quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Dilma a solidão no caminho.

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DILMA ANO2-

Cada vez menos conselheiros influenciam presidente

15 de dezembro de 2011 | 18h 18

JEFERSON RIBEIRO - REUTERS

Após 12 meses no comando do país, a presidente Dilma Rousseff viu seu estilo franco, por vezes exageradamente duro, segundo relato de auxiliares diretos, reduzir consideravelmente o número de pessoas que se arriscam a contradizê-la ou alertar sobre dificuldades políticas enfrentadas pelo governo.

Mesmo os ministros mais próximos evitam relatar problemas para a presidente temendo levar broncas, e essa falta de informações completas sobre o funcionamento do governo aumentam os riscos para a tomada de decisões de Dilma.

O ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci era o principal conselheiro dela e tinha liberdade e habilidade para opinar nas decisões tomadas pela presidente. Mas o hábil político deixou o governo em junho, após suspeitas de enriquecimento ilícito e tráfico de influência no período em que foi deputado federal (2006 a 2010).

"Com a saída do Palocci o que se perdeu foi o seu poder de intervenção nos assuntos do governo", analisou um assessor próximo a Dilma, pedindo para não ter seu nome revelado.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é sempre ouvido por Dilma nas principais decisões, mas essa influência já não é tão intensa como nos primeiros meses de governo, segundo disse à Reuters outra fonte com conhecimento do dia-a-dia do Palácio do Planalto.

Logo após a saída de Palocci, Dilma se aproximou mais do ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, incumbindo-o inclusive de negociar com aliados a substituição de alguns ministros. Mas Carvalho não é um conselheiro para todos os temas do governo.

Quem consegue, por conta da longa convivência, convencer a presidente em alguns casos é o seu chefe de gabinete, Giles Azevedo, segundo relato dessa fonte. Azevedo trabalha com Dilma desde quando ela iniciou a carreira na máquina pública no Rio Grande do Sul e tem liberdade para opinar sobre quase todas as áreas do governo.

Segundo essa fonte, que falou sob a condição de anonimato, a confiança da presidente nos ministros foi sendo corroída cada vez que havia um vazamento de informação para a mídia ou quando um auxiliar comenta sobre a área de um colega.

"Isso aqui (o Palácio do Planalto) é um queijo suíço", diz a fonte ao concordar com a presidente de que há muitos vazamentos desautorizados no governo.

Essa desconfiança nos auxiliares tem levado a presidente a tomar decisões cada vez mais sozinha. "Não é que ela não escute os ministros. Ela escuta, reúne informações, mas na hora de decidir é só ela", conta essa mesma fonte.

VAZAMENTOS CONTROLADOS

Um dos motivos para esse isolamento na hora de decidir é justamente o receio de vazamentos de informações para a imprensa, que irritam tanto a presidente que ela pediu mudanças na estrutura de comunicação do Palácio do Planalto.

Essa fonte contou que Dilma quer ter um porta-voz mais ativo e que concentre as informações que o governo dissemina. Dois assessores da área disseram, no entanto, que ainda não foram informados dessa decisão.

A atitude rígida de Dilma também impede os auxiliares de revelar as dificuldades que o governo enfrenta no Congresso.

A presidente não tem conhecimento completo da difícil relação entre a área política do governo e os líderes no Congresso. O líder governista na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), e a equipe comandada pela ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, por exemplo, se enfrentam em disputas cada vez mais arriscadas.

Esse enfrentamento se deu em campo aberto pelo menos uma vez na Câmara durante a tramitação da medida provisória 540, que trata de incentivos tributários para a indústria, quando um texto sem anuência do Palácio do Planalto foi aprovado depois de um acordo entre Vaccarezza e outros líderes aliados.

Para o professor da Unicamp, Roberto Romano, a Presidência é um cargo que leva o seu ocupante à solidão na hora de decidir, porque o presidente no Brasil tem muito mais poder do que os legisladores e magistrados.

Romano acredita que os traços de personalidade da presidente tendem a aprofundar esse isolamento que o poder provoca. "Aquele governante que sabe mandar e sabe delegar, tem mais possibilidades de vencer tempestades políticas. Aquele que se isola tende a se enfraquecer", analisou.