quarta-feira, 22 de maio de 2013
Mãe boa ...
Imagem: do SOLDA
por Vladimir
Safatle, 21.5.13
Estado-mãe
Os
liberais gostam de criticar o Estado-providência por ver nele o paradigma de um
funcionamento institucional da vida social que acomodaria os sujeitos a
benefícios sem responsabilidades, desprovendo-os de capacidade de
empreendedorismo e deixando-os sem coragem para assumir riscos. Tal como se
fosse uma mãe superprotetora, tal Estado produziria apenas filhos letárgicos e
sempre chorando por amparo.
É
fato que há algo de verdadeiro nessa crítica ao caráter de "mãe má"
próprio ao Estado-providência. Seu único problema é que ela erra de alvo quando
procura identificar quem são, afinal, os filhos em questão. Vejam, por exemplo,
o caso brasileiro. Na verdade, eis aí um verdadeiro Estado-providência, mas
seus filhos são apenas certos setores da burguesia nacional e da sociedade civil
associada ao governo. Há dois exemplos paradigmáticos ocorridos nas últimas
semanas.
Durante
os últimos anos, o governo investiu mais de R$ 1 bilhão na reforma do estádio
do Maracanã. Obra feita a toque de caixa devido ao calendário da Copa do Mundo.
Dias atrás, ficamos sabendo que um consórcio composto pela Odebrecht e pelo
onipresente empresário Eike Batista ganhou o direito de administrar o estádio
por (vejam só vocês) R$ 180 milhões pagáveis em 30 anos. Ou seja, só em
reformas o Estado, principalmente via BNDES, gastou mais de R$ 1 bilhão para
entregar a seus filhos, por menos de 20% do valor investido, um complexo
esportivo com o qual nem mesmo o mais néscio dos administradores seria capaz de
perder dinheiro.
Na
mesma semana, descobrimos também que o governo paulista resolveu inventar um
cartão que dá R$ 1.350,00 para viciados que queiram se internar em comunidades
terapêuticas cadastradas. Nada de mais, à parte o Estado acabar por financiar
comunidades terapêuticas privadas, normalmente vinculadas a igrejas e com
abordagens "espirituais" de atendimento psicológico bastante
questionáveis, enquanto sucateia vários Caps (Centro de Atenção Psicossocial)
pelo Estado.
Assim
caminha o paulatino abandono da capacidade governamental de formular políticas
públicas em saúde mental. Mas pelo menos alguns de seus filhos, por
coincidência com grande influência nos próximos embates eleitorais, serão
amparados.