Analistas dizem que é cedo para projetar sucesso de Marina
Projeções de votos para Marina podem refletir uma comoção temporária com a morte de Campos
18/08/2014 - 18:44:19
Fonte: BBC BRASIL.com
Foto: Bruno Santos / Terra
É
preciso cautela para analisar pesquisas eleitorais que apontem a ida da
ex-senadora Marina Silva para o segundo turno da eleição presidencial,
já que os resultados podem refletir efeitos emocionais passageiros
gerados pela morte do ex-candidato à Presidência Eduardo Campos, segundo
analistas ouvidos pela BBC Brasil.
Uma pesquisa do Datafolha divulgada
nesta segunda-feira sugere que Marina, que na quarta-feira deverá ser
anunciada como a nova candidata do PSB à Presidência, teria 21% dos
votos no primeiro turno da eleição.
O
desempenho a colocaria em empate técnico com o mineiro Aécio Neves,
candidato do PSDB, que teria 20% das intenções de voto. Segundo a
pesquisa, a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição,
lideraria a corrida, com 36%.
Se
Dilma e Marina fossem para o segundo turno hoje, segundo o Datafolha,
ocorreria um empate técnico – a ex-senadora teria 47% dos votos, contra
43% da presidente. Numa disputa com Aécio, Dilma venceria por 47% contra
39%, de acordo com a pesquisa.
Cientistas
políticos avaliam, no entanto, que as projeções de votos para Marina
podem refletir uma comoção temporária com a morte de Campos, e que a
ex-senadora enfrentará importantes obstáculos para consolidar sua
candidatura e concorrer com chances de vitória.
Recall
Para Roberto Romano, professor de filosofia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas, em São Paulo), o desempenho de Marina reflete uma espécie de "recall".
Para Roberto Romano, professor de filosofia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas, em São Paulo), o desempenho de Marina reflete uma espécie de "recall".
"Ela
foi muito bem votada em 2010, é figura conhecida e tem essa aura de
alguém que não iria repetir procedimentos perniciosos da política
nacional", disse ele à BBC Brasil.
Segundo
Romano, eleitores do centro-sul do Brasil têm a tendência de votar em
candidatos "que supostamente vão modificar a estrutura moral da política
brasileira".
"Foi
assim com Jânio Quadros, Fernando Collor de Melo e o PT – ainda que nos
três casos essa expectativa tenha se mostrado ilusória".
Para
o professor, Marina também parece contar com o apoio de boa parte dos
manifestantes de junho de 2013, sobretudo os mais jovens, que estariam
descontentes com as opções eleitorais até então colocadas e pretenderiam
anular os votos.
Ainda
assim, Romano diz que só nas próximas semanas, passado o efeito da
morte de Campos, será possível projetar com mais precisão as chances da
acreana.
Propaganda eleitoral
Para Antonio Carlos Mazzeo, professor em Teoria Política da Universidade Estadual Paulista (Unesp), um importante obstáculo para a campanha de Marina é a "fragilidade" de seu partido em comparação com as máquinas partidárias por trás de seus principais adversários, Dilma e Aécio.
Para Antonio Carlos Mazzeo, professor em Teoria Política da Universidade Estadual Paulista (Unesp), um importante obstáculo para a campanha de Marina é a "fragilidade" de seu partido em comparação com as máquinas partidárias por trás de seus principais adversários, Dilma e Aécio.
Além
disso, diz ele, a ex-senadora terá muito menos tempo de propaganda
eleitoral gratuita que seus maiores concorrentes. Segundo o Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), Marina contará com apenas 2 minutos e 3
segundos nas propagandas exibidas às terças, quintas e sábados, enquanto
Dilma terá 11 minutos e 24 segundos e Aécio, 4 minutos e 35 segundos.
A duração da propaganda é proporcional ao número de deputados federais dos partidos que apoiam as candidaturas.
"O tempo de TV vai influenciar o desempenho de Marina, assim como suas entrevistas e participação em debates", diz Mazzeo.
Para
Maria do Socorro Braga, professora de ciência política da USP, para
resistir aos ataques dos adversários, Marina terá de apresentar um
programa de governo que satisfaça os eleitores que desejam mudanças.
"Ela só vai conseguir ter consistência e manter o eleitorado se esse programa estiver de acordo com o que estão reivindicando."
Roberto Romano, da Unicamp, diz ainda que, se conseguir superar todos esses obstáculos, Marina terá testada sua personalidade.
"Ela tem um perfil bastante autoritário, o que é uma virtude dela mas também um problema."
Segundo
Romano, Marina é capaz de manter princípios e definir suas ações com
base em doutrinas, mas "na política não há apenas uma ética ou moral".
"A política é a arte de adequar as múltiplas perspectivas éticas. E ela parece muito rígida nessa linha", diz.
"Não
digo que deva se transformar em político tradicional, mas, se atenuar
esse perfil autoritário, evidentemente pode consquistar boas graças do
partido. E com uma boa campanha, um bom esquema de propaganda e
convencimento, ela talvez consiga de fato chegar a segundo turno, o que
será uma situação complicada para a Dilma Rousseff", conclui.