quinta-feira, 1 de julho de 2010

Memorabilia.

“Aqui não se tem convívio que instruir. Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar. Viver é muito perigoso”. Vezes infindáveis lemos estas frases de Guimarães Rosa, evocando o ermo físico ou espiritual. Estamos diante da natureza ameaçadora, forte o bastante para amedrontar. Ela nos força, apresentando a morte em cada clareira, a produzir, com nossas mãos, instrumentos para insistir vivendo um pouco mais, um átimo pelo menos. Com isso, nosso pensamento eleva-se e domina, durante pouco tempo, é verdade, o espaço, o lugar. Tal é o estado de natureza, onde os homens são lobos. Nele, “não se tem convívio que instruir”. Cada um defende o próprio corpo e alma, destruindo os demais. Viver é muito perigoso. Ou, como diz ainda o mesmo personagem de Grande Sertão: Veredas: “A gente viemos do inferno? Nós todos”. Não tenhamos ilusões: “Deveras se vê que o viver da gente não é tão cerzidinho assim?” (Roberto Romano, introdução ao artigo, publicado na Revista Educação e Sociedade, "Depois do pacote e dos cortes de bolsas", 1998, onde são "louvadas" as políticas educacionais e científicas da "era FHC". Hoje, quase nada mudou).