Gabriela Korossy/Câmara dos Deputados
Aécio Neves, presidente do PSDB
Lava Jato
"Acordão" em CPI gera crise no PSDB, e Aécio reage
O senador Aécio Neves,
presidente do partido, se irritou com o aval de membros do PSDB ao
acordo firmado com aliados da presidente Dilma Rousseff
06/11/2014 | 17:35 | Folhapress
O "acordão" firmado na CPI mista da Petrobras para blindar os políticos suspeitos de envolvimento no esquema de corrupção na estatal gerou uma crise no PSDB depois que membros do partido aceitaram barrar convocações de membros do PT e do governo federal. O senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidente do partido, se irritou com o aval de membros do PSDB ao acordo firmado com aliados da presidente Dilma Rousseff.
Aécio
soltou uma nota nesta quinta-feira (6) para negar que o partido tenha
pactuado com "qualquer tipo de acordo que impeça o avanço das
investigações na CPI". Aécio resolveu reagir especialmente porque o
"acordão" foi fechado no dia de seu retorno ao Senado, em que discursou
defendendo duras investigações sobre o esquema de corrupção na
Petrobras.
Aécio fala em pedir nova CPI da Petrobras em 2015
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou nesta quinta-feira (6) que vai articular a criação de uma nova CPI mista da Petrobras em 2015 para investigar as denúncias de corrupção envolvendo a estatal, caso a comissão atual encerre suas atividades sem apresentar resultados claros. "Vamos cobrar que as investigações continuem", disse Aécio em entrevista à Rádio Estadão.Na sua volta ao Senado após a derrota pela disputa à Presidência, Aécio condicionou o estabelecimento de um diálogo com o governo Dilma Rousseff à investigação das denúncias contra a estatal. Segundo ele, o "nível do diálogo" vai depender de "gestos claros" da presidente. "Se no encerramento da CPI mista este ano, em dezembro, não estiverem ainda elucidados em profundidade todo esse esquema, quem ele atingiria, quais suas ramificações dentro do governo, já anunciei que a partir do dia 1º de fevereiro, na reabertura do Congresso, vamos iniciar a coleta de assinaturas para uma outra CPI mista", afirmou durante a entrevista, a primeira concedida a uma rádio de São Paulo após as eleições.
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Na nota, Aécio afirma que o PSDB lutou pela instalação da
CPI e defende que as investigações sejam concluídas sem poupar nenhum
dos envolvidos. "Temos de ir a fundo na apuração do chamado 'petrolão' e
na responsabilização de todos que cometeram eventuais crimes,
independentemente da filiação partidária. Essa é a posição inarredável
do PSDB", disse Aécio.
O deputado Carlos Sampaio (SP) representou o PSDB na reunião que
definiu o "acordão" na CPI. Depois da reunião que selou o "acordão",
Sampaio confirmou que o PSDB concordou em excluir das convocações os
políticos e as pessoas citadas nas delações premiadas de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, e do doleiro Alberto Youssef.
"Vamos excluir os agentes políticos, aqueles que estão nas delações
premiadas e vamos ouvir aqueles que estão na Petrobras, são agentes
técnicos. Abrimos mão de ouvir Gleisi [Hoffmann] e Vaccari [Neto]. Todo
mundo concordou", declarou Sampaio.
O tucano ainda disse que a CPI não vai apontar os políticos envolvidos no esquema, o que vai ocorrer ao final das investigações e das delações premiadas.
Sampaio também afirmou que o PSDB concordou com o acordão porque serão chamados a depor Sérgio Machado e Renato Duque, ex-presidente da Transpetro indicado pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e ex-diretor de Serviços da Petrobras.
Recuo
Em entrevista nesta quinta, Sampaio negou que a reunião tenha
provocado mal-estar no PSDB. O deputado disse que não houve acordo para
poupar políticos, apenas a construção de um "roteiro de procedimentos"
diante do curto prazo para a conclusão das investigações, que terminam
em dezembro.
Segundo o deputado, o roteiro prioriza as apurações relacionadas às
empreiteiras e aos diretores da Petrobras suspeitos de envolvimento no
esquema de corrupção. O consenso, segundo o tucano, é que seria difícil
avançar nas investigações envolvendo deputados e senadores sem o acesso à
delação premiada.
Sampaio também disse que houve "má fé" de petistas que anunciaram o
acordão porque não há "lógica" no PSDB querer poupar congressistas –já
que o único citado do partido, o ex-senador Sérgio Guerra, morreu este
ano. "O que eles querem é colocar todos numa vala comum, dizer que o
PSDB está com medo, mas não há a menor lógica nisso. O PSDB foi quem
criou a CPI. Quem roubou a Petrobras, seja político, diretor,
empreiteira, tudo e bandido de quinta categoria", disse.
Segundo Sampaio, os pedidos de convocação e de quebras de sigilos que
não forem deliberados em 10 dias pela CPI serão aprovados
automaticamente.
Acordão
Com o acordo entre governo e oposição, o PT conseguiu barrar convocações consideradas incômodas, como a da senadora paranaense Gleisi Hoffmann, a do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, e a do tesoureiro do partido, João Vaccari Neto. O doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa teriam afirmado, em suas delações premiadas, que abasteceram a campanha de Gleisi em 2010 com dinheiro do esquema.
Segundo a dupla, na ocasião, foi entregue R$ 1 milhão para a campanha
de Gleisi, a pedido de Paulo Bernardo, marido da senadora. A senadora
nega as acusações.
Por outro lado, o PSDB agiu para evitar a ida à CPI do empresário Leonardo Meirelles, apontado como laranja de Youssef. Meirelles disse à Justiça Federal que parlamentares tucanos também receberam propina do esquema.
Relator da CPI, o deputado Marco Maia (PT-RS)
explicou que o plano de deixar de fora alguns dos personagens foi
acertado numa reunião preliminar, antes da sessão desta quarta (5). "Foi
um acordo político, feito por todos os presentes, que se resolveu, em
função da falta de densidade das denúncias, não produzir nenhum tipo de
oitiva neste momento."
Na lista de 835 requerimentos de convocação e convites apresentados,
há nomes do alto escalão, tanto do PT quanto da oposição. Entre eles, da
presidente Dilma Rousseff, do ex-presidente Lula e do senador Aécio
Neves. Porém, nenhum desses pedidos foi apreciado pela comissão.
Relator da CPI, o deputado Marco Maia (PT-SP), seguiu o discurso de
Sampaio e afirmou que houve um desentendimento sobre o acordo de
procedimento fechado pela comissão. Ele reforçou que sem as delações
premiadas será difícil avançar em relação aos políticos e sustentou que,
apesar do acerto sobre os depoimentos, ninguém está livre de ser
investigado. "Se eu disse uma palavra mal interpretada, quero fazer uma
correção. Houve um acordo de procedimento para quem será ouvido ou não.
Não houve acordo sobre o resultado, de quem será ou não investigado. Não
há acordo de proteção de A, B ou C", afirmou.