quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

OI.

O caso do livro incógnito, Carlos Brickmann, para o Observatório da Imprensa

Coluna Circo da Notícia, OI, Edição semanal - de 20 de dezembro de 2011


É uma história interessantíssima: um livro, com pesadas acusações a figuras públicas, foi ignorado em toda a imprensa. Ninguém se manifestou sobre ele, embora seu autor fosse um jornalista conhecido. Quem quis ler o livro precisou da colaboração de amigos, que o digitalizaram e colocaram na Internet.

O livro em questão é O Chefe, em que o jornalista Ivo Patarra, petista, chefe da Assessoria de Imprensa da prefeita (então petista) Luiza Erundina, bate duramente em seu antigo líder e ídolo, Luiz Inácio Lula da Silva.

Pois é: e reclamam do "silêncio da grande imprensa" a respeito do livro A Privataria Tucana, em que o jornalista Amaury Ribeiro Jr. bate duramente no Governo de Fernando Henrique Cardoso e, especialmente, em José Serra. A Privataria Tucana é apontada, até neste Observatório, como vítima de um silêncio ensurdecedor da grande imprensa - um livro que foi divulgado em primeira mão pela Rede Record de Televisão, a segunda rede do país; pela Record News, no jornal ancorado por um astro do jornalismo televisivo, Heródoto Barbeiro; pelo portal R7, pela revista de Mino Carta - em suma, por veículos da grande imprensa. Que saiu numa das principais colunas políticas da Internet, a de Cláudio Humberto, também publicada em algo como 30 jornais espalhados pelo país. E que, poucos dias depois de lançado, recebeu matérias da Folha de S.Paulo e de O Estado de S. Paulo. Silêncio? Que silêncio? Livro invisível? Tão invisível quanto o Jô Soares numa visita à Escola de Faquires.

Há que admitir que a história foi bem preparada. O livro foi para as livrarias no dia em que os veículos mais ligados ao Governo começaram a divulgá-lo e, ao mesmo tempo, a acusar os adversários de tentarem escondê-lo. Os demais veículos, que não haviam sido informados sequer do lançamento do livro, foram até rápidos: em três ou quatro dias apresentavam suas resenhas (a propósito, desfavoráveis). Aí começou a campanha pela Internet segundo a qual, ao falar do livro, os veículos desvinculados do esquema "se renderam à pressão do público" e "precisaram defender José Serra".

E, assim, foi possível evitar o importante: discutir a veracidade ou não das acusações.