sábado, 17 de setembro de 2011
Cadê os intelectuais jovens...
Minha coluna dessa semana
Onde estão os intelectuais mais jovens? publicado na folha de Maringá AQUI
Marta Bellini
Essa frase é do prefácio do livro de Russell Jacoby, Os últimos intelectuais, editora da USP e Trajetória. Intelectual estadunidense descreve aquilo que chamou de a cultura americana na era da academia.
No Brasil a única edição desse livro é de 1990. Jacoby fala do espectro que rondou as universidades americanas e seu corpo docente, o enfado. Descreve criticamente a onda de energia explosiva da década de 1960 à década de 1990 com seus professores desmoralizados, cansados, desconectados da vida pública. Desconectados da vida pública e presos às exigências de um projeto produtivista, preocupados com suas carreiras universitárias.
Acertadamente, Jacoby analisou que à medida que a vida profissional prospera, a cultura pública se torna mais pobre e mais velha.
Sonhos e esperanças espalhados por pessoas como Bruno Bethelheim, Wilheim Reich, Hanna Arendt, no Brasil, por Florestan Fernandes, Paulo Freire, intelectuais e homens públicos foram suplantados pelos intelectuais hig-tech, consultores e professores, gente anônima que ou tem um cargo em alguma instituição ou são assessores políticos nas câmaras, senados e congressos. São pessoas que publicam, adotam até mesmo uma conduta crítica em seus artigos e palestras, escrevem projetos avançados (e recebem recursos para isso placidamente publicados em sites com a rubrica de pesquisador produtivo), mas são vozes ausentes na vida pública.
Os hábitos, diz Jacoby, desses intelectuais mais jovens são outros. Não se debate com o público da comunidade, da cidade.
Agora “os intelectuais mais jovens não desejam, nem necessitam um público mais amplo; quase todos são apenas professores.
Os campi são seus lares; os colegas, sua audiência; as monografias e os periódicos especializados, sua comunicação”.
“Ao contrário dos intelectuais do passado, eles se situam dentro de suas especialidades e disciplinas – por uma boa razão. Seus empregos, carreiras e salários dependem da avaliação de especialistas, e esta dependência afeta as questões levantadas e a linguagem empregada. Os intelectuais independentes, que escreviam para o leitor educado, estão em extinção”. Qualquer semelhança com as universidades brasileiras, não é mera coincidência.
Nos EUA esse fenômeno data da década de 1990. No Brasil, com certo atraso, data mais claramente dos anos 2000. Nossos intelectuais públicos já morreram. Restam os assessores, consultores, administradores. A única coisa pública são os jetons, as funções gratificadas. Dinheiro é público.
Os intelectuais públicos no Brasil são os economistas de plantão. Diga-se público como seres que aparecem nas TVs, jornais. Não são públicos no sentido usado por Jacoby.
São economistas de empresas, consultores, assessores. São intelectuais privados. Os intelectuais das universidades estão perdidos no campus. Têm talento. Mas essa não é a questão.
Outro dia encontrei um colega, dez anos mais jovem do que eu. Dizia ele que se sentia velho e eu parecia o Noberto Bobbio pois eu estava quase aposentando e ainda acreditava em mudanças. E olha que eu me vejo entre os intelectuais jovens. Sim, esses mesmos que enfadados com sua vida pequena e mesquinha dentro das universidades.
Onde estão os intelectuais mais jovens? publicado na folha de Maringá AQUI
Marta Bellini
Essa frase é do prefácio do livro de Russell Jacoby, Os últimos intelectuais, editora da USP e Trajetória. Intelectual estadunidense descreve aquilo que chamou de a cultura americana na era da academia.
No Brasil a única edição desse livro é de 1990. Jacoby fala do espectro que rondou as universidades americanas e seu corpo docente, o enfado. Descreve criticamente a onda de energia explosiva da década de 1960 à década de 1990 com seus professores desmoralizados, cansados, desconectados da vida pública. Desconectados da vida pública e presos às exigências de um projeto produtivista, preocupados com suas carreiras universitárias.
Acertadamente, Jacoby analisou que à medida que a vida profissional prospera, a cultura pública se torna mais pobre e mais velha.
Sonhos e esperanças espalhados por pessoas como Bruno Bethelheim, Wilheim Reich, Hanna Arendt, no Brasil, por Florestan Fernandes, Paulo Freire, intelectuais e homens públicos foram suplantados pelos intelectuais hig-tech, consultores e professores, gente anônima que ou tem um cargo em alguma instituição ou são assessores políticos nas câmaras, senados e congressos. São pessoas que publicam, adotam até mesmo uma conduta crítica em seus artigos e palestras, escrevem projetos avançados (e recebem recursos para isso placidamente publicados em sites com a rubrica de pesquisador produtivo), mas são vozes ausentes na vida pública.
Os hábitos, diz Jacoby, desses intelectuais mais jovens são outros. Não se debate com o público da comunidade, da cidade.
Agora “os intelectuais mais jovens não desejam, nem necessitam um público mais amplo; quase todos são apenas professores.
Os campi são seus lares; os colegas, sua audiência; as monografias e os periódicos especializados, sua comunicação”.
“Ao contrário dos intelectuais do passado, eles se situam dentro de suas especialidades e disciplinas – por uma boa razão. Seus empregos, carreiras e salários dependem da avaliação de especialistas, e esta dependência afeta as questões levantadas e a linguagem empregada. Os intelectuais independentes, que escreviam para o leitor educado, estão em extinção”. Qualquer semelhança com as universidades brasileiras, não é mera coincidência.
Nos EUA esse fenômeno data da década de 1990. No Brasil, com certo atraso, data mais claramente dos anos 2000. Nossos intelectuais públicos já morreram. Restam os assessores, consultores, administradores. A única coisa pública são os jetons, as funções gratificadas. Dinheiro é público.
Os intelectuais públicos no Brasil são os economistas de plantão. Diga-se público como seres que aparecem nas TVs, jornais. Não são públicos no sentido usado por Jacoby.
São economistas de empresas, consultores, assessores. São intelectuais privados. Os intelectuais das universidades estão perdidos no campus. Têm talento. Mas essa não é a questão.
Outro dia encontrei um colega, dez anos mais jovem do que eu. Dizia ele que se sentia velho e eu parecia o Noberto Bobbio pois eu estava quase aposentando e ainda acreditava em mudanças. E olha que eu me vejo entre os intelectuais jovens. Sim, esses mesmos que enfadados com sua vida pequena e mesquinha dentro das universidades.