A ética da política brasileira segundo nossos artistas |
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Qui, 24 de Agosto de 2006 00:00 |
O encontro do Presidente Lula com artistas na casa do ministro Gilberto Gil, em agosto do ano passado, foi cenário de um embate ideológico que dá margem a se perguntar até que ponto a militância política se confunde com a falta de bom senso. O ator Paulo Betti afirmou que "não dá pra fazer (política) sem botar a mão na merda", referindo-se aos deslizes de políticos do PT, acusados nas CPIs.
Ele reafirmou à Folha de S. Paulo que "Não vamos ser hipócritas: não dá para fazer política sem sujar as mãos.O ator José de Abreu discordou em parte, afirmando que acha difícil fazer política sem colocar a mão na merda, "mas acho que tem que tentar ter mãos beatas". O ator Tonico Pereira foi mais um que condenou o desdém à ética, segundo a Folha (24/08/06). Para ele o termo "ética" não está sendo bem usado na campanha eleitoral. Depois dessas lições de "ética", o que nos resta discutir e desculpar. Milhares de brasileiros que passam fome, não têm o mínimo necessário para se alimentar, custear o colégio dos filhos e, por que não, se divertir, poderiam dizer o mesmo. É muito difícil ser ético, num país que não nos dá o suficiente para viver. Por isso, eu posso roubar, posso fazer os privilegiados dividirem comigo o tanto que têm, até porque não precisam disso tudo. A admitir como verdadeira a tese de Paulo Betti e outros, o país vai achar muito natural qualquer "jeitinho" que se der para tirar vantagem. É ético pagar taxa para acelerar processo? É ético passar na frente da fila de transplantes, dando uma gorda gorjeta para o hospital ? É ético obter vantagens com concessões, emendas e outros favores do governo, para apoiá-lo ? É ético desviar parte do dinheiro roubado e apreendido? Afinal, os bancos são ricos e o seguro paga. Meu Deus! Se começarmos a admitir como normal tudo o que o país tem assistido de desvio de conduta nos últimos anos, tudo que as CPIs apuraram apenas no Congresso Nacional, é melhor fechar a Polícia Federal, o Ministério Público, o Tribunal de Contas da União, e tantos outros órgãos de fiscalização que perderiam suas funções. Vamos fazer o seguinte, faz de conta que ninguém mais se importa com o que os políticos estão fazendo, com as ambulâncias que viraram moeda de troca e serviram para gratificar senadores, deputados e assessores; com o que está acontecendo em várias instâncias do Poder, vamos todos para casa e comecemos a admitir como normal tudo isso. Vamos perder a capacidade de nos indignar. Vamos dizer para nossos filhos que, afinal, todo o mundo rouba, por que não roubar também. E nos preparemos para transformar o Brasil naquilo que esses artistas e aqueles políticos gostariam, uma republiqueta de banana, um salve-se quem puder, onde quem pode mais, se locupleta mais. Até mesmo aqueles que ficam montando espetáculos à custa do governo e têm que defender a ideologia do "se eu estou bem os outros que se lixem"! |