quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
O Governo gosta muito de nós
Mal agradecidos, é o que somos. Tanta manifestação, tanto protesto... e afinal só reclamamos contra quem passa noites a queimar pestanas, desbravando novos caminhos para a nossa felicidade. O múnus governativo, visto pelo prisma certo, é um compêndio de atenções, benfeitorias, pequenas caridades quotidianas.
Antes de tudo o mais, o bem primordial, a Saúde. Pela primeira vez em muitos anos, andamos a gastar menos em comida – com menos proteína e menos gorduras caras, erradicaremos num instante as maleitas com raiz nos nossos péssimos hábitos alimentares.
E depois do aumento das taxas moderadoras os hospitais vão andar às moscas, evidente sinal da saúde de ferro de todo um povo. O fomento dos desportos olímpicos surge como outra iniciativa salutar. A instalação de carreiras de tiro ao alvo nas ex-Scut é uma medida descentralizada a aplaudir. Os aumentos dos transportes chegam com o mesmo desiderato: pôr a populaça a andar a pé, para longe do sedentarismo.
Bens intangíveis, como os valores familiares, são igualmente acarinhados. Graças a uma sábia política de amputação de subsídios, prazeres egoístas da laia do teatro ou da dança tenderão a sumir-se, levando à saudável fruição do tempo livre em casa, no seio da Família.
E o incentivo ao enriquecimento cultural que só as viagens proporcionam? Vejam os números da emigração e descubram como tantos jovens têm sido encorajados a rasgar horizontes. Não tarda, seremos de novo a inveja do mundo! O governo ama-vos.
Tratem agora de retribuir.
Também publicado aqui
Regresso ao século XIX?
Back to basics
do Blog de Joana Lopes, Portugal, Blog Entre as brumas da memória aqui
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No Jornal de Negócios de ontem, um texto de Octávio Teixeira: «Regresso ao século XIX».
«Em 1 de Maio de 1886 uma manifestação de milhares de trabalhadores pelas ruas de Chicago deu início a uma greve geral e a um processo de lutas sindicais nos Estados Unidos com uma reivindicação central: a redução da jornada de trabalho para as 8 horas diárias.
Em 1 de Maio de 1886 uma manifestação de milhares de trabalhadores pelas ruas de Chicago deu início a uma greve geral e a um processo de lutas sindicais nos Estados Unidos com uma reivindicação central: a redução da jornada de trabalho para as 8 horas diárias. (…)
Mas o Governo de Passos Coelho, tal como se vangloria de ir para além da troika nas medidas de austeridade pela austeridade, pretende agora remar contra a História e o avanço civilizacional recuando 121 anos no tempo, regressando ao século XIX, ao decretar o aumento do trabalho diário em meia hora no sector privado. (…)
De qualquer forma e fundamentalmente, não é admissível esta opção de desvalorização do valor do trabalho e da dignidade dos trabalhadores, este retrocesso histórico que só o reaccionarismo ideológico mais profundo pode explicar mas não legitimar.»
Na íntegra AQUI.