segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Correio Braziliense, 24/12/2014

A felicidade no emprego depende de uma engrenagem perfeita

No emprego, independentemente do cargo, as pessoas sempre esperam o reconhecimento de que executaram bem as funções. Funcionários se sentem constrangidos quando descobrem que donos das empresas para as quais trabalham estão metidas em corrupção

postado em 24/12/2014 08:15 / atualizado em 24/12/2014 09:35
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press


Ao mesmo tempo em que aponta para o futuro, a economia da felicidade representa uma volta ao passado, quando as ciências conversavam entre si e a busca do bem estar do ser humano estava no centro das discussões. Roberto Romano, professor de filosofia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) lembra que Adam Smith (1723-1790), o pai da economia moderna, buscava no livre mercado a otimização da qualidade de vida, assim como Karl Marx (1818-1883), o criador do comunismo, mirava a mesma direção por outro caminho. “Ele fez uma crítica ao modo de produção que destruía os corpos humanos”, relata Romano.

“Era comum encontrar na Europa da época trabalhadores que tinham uma vida pior do que a dos escravos das Américas”, assinala o antropólogo Roberto DaMatta, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Ele explica que a preocupação da felicidade é algo próprio do processo civilizatório. Os índios Apynayé, que DaMatta estudou décadas atrás, “não procuram a felicidade, nem sabem o que é isso. Mas são felizes”.

Leia mais notícias em Economia

Se no iluminismo do século 18 a felicidade estava no centro das atenções, o que ocorreu de errado? “Vieram os séculos malditos 19 e 20, em que as religiões se voltaram mais para o pecado e tanto a esquerda quanto a direita se tornaram ascéticas”, diz Romano. Ele atribui à difusão das ideias do filósofo Immanuel Kant (1724-1804) a construção da ideia de um mundo que deve funcionar “como uma engrenagem perfeita”, sem espaço para as ideias de felicidade.
Nesse processo, a ciência econômica transformou-se em algo cheio de fórmulas, “desumanizado” na opinião de Romano. Outras áreas, segundo ele, também foram prejudicadas por esse modo de ver as coisas, mesmo a filosofia, na qual os pesquisadores tendem a uma excessiva especialização. Às vezes constróem a carreira sobre um capítulo de determinado autor, sem olhar para todo o seu trabalho e muito menos para outros nomes. Nesse ambiente, falta receptividade para discutir o sentido da vida. “Outro dia eu falei da importância da busca da felicidade em uma discussão pública e um dos participantes disse que era uma bobagem”, conta.

DaMatta nota que o significado do que é viver bem varia conforme a cultura. Depois do doutorado em Harvard, ele ganhou uma cátedra na Universidade de Notre Dame, uma das mais importantes dos Estados Unidos. Mas voltou ao Brasil porque sentia que a vida dele era mais completa aqui. “Lá, quando se faz uma aula boa, ela termina e pronto. Aqui, se a aula é boa, todos continuam conversando depois que ela acaba”, diz.

Um dos ingredientes essenciais, em qualquer sociedade, ressalta DaMatta, é a convivência com a família e com amigos. “Há homens de 50 anos que se reúnem para comer salaminho e contar mentiras sobre conquistas sexuais. Isso faz deles mais felizes”, comenta. Outro ponto que ele considera essencial é ter a clara noção daquilo que se consegue fazer e o que não se consegue. “Aprendi isso com os Alcoólicos Anônimos.” Ele frequentou reuniões do grupo quando acompanhava um filho, hoje falecido.

A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui.