Computação, Matemática e Filosofia
Belo Monte e a tirania dos artistas da Globo
by fernando
Sou contra a propaganda. Parece meio radical, mas não consigo aceitar que seja benéfica. Quem faz propaganda invariavelmente mente, mesmo que para uma boa causa, e portanto pode causar mais dano à causa do que ajudar. Por isso sou contra até a “campanhas de esclarecimento” (contra AIDS, drogas, etc.). Se um médico, numa campanha publicitária contra as drogas, mente, acaba abalando a fé das pessoas nos médicos e pode criar um efeito negativo, por exemplo.
Por isso, quando vi o vídeo dos artistas da Globo contra a usina de Belo Monte, liguei meu modo de alerta. Um vídeo como aquele, completamente publicitário, só poderia mentir. E mentir muito. Mas esse nem foi o maior problema. No meu caso, só a visão de um monte de artistas afetados dirigindo-se a mim como se eu fosse uma criança de 5 anos me incomoda. E também me incomoda que falem de algo sobre o qual não têm o menor domínio. Incomoda-me, por exemplo, ver as mulheres histéricas soltando pérolas mais ou menos como “gente, eu sou tão bonita, moderna, gosto da natureza, Belo Monte pra quê?” e coisas do gênero. No caso do vídeo, o que mais me incomoda nem seria a mentira bem planejada, mas a total falta de argumentos. O povo é mesmo estúpido, para que argumentar?
Ao ver o vídeo lembrei-me de um trecho de Pascal, que tem tudo a ver com o caso. Diz ele (cf. Pensées 58; como não sei francês tenho a tradução inglesa do livro):
Tyranny is wanting to have by one means what can only be had by another. We pay different dues to different kinds of merit; we must love charm, fear strength, believe in knowledge.
These dues must be paid. (…) So these arguments are false and tyrannical: “I am handsome, so you must fear me. I am strong, so you must love me. I am…”
E portanto o título do post: os artistas da Globo foram tirânicos. E isso, é claro, é uma pena. Ferem a causa que tentam defender. Apostam na estupidez das pessoas, mas se enganam ao acreditar que não precisam nem simular que tenham bons argumentos. E por isso creio que estão fadados ao fracasso. Alguém se lembra do plebiscito para a proibição de venda de armas? Os que eram a favor da proibição tinham apoio maciço da população, no começo. Foram à TV, com um monte de belos artistas, dizendo ao povo que quem é legal e bonito vota pela proibição. O povo (felizmente, na minha opinião) preferiu os argumentos de quem era contra. Será que ninguém aprendeu a lição?
É uma pena que haja pouca discussão no Brasil acerca de assuntos importantes como a construção de Belo Monte. Os governos brasileiros (este e os anteriores) são autoritários, e não há oposição ao governo atual. Seria salutar discutir com honestidade o caso da usina de Belo Monte. Mas preferiram nos dizer que quem quer ser bonito ou legal, é contra Belo Monte. Parafraseando Pascal: “sou belo, acredite em mim”.