terça-feira, 16 de setembro de 2014

De quem é a culpa pela amnésia eleitoral? Do eleitor ou dos políticos? Roberto Romano

De quem é a culpa pela amnésia eleitoral? Do eleitor ou dos políticos?.

É possível que você se lembre rapidamente em quem votou nas eleições de 2010 para a Presidência da República ou para o governo de seu Estado. Mas muito provavelmente essa resposta não virá tão rápida se a mesma pergunta for feita sobre quem eram os seus candidatos ao Senado e aos cargos de deputado federal e estadual.

De acordo com filósofo Roberto Romano, professor titular de ética na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), isso se explica, talvez, pela hegemonia do poder Executivo no Brasil, nos âmbitos Federal, Estadual e Municipal.Segundo ele, o eleitor médio associa tudo de bom ou ruim aos governantes. “No Brasil, tudo está muito na mão do poder Executivo. O Legislativo é apenas um apêndice”, diz. 

Ele exemplifica ao dizer que desde a inauguração de uma creche até uma obra em transporte público, sempre se pensa no Executivo. “Isso faz um efeito de reiteração cada vez mais profundo no eleitor. O Legislativo dá o aval formal às leis, autoriza o Executivo. Não é um poder pleno. Por isso nele funciona o ‘é dando que se recebe’ desde toda a eternidade”.

Para Romano, essa falta de vínculo entre o eleitor e o Legislativo é provocada pelo desinteresse de quem vota, mas mais do que isso, pelo atual modelo político do Brasil, em que é oferecido ao cidadão um “prato feito”.

O eleitor não participa da montagem da lista dos partidos. É apresentado a ele uma lista pronta. Como não temos plenárias, essas escolhas são antidemocráticas. “O eleitor come o prato feito”, diz Romano.

Segundo ele, a menor “culpa” entre eleitores e candidatos está em quem vota. “Acusa-se o povo de não saber votar, que não lembra em quem votou. Se tivéssemos primárias para a formação de uma lista, o eleitor ia batalhar dentro do partido para o candidato que ele escolheu. Haveria uma ligação mais orgânica com o eleito. Pergunte para um francês, um inglês, um americano, se ele lembra quem elegeu. Lá o contato é diário, pressionando o eleito. Em alguns Estados dos Estados Unidos, há o ‘recall’. No Executivo e no Legislativo. Se o sujeito não estiver agradando, é destituído”.

De acordo com Romano, esse esquecimento é imposto pelo sistema eleitoral brasileiro, pelos partidos e pela estrutura do Estado, que tem hegemonia no papel eleitoral nacional. E ainda critica o Senado. “Uma vez que o Senador se ausente do cargo, ele é ocupado por alguém que sequer foi votado”, diz.

Fonte: UOL