ANÁLISE
Governo tenta dar resposta às ruas
Especialistas divergem quanto a efeito prático da reforma diante dos pedidos de manifestantes
03/07/2013 - 07h29
| Bruna Mozer
bruna.pinto@rac.com.br
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Foto: Cedoc/RAC
Para Roberto Romano, presidente não atende a anseios da população
A decisão da presidente Dilma Rousseff de encaminhar ao
Congresso o pedido para a realização de um plebiscito sobre a reforma
política no País divide opinião de especialistas ouvidos pelo Correio.
Em consenso concordam que essa é uma estratégia política pensada para
que a presidente dê uma resposta às manifestações das ruas e que o povo
está preparado para um plebiscito caso ele seja aprovado. No meio
político, Dilma terá de enfrentar a oposição. O PSDB, seu maior rival,
já se posicionou contrário à proposta e avalia sua decisão como uma
cortina de fumaça para dividir o ônus da pressão causada pelos protestos
das últimas semanas. Por outro lado, o PT de Campinas já se articula e
marcou para a próxima sexta um debate sobre o tema. O deputado federal
Ricardo Berzoini, do partido, já tem presença confirmada.
Para Roberto Romano, professor de Ética da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o momento pelo qual passa o País não favorece uma reforma política, que ele considerou como “questões técnicas, jurídicas e eleitorais”. Na sua avaliação, as demandas que levaram mais de 1 milhão de pessoas às ruas nas últimas semanas são diferentes e estão na contramão do que está sendo proposto pela presidente da República. Nas manifestações, segundo ele, o foco dos protestos são problemas mais urgentes, como o fim da corrupção, melhorias no transporte, na saúde e educação. “É como entrar em um restaurante, pedir uma feijoada, mas o dono dizer que o que interessa para ele é a bacalhoada e que você não entende que esse é o prato melhor, mesmo você querendo outra coisa”, afirma Romano. Na sua avaliação, o governo federal até agora apostou em propagandas que não refletem a realidade do País e tenta agora vender um “sonho maior” quando a sociedade pede soluções mais urgentes.
Foto: Cedoc/RAC
Pedro Rocha Lemos considera que reforma é caminho para melhorias
Ao contrário, o professor de Ciências Políticas da PUC-Campinas
Pedro Rocha Lemos aprova a decisão da presidente e afirma que esse é um
momento de debate e que o País tem necessidade de uma reforma política
há anos. Para ele, o fim da corrupção, uma das principais reivindicações
que têm sido levadas às ruas durante as manifestações, passa pela
reforma política. “Por conta das manifestações, o governo precisa dar
algumas respostas. O governo está propondo uma consulta, mas é o
Congresso que vai decidir sobre isso. O governo não está impondo nada,
está sendo até flexível”, disse.
Na sua avaliação, o discurso da oposição de que a presidente quer atribuir também ao Congresso o ônus do que está acontecendo no Brasil não é válido. Para ele, deputados e senadores — que representam a sociedade — têm de se posicionar de alguma maneira. “Se existe o Congresso e ele representa a sociedade, tem mais é que discutir. Eu acho que tanto o governo quanto o Congresso estão desgastados e devem apresentar propostas à população. Até quando vão empurrar isso com a barriga?”
Na sua avaliação, o discurso da oposição de que a presidente quer atribuir também ao Congresso o ônus do que está acontecendo no Brasil não é válido. Para ele, deputados e senadores — que representam a sociedade — têm de se posicionar de alguma maneira. “Se existe o Congresso e ele representa a sociedade, tem mais é que discutir. Eu acho que tanto o governo quanto o Congresso estão desgastados e devem apresentar propostas à população. Até quando vão empurrar isso com a barriga?”
População
Na avaliação dos especialistas, achar que a população não estaria preparada para votar, no caso de um plebiscito, por uma reforma política é subestimar a capacidade do povo brasileiro.
Na avaliação do professor da PUC-Campinas, é preciso ter “vontade política” para que haja debate e informação. “Eu acho que é subestimar a população, como se não estivesse atenta. É claro que não pega a massa como um todo, mas a sociedade organizada sim. Essa é uma reivindicação antiga que vem sendo discutida há muito tempo pelos movimentos sociais e organizados”, disse. “Também diziam que o povo não estava preparado para sair às ruas. E saíram”, acrescentou.
Para Romano, dizer que a sociedade não está preparada é um “menor caminho” quando o necessário é criar perguntas corretas para o povo. “Achar que a sociedade não é capaz é conversa para boi dormir.”