quinta-feira, 22 de julho de 2010
Poetas ...
Do Leonardo Ferrari, psicanalista, Curitiba
O filme "Monsieur Max", sobre o poeta, pintor e escritor Max Jacob, exibido hoje no Eurochanel é dirigido por Gabriel Aghion, produzido para TV há uns três anos, e o último trabalho do ótimo ator argelino Jean-Claude Brialy, que faleceu em 2007, aos 74. Se não me engano, a Eurochanel está fazendo uma homenagem a ele, exibindo alguns de seus mais importantes filmes. Brialy foi um dos nomes mais presentes na Nouvelle Vague francesa, dirigido por cineastas como Claude Chabrol, Eric Rohmer, Godard, Louis Malle, Agnès Varda, Truffaut. Embora tenha atuado também na direção, foi como ator que ficou mais conhecido e premiado.
Sobre Max Jacob, é um artista que tem uma obra fascinante e uma vida dramática. Judeu convertido ao catolicismo, amigo de Pablo Picasso, Jean Cocteau, Jean Marais, foi preso pelos nazistas em 1944, morrendo nesse mesmo ano num campo de concentração. Deixou uma obra literária magnífica. E ele mesmo dizia ter inventado o gênero prosa poética, ou poemas em prosa, como afirmava.
Teoria controversa ou não, o texto abaixo, "Noturno das vacilações familiares", é prosa, é poético, é belíssimo:
"Há noites que terminam numa estação! Há estações que terminam na noite! Quantos carris não atravessamos de noite! Tenho o corpo dorido dos ângulos salientes do vagão, à noite; dói-me ainda o deltóide. Quando esperávamos a irmã mais velha ou o papá, aquilo acabava sempre de maneira que seria melhor não contar: com o par de sapatos regado pela farinha do pão. Mas tenho, numa estação, um irmão antipático: chega sempre no último momento (tem lá as suas ideias); e então é preciso abrir uma mala que o criado não trouxe ainda; e, quando chega à bilheteira, não sabe ainda para que estação deve dirigir os vagões: hesita entre Nogent-sur-Marne e Ponts-de-Cé e outras localidades. A mala está aqui, aberta. Não comprou ainda o bilhete e as lanternas a gás debalde procuram transformar a noite em dia e o dia em noite. Há noites que terminam numa estação e estações que terminam na noite. Ah, maldita hesitação, foste tu que me perdeste e bem longe das vossas salas de espera, ó estações!"
“Retrato de Dora Maar” de Pablo Picasso, 1937 no Museu Picasso de Paris.
Rodrigo Fernández, correspondente do El País em Moscou, enviou de lá uma história saborosa.
Rodrigo Fernández, correspondente do El País em Moscou, enviou de lá uma história saborosa.
Às vésperas de completar 77 anos, o poeta russo Yevgueni Yevtushenko se presenteou com um museu construído em Peredélkino, a “vila dos escritores”, localizada às margens de Moscou, aos arredores, nos arrabaldes, no lugar que em Carazinho nós damos o justo nome de zona, lugar-limite, na fronteira, fora do centro, deslocado, desviado, retirado. Neste não-lugar, o poeta contou como é que chegou em suas mãos o desenho de Pablo Picasso que ele doou ao Estado junto com o resto de fotografias e escritos que fazem parte agora do acervo deste museu. Foi assim: um dia Picasso ofereceu a Yevtushenko a fabulosa possibilidade de escolher qualquer uma das telas que tinha naquele momento em seu ateliê. O poeta respondeu a Picasso: “Não posso aceitar, pois não gosto de nenhuma”. O pintor, espantado, lhe perguntou qual a razão desse desgosto. E aí Yevtushenko respondeu que com toda a certeza uma mulher tinha ferido Picasso profundamente e por causa disso ele tratava tão mal a todas elas em suas obras
- “Eu, ao contrário, adoro as mulheres, porque durante a guerra, na Sibéria, fui criado por duas magníficas: minhas avós.” Sensacional! Aliás, o próprio Yevtushenko se compara ao contar isso com a inesquecível, magnífica Nastácia Filíppovna, personagem que tomou conta de Dostoiévski e o obrigou a escrevê-la em “O Idiota” - em português, na ótima tradução de Paulo Bezerra – o que segue está na p. 204, ed. 34, 2002 -, no instante em que ela joga um pacote de cem mil rublos no fogo! Epifânica mulher! Yevtushenko-Nastácia disse não a Picasso. De poeta para poeta.
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Ferrari, como disse a você em seu Blog, havia outros poetas que também não admiravam Picasso. Um deles foi o poeta francês, Max Jacob.
Encontrei esse comentário em outro Blog Olhar panorâmico
O filme "Monsieur Max", sobre o poeta, pintor e escritor Max Jacob, exibido hoje no Eurochanel é dirigido por Gabriel Aghion, produzido para TV há uns três anos, e o último trabalho do ótimo ator argelino Jean-Claude Brialy, que faleceu em 2007, aos 74. Se não me engano, a Eurochanel está fazendo uma homenagem a ele, exibindo alguns de seus mais importantes filmes. Brialy foi um dos nomes mais presentes na Nouvelle Vague francesa, dirigido por cineastas como Claude Chabrol, Eric Rohmer, Godard, Louis Malle, Agnès Varda, Truffaut. Embora tenha atuado também na direção, foi como ator que ficou mais conhecido e premiado.
Sobre Max Jacob, é um artista que tem uma obra fascinante e uma vida dramática. Judeu convertido ao catolicismo, amigo de Pablo Picasso, Jean Cocteau, Jean Marais, foi preso pelos nazistas em 1944, morrendo nesse mesmo ano num campo de concentração. Deixou uma obra literária magnífica. E ele mesmo dizia ter inventado o gênero prosa poética, ou poemas em prosa, como afirmava.
Teoria controversa ou não, o texto abaixo, "Noturno das vacilações familiares", é prosa, é poético, é belíssimo:
"Há noites que terminam numa estação! Há estações que terminam na noite! Quantos carris não atravessamos de noite! Tenho o corpo dorido dos ângulos salientes do vagão, à noite; dói-me ainda o deltóide. Quando esperávamos a irmã mais velha ou o papá, aquilo acabava sempre de maneira que seria melhor não contar: com o par de sapatos regado pela farinha do pão. Mas tenho, numa estação, um irmão antipático: chega sempre no último momento (tem lá as suas ideias); e então é preciso abrir uma mala que o criado não trouxe ainda; e, quando chega à bilheteira, não sabe ainda para que estação deve dirigir os vagões: hesita entre Nogent-sur-Marne e Ponts-de-Cé e outras localidades. A mala está aqui, aberta. Não comprou ainda o bilhete e as lanternas a gás debalde procuram transformar a noite em dia e o dia em noite. Há noites que terminam numa estação e estações que terminam na noite. Ah, maldita hesitação, foste tu que me perdeste e bem longe das vossas salas de espera, ó estações!"