Da Ficha Limpa ao mensalão
Publicado em 25.03.2011
“Se tudo se resume numa relação de Lei, e se passa por cima da responsabilidade pública que é a base da República, nós estamos muito mal”. Olhando para o futuro, ele previu que o julgamento de um dos maiores escândalos da política brasileira – o da compra de voto – tende a seguir o mesmo preceito do da Ficha Limpa: “Os desiguais serão julgados como desiguais”.
Em nome da segurança jurídica, vossas excelências da suprema corte votaram pela não retroatividade da Lei da Ficha Limpa. Mesmo a decisão não servindo para encaminhar os problemas graves da República. Esforçaram-se em passar pela apreciação minuciosa de que houve um julgamento puramente técnico. O da lei pela lei. Mas o que escolheram foi um caminho mais seguro para eles, o da “legalidade”, que também deve guia-los em escolhas futuras. Como a próxima do mensalão.
» “O STF RESPONDERÁ À NAÇÃO”
“Por mais legal que seja, uma decisão do STF não está isenta da responsabilidade diante do cidadão. O Supremo se restringiu ao princípio da legalidade e responderá à Nação pela escolha. Quando essas pessoas que voltarão começarem a agir com personalismo, nepotismo, ineficiência e imoralidade o STF terá de responder por elas” – Roberto Romano, professor de Ética da Unicamp
» Alma da Carta
Roberto Romano pontuou bem: “A alma da Constituição é a autonomia da sociedade civil sobre o Estado”. A Lei da Ficha Limpa teve apoio do Legislativo e Executivo. “E vem o Judiciário dizer que nada disso vale diante da estrita legalidade técnica da lei”.
» Dos leitores sobre a decisão do STF
“Do ponto de vista jurídico correta, não justa. O Judiciário deixou de entrar pra historia e ouvir os anseios do povo”, Ariston Flávio. “Pra cobrar previdência dos aposentados pode mexer nas regras do jogo. Pra valer Ficha Limpa não. Ê Brasil!”, Célio Cruz. “Totalmente acertada. Não se pode moralizar o País desmoralizando a Constituição”, Toninho Melo. “Acertada. Não se pode retroagir leis para prejudicar ninguém”, Adilson Gomes Filho. “Se a lei não serve para pegar o Maluf, tanto faz o ano em que entrará em vigor”, Geraldo Jr. “Juridicamente correta, politicamente polêmica”, Edmar Lyra.