Campanha atípica marca clima eleitoral
sábado, 27 de setembro de 2014
9:47
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Leandro Amaral
Candidatos ficaram a mercê de cartões, cavaletes e placas, além da saliva e do sapato para as andanças. Foto: Banco de Dados
Nunca
antes na história democrática se teve uma campanha tão morna. A frase
tem sido vocalizada pela maioria dos candidatos que pleiteiam um dos
cinco cargos em disputa: deputado estadual, deputado federal,
governador, senador e presidente da República. Segundo os bastidores das
campanhas, diversos fatores influenciam este cenário. Primeiro, a falta
de recursos. Com o fim do chamado caixa 2 e o rigor ainda maior na
prestação de contas, os postulantes têm encontrado dificuldade em atrair
empresários para irrigar os cofres das campanhas.
O comentário geral é que a própria legislação eleitoral que engessa
as ações de marketing dos candidatos. Impedidos de realizarem showmício e
distribuírem brindes, como camisetas e bonés, os QGs ficam a mercê de
cartões, cavaletes e placas, além da saliva e do sapato para as
andanças. "Neste ano, em especial, tivemos outros dois fatores. A Copa
do Mundo, cuja fase final invadiu a abertura da caça aos votos e, o que
ninguém imaginava, a morte do candidato Eduardo Campos, que paralisou
por mais uma semana o enredo eleitoral", lembra o professor de Ética da
Unicamp, Roberto Romano.
Calçadão Oliveira Lima
Os próprios comícios ficaram em segundo plano. O foco de todas as
campanhas - majoritárias ou proporcionais - foi mesmo o corpo a corpo
por meio de caminhada em grandes centros comerciais com os eleitores. Na
região, o principal alvo dessa agendas foi o tradicional calçadão da
rua Coronel Oliveira Lima, em Santo André. Todos os principais
candidatos que passaram pelo ABC não abriram mão do local. Foi assim com
Marina Silva (PSB), ainda quando era vice de Campos; foi assim com os
candidatos ao governo paulista, Paulo Skaf (PMDB), Geraldo Alckmin
(PSDB) e Alexandre Padilha (PT), além de outros nomes.
Depois da Oliveira Lima, em Santo André, o local preferido para o
corpo a corpo foi a rua Marechal Deodoro, em São Bernardo. "É preciso
focar esse contato direto em pontos que podemos falar com muita gente",
disse Emídio de Souza, presidente estadual do PT e coordenador da
campanha de Padilha, recordista de agendas neste formato na região.
"A tendência é cada vez mais termos a campanha dos 3 s: sola, saliva e
suor, ou seja, com base no contato direto", disse o advogado Arthur
Rollo, especialista em Direito Eleitoral, ao lembrar que a partir da
próxima eleição nem os cavaletes serão mais permitidos.
Petistas reforçam presença na rua
Na reta final e com a perspectiva de um segundo turno bastante
acirrado com Marina Silva (PSB), os petistas adotaram o discurso da
possibilidade de matar a disputa já no primeiro momento. A tática serve
para mobilizar a militância nos últimos dias tendo em vista o
crescimento de Dilma Rousseff nas pesquisas. Mesmo se o objetivo não for
alcançado, a meta é abrir a maior diferença possível, pois o horizonte
do segundo turno prevê uma transferência de votos em sua maioria de
Aécio Neves (PSDB) para Marina.
"Com o crescimento da avaliação positiva do governo e a militância
engajada ainda mais neste período final, temos chance sim de vencer no
primeiro turno", disse o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho,
coordenador da campanha de Dilma em São Paulo.
Para isso, integrantes do primeiro escalão, cargos comissionados e a
militância cumprem agenda diária nos bairros para reforçar o discurso
pró-Dilma. Os sindicatos também têm sido procurados para compartilhar
estrutura de pessoal e carro de som.
A ofensiva se deve também ao fato de no ABC - berço do Partido dos
Trabalhadores, do sindicalismo e origem política do ex-presidente Lula -
a candidata Marina Silva estar na liderança em todas as sete cidades de
acordo com sondagem divulgada recentemente.
Marinistas vislumbram igualdade no 2º turno
Os políticos ligados ao pleito de Marina Silva contam as horas para
findar o primeiro turno. A justificativa é clara. A partir do segundo
turno, o tempo destinado para as candidaturas no horário eleitoral no
rádio e na televisão passa a ser igual, independentemente das coligações
partidárias: 10 minutos.
Além disso, os debates passam a ser somente entre duas candidaturas e
a discussão toma caráter mais personalizado e comparativo. "Temos
ciência da importância de chegarmos bem no segundo turno. Mas a partir
do segundo momento, é uma nova eleição", destaca o ex-deputado Valter
Feldman, coordenador da campanha de Marina Silva. "É a campanha do
tostão contra o milhão. É isso que deixa o PT perplexo: a possibilidade
de Marina ganhar a presidência com campanha sem a estrutura de material
que os petistas têm", analisa Almir Cicote (PSB), candidato a deputado
estadual com o apoio de Marina.
Sem fla-flu
Sem fla-flu
A ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula esteve na região em
julho. Marina Silva percorreu o calçadão da Oliveira Lima e, na ocasião,
ainda estava como vice na chapa encabeçada por Eduardo Campos. "Agora, a
reta final será de mostrar que a mudança é possível com a nova política
proposta pela Marina Silva. Uma política sem ódio e sem esse fla-flu de
PT e PSDB", completa Amir Cicote.
Tucanos almejam reticentes de Marina
Já os apoiadores da candidatura a presidente de Aécio Neves (PSDB)
estão encorajados na reta final com a possibilidade de recrutar votos de
Marina Silva, na ótica de obter eleitores que querem a mudança, mas
desconfiam de Marina.
"Já tivemos várias ondas nesta eleição. Agora acredito na onda da
razão", tem dito o candidato Aécio Neves. "Isso pode ocorrer tendo em
vista o crescimento dele apontado nas pesquisas neste momento", destaca
José Auricchio Júnior (PTB), secretário estadual de Esportes, e um dos
coordenadores da campanha tucana na região.
"Já aconteceu de tudo nesta eleição, então não podemos descartar mais
nada", disse um tucano, que não quis se identificar, embora acredite
que as chances de Aécio Neves persistir no páreo no segundo turno sejam
remotas.
O candidato Aécio Neves foi o único entre os três primeiros colocados
que não esteve no ABC no período eleitoral. O mineiro cumpriu uma
agenda em São Caetano, mas antes do início oficial da campanha. A
expectativa é que o peessedebista ainda possa fazer uma incursão na
região.
Deputado foca microagenda
No cenário proporcional, as candidaturas a deputado - ofuscadas pelo
debate nacional e estadual majoritário - buscam a adesão do eleitorado
por meio de pequenas, mas numerosas agendas.
Os postulantes ao Legislativo fazem, no mínimo, 10 agendas todos os
dias, com 20 a 30 minutos de duração cada, para conversar com o maior
número de eleitores possível. "Não temos outra alternativa. Temos de nos
apresentar e apresentar nossas propostas para uma quantidade grande de
pessoas Isso implica em agendas diversificadas", pontua Luiz Turco,
candidato do PT a deputado estadual.
Além dos compromissos já previstos na agenda, os candidatos incluem,
nesta reta final de campanha, outros encontros programados na última
hora. "Com isso vamos dormir bem tarde e acordamos bem cedo", relata
Gilberto Costa, candidato a deputado federal pelo PEN.
Eleitores deixam para última hora
Ao deixar a escolha para a última hora, parte dos eleitores ainda não
decidiu o quinteto para direcionar seus votos. Nas ruas, o clima é de
indecisão, alguns querem mudanças, outros preferem deixar como está, sem
alterações.
"Os que estão aí no poder já mostraram o que fizeram, fizeram
promessas e pouca coisa mudou. Panfletos sujam a rua, é falta de bom
senso. Só a propaganda na televisão basta", diz Maria Aparecida, 60
anos.
"Mudanças no comando, o voto fica mais válido. O jeito é mudar quem está no poder", relata Rodrigo Gomes, 26 anos.
"Não tenho candidatos ainda, vou ouvir algumas pessoas que sabem um
pouco mais de política para pedir indicação na hora de escolher",
garante Natália Aparecida, 20 anos.
"Deixa como está, melhor assim. Pelo menos a gente já conhece eles", acredita Valter Oliveira, 59 anos.