terça-feira, 18 de janeiro de 2011
A MÁ EDUCAÇÃO URBANA
1 Transforme a entrevista em um texto dissertativo. Use os mesmos argumentos de Roberto Romano.
2 Escreva uma carta argumentativa a Roberto Romano, relatando ( aí entra uma narrativa inventada) um ato de má educação que você observou aí na sua rua.
“Nossa sociedade não respeita o que é público”
Entrevista - Roberto Romano, professor da Unicamp.
Professor de Filosofia e Ética Política na Unicamp, Roberto Romano acredita que o povo brasileiro ainda está aprendendo a viver em grandes sociedades urbanas. Enquanto isso não ocorre, segundo ele, persiste a falta de respeito com o patrimônio público e os demais cidadãos. Confira a entrevista concedida ontem, desde São Paulo, por telefone:
Zero Hora – Falta civilidade ao brasileiro?
Roberto Romano – Como em todas as relações sociais, há um movimento de imitação. Quando você tem um sistema político onde o recurso público é usado para fins privados, você tem uma sociedade onde o que é público não merece respeito. Pode estragar, quebrar. Nossa sociedade não tem o costume de respeitar o que é público e elege governantes que também não respeitam. É um espelhamento.
ZH – O cidadão não se sente responsável pelo espaço que é público?
Romano – Exatamente, é algo que não é assunto dele. É território de caça, de aventura. Não existe norma pública que seja respeitada, e o maior exemplo disso é o trânsito. Na faculdade de Sociologia, no primeiro ano aprendemos que existe uma coisa chamada expectativa de reciprocidade de comportamento. Se você entra numa rua, você espera que o outro venha pela mão dele. Mas isso não é visto em sua plenitude aqui no Brasil.
ZH – Essa falta de civilidade vem aumentando ou está diminuindo?
Romano – O fato é que ainda vivemos o rescaldo da urbanização no brasil. Nós tínhamos a cultura rural, ou de pequenas cidades, onde todos se conheciam e as relações eram mais pessoais. Havia relação de autoridade com os fazendeiros, com o padre, o juiz. Desde os anos 50, o Brasil entrou em uma onda rapidíssima de urbanização.
"Temos uma classe média violenta,
que só conhece o poder do dinheiro
ou da força física.
Se tem um salário razoável,
um carro importado,
o resto não existe."
ZH – O senhor quer dizer que ainda não aprendemos a viver em cidades?
Romano – Exatamente. Saímos do sertão e não nos adaptamos ainda ao ritmo das grandes urbes. Somos manadas de pessoas que não têm padrões de comportamento coletivo. Na Europa, as cidades têm 2 mil anos. Os EUA também tiveram uma urbanização rápida, mas a nossa foi mais tardia. Tem pessoas que ocupam determinados status sociais, mas não sabem o que fazer com ele. Temos uma classe média violenta, que só conhece o poder do dinheiro ou da força física. Se tem um salário razoável, um carro importado, o resto não existe.
ZH – O senhor acredita ser possível um avanço em curto prazo?
Romano – Não. É um processo civilizatório, e ainda estamos vivendo as dores do parto de uma sociedade urbana. Vamos sentir essas dores enquanto não conseguirmos criar padrões de comportamento de massa civilizados.
As razões
Confira algumas das hipóteses de especialistas para explicar as origens da falta de educação social dos brasileiros:
- Até os anos 50, preponderava no país a cultura interiorana nascida da tradição rural. As relações baseadas no conhecimento interpessoal e no respeito a autoridades, porém, entraram em colapso com a rápida urbanização – e ainda não foram substituídas por outro código de comportamento.
- Os brasileiros têm dificuldade de perceber os bens de uso público como seus, o que favorece o descuido e a depredação. Isso pode ser explicado pelo caráter patrimonialista do Estado, que enfraquece o controle social, e pela tendência da população de esperar soluções sempre dos governantes.
- No Brasil, uma frase comum é “você sabe com quem está falando?”, denotando prepotência associada a poder econômico ou político. Em países desenvolvidos, é mais comum a frase “quem você pensa que é para falar assim?”, indicando maior consciência sobre deveres e direitos iguais.
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Reportagem por MARCELO GONZATTO
Reportagem por MARCELO GONZATTO