segunda-feira, 22 de setembro de 2014

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Entrevista: ‘Os cidadãos e as formas de fazer política’


É comum se escutar que “todos os cidadãos fazem política”. A dificuldade está em se entender como isso acontece. Grosso modo, se explica que zelar pelo bem comum, obedecer as leis, exigir os direitos, votar nas eleições são formas de se fazer política.

Para saber mais sobre o assunto, entrevistamos o filósofo e professor Roberto Romano, da Unicamp - Universidade Estadual de Campinas (SP). Aproveite a oportunidade para politizar-se.

política

Padre César Moreira: Professor, como nasceu o termo "política"? Em que ela consiste?

Professor Roberto Romano: Política tem origem na polis (a cidade) grega. Fazer política, sobretudo quando Atenas era democrática, era uma arte e um dever de todo cidadão, o de cuidar da cidade.

Padre César Moreira: São muitas as formas de se "fazer política"? Como entender essa expressão?

Professor Roberto Romano: Existe, como diz o grande jurista Norberto Bobbio, os que fazem a política da praça e os que fazem a política do palácio. Quando estão na praça, os líderes dizem defender os interesses da população. Quando chegam aos palácios, eles defendem seus interesses, cobrindo-os com o nome de interesse do Estado, da nação, do governo.
 
A democracia consiste em defender o interesse de todos (o bem comum) e de cada um.

A democracia consiste em defender o interesse de todos (o bem comum) e de cada um. Donde a democracia deve garantir o diálogo entre todos e o respeito pelos cidadãos, apesar de seus interesses diferentes. Sem respeito pelo outro não existe democracia.

Padre César Moreira: Votar é fazer política. Mas como exercer esse direito e dever (quando a lei obriga a votar)? Fala-se em votar de modo consciente; como chegar a isso?

Professor Roberto Romano: Não se limitar a ouvir a propaganda eleitoral, mas estudar os problemas coletivos e ver se os candidatos estão pensando neles. Na propaganda, quem mais ataca a pessoa do adversário e menos propostas apresenta para o bem comum, é um perigoso demagogo que, instalado no palácio, defenderá seus interesses e não os do coletivo.

Padre Cesar Moreira: No sistema atual, o eleitor, nas eleições gerais, tem de votar para presidente, governador, senador, deputado federal e deputado estadual. Não fica difícil entender as diferenças dos cargos e escolher os candidatos?

Professor Roberto Romano: É tarefa do eleitor procurar entender o funcionamento do Estado e as diferenças dos cargos. Enquanto o eleitor não se preparar para tal entendimento, ele será manipulado pelos demagogos.

Padre César Moreira: Por onde seria preciso começar a reformar o sistema eleitoral?

Professor Roberto Romano: Pela democratização dos partidos políticos, hoje propriedade de pequenos grupos que neles mandam e impedem a participação da cidadania, sobretudo da juventude.
A maioria dos dirigentes políticos é velha, arrogante e interessada apenas no seu poder pessoal, que lhe rende votos e subida na escala do poder. 

Assinatura Padre César