segunda-feira, 28 de novembro de 2011

De Rerum Natura.

Domingo, 27 de Novembro de 2011

Portugal e a Corrupção


“Como as coisas andam, a política nada mais é que corrupção” (Jonathan Swift, 1667-1745).

Muitas histórias começam por “era uma vez”. Para não destoar, era uma vez um pequeno país que vivia “orgulhosamente só”, não se curvando a interesses económicos dos Estados Unidos, da União Soviética e da China para que Angola, pela sua riqueza petrolífera, deixasse de ser território administrado por Portugal. E, por arrastamento, os outros territórios ultramarinos portugueses se tornassem, também eles, independentes.

Conta-se, a propósito, que Salazar, antevendo o despertar de cobiças das grandes potências mundiais, ao ser informado, em meados da década de 60, das grandes jazidas do chamado ouro negro descobertas em Cabinda, terá exclamado perante o espanto do mensageiro da boa-nova: “Só me faltava mais esta”! O receio por esta descoberta residia na posição de diversos areópagos internacionais que, sob o manto hipócrita de nobres intenções humanitárias, atiçavam sobre Portugal ferozes mandíbulas de opróbrio da sua condição de país colonizador quando os verdadeiros motivos dessa atitude tinham por finalidade o pior dos colonialismos: o neocolonialismo.

Assistia-se, então, ao desenrolar de três frentes de guerra em Angola, Moçambique e Guiné que implicavam uma hemorragia do erário público. Todavia, nos derradeiros tempos que antecederam o 25 de Abril, segundo Luciano Amaral, professor da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, “nunca outro período da nossa história assistiu a um tão rápido desenvolvimento económico e a uma tão grande aproximação da nossa economia às mais desenvolvidas” (Revista “Atlântico”, ano I, n.º 6, Set. 2005, p. 9).

Sem mesmo falar na sonegação dos futuros subsídios de Férias e do Natal dos funcionários públicos e dos reformados da função pública, hoje, esgotada a torrente caudalosa dos fundos comunitários, gasta em obras faraónicas ou escoada para fins, para utilizar um eufemismo, nada recomendáveis, assiste-se ao desolador panorama dos impostos dos portugueses serem mais elevados que na maioria dos países europeus e de alguns países do antigo Leste Europeu começaram a aproximar-se – ou mesmo a superarem – o desenvolvimento económico deste rectângulo onde “a terra acaba e o mar começa”, na imagem poética de Afonso Lopes Vieira.

Não se desse o caso dos relatórios nada abonatórios para o nosso país, que nos chegam em catadupa do estrangeiro e são publicados nos media nacionais (bendita liberdade de expressão!), quase poderíamos ser levados a pensar que o caso do BPN e outros casos escabrosos, cujos reflexos pesam nos impostos dos portugueses, se trata de um pesadelo de que se tarda a acordar e que o bem-estar da Pátria e a felicidade dos portugueses reside, tão-só, em encontrar reposta para o sonho venturoso de Portugal se sagrar Campeão Europeu de Futebol de 2012.

Numa nada “ditosa Pátria”, com umas tantas personagens com responsabilidades políticas que em momentos de grave crise nacional se ocupam, de há anos para cá, com intrigas de soalheiro e desavenças de comadre, foi sacudida a opinião pública, mais atenta e responsável, pelo artigo de Daniel Kaufmann a denunciar, na revista "Finance & Development", editada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), em Setembro de 2005, que “Portugal podia estar ao nível da Finlândia se melhorasse a sua posição no ranking de controle da corrupção”. Caiu este aviso, pelos vistos, em saco roto fazendo orelhas moucas ao ditado português de “quem te avisa teu amigo é”.

E, assim, Portugal dos nossos dias, deixou de “estar orgulhosamente só” para celebrar esponsais com a corrupção que conduziu à crise em que Portugal actual se encontra, a exemplo de crise idêntica ocorrida no século XIX merecedora do desalento e interrogações queirosianas: “No meio de tudo isto o que fazer? Que esperar? Portugal tem atravessado crises igualmente más: - mas nelas nunca nos faltaram nem homens de valor e carácter, nem dinheiro ou crédito. Hoje crédito não temos, dinheiro também não temos – pelo menos o Estado não tem: - e homens não os há, ou os raros que há são postos na sombra pela Política. De sorte que esta crise me parece a pior – e sem cura”. Mas será, mesmo verdade, que a história se não repete?

N.do A: Este post recupera e actualiza partes de textos por mim aqui publicados. Infelizmente, de lá para cá, pouco ou nada mudou - se é que mesmo não piorou - o que me leva à desesperança da actual crise ter cura em anos mais próximos.