Imagem dos vereadores está em jogo durante votação
Aumento salarial de 126% pode refletir no julgamento do prefeito Demétrio
19/12/2011 - 22h02 . Atualizada em 19/12/2011 - 22h07
Patrícia Azevedo | DA AGÊNCIA ANHANGUERA | ||
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Com a imagem arranhada depois de aumentarem os próprios salários em uma sessão conturbada que terminou com a agressão de estudantes e jornalistas pela Guarda Municipal (GM), os vereadores de Campinas se preparam nesta terça-feira (20) para o início do julgamento que pode culminar na cassação do prefeito Demétrio Vilagra (PT).
A pergunta que fica é: se caso aprovarem o afastamento do petista do Palácio dos Jequitibás, a medida vai conseguir melhorar a aceitação do Legislativo diante da população? Para especialistas, a votação do relatório da Comissão Processante (CP) favorável a cassação vai contribuir, mas neste caso, para não piorar a situação dos legisladores.
O professor de ética e filosofia da Unicamp Roberto Romano diz que a cassação de Vilagra não minimiza os danos provocados pelo aumento salarial, mas ajuda a não piorar. “O problema não está no aumento, que foi de fato abusivo, ninguém quer que vereador trabalhe por caridade. O problema foi o procedimento, lendo o número do projeto e tirando a possibilidade de debate e manifestação da galeria. Depois veio aquela vergonha de colocar a GM para bater em jornalista e nos populares”, enfatiza.
As imagens da guarda usando gás de pimenta e armas de gás contra os manifestantes circularam pelas redes sociais, suscitando uma onda de protestos. Os vereadores entrevistados pela reportagem tentam dissociar as duas votações, mas Romano é taxativo. “Não melhora a situação deles (a cassação). Se eles absolverem o prefeito, está na hora de tocar a marcha fúnebre e seguir o caixão”, ironiza.
Os vereadores afirmam em coro que as duas situações não possuem relação e que caso decidam pela cassação, o fato não deve remediar a avaliação negativa. O relator da CP, Zé do Gelo (PV) diz que cassar ou não o mandato do prefeito Demétrio não amenizaria o estrago provocado. “Nós da Câmara vamos ter que assumir as consequências que virão na próxima eleição. De uma forma de outra isso vai ser lembrado lá na frente”, pontua.
Campo Filho (DEM) afirma que a votação que irá definir o destino de Vilagra não pode remediar o dano. “O eleitor não faz uma relação dessa, isso é muito infantil”, disse. Segundo ele, a política é “uma arte nobre”.
O vereador Antônio Francisco dos Santos (PMN) disse não acreditar que a população se deixe manipular pelo resultado de uma votação. “Aquele que tem consciência política não vai ligar uma coisa com a outra”, diz. Para Dário Saadi (PMDB) o aumento salarial e a cassação são assuntos independentes. “A população não aceitou o aumento salarial. Uma coisa não conserta a outra.”
Para o líder do PTB na Câmara, Jorge Schneider, o salário dos vereadores precisava ser reajustado e, infelizmente, isso ocorreu neste mandato. “É uma coisa de 20 anos que estava pendente e que precisava ser resolvida. Coube a nós solucionar o problema”, afirma. (Colaborou Milene Moreto)