quarta-feira, 15 de maio de 2013

Jornal da Unicamp. Para quem acha, seguindo o romantismo do século 19 (Hugo e Michelet para quem o povo é o novo Cristo das dores, etc) que ser pobre é prova de bondade, segue a notícia abaixo. Maldade existe entre ricos (muita), classes médias (maldade somada a fascismo) e pobres. Não existe lugar para maniqueísmos se quisermos pensar. E olhe: a pesquisa foi efetuada em escola pública. Aqui del Rey !

Campinas, 12 de maio de 2013 a 19 de maio de 2013 – ANO 2013 – Nº 561

Jovens cegos são alvo de bullying em aulas de educação física, aponta tese

Alunos de escolas públicas têm participação limitada e ficam isolados em atividades


A professora de educação física Maria Luiza Tanure Alves não esperava encontrar relatos de bullying tão impressionantes tendo como vítimas adolescentes cegos que frequentavam as aulas de educação física nos ensinos fundamental e médio em São Paulo. “As brincadeiras e zombarias envolvendo as características físicas são frequentes. São comuns, também, exemplo, frases do tipo ‘que horas são?’ ou ‘está vendo tal coisa?’. Enfim, não tinha conhecimento de que este tipo de aluno sofria tanto com os comentários dos colegas na escola”, destaca Maria Luiza. Ela fez entrevistas com oito alunos deficientes visuais provenientes de diferentes escolas da capital paulista com o objetivo de analisar o processo de inclusão destes estudantes na escola pública e acabou descobrindo que o bullying também é um aspecto que merece atenção.

Os voluntários do estudo tinham entre 13 e 18 anos. Todos desenvolviam alguma atividade na Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual - Laramara, em São Paulo, entidade voltada para o apoio ao desenvolvimento humano e inclusão dos deficientes e seus familiares. Na escola regular, no entanto, a história era diferente. A pesquisa mostrou que esses alunos não se sentiam incluídos durante as aulas de educação física, pois tinham participação limitada nas atividades e se mantinham isolados do grupo.

“A realidade vivenciada por eles é muito difícil. Se sentem isolados e são mantidos sentados nos cantos das quadras sem qualquer tipo de atividade ou interação com os colegas. Teve um caso de aluna que permaneceu em um canto de uma quadra descoberta até acabar o período da aula, aproximadamente 50 minutos”, relata.

A pesquisa de doutorado foi defendida na Faculdade de Educação Física (FEF) e teve a orientação do professor Edison Duarte. Segundo apurou Luiza Tanure, os professores de educação física têm papel fundamental no processo de inclusão dos alunos com deficiência, principalmente em se tratando de uma das disciplinas com maior possibilidade de interação, como é o caso da educação física, pela própria natureza da prática. É preciso, explica ela, que o professor tenha uma formação qualificada para que seja atuante no processo de interação social do aluno cego nas aulas.

“Tanto a participação como a interação são aspectos indissolúveis e essenciais. Percebi que existe um círculo vicioso no sistema, uma vez que os alunos não são chamados a participar das aulas e, por conseguinte, não conseguem interagir com a turma. O professor acaba excluindo o aluno do processo quando não oferece a oportunidade de participação no contexto da aula”, esclarece. Na percepção dos deficientes, o professor é quem teria a voz ativa e poderia de alguma forma envolvê-los no processo para estimular a interação com os colegas.

A professora defende que a inclusão se refere à educação de qualidade para alunos com deficiência no sistema regular de ensino. O estudo desenvolvido na FEF aponta, justamente, a concepção e a percepção de inclusão que o aluno com deficiência visual tem nas aulas de educação física. Por isso, as questões do bullying e do papel fundamental do professor chamaram tanta a atenção da pesquisadora no trabalho. “Não tinha ideia de que a atuação do professor precisava de uma análise e uma mudança radical de mentalidade”, avalia. O fato de colocar o aluno em sala de aula não é o suficiente para que o mesmo se sinta incluído no contexto escolar.

Outra questão demonstrada na pesquisa e que merece destaque na opinião de Luiza Tanure seria em relação à aceitação por parte dos colegas. Este aspecto também é fator fundamental para a exclusão do aluno com deficiência visual da escola. Neste caso, Maria Luiza acredita que deveria ocorrer o envolvimento dos pais, pois muitas das situações se referem à educação recebida em casa. “Durante a pesquisa foi observado que alguns fatores familiares interferem na questão da aceitação das diferenças em sala de aula. O professor tem dificuldades para realizar uma intervenção mais pontual neste aspecto”, analisa.

Na opinião da pesquisadora, que durante sete anos atuou como professora em escolas públicas, as políticas públicas devem ter como foco a preparação profissional contínua e de qualidade, mas também um trabalho social com mudança de valores para a aceitação da deficiência.

Publicação
Tese: “O aluno com deficiência visual nas aulas de Educação Física: análise do processo inclusivo”
Autora: Maria Luiza Tanure Alves
Orientador: Edison Duarte
Unidade: Faculdade de Educação Física (FEF)

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