desde a verdade como aletheia e ortotés, passando pela representação e a adequatio até chegar à reflexão como auto-exposição do saber). Esse percurso, lembra Adorno, citado por Romano, consiste num movimento paradoxal de passagem da luz divina à luz racional até converter-se num fetiche para a consciência e transformar a equivalência em fetiche. Esse percurso é apresentado por Romano em algumas páginas extraordinárias onde examina a retomada crítica da metáfora ótica (na versão orgânica e na mecânica) na análise do fetiche da mercadoria, feita por Marx na abertura de “O Capital”. Porque somente o semelhante conhece o semelhante, porque a luz é choque com o fundo sombrio, Novalis nomeia a si mesmo: cristal.

O motor da história solar-racional de Hegel é o trabalho, fonte de um sofrimento libertador porque portador de autonomia através da paciência disciplinada que atravessa a exterioridade e a nega rumo à interioridade do Espírito. A história sentimental-noturna dos românticos encontra na magia sua mola propulsora, conservando a filologia de Schelling: poder=Mögen, magia= Vermögen, Vermögen =poder efetivo.

Do Oriente ao Ocidente, o progresso efetuado no, pelo e para o trabalho conduz à plena posse do corpo (natureza) pelo espírito (cultura), posse já existente para o pensamento e que resta ser conquistada pela vontade. O progresso é o homem livre da coerção natural e vivendo em relação com outros homens, passando da natureza à sociedade civil e desta ao Estado, enquanto totalidade ética superior e juridicamente fundada. Numa espécie de de escatologia, observa Romano, Hegel une história e destino: a chegada do homem disciplinado, operoso e livre numa sociedade politicamente regulada, sem conflitos e transparente para si mesma. É este o ideal totalitário.

O fio condutor do livro é a “Doutrina das Cores” de Goethe, oposta ao mecanicismo newtoniano e adotada por Hegel e pelos românticos como instrumento para a crítica do mecanicismo das Luzes. Não existindo na luz branca refratada pelo prisma, mas no choque entre luz e sombra, as cores são “síntese frágil entre dois elementos” opostos. Todavia, adotada por progressistas e conservadores, a teoria goetheana não produz os mesmos resultados. Em Hegel, a crítica do mecanicismo iluminista (a cor branca produzindo por refração as outras) vai de par com a crítica do organicismo romântico (privilégio da sombra e da sensibilidade). Isto significa, politicamente, que nem o contrato (relação mecânica entre vontades) explica a passagem da sociedade civil para o Estado, nem a lei (arbítrio vindo do coração do rei) é vontade pessoal. Do ponto de vista histórico, a história não é coleta filistina e indiferenciada de “dados”, coleção de documentos, nem sacralização do passado enquanto tradição, pois o caminho do abstrato ao concreto (concreto que, definido como síntese de determinações, vem diretamente da definição goetheana da cor) não faz do progresso acúmulo nem do crepúsculo veste que rejuvenesce o passado. O vôo do pássaro de Minerva garante que o futuro não está no passado.

Na teoria goetheana, o azul é cor limite, sempre comporta, portanto, sombra e obscuridade, produz excitação, serenidade e visões tétricas pois vem do negro.O azul foi a cor da política romântica. Novalis, seu expoente maior. Estudando as anomalias cromáticas, ou seja, aqueles que percebem uma gama mais reduzida do que os demais, Goethe as considera naturais e não excêntricas; possuem leis próprias e estão reguladas. Observa que, ao se espalhar o carmim sobre o branco, os que possuem anomalias não enxergam o rosa, mas o azul-celeste, e não percebem toda a gama do rosa ao violeta e deste ao azul, gama que a natureza produz no céu, à hora do crepúsculo. Excluindo o azul, Goethe observa que os anômalos fazem prevalecer a gama do vermelho e e do amarelo, tendendo a ver apenas marrom avermelhado, como o tom produzido pela natureza no outono. Assim, a patologia cromática é incapacitada para perceber os matizes.

Analisando poemas de Novalis, Romano assinala que neles prevalecem o azul (para o rei, situado no alto divino e sombrio) e o marrom avermelhado (para os mineiros a extrair ouro das minas). Entre os dois polos não há gama cromática nem matizes, e a policromia do cotidiano, percebida pelos homens comuns, é considerada infantil, desordenada, superficial. Azul, “linda mônada”, Novalis, “bela alma” diz Hegel.

Sem dizê -lo explicitamente, Romano indica algo insólito: encarada pelo ângulo da “Doutrina das Cores”, a política romântica é anomalia, porém regulada, natural, provida de leis. Autoritária (sem matizes) e conservadora (a origem noturna e mágica) não é excentricidade. Eis porque o livro procura alí raízes do fenômeno totalitário e também raízes do ressurgimento da idéia e das práticas comunitárias, “remédio mágico contra os conflitos da sociedade civil, prescrito pelos atuais seguidores de Schelling, Novalis, De Maistre. Será o romantismo, não como excrecência ”anacrônica” ou excentricidade, uma pista para compreendermos porque “num século fragmentado a religião readquiriu o peso que todos nela reconhecem?”.

Marilena Chaui, Folha de São Paulo, 04/04/1982




segunda-feira, 26 de outubro de 2009

UMA SUPOSTA IMPRENSA, OU IMPRENSA SUPOSTA? OU ALGO QUE SOA MUITO PRÓXIMO?

CAROS: LEIAM A NOTÍCIA ABAIXO E CONSTATEM A CENSURA FUNCIONANDO A PLENO VAPOR, E TAMBÉM A AUTO-CENSURA. POR QUE USAR O TERMO "SUPOSTO" SEMPRE QUE SE FALA EM ALGO ESCANCARADO PELO PRÓPRIO GOVERNO QUE USA RECURSOS PÚBLICOS PARA GARANTIR SUA PERMANÊNCIA NO PODER? POR QUE "SUPOSTO" ? OU É MEDO DE RETALIAÇÃO, SEJA ELA ECONÔMICA OU NA JUSTIÇA, OU É CUMPLICIDADE DISFARÇADA COM OS QUE DESOBEDECEM A LEI, BASEADOS NA POPULARIDADE DE UMA PESSOA. NÃO ME COMOVEM AS QUEIXAS DO ESTADO DE SÃO PAULO, UM JORNAL QUE PARECE CRITICAR O GOVERNO, MAS TEM EM SUAS REDAÇÕES APOIADORES DO MESMO GOVERNO, INSTALADOS NAS MESMAS REDAÇÕES DESDE QUANDO O PT FINGIA SER UM PARTIDO ÉTICO, ALIÁS, O ÚNICO ÉTICO PORQUE OS DEMAIS SERIAM "FARINHA DO MESMO SACO". QUANDO FUI DESTRATADO NO JORNAL, CAIU A FICHA: OS LEITORES E ALGUNS JORNALISTAS DO MESMO PERIÓDICO PODEM TER CONVICÇÕES DEMOCRÁTICAS. MAS NAS REDAÇÕES MANDAM PETISTAS DISFARÇADOS. QUE POR SUA VEZ DISFARÇAM OS ATENTADOS DOS QUE SE INSTALARAM NO MANDO CONTRA A LEI. SIM SENHORES, APENAS A LEI. DAÍ DÁ PARA ENTENDER, E MUITO BEM, A QUANTIDADE OBSCENA DE "SUPOSTOS" NOS TEXTOS DA IMPRENSA ESCRITA NACIONAL, SOBRETUDO A PAULISTA. RR


Nos EUA, Marina critica Dilma por campanha antecipada

Senadora, que deixou o PT para tentar se candidatar à Presidência, também pediu equilíbrio na CPI do MST

De Patricia Campos Mello, de O Estado de S. Paulo:

Em viagem aos Estados Unidos nesta segunda-feira, 26, a senadora Marina Silva (PV-AC) criticou os supostos atos de campanha antecipada patrocinados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em favor da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e pediu equilíbrio na CPI que irá investigar o Movimento dos Sem-Terra (MST).

Marina, que realiza encontros com políticos americanos e participa de debates sobre o aquecimento global em Washington, deixou o PT recentemente para tentar se candidatar à Presidência pelo PV.

A senadora criticou sua ex-colega de ministério por supostamente usar a máquina pública para fazer campanha e alegar que é vítima de preconceito por ser mulher.

"Não tem nada a ver com ser homem ou mulher", disse Marina. "Há um incômodo legítimo da sociedade; essa ida ao São Francisco em caravana caracterizou um ato de campanha; os atos falhos falam por si", disse a senadora e pré-candidata à presidência.

Jornal do Commercio, Recife 11/10/2009

» RUMO A 2010
Governismo, um vírus incurável na política
Publicado em 11.10.2009
Final do prazo de filiação partidária para candidatos ao pleito do próximo ano revelou nova corrida de políticos em busca de melhores condições eleitorais. A maioria optou por siglas da base governista

Sérgio Montenegro Filho

smontenegro@jc.com.br

A fidelidade partidária definitivamente não faz parte da cultura política brasileira. O atrelamento à determinada legenda por questões ideológicas ou programáticas deu lugar a uma prática que vem nivelando por baixo toda a classe política: o governismo. Esse mal – que atinge tanto liberais como conservadores – representa o reverso da definição tradicional de política. Em vez de priorizar o interesse público, governantes e parlamentares miram, em primeiro lugar, a colheita de dividendos pessoais. A escolha de um partido, então, passa a ser feita visando, antes de mais nada, as facilidades para renovar o mandato.

A cada eleição, o vírus do governismo assola com mais força os políticos, sem discriminar partidos. Basta haver uma mudança de comando no Executivo. Em nível nacional, até o dia 2 de outubro, quando terminou o prazo de filiação partidária para candidatos ao pleito de 2010, nada menos que quatro senadores e 28 deputados federais trocaram de legenda, ignorando solenemente a regra estabelecida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2007, segundo a qual o mandato pertence ao partido, e o parlamentar que mudar de sigla fica sujeito a perdê-lo para o suplente imediato.

Embora existam alguns registros na memória política, o governismo não é uma doença antiga. O vírus começou a ser disseminado nacionalmente a partir da redemocratização, com a restituição do pluripartidarismo e a dissolução de conceitos como esquerda e direita. Mas assumiu ares de epidemia a partir da gestão do presidente José Sarney (1985-90), que criou a política do “é dando que se recebe”, concedendo benesses aos parlamentares favoráveis ao governo. “Em sua gestão, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) radicalizou essa técnica. E o governo Lula a aperfeiçoou”, diz o professor Roberto Romano, titular da disciplina de Ética e Política da Universidade de Campinas (Unicamp).

Para agravar a questão da falta de ideologias, a Constituição de 1988 tirou a autonomia dos Estados e fortaleceu a União. Um efeito cascata se abateu sobre a relação entre os municípios e os governos estaduais. E como o único modo de se fortalecer para garantir a reeleição – na ótica dos parlamentares – é levando obras e recursos para as suas bases, eles precisam do aval do governante da vez. “Deputados e senadores viraram meros transmissores de recursos do governo para as instâncias inferiores. E para isso, não precisam de ideologias. Eles são estafetas do Executivo, despachantes de luxo”, critica o estudioso.

Para Romano, há hoje uma irrelevância programática dos partidos que leva à diminuição da importância do Legislativo. “O próprio Parlamento permitiu a quebra da sua autonomia. Isso é perigoso, porque mesmo que não exista uma ditadura formal, cria-se uma ditadura de fato do Executivo”, adverte.

BRECHAS LEGAIS

Conselheiro da ONG Transparência Brasil, o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília, vai além ao analisar o troca-troca partidário. Para ele, as mudanças registradas na reta final do prazo de filiação desmoralizaram a Justiça Eleitoral, porque ao estabelecer a regra da fidelidade partidária, em 2007, o TSE não previu normas mais rígidas para punir os infiéis. “O tribunal foi desafiado pelos políticos e ficou com a imagem arranhada. Até hoje, somente um parlamentar perdeu o mandato por infidelidade. A norma, então, parece inócua”, analisa o especialista, que enxerga várias brechas na resolução. “Todos esses parlamentares que trocaram de sigla já se articularam com advogados e prepararam suas defesas”, diz, prevendo poucas punições.

O mais grave, porém, na opinião de David Fleischer, não são as infidelidades individuais, movidas pelo vírus do governismo, mas as migrações de partidos inteiros, que ele classifica como “presidencialismo de coalizão”. De fato, várias legendas que integram hoje a base do governo Lula faziam oposição ao PT quando o País era comandado por Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Mas em 2003 e em 2007 – início de cada um dos mandatos de Lula – elas mudaram de posição política, deixando clara a inexistência de qualquer traço de ideologia ou conteúdo programático. “Em alguns países, como os Estados Unidos, um presidente precisa apenas do apoio de duas ou três legendas para governar. E elas normalmente têm uma identidade em comum. No Brasil, a base chega a ter quase vinte partidos diferentes”, observa. “O problema é que, depois das adesões, o governo fica comprometido com a coalizão, e precisa distribuir benesses para manter os novos aliados”, conclui.

Oswaldo Mendes conta Plinio Marcos

Midia quieta e cumplice, segredo e golpe próximo.

Das poucas citações de Raul Seixas que aceito, uma delas é "eu não preciso ler jornais, mentir sozinho eu sou capaz, não quero ir de encontro ao azar...". Todos sabem hoje que, no segredo, mudanças estruturais no regime político do Estado brasileiro estão sendo geradas. Se prepara uma concentração ainda maior de poderes no Executivo Federal, com a cumplicidade silente do Congresso e do Judiciário. Trata-se de uma ditadura bem no modelo do cerarismo. O período de transição para o retorno ao poder e proclamação do "novo" modelo cobre os quatro anos que, apostam os golpistas, será assegurado por Dilma Roussef. Este segredo de Polichinelo é sabido por todos os que possuem formação teórica e informações. E no entanto, a midia brasileira, mesmo a que os governistas acusam de "golpismo" se cala e não abre pauta alguma para o exame do golpe efetivo que se prepara. Tal golpe será mais prudente do que os praticados por Chavez e companheiros. Mas será fulminante. Não dou mais 5 anos de Estado de Direito para o Brasil. E não sou profeta do caos, ou apenas profeta: leio os sinais dos tempos, ouço os autoritários, leio seu documentos.

Segue abaixo uma repetição de um tema que trato há muitos anos, o segredo e a razão de Estado. Enquanto os mesmerizados abrem os jornais, que falam de coisas menores e moralizam, os operadores do golpe movem seus bispos, damas, peões. E o resultado da covardia geral será um cheque mate na ordem democrática.

RR

O Desafio do Segredo e a Democracia

Tornou-se lugar comum citar o discurso do Presidente Kennedy no Rice Stadium em 1962, quando os instantes mais dramáticos da corrida para o espaço definiam a Guerra Fria. Naquela fala o dirigente usou a retórica da Razão de Estado para convencer o seu povo —e o mundo inteiro— das vantagens trazidas pela ciência e tecnologia. O maior feito aparente, disse ele, é o de colocar o homem na Lua. Mas o importante no discurso é que pela primeira vez a ciência foi colocada como alvo direto do Estado. O não dito, e que não poderia ser dito, velava o seguinte fato: a partir daquele instante o segredo, velha técnica de controle público, tornou-se sinônimo de ordem política, científica, econômica, militar. Com os anos e mesmo após a ruína da União Soviética, o segredo, em vez de ser atenuado, aumentou desmesuradamente.

Vivemos num mundo regido pelo segredo, somos obrigados ao segredo, e milhões ainda morrerão para garantir o segredo. A meu ver, não existe tema ético mais relevante em nossos dias do que este. O segredo é a face demoníaca da vida pública. Sem discuti-lo, impossível perceber para onde ruma o nosso planeta e os nossos países. Quem opera na busca do verdadeiro, sabe perfeitamente que nem tudo pode ser dito, em qualquer momento. Mas também sabe que segredos de Estado ou de laboratórios podem trazer o genocídio em todo e qualquer lugar do globo terrestre. Basta recordar as famosas armas de destruição massiça, dolosamente atribuídas ao governo ditatorial do Iraque. Se elas teriam de fato existido, ou não, é algo que permaneceu durante bom tempo imerso no segredo. Mas antes da guerra atual, nas batalhas entre Irã e Iraque, o ditador iraquiano usou armas químicas letíficas, todas feitas no segredo, em laboratórios externos ao Iraque.

E assim temos a crônica do terror de Estado, do terror para-estatal, de todos os terrores que se alimentam do segredo. Permitam-me, portanto, tecer algumas considerações sobre esta perversão do Estado moderno. Desde a Renascença, com o Estado nos inícios efetivos do controle nacional, o segredo domina as relações internacionais. Como diz um interprete do pensamento renascentista, “enquanto o pensamento político humanista enfrenta uma Europa que consiste em novas nações unificadas, o tópico da política externa é também uma fonte de ansiedade”. (1) Semelhante ansiedade conduziu os autores renascentistas e posteriores às teses sobre a guerra ininterrupta entre Estados. A comparação hobbesiana entre os espiões e as teias de aranha que os reis armam contra seus pares concorrentes e inimigos é valiosa. O segredo, como na teia, pode ser protegido ou roubado. Essa é práticamente a estrutura lógica da diplomacia na gênese dos Estados modernos.

Do gabinete, onde vive oculto, o príncipe ouve os cortesãos, embaixadores, etc. O ideal do governo que tudo enxerga, tudo ouve, tudo alcança, para garantir a soberania e a salus populi, é a base lógica dos serviços de informação. Segundo G. Macchia, o governante “no alto da escala social, impenetrável, não visto, nos meandros do seu palácio, no seu gabinete, está cheio, da cabeça aos pés, de segredos que ninguém pode conhecer e deseja também que o mundo dos súditos seja exposto a uma luminosidade perene”.


Em vez da legitimidade religiosa, ocorre agora a imposição técnica do mando político. (2) Se deseja manter-se no poder, o governante precisa enfrentar a questão maquiavélica: ou existe a república e a cidadania ou o poder está sempre sob ameaça e seu tempo é breve. Justo por isso, a necessária vigilância e o segredo entram na raison d´état. Quando não se confia no povo ou nos Estados concorrentes, é preciso deles esconder e arrancar o máximo. Quanto mais imediato o perigo, (3) mais o aparelho estatal engendra novas técnicas de escuta, controle e ocultação. Desse modo se estabelece a heterogeneidade entre governados e dirigentes. Na aurora do Estado moderno “a verdade do Estado é mentira para o súdito. Não existe mais espaço político homogêneo da verdade; o adágio é invertido: não mais fiat veritas et pereat mundus, mas fiat mundus et pereat veritas. O segredo como instituição política só é inteligível no horizonte desenhado por esta ruptura (…) à medida que se constitui o poder moderno. O segredo encontra
sua origem no verbo latino secernere, que significa separar, apartar”. (4)

Com a democracia produzida nas três grandes revoluções modernas — inglêsa do século 17, a norte-americana e a francêsa no século 18— o segredo político foi atenuado pelas noções de accountability e transparência. Na forma estatal anterior à democracia o soberano não deve satisfações aos parlamentos, aos juízes, aos súditos. Esta tese, combatida desde longa data na Inglaterra. Edward Coke defendeu a independência dos juizes contra a Igreja Anglicana e contra James I. Ao replicar ao rei, que defendia suas prerrogativas contra “os advogados”, Coke afirma que o soberano “não foi educado no conhecimento das leis da Inglaterra”. James I, mais do que ofendido, replicou dizendo que se Coke tivesse razão, ele deveria estar sob a lei. Uma tal hipótese, em si mesma, serua “ traição evidente”. E o governante cita Bracton : “Rex non debet esse sub homine sed apud Deo et lege”. O autor do Presente Régio (Basilicon Doron) e do tratado Sobre a Verdadeira Lei das Livres Monarquias ou dos Mútuos Deveres entre Um Livre Rei e Seus Súditos (The True Law of Free Monarchies or the Mutual Duty Betwist aa Free King and His Subjects, escreve que “um bom rei enquadra todas as suas ações segundo a lei; mas ele prende-se a ela, só pela sua boa vontade e para dar exemplo aos súditos. Ele é o senhor sobre todas as pessoas, tem poder de vida e morte. Embora um principe justo não tire a vida de nenhum súdito sem uma lei clara, a mesma lei com a qual ele tira a vida é feita por ele mesmo or seus predecessores”. Além de pai do seu povo, o rei, segundo Jaime, seria o professor universal, pois os súditos são fracos e ignorantes. E assim, ele é em tudo independente da sociedade e desconhece inclusive o judiciário: “A ruindade de um rei nunca pode fazê-lo ser julgado pelos juízes que ele próprio ordena”.

Na fala ao Parlamento de 1616, James proclama que “os reis são justamente chamados deuses; pois exercem um modo de semelhança do Divino poder sobre a terra. Porque se forem considerados os atributos de Deus, ve-se o quanto eles concordam com a pessoa de um rei. Deus tem poder de criar ou destruir, fazer ou desfazer ao seu arbitrio, dar vida ou enviar a morte, a todos julgar e a ninguém prestar contas (to be accountable). O mesmo poder possuem os reis. Eles fazem e desfazem seus súditos; têm poder de erguer e abaixar; de vida e morte; julga acima de todos os súditos em todos os casos e só deve prestar contas a Deus (yet accountable to none but God)”. (5)


Seria inaceitável para um governante absolutista a soberania popular e a noção de que os dirigentes devem prestar contas de seus atos, sem guardar segredo, à massa não qualificada. Todos os principes liam nos tratados políticos e na literatura grega ou romana a plena desconfiança no povo. Este, para os latinos, era apenas o populo exturbato ex profugo, o improbante populo, o vulgus credulum, vulgus imprudens vel impudens, vulgus stolidum etc. (6) Gabriel Naudé, nas Considerações Políticas sobre os golpes de Estado (1639) fala do segredo e da desconfiança universal que obrigam o governante a se preservar “dos engodos, ruindades, surprêsas desagradáveis” quando a crise de legitimidade se instala. É preciso cautela, diz Naudé, contra o animal de muitas cabeças, “vagabundo, errante, louco, embriagado, sem conduta, sem espírito nem julgamento….a turba e laia popular joguete dos agitadores: oradores, pregadores, falsos profetas, impostores, políticos astutos, sediciosos, rebeldes, despeitados, supersticiosos”. (7)

Gradativamente surgiram outras percepções do povo, como em Althusius. (8) No final da Idade Média a doutrina do Estado definira que o fundamento do governo residia na submissão voluntária e contratual das comunidades governadas. Por direito natural só ao povo cabia colocar-se como chefe da essência do poder estatal. (9). O summus magistratus, para Althusius, é o povo. Na inglaterra, as convulsões que reuniram todos os prismas da vida capitalista triunfante, após a Reforma de Henrique VIII, ergueram a força popular traduzida em facções, dos Levellers aos Diggers, mesclando religião e imperativos democráticos. E nasceu a idéia da accountability invertida: o rei não mais devia prestar contas apenas ao ser divino, mas ao povo: Vox populi, vox dei. John Milton expressa com clareza os dois princípios: “… Se o rei ou magistrado provam ser infiéis aos seus compromissos o povo é liberto de sua palavra”. Estas frases, em The Tenure of Kings and Magistrates (10) definem o principio da nova legitimidade política. O summus magistratus popular exige responsabilidade dos que agem em seu nome. As teses democráticas inglêsas repercutiram pela Europa inteira e integram o corpus doutrinário que formam Estados como a própria Inglaterra, a França, os EUA.

Calaram fundo nos iluministas os princípios democráticos inglêses. Enuncia Diderot nas Observações sobre o Projeto de Constituição de Catarina 2 : “Não existe verdadeiro soberano a não ser a nação; não pode existir verdadeiro legislador, a não ser o povo; é raro que o povo se submeta sinceramente a leis que lhes são impostas; ele as amará, as respeitará, obedecerá, as defenderá como sua obra própria se é delas o autor (…) A primeira linha de um código bem feito deve ligar o soberano; ele deve começar assim : `Nós, o povo (e lembremos que este será o início da Constituição norte-americana : We the People…) (11) e nós, soberano desse povo, juramos conjuntamente essas leis pelas quais seremos igualmente julgados; e se ocorrer a nós, soberano, a intenção de mudá-las ou infringi- las, como inimigo de nosso povo, é justo que ele seja o nosso, que ele seja desligado do juramento de fidelidade, que ele nos processe, nos deponha e mesmo nos condene à morte se o caso exige; esta é a primeira lei de nosso código”. (12)

Passada a era das revoluções, para usar o termo de Eric Hobsbawn e depois dos Estados totalitários do século 20, o poder de Estado estatal apresenta agudos problemas. Na dialética contraditória ocorrida no âmbito democrático —os demagogos prometem plena transparência ao povo, mas precisam assumir o segredo estatal, são eleitos pelo voto secreto e, nos palácios, usam o segredo para domar as massas que os sufragaram— o pêndulo vai da licença às tiranias como a nazista. A resposta do poder ao segredo do voto foi o recrudescimento e a manipulação inaudita do segredo de Estado.

A imprensa serviu para atenuar o segredo de Estado e os demais sigilos (da vida privada à religiosa, sem deixar de lado a economia). Ela, no entanto, insere-se num complexo de interesses que a tornam constantemente atriz e vítima dos poderes naquelas várias esferas. Diria simplificadamente que todos aqueles setores percebem na imprensa uma aliada, quando não instrumento, se o problema é divulgar e propagar os seus intentos, procurando identificá-los ao “interesse geral”. Ela é bem vinda naquela cirscunstância. Empresas e indústrias, bancos e cúpulas eclesiásticas, gabinetes políticos ou militares, partidos e seitas, todos cortejam a imprensa na busca de popularizar a sua “mensagem”, obter lucros e favores de governos, ameaçar concorrentes. E todos a criticam acerbamente quando não conseguem efetivar, por seu intermédio, aqueles fins.

A história da imprensa moderna, sobretudo no campo do século 18 para cá, especialmente na política, é a crônica do perene choque contra o segredo, em especial o de Estado. Para conseguir leitores, os jornais que traziam notícias políticas ofereciam informes sobre projetos governamentais (economia, comércio, militares), estatísticas, orçamentos dos países sobre a potência militar, taxas de nascimentos e mortes, importação e exportação. Trata-se de apaziguar, como diz um historiador da imprensa, a fome generalizada de informação. Mas existia mais, neste afâ estatítico “Ele era um ato deliberado, politico, com ele se pretendia desvelar o segredo com o qual os governos absolutistas se envolviam, para gerar as bases de um debate público”.(19)

Com as novas formas de apropriação cultural, é possível se buscar um novo equilíbrio entre os sentidos, e por conseguinte entre as artes e as ciências, bases da pesquisa real nas universidades. Se não houver uma profunda meditação sobre os vínculos da arte e das ciências, as primeiras podem ser tragadas pelo uso rotinizado das segundas, em detrimento justamente da imaginação e da sensibilidade, as quais coexistem com a inteligência técnica em íntima dependência. As tentativas de se diminuir o abismo entre teoria e arte, administrando os cinco sentidos para que eles colaborem na formação dos novos pesquisadores, e não apenas consumidores do que já foi feito por outros, até hoje, ou fracassaram ou não tiveram divulgação ampla. Se não conseguirmos vencer esta fenda, poucas esperanças restam para nós e para os seres humanos nos próximos tempos. Mas se bem observarmos história da humanidade, constataremos que todos os desafios mortais foram por ela vencidos, graças aos saberes e às técnicas partilhadas, que deixaram o segredo e seguiram para o uso da maior parte dos indivíduos, grupos, nações. Esta é uma lição ética de capital importância.
1
Notas e indicações bibliográficas
(1) Hampton, Timothy: Literature and inventing Nation in the Renaissance sixteenth century. Ithaca, Cornell University Press, 2001, p. 76.
(2) Cf. Peter Burke, A fabricação do Rei. RJ, Zahar, 1994.
(3) Cf. Vivanti, Corrado: Lotta politica e pace religiosa in Francia fra cinque e seicento. Torino, Einaudi, 1974.
(4) Cf. Jean-Pierre Chrétien-Goni: “Institutio Arcanae”, in Lazzeri, Christian e Reynié, Dominique: Le pouvoir de la raison d´état. Paris, PUF, 1992, p. 137.
(5) Cf. Gooch, G.P. : Political Thought in England, from Bacon to Halifax (Londo, University Press, 1946), páginas 2 a 45.
(6) Cf. Yavetz, Zvi : La plèbe et le prince. Foule et vie politique sous le haut-empire romain. Paris, Maspero, 1984.
(7) Citado por Jean-Pierre Chrétien Goni, op. cit. p. 141.
(8) Cf. Otto Gierke: Natural Law and the theory of society. 1500 to 1800. Boston, Beacon Press, 1960, p. 48. Para este passo, é importante consultar o livro de Gierke sobre Althusius : Johannes Althusius und die Entwicklung der naturrechtlichen Staatstheorien. Uso a tradução italiana : Giovanni Althusius e lo sviluppo storico delle teorie politiche giusnaturalistiche. Contributo alla storia della sistematica del diritto. Torino, Einaudi, 1974, a cura de A. Giolitti.
(9) Gierke, Althusius….ed. cit. pp. 81-83.
(10) “… if the King or Magistrate prov´d unfaithfull to his trust, the people would be disingag´d”.Um governo (Milton cita Aristóteles) “unnaccountable is the worst sort of Tyranny; and least of all to be endur´d by free born men” Cf. John Milton Selected Prose edited by C.A.Patrides. Harmondsworth, Penguin, 1974, pp. 249ss.
(11) Lembrança trazida por Laurent Versini, na edição que dirigiu das Oeuvres de Diderot (Paris, Robert Laffont, 1995) T. III, p. 507.

(12) Cf. Diderot, Denis : “Observations sur l ´Instruction de l ´Impératrice de Russie aux Députés pour la Confection des Lois”, in Oeuvres de Diderot, Ed. Versini , T. III, p.507.
(...)
(19) De Platão até hoje, a opinião (doxa) deve ser combatida pela ciência. Em Hegel, a opinião pública (Die öffentliche Meinung) ao mesmo tempo carrega elementos verdadeiros e incertos, produtos da raciocinação sem profundidade (o famoso Räsonieren, forma inferior da Razão). Uma pessoa ponderada não leva a sério a opinião pública, pois a própria opinião pública engana a si mesma. É preciso apreciá- la, pensa Hegel, mas também desprezá-la. Para que algo verdadeiro ou grande seja feito, é preciso que o sujeito tenha independência (Unabhängigkeit) diante dela. Ligada à opinião pública, a imprensa é o lugar do limitado, contingente, com infinita diversidade de conteúdo e modos de falar. O modo científico rompe com as alusões, as palavras postas pela metade. Ele exige uma expressão sem equívoco. Cf. Grundlinien der Philosophie des Rechts in Werke in zwanzig Bänden (FAM, Suhrkamp Verlag, 1975), V.7, §§ 316 a 319, páginas 483 e seguintes. Trad. Robert Derathé, Principes de la philosophie du droit (Paris, Vrin,1975) páginas 318 e seguintes. Estamos a um passo da noção de ideologia e de opinião pública enquanto falsa consciência. Cf. Habermas, J.: Mudança Estrutural da Ordem Pública (RJ, Tempo Brasileiro Ed., 1984), página149. E também Norberto Bobbio : Saggi sulla scienza politica in Italia, (Torino, Laterza, 2 ed., 1996). Bobbio compara nesse livro as teorias da ideologia em Marx e Pareto.
(20) Gerhard Schuck, Rheinbundpatriotismus und politische Öffentlichkeit zwischen Aufklärung und Frühliberalismus. Kontinuitätsdenken und Diskontinuitätserfahrung in den Staatsrechts- und Verfassungsdebatten der Rheinbundpublizistik (Stuttgart, 1994), pp. 55–63. Citado por Barker, H.: Press, Politics and the public Sphere in Europe and North American 1760-1820. (Cambridge, University Press, 2002), página 74.



IHU-Unisinos

26/10/2009
Ex-primaz anglicano considera ''imperdoável'' a atitude de Roma

O ex-primaz da Igreja da Inglaterra, George Carey, ex-arcebispo de Canterbury, criticou o Papa Bento XVI por não avisar com tempo a respeito da disposição do Vaticano para acolher clérigos anglicanos na Igreja Católica.

A reportagem é de Jesús Bastante, publicada no sítio Religión Digital, 24-10-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Em declarações publicadas pelo jornal inglês The Times, Carey considera "imperdoável" que a Santa Sé tenha avisado seu sucessor e atual primaz da Igreja da Inglaterra, Rowan Williams, só duas semanas antes da oferta de unidade.


"Acredito que, nesta época, é imperdoável que Roma decida fazer isso (emitir a normativa especial para acolher os anglicanos) sem consultar" Williams, indicou o ex-arcebispo.


"Se o que ouvi está correto, que Williams foi informado só há duas semanas, então me sinto horrorizado",afirmou o antigo líder eclesial. Em sua opinião, o atual arcebispo de Canterbury, que visitará o Papa no próximo mês, deveria "expressar seu descontentamento com esse processo".


Porém, Carey deu "boas-vindas muito cautelosas" à iniciativa do Vaticano, pois há clérigos anglicanos que não veem futuro algum na Igreja da Inglaterra por causa de sua oposição à ordenação de mulheres como bispas. A esse grupo detrator, pertencem cerca de 600 sacerdotes da associação anglicana Forward in Faith, simpatizante do catolicismo, que se reuniu neste fim de semana em Londres para analisar a oferta do Papa.


Por sua parte, o bispo anglicano emérito de Kitgum (Uganda), Mcleord Baker Ochola, considerou "fantástico" o anúncio realizado pelo Vaticano segundo o qual o Papa Bento XVI aprovou uma constituição apostólica - disposição de nível muito alto - para acolher os anglicanos que assim o desejarem na Igreja Católica. Baker Ochola fez essas declarações na segunda jornada do Congresso Internacional de Mística, intitulado "A força espiritual da África", substituindo a religiosa e assistente social Margaret Beriwu, cuja conferência sobre as mulheres refugiadas e as meninas-soldado da África foi transferida para esta segunda-feira.


Com relação à decisão do Vaticano, o bispo emérito ugandês expressou seu desejo de que "as pessoas sejam felizes", e isso envolve o fato de que "os súditos anglicanos são mais felizes sendo católicos", isso lhe parece "fantástico". Nesse sentido, disse não estar de acordo com "certas coisas da Igreja moderna anglicana", cuja visão sobre a homossexualidade ele não compartilha.


Perguntado sobre a impossibilidade de que ele mesmo passe a pertencer à Igreja Católica, Mcleord Baker Ochola disse: "Os demais são livres para fazer o que quiserem, mas eu vou ser anglicano". Nesse contexto, ele considera essa decisão um "passo positivo", já que "a humanidade é uma, e Deus é um". Foi por isso que ele perguntou "qual é o problema de que todos se reúnam" e considerou o passo como "fantástico".


Perguntado se muito anglicanos darão esse passo, ele disse não poder falar pelos demais, mas pensa que "sim, porque isso já está acontecendo", levando-se em consideração que "as pessoas vão rezar nas igrejas que lhe agradem, e isso está bem para todo mundo".

Para ler mais:


domingo, 25 de outubro de 2009

Ah! Mem....

25/10/2009 - 09h55

Igreja Universal fez remessa clandestina, diz relatório

RUBENS VALENTE
da Folha de S.Paulo

O Ministério Público Federal tem em seu poder documentos que indicam o uso de uma casa de câmbio chamada Diskline para fazer remessas de pelo menos R$ 17,9 milhões, em valores atualizados, para uma conta bancária em Nova York cuja beneficiária era a Igreja Universal do Reino de Deus.

As remessas ocorreram, segundo as investigações, por meio de dólar-cabo, um sistema clandestino de transações internacionais que foge do controle do Banco Central. Por esse sistema, combatido pela Polícia Federal desde que foi descoberto, em meados dos anos 90, doleiros do país abastecem contas de brasileiros no exterior sem que o BC tenha conhecimento das operações.

É uma espécie de compensação paralela entre contas bancárias abertas no exterior em nome de empresas "offshore" sediadas em paraísos fiscais. O dinheiro é entregue pelo cliente ao doleiro, no Brasil, em espécie. Simultaneamente, o mesmo valor, excluída a "taxa de administração" cobrada pelo doleiro, é transferido de uma conta aberta fora do Brasil em nome de empresa de fachada controlada pelo doleiro. Operações desse tipo são consideradas, nos EUA, retransmissões ilegais de fundos.

Os documentos que revelam as operações foram produzidos pela Assessoria de Análise e Pesquisa da Procuradoria-Geral da República, em Brasília, tendo como base os achados das ações da PF e da CPI do Banestado. Num disquete apreendido na sede da Diskline e periciado pela PF, foi achada uma tabela que descreve 24 remessas feitas entre agosto de 1995 e fevereiro de 1996 no total de R$ 7,5 milhões, ou R$ 17,9 milhões atualizados pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor).

O dinheiro era entregue por uma pessoa identificada pelo código "Ildinha/Fé" e tinha como destino final a conta nº 365.1.007852 do antigo Chase Manhattan Bank de Nova York (EUA), adquirido no ano 2000 pelo JP Morgan, dando origem ao JPMorgan Chase & Co.

Conforme documentos constantes do CD-Rom, as operações envolvendo o nome de "Ildinha/Fé" são operações em que a diretora do Banco de Crédito Metropolitano e de empresas do grupo da Igreja Universal, sra. Alba Maria Silva da Costa, fazia com a mesa de operação da empresa Diskline de São Paulo, sendo o nome "Ildinha/Fé" uma referência à funcionária da igreja de nome Ilda, que, inicialmente, era encarregada de levar as malas de dinheiro para a empresa Diskline", apontou o relatório.

Alba Maria, referida no relatório, é uma das pessoas denunciadas pelo Ministério Público de São Paulo, ao lado do líder da Iurd, Edir Macedo, por supostos crimes de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Ela foi executiva de empresas controladas pela igreja.

Segundo as investigações, a Diskline teve como sócios Marcelo Birmarcker e Cristiana Marini. "Eles estão na relação de doleiros investigados no caso Banestado, sendo ambos titulares de três contas no Merchants Bank de Nova York, banco em que vários doleiros brasileiros possuíam conta e que teve o sigilo bancário afastado no curso das investigações", prossegue o relatório datado de 22 de março de 2007.

Segundo o documento, as três contas do Merchants controladas por aqueles investigados são a Milano Finance (nº 9005035), a Pelican Holdings Group (nº 9007110) e a Florida Financial Group Ltd. (nº 9010264). Elas movimentaram (soma de entradas e saídas de recursos), entre janeiro de 1998 e janeiro de 2003, aproximadamente US$ 164 milhões.

Trading

Outro relatório federal descreve operações da "offshore" CEC Trading Corporation, aberta em nome do irmão de Edir Macedo, Celso Macedo Bezerra, com a empresa Beacon Hill Service Corporation, fechada em 2003 pelas autoridades dos EUA sob acusação de retransmissão ilegal de fundos.

A Beacon Hill --que no Brasil deu origem à maior operação deflagrada contra doleiros, a Operação Farol da Colina-- transferiu US$ 76 mil para a CEC Trading entre dezembro de 1997 e junho de 1998. Os recursos foram transferidos por meio de uma subconta denominada "Titia", igualmente gerida por doleiros do Brasil.

'Nos contratos de câmbio recebidos do Banco Central do Brasil há a informação de que a Rádio e Televisão Record S.A. remeteu para o exterior a quantia de US$ 1,2 milhão para a CEC Trading Corporation, na mesma conta que recebeu recursos de doleiros da Beacon Hill, qual seja, a conta nº 3871339802, mantida no Barnett Bank da Flórida', diz relatório da Procuradoria-Geral da República de outubro de 2005.

Outro lado

A Igreja Universal do Reino de Deus, procurada pela Folha na semana passada para falar sobre os relatórios em poder do Ministério Público Federal, informou na quinta-feira, por meio de sua assessoria, que não comentaria o assunto por falta de informações suficientes.

Em e-mail enviado às 13h42 da última terça-feira, a Folha detalhou os principais pontos dos relatórios do Ministério Público Federal e fez sete perguntas à Igreja Universal.

Eis a íntegra da nota enviada, em resposta, por sua assessoria: "Os advogados do escritório Moraes Pitombo não conseguiram ter acesso à investigação do Ministério Público e por esse motivo a Igreja Universal do Reino de Deus não irá se pronunciar a respeito desses fatos. As perguntas referentes ao senhor Celso Macedo e à Rede Record devem ser direcionadas a eles, pois a igreja responde somente por ela".

Após a resposta da Igreja Universal, a Folha procurou a Rede Record e também pediu os telefones e contatos de Celso Macedo, citado nos relatórios do Ministério Público.

Em e-mail enviado à Folha, a Record confirmou uma transação comercial com a CEC Trading. "A Rádio e Televisão Record S/A não efetivou conforme o narrado acima [em perguntas enviadas pela Folha]. As transferências de valores que existiram à CEC Trading Corporation foram devidamente registradas através do Banco Central, referente ao pagamento de importação de equipamentos para o exercício de sua atividade", afirmou.
Celso Macedo não foi localizado para comentar o assunto.

Em entrevista à Folha em agosto passado, o advogado dos líderes da Universal que foram denunciados pelo Ministério Público, Arthur Lavigne, negou quaisquer irregularidades.

IHU-Unisinos e The New York Times : brigas entre comunhões.

25/10/2009

A proposta indecente do Vaticano aos anglicanos: um escândalo teológico. Artigo de Mary E. Hunt

"Roma não muda nem uma vírgula com a chegada dos anglicanos dissidentes. Ela mantém em seu lugar o seu clero celibatário, enquanto acolhe anglicanos casados com gosto."

Essa é a opinião da teóloga norte-americana Mary E. Hunt, publicada no sítio Religion Dispatches, 22-10-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Em setembro deste ano, a teóloga esteve na Unisinos durante a programação do X Simpósio Internacional IHU: Narrar Deus numa sociedade pós-metafísica. Possibilidades e impossibilidades, proferindo a conferência "Narrar Deus hoje: uma reflexão a partir da teologia feminista".

Eis o texto.

O novo esquema do Vaticano para atrair anglicanos conservadores descontentes ao rebanho deve ter pego o arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, desprevenido, mas os católicos não ficam surpresos com nada do que Roma faz para ampliar a sua cota de mercado. O clero conservador, cuja oposição à ordenação de mulheres e aos indivíduos LGBT o motivou a se separar da Comunhão Anglicana, é agora bem-vindo a se mudar para o catolicismo.

Deixemos a história lembrar esse escândalo teológico pelo que ele é. Vendido por Roma como um passo adiante nas relações ecumênicas com uma comunhão-prima, ele é, de fato, a união de dois grupos unidos em sua rejeição às mulheres e aos indivíduos "queer" como indignos para a liderança religiosa.

Uma vindoura Constituição Apostólica irá pronunciar os detalhes: os anglicanos contra a ordenação de mulheres e de pessoas LGBT (como o bispo Gene Robinson, por exemplo) estão em plena comunhão com Roma. Por que se incomodar, então, com requerimentos de conversão individual ou papeladas supérfluas? Esses anglicanos podem até fazer a transição enquanto congregações ou dioceses inteiras, se preferirem. Eles serão católicos, mas, assim como os católicos de rito oriental, eles o farão a seu modo. Eles podem trazer seus próprios incensos e sinos e o seu Livro de Oração Comum, e até seus próprios padres e bispos, que irão presidir os "Ordinariatos Pessoais", que irão funcionar como dioceses. Venham como vocês são, sejam bem-vindos para discriminar contra os conteúdos do seu coração em nome de Deus.

Roma não muda nem uma vírgula com a chegada dos anglicanos dissidentes. Ela mantém em seu lugar o seu clero celibatário, enquanto acolhe anglicanos casados com gosto. Eu prevejo mais do que uma pequena consternação nas fileiras romanas com relação a isso. As políticas atuais permitem que os pastores episcopais e luteranos casados pulem a cerca com sua família a reboque. Porém, os homens católicos romanos que desejam se casar, independentemente das mulheres católicas romanas que poderiam até concordar com o celibato, são proibidos de ser ordenados. Nenhuma autoridade católica romana parece ser capaz de dizer de uma forma franca e direta por que isso é assim. Eles murmuram algo sobre tradição e certas distinções. Mas a retórica se enfraquece crescentemente enquanto eles defendem o indefensável contra a sua própria prática. Isso não é bonito.

Roma mantém sua liturgia e teologia completamente intactas. A educação teológica continua a mesma, com o acréscimo de pequenos grupos de formação para candidatos anglicanos ao sacerdócio, que podem apreciar seu próprio "patrimônio", conseguindo também uma boa dose de pensamento romano. De nenhuma forma o Vaticano se engaja em questões que conduzam à Reforma Inglesa do século XVI. Ao invés, Roma pretende ser flexível e moderna com relação a tudo isso, graciosa e complacente como uma raposa. Quando as lutas por propriedades começarem, eu prevejo que as gentilezas abrirão caminho para algumas sérias disputas, e nós veremos como Roma não consegue ser complacente.

Denominações são negócios, acima de tudo, e, dessa forma, elas prestam tanta atenção aos resultados finais quanto aos seus ensinamentos. Talvez mais aos primeiros. Nesse caso, a oportunidade de mais fácil acesso são os anglicanos britânicos que ainda não descobriram como se reorganizar à luz de suas mudanças de denominação. O grupo norte-americano liderado pelo Rev. Martyn Minns, da Virgínia, disse que eles estão muito bem, obrigado, ajeitando suas próprias estruturas para que não precisem se converter.

Alguém pode se perguntar quanto tempo eles poderão resistir ao charme de Roma. Imaginem as oportunidades imobiliárias, já que as igrejas católicas romanas fecham, e os anglicanos conservadores precisam de prédios. Pensem na solução brilhante para a falta de sacerdotes, com os padres anglicanos garantidamente fiéis às normas substituindo os rapazes romanos, assim que eles morrerem e/ou pensarem por si mesmos. Conjecturem a visão de uma grande massa com uma grande quantidade de ministros do altar e incenso tão abundante, que faz com que os paroquianos até esqueçam que houve uma vez um Vaticano II. Para os mais "católicos" entre os dissidentes anglicanos, é um casamento feito nos céus. Mas os anglicanos conservadores mais evangélicos podem considerar que esse é o seu pior pesadelo.

Como prevenir que outras denominações sigam a linha de Roma? Por exemplo, e se a Comunhão Anglicana estabelecer uma ala católica, em que aqueles católicos romanos que acreditam na ordenação de mulheres e de um clero de casais de mesmo sexo podem ser anglicanos de rito católico romano? Os Menonitas podem criar um rito católico para aqueles que os seguem em questões de paz, resultando nos menonitas católicos. Eu duvido disso. É mais provável que Roma decida que alguém nem precisa ser cristão. Essa discriminação contra mulheres e gays é um elo comum suficiente para criar alguns católicos de rito muçulmano, por exemplo. As permutas são infindáveis, mas o resultado é o mesmo: uma perversão de tudo o que o movimento ecumênico representou nos últimos cem anos. Os cristãos ecumênicos tentaram aprender sobre as tradições uns dos outros e encontrar pontos positivos de acordo – não pequenos espaços de preconceito compartilhado.

Eu sinto muito por Rowan Williams se ele não sabia contra o que estava quando se envolveu nas relações bilaterais com Roma, só para estar sujeito à sua traição. Cercado por todos os lados em sua própria comunhão, ele agora preside o potencial êxodo de alguns de seus membros que irão encontrar, na nova dispensa, um lugar confortável para viver suas ideias antiquadas de humanidade.

Eu apenas espero que Williams e companhia se consolem com o fato de que estão em boa companhia entre os colegas ecumênicos que respeitam as tradições uns dos outros, compreendem as dinâmicas das disputas internas e resistem à tentação de lucrar com os problemas dos outros. Roma, por outro lado, está em uma categoria – mesmo que baixa – só dela.

Para ler mais:



25/10/2009

Para uma paróquia anglicana, um caminho para o catolicismo

The New York Times
Laurie Goodstein
Em Rosemont (EUA)
Quando o Vaticano anunciou na última semana que acolheria grupos de anglicanos tradicionalistas na Igreja Católica Romana, líderes de uma paróquia episcopal celebraram como se um navio tivesse chegado para resgatá-los de um bloco de gelo à deriva.

"Estivemos rezando por isso diariamente durante dois anos", disse o bispo David L. Moyer, que lidera a Igreja do Bom Pastor, uma paróquia no subúrbio de Main Line, na região metropolitana da Filadélfia, que está lutando para manter sua propriedade histórica. "Quando ouvi a notícia, fiquei sem fala; então vieram a alegria e as lágrimas".

A paróquia pode ser uma das primeiras nos Estados Unidos a se converter em massa depois que o Vaticano concluir os planos de uma nova estrutura que permita aos anglicanos se tornarem católicos mantendo muitas de suas tradições espirituais, como o Livro de Oração Comum e os padres casados.

O arranjo foi feito especialmente para uma paróquia "anglo-católica" como esta, que se opôs vigorosamente a decisões da Igreja Episcopal como a de permitir que homens homossexuais e mulheres se tornassem padres e bispos. A missa aqui é celebrada no estilo da "alta igreja" reminiscente das igrejas católicas tradicionais, com incenso, vestes elaboradas e um coro que pode cantar em latim.

"A maioria de nossos membros embarcará na mudança", disse o reverendo Aaron R. Bayles, pastor assistente, enquanto terminava de celebrar uma missa do meio-dia dedicada à unificação da igreja numa pequena capela iluminada por velas azuis.

Ele disse que se sentiu jubiloso quando ficou sabendo da notícia do Vaticano porque sempre esperou ver a unificação das igrejas Anglicana, Ortodoxa Oriental e Católica Cristã.

"Este pode ser um passo nessa direção", disse Bayles, novo coadjutor e capelão da Guarda Aérea Nacional. (O primeiro coadjutor deixou a igreja para se tornar católico.)

A Igreja do Bom Pastor estava há tempos em desavença com a Igreja Episcopal, o braço americano da Comunhão Anglicana global. Este ano, a Diocese Episcopal da Pensilvânia entrou com um processo para assumir o prédio da igreja, uma magnífica réplica em pedra de uma paróquia de interior inglesa do século 14, que foi construída em 1894. A propriedade da igreja é estimada por seu contador em US$ 7 milhões.

Por 17 anos, a paróquia recusou-se a permitir que o bispo episcopal local viesse para uma visita pastoral ou confirmação, e depois parou de pagar sua taxa financeira anual para a Diocese Episcopal da Pensilvânia.

Até o título e o status do padre da paróquia são sinal do conflito. Moyer não é um bispo na Igreja Episcopal, mas usa esse título porque foi consagrado bispo na Comunhão Anglicana Tradicional, um grupo conservador dissidente que desempenhou um papel crucial em persuadir o Vaticano a acolher os anglicanos.

Na sala de estar de seu escritório, onde ele tem fotos enquadradas do papa João Paulo 2º e do papa Bento 16, Moyer disse que foi um dos 38 bispos da Comunhão Anglicana Tradicional a assinar uma petição ao papa Bento 16 em outubro de 2007 pedindo um novo arranjo que unisse os anglicanos com a Igreja Católica.

Ele disse que os bispos assinaram solenemente uma cópia do Catecismo da Igreja Católica para simbolizar sua total aceitação da doutrina católica. Enquanto isso, a Comunhão Anglicana global, com 77 milhões de membros, lutou para se manter intacta à medida que os conservadores se separavam ou protestavam internamente. Alguns eram anglo-católicos, mas outros eram anglicanos evangélicos, dedicados a uma interpretação conservadora das escrituras e atentos a Roma e à autoridade papal.

No documento que define o arranjo, o Vaticano diz que permitiria padres anglicanos casados, mas não bispos casados. Moyers, pai de três filhos, disse que está esperando ouvir se ele e outros bispos podem ser exceções à regra.

Ele reconheceu que alguns dos 400 membros de sua paróquia prefeririam deixar a igreja a se tornarem católicos. Alguns são ex-católicos que podem não querer voltar. Outros se sentem leais à Igreja Episcopal, apesar do conflito.

Mas Lynn Shea, fiel da paróquia Bom Pastor há dez anos, disse que não ligava para qual denominação a paróquia pertencesse desde que o serviço religioso fosse reverente, a comunidade fosse unida e o pastor fosse um professor genuíno.

"Para nós não importa muito qual é exatamente o título da igreja, só importa como as pessoas são com as outras pessoas", disse ela. Seu filho de 15 anos se suicidou neste ano e ela sentiu que a Igreja acolheu sua família.

Shea disse que conhece alguns membros da paróquia que podem resistir, porque têm memórias ruins das igrejas e escolas católicas rígidas, ou impressões ruins por causa dos escândalos de abuso sexual envolvendo padres católicos.

Moyer disse que ele se tornou cada vez mais ansioso para entrar na Igreja Católica à medida que o chão sob seus pés se tornou cada vez mais instável. Em 2002, seu antigo bispo diocesano, Charles E. Bennison, o excomungou por ele ter se recusado a se submeter à autoridade do bispo, mas Moyer continuou no cargo. (O próprio Bennison foi excomungado em 2008 depois que um julgamento da igreja descobriu que ele havia encoberto durante anos o abuso sexual de uma menina cometido por seu irmão, que também é padre.)

Mesmo com o aumento das disputas, a Igreja do Bom Pastor nunca deixou formalmente a Igreja Episcopal, diferentemente de muitas outras paróquias conservadoras e quatro dioceses. Grande parte do motivo é que a Bom Pastor não queria ser expulsa de suas propriedades. Outras paróquias conservadoras perderam no tribunal o direito de manter suas propriedades ao tentarem sair da Igreja Episcopal.

Moyer vive na reitoria da paróquia. Ele disse que espera resolver o "atoleiro legal" da igreja em relação ao prédio antes que decidam ir para a Igreja Católica. Ao abrir a porta de madeira que dá para a entrada de carros em frente à igreja, cena parecia um cartão postal de Kent, na Inglaterra, em um magnífico dia de outono.

"É uma bela igreja", disse ele. "Espero que possamos ficar com ela."

Tradução: Eloise De Vylder

Jornal do Commercio, Recife, 25/10/2009, seção Pinga-fogo

Ana Sadock

É de arrepiar!

Publicado em 25.10.2009

A semana foi bombardeada por um debate polêmico, antigo, que em todo período pré-eleitoral toma conta do noticiário mas sempre faltando algo necessário para responder as questões levantadas. Eventos administrativos em canteiro de obras, como o protagonizado pelo presidente Lula no São Francisco, ladeado pelos presidenciáveis Ciro Gomes e Dilma Rousseff, configuram-se em campanha antecipada? A grita geral soou um sonoro SIM. Até o representante da máxima Corte judicial brasileira, o presidente do STF, Gilmar Mendes, assinou embaixo da resposta com um incisivo “vale-tudo”. Mas como separar o que é administrativo do eleitoral se a legislação é omissa em relação a isso?

Professor de Ética e Filosofia da Unicamp (SP), Roberto Romano diz que nesse caso, se prevalecer no Direito de Estado a lição do Direito Civil, a dúvida fala em favor do réu. E ao analisar os casos de campanha antecipada que assistimos atualmente, pois o professor entende que os atos assim se configuram claramente, Roberto Romano faz uma preocupante previsão:

“Não sei se daqui a dez anos teremos um Estado Democrático de Direito. Porque estamos realmente à beira da anomia, à beira do anti-Estado. Isso aí não é Estado de Direito”. O prognóstico do professor, decorrente dessa “impunibilidade” do Executivo e “subversão” do Estado, tem raízes antigas, é herança do Brasil Império, onde o imperador (irresponsável) se colocava acima da Lei. “Hoje, Lula joga toda a sua popularidade para cima e o judiciário arrepia de carreira. Só posso dizer que estamos realmente à beira da anomia”.

Por indicação de Paulo Araújo...um site contra o Antissemitismo. Vale a pena ler. Link abaixo e na lista de links.

Por indicação de Paulo Araújo...um site contra o Antissemitismo. Vale a pena ler. Link abaixo e na lista de links.

http://www.arqshoah.com.br/

sábado, 24 de outubro de 2009

Na Folha de São Paulo, a verdade, quando ela pode se manifestar sem as seitas. E idiotas do jornalismo julgam-se capazes de avaliar estes trabalhos...

Folha de S. Paulo, 11.04.99.

AS TRINTA PRINCIPAIS OBRAS TEÓRICAS DO BRASIL


1o. Casa Grande e Senzala (1933) - Gilberto Freyre (1900-1987) - Record

2o. Raízes do Brasil (1936) - Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) - Cia. das Letras

3o. Os Sertões (1902) - Euclides da Cunha (1886-1909) - Ática

4o. Formação da Literatura Brasileira (1959) - Antônio Candido (1918) - Itatiaia

5o. Formação do Brasil Contemporâneo (1942) - Caio Prado Jr. (1907-1990) - Brasiliense

6o. Um Estadista do Império (1987-1899) - Joaquim Nabuco (1849-1910) - Topbooks

7o. Os Donos do Poder (1958) - Raymundo Faoro (1925) - Globo

8o. Visão do Paraíso (1959) - Sérgio Buarque de Holanda - Brasiliense

9o. O Abolicionismo (1883) - Joaquim Nabuco - Vozes

10o. Dicionário do Folclore Brasileiro (1954) - Câmara Cascudo (1898-1986) - Itatiaia

11o. Sobrados e Mucambos (1936) - Gilberto Freyre (1936) - Record

12o. Dialética da Malandragem (1970) - Antônio Cândido - Duas Cidades

13o. Parceiros do Rio Bonito (1964) - Antônio Cândido - Duas Cidades

14o. Homens Livres na Ordem Escravocrata (1969) - Maria Sylvia Carvalho Franco - Ed. da Unesp

15o. Bandeirantes e Pioneiros (1954) - Vianna Moog (1906-1988) - Civilização Brasileira

16o. História da Literatura Brasileira (1888) - Silvio Romero (1851-1914)

17o. Capítulos de História Colonial (1907) - Capistrano de Abreu (1853-1927) - Itatiaia

18o. História da Literatura Ocidental (1958-1966) - Otto Maria Carpeaux (1900-1978)

19o. Instinto de Nacionalidade (1873) - Machado de Assis (1839-1908) - Ed. Nova Aguilar

20o. A Função Social da Guerra na Sociedade Tupinambá (1952) - Florestan Fernandes (1920-1995)

21o. América Latina - Males de Origem (1905) - Manuel Bonfim (1868-1932) - Topbooks

22o. Dom João 6o. no Brasil (1908) - Oliveira Lima (1867-1928) - Topbooks

23o. Minha Formação (1906) - Joaquim Nabuco - Ed. da UnB

24o. Caminhos e Fronteiras (1957) - Sérgio Buarque de Holanda - Companhia das Letras

25o. Retrato do Brasil (1928) - Paulo Prado (1869-1943) - Companhia das Letras

26o. Aspectos da Literatura Brasileira (1943) Mário de Andrade (1893-1945)

27o. Ao Vencedor as Batatas (1977) - Roberto Schwarz (1938) - Duas Cidades

28o. História Econômica do Brasil (1945) - Caio Prado Jr. - Brasiliense

29o. Carnavais, Malandros e Heróis (1979) - Roberto Damatta (1936) - Rocco

30o. Prosa de Ficção (1950) - Lúcia Miguel Pereira (1903-1959) - Villa Rica