De quem é a culpa pela amnésia eleitoral? Do eleitor ou dos políticos?.
É possível que você se
lembre rapidamente em quem votou nas eleições de 2010 para a Presidência
da República ou para o governo de seu Estado. Mas muito provavelmente
essa resposta não virá tão rápida se a mesma pergunta for feita sobre
quem eram os seus candidatos ao Senado e aos cargos de deputado federal e
estadual.
De acordo com filósofo Roberto Romano, professor titular de ética na Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), isso se explica, talvez, pela hegemonia
do poder Executivo no Brasil, nos âmbitos Federal, Estadual e
Municipal.Segundo ele, o eleitor médio associa tudo de bom ou ruim aos
governantes. “No Brasil, tudo está muito na mão do poder Executivo. O
Legislativo é apenas um apêndice”, diz.
Ele exemplifica ao dizer que desde a inauguração de uma creche até
uma obra em transporte público, sempre se pensa no Executivo. “Isso faz
um efeito de reiteração cada vez mais profundo no eleitor. O Legislativo
dá o aval formal às leis, autoriza o Executivo. Não é um poder pleno.
Por isso nele funciona o ‘é dando que se recebe’ desde toda a
eternidade”.
Para Romano, essa falta de vínculo entre o eleitor e o
Legislativo é provocada pelo desinteresse de quem vota, mas mais do que
isso, pelo atual modelo político do Brasil, em que é oferecido ao cidadão um “prato feito”.
O eleitor não participa da montagem da lista dos partidos. É
apresentado a ele uma lista pronta. Como não temos plenárias, essas
escolhas são antidemocráticas. “O eleitor come o prato feito”, diz Romano.
Segundo ele, a menor “culpa” entre eleitores
e candidatos está em quem vota. “Acusa-se o povo de não saber votar,
que não lembra em quem votou. Se tivéssemos primárias para a formação de
uma lista, o eleitor ia batalhar dentro do partido para o candidato que
ele escolheu. Haveria uma ligação mais orgânica com o eleito. Pergunte
para um francês, um inglês, um americano, se ele lembra quem elegeu. Lá o contato
é diário, pressionando o eleito. Em alguns Estados dos Estados Unidos,
há o ‘recall’. No Executivo e no Legislativo. Se o sujeito não estiver
agradando, é destituído”.
De acordo com Romano, esse esquecimento é imposto pelo sistema
eleitoral brasileiro, pelos partidos e pela estrutura do Estado, que tem
hegemonia no papel eleitoral nacional. E ainda critica o Senado. “Uma
vez que o Senador se ausente do cargo, ele é ocupado por alguém que
sequer foi votado”, diz.
Fonte: UOL