domingo, 28 de setembro de 2014

Reporter Diário, 27/setembro/2014


Campanha atípica marca clima eleitoral


sábado, 27 de setembro de 2014 9:47 [Nenhum Comentário]
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Leandro Amaral
Candidatos ficaram a mercê de cartões, cavaletes e placas, além da saliva e do sapato para as andanças. Foto: Banco de Dados
Nunca antes na história democrática se teve uma campanha tão morna. A frase tem sido vocalizada pela maioria dos candidatos que pleiteiam um dos cinco cargos em disputa: deputado estadual, deputado federal, governador, senador e presidente da República. Segundo os bastidores das campanhas, diversos fatores influenciam este cenário. Primeiro, a falta de recursos. Com o fim do chamado caixa 2 e o rigor ainda maior na prestação de contas, os postulantes têm encontrado dificuldade em atrair empresários para irrigar os cofres das campanhas.
O comentário geral é que a própria legislação eleitoral que engessa as ações de marketing dos candidatos. Impedidos de realizarem showmício e distribuírem brindes, como camisetas e bonés, os QGs ficam a mercê de cartões, cavaletes e placas, além da saliva e do sapato para as andanças. "Neste ano, em especial, tivemos outros dois fatores. A Copa do Mundo, cuja fase final invadiu a abertura da caça aos votos e, o que ninguém imaginava, a morte do candidato Eduardo Campos, que paralisou por mais uma semana o enredo eleitoral", lembra o professor de Ética da Unicamp, Roberto Romano.

Calçadão Oliveira Lima

Os próprios comícios ficaram em segundo plano. O foco de todas as campanhas - majoritárias ou proporcionais - foi mesmo o corpo a corpo por meio de caminhada em grandes centros comerciais com os eleitores. Na região, o principal alvo dessa agendas foi o tradicional calçadão da rua Coronel Oliveira Lima, em Santo André. Todos os principais candidatos que passaram pelo ABC não abriram mão do local. Foi assim com Marina Silva (PSB), ainda quando era vice de Campos; foi assim com os candidatos ao governo paulista, Paulo Skaf (PMDB), Geraldo Alckmin (PSDB) e Alexandre Padilha (PT), além de outros nomes.

Depois da Oliveira Lima, em Santo André, o local preferido para o corpo a corpo foi a rua Marechal Deodoro, em São Bernardo. "É preciso focar esse contato direto em pontos que podemos falar com muita gente", disse Emídio de Souza, presidente estadual do PT e coordenador da campanha de Padilha, recordista de agendas neste formato na região.

"A tendência é cada vez mais termos a campanha dos 3 s: sola, saliva e suor, ou seja, com base no contato direto", disse o advogado Arthur Rollo, especialista em Direito Eleitoral, ao lembrar que a partir da próxima eleição nem os cavaletes serão mais permitidos.

Petistas reforçam presença na rua

Na reta final e com a perspectiva de um segundo turno bastante acirrado com Marina Silva (PSB), os petistas adotaram o discurso da possibilidade de matar a disputa já no primeiro momento. A tática serve para mobilizar a militância nos últimos dias tendo em vista o crescimento de Dilma Rousseff nas pesquisas. Mesmo se o objetivo não for alcançado, a meta é abrir a maior diferença possível, pois o horizonte do segundo turno prevê uma transferência de votos em sua maioria de Aécio Neves (PSDB) para Marina.

"Com o crescimento da avaliação positiva do governo e a militância engajada ainda mais neste período final, temos chance sim de vencer no primeiro turno", disse o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, coordenador da campanha de Dilma em São Paulo. Para isso, integrantes do primeiro escalão, cargos comissionados e a militância cumprem agenda diária nos bairros para reforçar o discurso pró-Dilma. Os sindicatos também têm sido procurados para compartilhar estrutura de pessoal e carro de som.

A ofensiva se deve também ao fato de no ABC - berço do Partido dos Trabalhadores, do sindicalismo e origem política do ex-presidente Lula - a candidata Marina Silva estar na liderança em todas as sete cidades de acordo com sondagem divulgada recentemente.

Marinistas vislumbram igualdade no 2º turno

Os políticos ligados ao pleito de Marina Silva contam as horas para findar o primeiro turno. A justificativa é clara. A partir do segundo turno, o tempo destinado para as candidaturas no horário eleitoral no rádio e na televisão passa a ser igual, independentemente das coligações partidárias: 10 minutos.

Além disso, os debates passam a ser somente entre duas candidaturas e a discussão toma caráter mais personalizado e comparativo. "Temos ciência da importância de chegarmos bem no segundo turno. Mas a partir do segundo momento, é uma nova eleição", destaca o ex-deputado Valter Feldman, coordenador da campanha de Marina Silva. "É a campanha do tostão contra o milhão. É isso que deixa o PT perplexo: a possibilidade de Marina ganhar a presidência com campanha sem a estrutura de material que os petistas têm", analisa Almir Cicote (PSB), candidato a deputado estadual com o apoio de Marina.

Sem fla-flu
A ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula esteve na região em julho. Marina Silva percorreu o calçadão da Oliveira Lima e, na ocasião, ainda estava como vice na chapa encabeçada por Eduardo Campos. "Agora, a reta final será de mostrar que a mudança é possível com a nova política proposta pela Marina Silva. Uma política sem ódio e sem esse fla-flu de PT e PSDB", completa Amir Cicote.

Tucanos almejam reticentes de Marina

Já os apoiadores da candidatura a presidente de Aécio Neves (PSDB) estão encorajados na reta final com a possibilidade de recrutar votos de Marina Silva, na ótica de obter eleitores que querem a mudança, mas desconfiam de Marina.

"Já tivemos várias ondas nesta eleição. Agora acredito na onda da razão", tem dito o candidato Aécio Neves. "Isso pode ocorrer tendo em vista o crescimento dele apontado nas pesquisas neste momento", destaca José Auricchio Júnior (PTB), secretário estadual de Esportes, e um dos coordenadores da campanha tucana na região.

"Já aconteceu de tudo nesta eleição, então não podemos descartar mais nada", disse um tucano, que não quis se identificar, embora acredite que as chances de Aécio Neves persistir no páreo no segundo turno sejam remotas.


O candidato Aécio Neves foi o único entre os três primeiros colocados que não esteve no ABC no período eleitoral. O mineiro cumpriu uma agenda em São Caetano, mas antes do início oficial da campanha. A expectativa é que o peessedebista ainda possa fazer uma incursão na região.

Deputado foca microagenda
No cenário proporcional, as candidaturas a deputado - ofuscadas pelo debate nacional e estadual majoritário - buscam a adesão do eleitorado por meio de pequenas, mas numerosas agendas.

Os postulantes ao Legislativo fazem, no mínimo, 10 agendas todos os dias, com 20 a 30 minutos de duração cada, para conversar com o maior número de eleitores possível. "Não temos outra alternativa. Temos de nos apresentar e apresentar nossas propostas para uma quantidade grande de pessoas Isso implica em agendas diversificadas", pontua Luiz Turco, candidato do PT a deputado estadual.

Além dos compromissos já previstos na agenda, os candidatos incluem, nesta reta final de campanha, outros encontros programados na última hora. "Com isso vamos dormir bem tarde e acordamos bem cedo", relata Gilberto Costa, candidato a deputado federal pelo PEN.

Eleitores deixam para última hora

Ao deixar a escolha para a última hora, parte dos eleitores ainda não decidiu o quinteto para direcionar seus votos. Nas ruas, o clima é de indecisão, alguns querem mudanças, outros preferem deixar como está, sem alterações.

"Os que estão aí no poder já mostraram o que fizeram, fizeram promessas e pouca coisa mudou. Panfletos sujam a rua, é falta de bom senso. Só a propaganda na televisão basta", diz Maria Aparecida, 60 anos.

"Mudanças no comando, o voto fica mais válido. O jeito é mudar quem está no poder", relata Rodrigo Gomes, 26 anos.

"Não tenho candidatos ainda, vou ouvir algumas pessoas que sabem um pouco mais de política para pedir indicação na hora de escolher", garante Natália Aparecida, 20 anos.

"Deixa como está, melhor assim. Pelo menos a gente já conhece eles", acredita Valter Oliveira, 59 anos.