quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Carta Capital.

Kaddafi estuprava mulheres de sua guarda

A guarda feminina de Muammar Al-Kaddafi sempre chamou a atenção, especialmente nas viagens do ex-líder líbio ao exterior. As imagens das “amazonas” do coronel com Kalashnikovs e os invariáveis óculos escuros corriam o mundo, e assim vinha à tona o costumeiro ponto de interrogação. Por que as amazonas? Havia quem acreditasse que Kaddafi seria feminista, e as moças, treinadas em academia militar, davam conta do recado como qualquer outra força de segurança formada por homens.

Entrevistada pelo diário Times of Malta, Seham Sergewa, uma psicóloga baseada em Benghazi, na Líbia, revelou que os motivos a levar Kaddafi a alistar as moças era outro: o coronel as abusava sexualmente, e depois convocava seus filhos e oficiais do alto escalão para fazerem o mesmo. O estupro, como em tantas outras guerras, tem sido usado como arma nesses últimos seis meses de guerra civil pelo regime de Kaddafi. Citado pelo diário francês Le Figaro, Luis Moreno-Ocampo, procurador-chefe da Corte Criminal Internacional (CCI), disse que contêineres repletos de Viagra eram entregues aos soldados.

Sergewa chefia uma equipe de 15 psicólogos financiados por ONGs de caridade e uma fundação suíça. O objetivo é entregar a Moreno-Ocampo um relatório sobre como o regime de Kaddafi usou o estupro de forma sistemática como arma para intimidar os rebeldes. “Estimo que houve cerca de 6 mil casos de estupro”, disse Sergewa ao Times of Malta. Se capturado vivo, Kaddafi, seus filhos e oficiais envolvidos nos casos de estupro poderão ser condenados por crimes contra a humanidade.

Por ora, Sergewa recolheu informações de estupro de cinco mulheres da guarda do coronel. Uma delas teria sido forçada a integrar a “guarda de corpo” do coronel. Segundo ela, o regime teria inventado a historia de que seu irmão estaria traficando drogas de Malta à Líbia. Caso ela não ela não aceitasse o “convite” de Kaddafi, “seu irmão passaria o resto de sua vida atrás das grades”.

A moça em questão foi então levada para Bab Azizya, onde vivia Kaddafi em Trípoli. Nos seus aposentos o ditador a recebeu de pijamas. Segundo Sergewa, a jovem recusou-se a dormir com o ditador, mas foi violada. Outras quatro mulheres tiveram o mesmo destino, e em seguida os filhos do raís e, eventualmente, oficiais do alto escalão também abusaram delas.

No início do conflito, houve o caso e Iman Al-Obeidi. A jovem adentrou um hotel de Trípoli repleto de jornalistas internacionais e contou que havia sido estuprada várias vezes por uma gangue de soldados. A CNN divulgou as imagens de Al-Obeidi sendo levada à força para fora do lobby do hotel por líbios à paisana.

Segundo Sergewa, que fez estudos sobre abusos sexuais durante a guerra na Bósnia, várias vítimas se suicidam. Na Líbia, diz a psicóloga, o tabu de ser vítima de estupro é ainda maior do que na maioria dos países.